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sexta-feira, 24 de maio de 2019

Não é só justiça, tem que ter algo de misericórdia!




Não é só justiça, tem que ter algo de misericórdia!

            Existe hoje um consenso entre os teólogos. que  Jesus de Nazaré foi nesta terra , talvez o único homem , que conseguiu vivenciar e saber fazer uma  experiência verdadeira  do Deus Pai, sem alterar devido ao medos, ambições e fantasmas que, constantemente , as diversas religiões projetam sobre a divindade. Se me perguntasse hoje qual o nome de Deus, eu dia para essa pessoa: O seu nome é misericórdia. E a compaixão é o modo de ser de Deus.
            Foi dentro de uma espiritualidade da misericórdia, que Jesus passa a contar histórias que abalam uma Igreja clericalizada, centrada no culto. Lá está, por exemplo, o bom samaritano. Um homem foi espancado e roubado, ficando meio morto à beira da estrada. E passou por ali um sacerdote, que se desviou para nem olhar para o rosto daquele coitado. O mesmo fez um levita que servia no Templo. Mas um samaritano, estrangeiro e considerado pecador pelos judeus, que não frequentava o Templo, comoveu-se, aproximou-se, cuidou dele e pagou adiantadamente na estalagem, para o tratarem, prometendo que, na volta, pagaria o que faltasse. O doutor da Lei tinha perguntado: "Quem é o meu próximo." Agora, é Jesus que lhe pergunta: "Quem foi o próximo daquele desgraçado?" "O samaritano." E Jesus: "Vai e faz o mesmo." Não o mandou para o Templo. De que vale o culto (Missa a minha oração) desligado da justiça e da misericórdia, da proximidade do excluído e do pobre?
            Para a salvação da nossa alma, Ele não fala de religião, templo e culto, mas de justiça e de misericórdia: "Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo." E vai haver um espanto: "Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?" E o Deus de Jesus responde: "Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes. Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.”.
            É arrasador: em primeiro lugar o que decide a salvação não são atos de culto, mas os que contribuíram para um mínimo de dignidade humana. Por isso, Jesus, com escândalo de muitos, porque comia com publicanos e pecadores, coloca na boca de Deus as palavras do profeta: "Quero misericórdia e não sacrifícios." O teólogo José M. Castillo comenta de modo frontal: "Jesus afirma aqui que Deus quer que os seres humanos se comovam com bondade e misericórdia para com os outros, mesmo que sejam maus e até se a prática da bondade implicar a violação de uma lei religiosa. Isto, embora seja um escândalo para os mais puritanos, é o que o Evangelho diz", indo até mais longe, ao estabelecer uma "antítese" entre a "misericórdia" e o "sacrifício", isto é: "O que Jesus diz é que, se for preciso escolher entre a "ética" e o "culto" (entre a "justiça" e a "religião"), o que vem primeiro é a ética, a honradez, a defesa da justiça e os direitos das pessoas. Deus não quer que as nossas consciências fiquem tranquilas com missas, rezas, devoções e coisas do género." É preciso restituir a todas as pessoas o seu bem maior: a dignidade.
            E aqui estão as chamadas obras de misericórdia. Misericórdia quer dizer, etimologicamente, olhar com o coração para a miséria do outro, com compaixão, o que significa, também a partir da origem desta palavra pode entender como, sofrer com o outro, fazendo seu o sofrimento dele. A partir daí, há uma comoção e uma reação, que levam a comprometer-se com a erradicação do sofrimento ou, pelo menos, com o seu alívio, de forma imediata.

Padre Carlos


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