domingo, 30 de junho de 2019

ARTIGO - O amor de um pai ( Padre Carlos )




O amor de um pai



            A partir do momento em que minhas duas filhas chegaram ao mundo minha vida se transformou totalmente. É como se uma parte de mim passa-se a partir daquele momento a viver separado do meu corpo, independente e frágil.
  
          Quando elas eram pequenas tinha muito medo, eram frágeis se tornara uma parte de mim desprotegida e que precisava de amor, carinho e atenção, eram tão dependente, que me tornara naquele momento em um herói e no senhor do mundo. Tinha um medo constante que algo de terrível pudesse acontecer com elas. Depois que elas cresceram, pensei que este sentimento desapareceria, engano meu, o medo cresceu junto com elas.
Tento proteger a vida inteira, mas agora é mais difícil, elas precisam de liberdade e um gesto de confiança da minha parte, vocês não sabem o quanto para mim é difícil, mas pelo menos tenho tentado. Sei o quanto fui incoerente com os conselhos dos meus pais, ah! Se tivesse ouvido mais!
            Eu jamais imaginei que este amor fosse tão grande e profundo, diferente de tudo que até então tinha vivido. É tão intenso que muitas vezes me desespero só em pensar que uma delas esteja em uma situação de risco. Os outros sentimentos diante deste, parecem tão menores que não posso comparar. É um amor sofrido, de abnegação, com infinitas alegrias e também tristezas e felicidade.
             Li um dia destes que Deus nos dá os netos para adoçar a velhice, acho que isto se encacha bem para ser pai depois dos cinquenta. Sim, nunca me esqueci deste texto. Mas hoje tenho duas filhas muito antes de atingir essa fase da vida.  Assim, ao amar os filhos, o medo, as alegrias e tristezas são acompanhadas pela vivencia de toda uma vida.
            Mesmo quando estamos longe, estamos por perto. A vida de hoje é difícil em todos os aspectos, e os pais trabalham e tentam ajudar os filhos, buscando sempre preencher o vazio desta ausência.

           E perante uma realidade tão adversa, as nossas preocupações já não terminam quando eles passam a levar os estudos a sério. O medo do desemprego, na ausência de futuro sempre vai está presente. Contudo em momento algum trocávamos esta vida de lutas e dores. Porque é isso que constitui este amor, ele é maior que a vida e maior que a morte.


Padre Carlos


ARTIGO - O MPF e a síndrome de Tomé ( Padre Carlos )




O MPF e a síndrome de Tomé


            Neste artigo, não vamos tratar de questões de fé e sim de justiça, por isto, sua natureza é falíveis e, também, imprevisíveis. Nesses casos, é prudente ver para crer! Mas por que as pessoas querem tocar, ouvir e se possível, até sentir para acreditar? O que esses sentidos oferecem que a constatação por si só dos fatos não é capaz de oferecer?
            Os filósofos, desde René Descartes (1596-1650), notaram que os sentidos proporciona "um senso de realidade" e nos faz sentir em contato com o mundo externo.   O fato é que nossa tendência a "checar os fatos" nestes tempos em que a tecnologia tem a primazia da verdade nos leva a duvidar se não pudermos ver ou ouvir as provas.  Só aceitamos e acreditamos em todas as evidências que o site The Intercept vem trazendo a publico, se entre os conjuntos de provas estiver arquivo de voz. Somos condicionados a agir desta forma em relação às informações, mesmo com todas as evidencias se não aparecer o vídeo ou a voz, para os incrédulos não tem validade.
             Diante da conjuntura que se formou com as revelações do site The Intercept na madrugada deste sábado (29. jun), onde novos trechos de conversas entre procuradores do MPF (Ministério Público Federal) que integram a força-tarefa da operação Lava Jato, não podemos mais fechar os olhos e achar que nada esta acontecendo. A gravidade dos diálogos revela a atuação do então juiz federal Sergio Moro em relação a sua parcialidade e deixa claro o que o MPF pensava com relação a sua ida para o Ministério da Justiça. Sim, para uma sociedade que tem o mínimo de respeito as suas leis, a presença por si só do ex-juiz no governo que ajudou eleger com seus atos, já demostraria a parcialidade da justiça. Foi pensando nos argumentos corporativistas da imprensa e do Ministério Público, que deixou claro para mim, que estamos vivendo e sofrendo da síndrome de Tomé, para legitimar todas as arbitrariedades que estão vindas à tona.  Como no relato bíblico do apóstolo, vemos agora um "efeito Tomé" e para isto temos que colocar o dedo na ferida para comprovar a parcialidade do juiz.
             Podemos estar diante do maior escândalo institucional da história da República. Muitos seriam presos, processos teriam que ser anulados e uma grande farsa seriam revelada ao mundo. Vamos acompanhar com toda cautela, mas não podemos nos deter. Que se apure toda a verdade. E não sejamos incrédulos como Tomé.

Padre Carlos


quarta-feira, 26 de junho de 2019

ARTIGO - Amores clandestinos e o celibato (Padre Carlos)




Amores clandestinos e o celibato

            Não podemos negar que durante vários séculos, a Igreja com seus fieis e toda a sua hierárquica, viveram obcecados com o primado da moral sexual, e quando era confrontada com os escândalos sexuais no seu próprio seio, buscavam esconder e os próprios leigos eram um elo ou parte desta correia de transmissão onde tudo era apagado e reparado.  . Primeiro, foram os vários escândalos de pedofilia. Mais recentemente, são as "namoradas" de padres que vêm denunciar os abusos de que foram ou são vítimas.
            Um conceituado jornal norte americano acaba de fazer uma investigação sobre o drama das mulheres que, sem qualquer apoio, foram abandonadas ou obrigadas a viver relações clandestinas e o que é mais grave, se esconderem e criar sozinhas os filhos que geravam nesta relação.
        
    A Igreja é obrigada agora a se confrontada com esses dramas das mulheres que sofreram e sofrem a violência sexual, emocional e espiritual do clero. Assumir a responsabilidade pelos meus próprios erros deveria ter sido a postura destes padres. Apesar de reconhecer, estes deveriam também admitir, que aquela relação não era plenamente consensual, pois havia uma diferença de poder entre o padre e ela.
            Mesmo sabendo que é difícil saber o número de casos no mundo, podemos imaginar que existam milhares de mulheres nesta situação, que tenha vivido ou vivendo uma relação sexual abusiva e com filhos mantidos em segredo.
            Nos últimos anos, foram feitos estudos que comprovam que apenas 40% do clero pratica o celibato. Não faz muito tempo que comentei em um artigo sobre o sociólogo Javier Elzo, da Universidade jesuíta de Deusto, em artigo Padre Elzo escreveu que 80%, ou mais, do clero africano, padres e bispos, têm uma vida sexual igual à dos outros africanos.
            Claro que todas estas questões, em relação à Igreja e seu clero, exigem reflexão profunda, incluindo o problema das comunidades cristãs que têm direito à celebração da Eucaristia e não se ver satisfeita por causa da falta do clero.
             Hoje, os historiadores sérios não têm dúvidas de que Jesus foi celibatário. É pura "lenda de romance" pretender que Jesus foi casado com Maria Madalena, esclarecia ainda recentemente um dos maiores especialistas em cristianismo primitivo, Antonio Piñero, que não é crente, mas agnóstico. Mas Jesus não impôs a lei do celibato a ninguém. Mais: teve discípulos, como São Pedro, que eram casados. São Paulo foi igualmente celibatário, mas também não invocou essa lei; pelo contrário, pergunta na Primeira Carta aos Coríntios, 9, 5: "Não temos o direito de levar conosco, nas viagens, uma mulher cristã, como os restantes Apóstolos, os irmãos do Senhor e Cefas?" Na Primeira Carta a Timóteo, lê-se: "É necessário que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, ponderado, de bons costumes, hospitaleiro, capaz de ensinar, que não seja dado ao vinho, nem violento, mas condescendente, pacífico, desinteressado, que governe bem a própria casa, mantendo os filhos submissos, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará ele da Igreja de Deus?" E a recomendação é repetida na Carta a Tito, 5-6: "Deixei-te em Creta, para acabares de organizar o que ainda falta e para colocares presbíteros (padres) em cada cidade, de acordo com as minhas instruções. Cada um deles deve ser irrepreensível, marido de uma só mulher, com filhos crentes, e não acusados de vida leviana ou de insubordinação."
            Só muito mais tarde que o celibato foi sendo imposto como lei: no século XI, com o Papa Gregório VII; no século XII, nos Concílios I e II de Latrão, em 1123 e 1139, respectivamente; mas só com o Concílio de Trento, no século XVI, se impôs a toda a Igreja do Ocidente, pois nas Igrejas católicas do Oriente é diferente.
            Assim, podemos constatar claramente que o celibato enquanto lei não é um dogma. O próprio Papa Francisco já o reconheceu. Pessoalmente, estou convicto de que no Sínodo sobre a Amazónia, que se realizar em Roma uma tomada de posição da Igreja sobre esta questão.
             O cardeal Walter Kasper, presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e um dos teólogos que o Papa Francisco ouve com mais atenção, disse recentemente que "Se bispos concordarem em ordenar homens casados, o Papa, em minha opinião, aceitaria essa posição. O celibato não é um dogma, não é uma prática inalterável".
            Isso não seria nada de extraordinário. De fato, no catolicismo de rito oriental, continua a ordenação de casados e os padres anglicanos casados que se convertem são aceites na Igreja católica na condição de casados. Mais importante: a lei do celibato, como ficou dita, não é um dogma de fé, mas uma medida disciplinar. O que é essencial é que as comunidades cristãs possam celebrar a Eucaristia, o que nem sempre acontece, e uma das causas é a exigência, que não provém do Evangelho, do celibato.
      
      Para confirmar o que estou falando, acaba de ser publicado o Instrumentum Laboris(intrumento de trabalho), que servirá de base aos debates durante o Sínodo para a Amazónia, que terá lugar no Vaticano, de 6 a 27 de Outubro próximo, onde se lê: estude-se a possibilidade da ordenação sacerdotal dos chamados "viri probati", isto é, homens de virtude comprovada, com maturidade humana e cristã, respeitados e aceites pela sua comunidade, "mesmo que já tenham uma família constituída e estável." Quanto às mulheres: "Identifique-se o tipo de ministério oficial que pode ser conferido à mulher, tendo em conta o papel central que hoje desempenham na Igreja amazónica."

Padre Carlos
PARTIL


terça-feira, 25 de junho de 2019

ARTIGO - O dia em que o Supremo se apequenou! ( Padre Carlos )






            Quando saiu o resultado sobre o julgamento do habeas corpus do presidente Lula, sentir que não havia há quem mais recorrer e confesso que sentir vergonha da justiça que praticamos. Como disse certa vez Rui Barbosa: “a pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer”.
            Apesar da inversão de pauta ser perfeitamente comum em casos que se encontram réus pesos, sentir no ar que algo estava fugindo da minha compreensão e manter na pauta o habeas corpus com toda aquela naturalidade, só seria possível se duas questões estivessem se consolidando entre os magistrados. A primeira seria que a Corte estaria disposta a absolver que a narrativa do conluio era falsa; e a segunda é a vitória mais uma vez da mão invisível, diante das sentenças contra o presidente.
          
  Diante de tanta injustiça, coloquei nas mãos de Deus e um sentimento de fazer justiça me fez lembrar Cosme de Farias. Para os mais novos, gostaria de pedir licença para falar deste grande jurista.
            A história de Cosme tem o tempero dos “causos” narrados pela gente do povo, mas também conta com boa dose de verdade. Mulato nascido no Subúrbio, filho de um pequeno comerciante de Salvador com apenas o antigo primário completo, tornou-se advogado provisionado (rábula) e passou a vida defendendo milhares de clientes que, sem condições financeiras, de outra forma não teriam condições de uma defesa.
Podemos dizer que Cosme de Farias somava inteligência, astúcia e humor na argumentação em favor dos pobres e da busca incessante da justiça. Alguns episódios eram hilários e se tornaram lendas no meio jurídico. “O resultado da revolta contra a injustiça que estavam cometendo contra um réu”, na primeira metade do século XX, pode exemplificar isso.
O rábula ergueu-se na plateia e se aproximou do juiz e dos jurados com uma vela na mão, tinha em seu semblante ares de quem procurava algo no chão. Intrigado e, de certa forma, irritado, o magistrado perguntou o que motivara tal gesto. Em bom som, ele respondeu: “A Justiça, meu senhor, que nesta casa anda escondida”.

São com estas palavras de Cosme de Farias, que perguntamos com todo respeito ao STF: onde se encontra a justiça desta casa, que não quer enxergar que tiraram do réu todo e qualquer direito de se defender. Agiram de forma covarde contra uma pessoa indefesa, usando de forma indevida as instituições e o estado brasileiro para condena-lo.
Isto se tornou um escândalo de proporções internacional e com certeza terá consequências gravíssima para que possamos voltar acreditar no estado de direito.
      
  Não posso acreditar que parte da nossa impressa e alguns operadores do direito sejam hipócritas a tal ponto de dizer que estão escandalizados e chocados com tudo que aconteceu na república de Curitiba. Não podemos esquecer que há quinze anos em artigo o ex-juiz já aventava a possibilidade de agir desta forma. Segundo o Sérgio Moro, deveria se chegar até o limite com os instrumentos legais e buscar o apoio da imprensa e da opinião pública. Só assim, conseguiriam êxito e essa era a única maneira de avançar no combate a corrupção.
        Diante de tais fatos, negar o HC ao presidente Lula é ferir de morte o estado de direito e colocar o Supremo em um patamar que eu não gostaria de ver a Corte do meu país.

Padre Carlos

ARTIGO - O que é ser de esquerda hoje? ( Padre Carlos )



O que é ser de esquerda hoje?

      Um amigo na rede social me perguntou o que seria ser esquerda nos dias de hoje? Diante do desencanto com a política e a crise de utopia que atravessou minha geração, confesso que fiquei mudo naquele momento e diante daquele questionamento passei a refletir o mundo sem a esquerda, busquei na história e na caminhada do povo de Deus o que seria defender os mais fracos? Foi dentro desta mística que me coloquei em oração. Qual a preocupação dos homens de Deus? A preocupação dos profetas e principalmente de Isaías ao defender os órfãos e as viúvas naquele tempo? E não podemos esquecer-nos da sua luta e da sua pregação contra a corte palaciana devido às injustiças cometidas contra o povo.

      Neste sentido, penso que ser esquerda nos dias de hoje é antes de tudo, está comprometido com a luta por Justiça no mundo, jamais me imaginei de mãos dadas com as minorias – mesmo porque, bom que se diga, foram os que detinham e detém o poder político, econômico e religioso que mataram Jesus e hoje, em nossos dias, defendem em seu projeto de sociedade questões conservadoras que aprofundam mais e mais a pobreza e a injustiça.
      A Bíblia sempre pregou que deveríamos optar pelos pobres; e isto não é dar esmolas. Aliás, é bom que saibamos: nos templos bíblicos, em Israel, os mendigos não pediam simplesmente esmolas. Eles pediam por tsedaqah ( צדקה ts ̂edaqah ) que significa JUSTIÇA. Esta Justiçé aquilo que, de acordo com a Torá, ele devia gozar: paz e prosperidade.
      Logo, fica explícito que a pobreza não é, de forma alguma, algo natural (como pensava Aristóteles!), mas é fruto dos poderosos que exploram, enganam, devoram, oprimem e perseguem os menos favorecidos. A pobreza na bíblia não é, de modo algum, uma situação resultante de uma lei da natureza ou de uma vontade de um criador, mas, sem dúvida, uma produção social.
     

A esquerda entra no século XXI como todas as perdas acumuladas nas duas ultimam décadas. Os anos noventa representaram uma derrota para a esquerda mundial. Políticas sociais dos estados de bem-estar social retrocederam, a integração das economias socialistas ao mundo capitalista e a regressão dos movimentos de emancipação do terceiro mundo parecem sinalizar que o tempo da emancipação política radical chegou ao fim. No Brasil, o governo de extrema-direita do Sr. Bolsonaro, trouxe junto com ele todas as desesperanças e a incompetência administrativa, além de imprimir políticas neoliberais e cortes em programas sociais, aprofundando assim, mais ainda a crise econômica, em nosso país.

      Ser de esquerda hoje é complicado definir. Acredito que requer muita “dureza” mas, também, muito jogo de cintura. O diabo é descobrir como ter princípios sem ser ingênuo , como ser pragmático sem ser oportunista. Não tenho a receita, não tenho os algoritmo para solucionar este problema.
Mais uma coisa eu tenho certeza meu amigo, eu ainda acredito que ser de esquerda, nos dias atuais, significa defender os direitos humanos, os direitos das minorias. Lutar, como sempre lutei, por justiça social.

Padre Carlos.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

O que é ser oposição?




O que é ser oposição?



Pergunto-me quase todos os dias, nos últimos dois anos, o que é ser oposição. E a resposta é triste.
É perder amigos, verdadeiros e falsos.
É não colaborar.
É ser duro e inflexível como um comunista da velha guarda.
É escolher a verdade invés a conivência.
É deixar de cumprimentar quem fala mal da gente nas nossas costas.
É dizer ‘Não’ a muita gente, quase todos os dias. 
É ter coragem física.
É ter olhos como duas balas.
É ser brutal em vez de cínico.
É almoçar sozinho - e gostar. 
Nas democracias e nas ditaduras - sobretudo nesta - sempre houve homens e mulheres que escolheram a resistência. A maioria acomoda-se, aceita, conforma-se. Mas ‘há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não’. 
Ser oposição não é, portanto, uma questão decibéis nos gritos, é um modo de vida. É uma atitude. E antes de ser uma atitude é um modo de ser. É ser radical na defesa de causas e no combate às causas que se lhe opõem. 
O poder corrompe e é tão tentador como a Eva despida no paraíso. Ser oposição é fugir da tentação a sete pés. 

Padre Carlos


ARTIGO - Gisa e o MFraC ( Padre Carlos )





Gisa e o MFraC



          Embora muita gente não saiba, temos no conjunto da Igreja, irmãos e irmãs religiosas que tem uma vida assumida ao amor e dedicação aos votos de obediência, pobreza e castidade. Temos também no seio da nossa Igreja, leigos que não fizeram tais votos, mas se consagram pela sua entrega, pelo zelo na causa de Deus e dos homens, pela entrega gratuita dos carismas ao serviço de todos. Sem hábitos nem distintivos.

         Foi assim que sempre conheci Gisa Maia, na paróquia de Nossa Senhora da Luz, em Salvador. Se D. Celso José foi um pai espiritual para mim, esta serva de Deus tem um papel maternal na minha conversão.  A irmãzinha sempre trabalhou ao lado do mais pobre. Oferecendo tudo, inclusive a sua inteligência deslumbrante. Nada tem guardado dos dons que recebeu.

  
       Na percepção da Igreja e do mundo, na espiritualidade profunda que alimentou na entrega discreta e simples de toda a sua existência, no discernimento dos sinais, no respeito pelas dinâmicas, no sentido estético que vem imprimindo ao longo de todos estes ano ao religioso na fé que discretamente revela, no respeito e competência com que acompanha a evolução Conciliar, na forma como renunciou a hábitos adquiridos desde a infância, na tolerância e paixão com que admitiu as transformações que o Vaticano II gerou na forma paciente e dialogante como tem lido os sinais dos tempos.·.
         A paróquia ficava cada vez menor pra tanto amor e seu envolvimento com a defesa dos mais pobres levava a uma tomada de posição e ruptura com sua classe e a família. Foi neste momento que toma consciência da necessidade de tornar público aquele compromisso e desta decisão nasce o MFraC, O Movimento de Fraternidade Cristã. Sua ação evangelizadora chamou a atenção de parte da Igreja que via com bons olhos o trabalho desenvolvido por aquela mulher. Desta forma, o bispo da cidade de Ilhéus, D. Tape, passa a oferecer uma orientação espiritual a ela e aos jovens que a seguia.    Venho ao longo da minha vida, testemunhando o seu respeito, a lisura das suas observações, a inteligência invulgar da sua reflexão, aliado a uma cultura humanística profunda que sempre discretamente tem revelado, tanto no campo religioso como no profano.

         Tudo isso me deixou um indizível sentido de respeito e ternura por uma mulher inteiramente consagrada a Deus e aos outros.

         A consagração é um privilégio também de muitos leigos que se entregaram totalmente.

         O começo foi igual ao de todos os consagrados: o Batismo.


Padre Carlos

ARTIGO - Nossa falta de memória ( Padre Carlos )




A falta de memória





            Memorial é resgatar a memória é lembrar um determinado dia é fazer com que nós não esqueçamos jamais desta data. Um aniversário de nascimento, de casamento a própria Missa é um memorial ela representa a Paixão Morte e Ressureição do nosso Senhor Jesus Cristo. No mundo, vimos exemplos de memorial para que o homem se lembre dos horrores da guerra. Assim, Auschwitz, no dia 27 de janeiro, chama atenção do mundo para lembrar a barbárie, assim nesta data foi definida como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Uma data criada pelas Nações Unidas para recordar os cerca de seis milhões de judeus assassinados pelo regime nazi.     Estima-se que daqui a dez anos já não haja sobreviventes para contar a história de uma das maiores atrocidades ao próximo. Por isso, mais do que nunca, é nosso dever manter estas memórias vivas. Lendo esta matéria, sobre a realidade na Europa, principalmente na Alemanha, país que foi palco de todos estes acontecimentos, me lembrei como pecamos em não resgatar as nossas, memórias, as nossas conquistas e os momentos difícil que tivemos que atravessar nesta vida.
            Ao constatar a ascensão da extrema-direita como uma ameaça à cultura da memória, passei a entender como estas forças se alimentam da falta de informação. As autoridades daquele país puderam perceber os números alarmantes de uma investigação recente que revela que 40 por cento dos jovens alemães afirmam não saber "quase nada" sobre o Holocausto. Recordar um dos momentos mais triste da história da Humanidade é crucial para que a história nunca se repita. Depois de ler aquele artigo, pude entender porque não ficamos chocados e indignados, quando o presidente faz apologia à tortura e a ditadura, querendo transformar o 31 de março como uma data comemorativa.
     
       À onda de descrença das populações nos partidos e nos políticos, não é só no nosso continente, crescem também por toda a Europa, e em todo o mundo. Este é o grande combustível para que os partidos e movimentos populistas se desenvolvam e se alimentem do sofrimento e da falta de esperança – sejam de esquerda ou de direita – e de perigosa inspiração extremista. Como se sabe, aliás, estas forças já ganharam protagonismo e assento em países como a França, com Marine Le Pen, a Holanda, com o Partido da Liberdade, ou até na Espanha, com a entrada do Vox, de extrema-direita, no Parlamento. Já no nosso caso daria para outro texto…
            À crise da democracia esta relacionada à falta de memória coletiva e o difícil acesso a informação das novas gerações. E uma mentalidade de quem tudo quer menos a Liberdade. Estejamos atentos.
Padre Carlos


ARTIGO - Já posso lhe elogiar ( Padre Carlos )





Já posso lhe elogiar





             A palavra elogio deriva de duas palavras da língua grega e significa “bom” ou “ bem” é o enaltecimento de uma qualidade ou virtude de alguém. Ressaltar as qualidades de uma pessoa em vida é muito difícil, principalmente se você vive e milita no meio político. Tudo o que você disser ponderar ser usado contra você e seu grupo um dia.
            Hoje estava me perguntando por que até dentro do próprio partido, não reconhecemos os valores dos nossos companheiros? Dentro de uma cultura de disputas constantes, reconhecer competências e valores, nos torna menor diante daquele que exaltamos.
            Pensando todas estas coisas, foi que me veio às citações de Machado de Assis, «está morto: podemos elogiá-lo à vontade». Tudo isto é a pura verdade, principalmente para aquelas pessoas, que em vida, suscitou paixões diversas e antagónicas.
             A morte no meio político é assim, tem a capacidade de propiciar a unanimidade no elogio, porque, na verdade, ninguém é absolutamente mau ou inteiramente bom. O defeito e a virtude existem em cada um de nós e traduzem essa circunstância que nos individualiza e humaniza.
    
        Não podemos negar que somos o que somos por diversos fatores externos e internos que nos forjam o carácter e nos definem como pessoa. Como disse o filósofo, somos a soma de todos os sins e nãos que damos em nossas vidas. Por isso, qualquer pessoa esta sujeito a gestos de extrema covardia e ao mesmo tempo pode nos surpreender também com atos heroicos que jamais poderíamos esperar.
             Desta forma, perante esta atmosfera de luto, o consenso e os elogios que estamos habituados a testemunhar, nos questionam sobre os nossos propósitos e sinceridade em relação ao outro.
             O que na verdade gostaria de dizer hoje é que neste contexto de lutas e disputas, tenho cada vez mais a certeza, que uma geração de políticos forjados nas lutas contra o regime militar, que viveu a política com sentido de projeto e de serviço está acabando. E o vazio que se forma no meio político, tem muito haver com a falta de competência e amadorismo que constatamos em alguns quadros.
            Ressaltar as qualidades dos companheiros, talvez seja o remédio que tanto falta a este partido, além de promover a autoestima e reconhecer que somos capazes de assumir não só responsabilidades no partido, mas também nos governos petista.

Padre Carlos

ARTIGO |O The Intercept e a ( pós) verdade (Padre Carlos)



The Intercept e a ( pós) verdade



            Quando me propôs fazer estes artigos, tinha como objetivo trazer temas filosóficos para a reflexão do cidadão que não teve oportunidade de frequentar um curso acadêmico e procura uma abordagem mais técnica dos acontecimentos da vida política.
            O tema que vamos abordar hoje, diz respeito à verdade, ou melhor, a pós-verdade. Assim, podemos definir este fenômeno através do qual a opinião pública reage mais a apelos emocionais do que a fatos objetivos. Desta forma, definimos este conceito de verdade, observando como os fatos são colocados em segundo plano quando uma informação recorre às crenças e emoções das massas, resultando em opiniões públicas manipuláveis. Para isto, vamos resgatar os valores filosóficos e, a aplicação da filosófica no conceito e na aplicação da pós-verdade para abordamos de forma clara como os acusados e a imprensa de massa vão tratar este caso. O que se encontra em jogo é a narrativa entre a forma que foi conseguida a informação e o seu conteúdo que está sendo divulgado pelo site The Intercept. Assim, o filósofo tem o dever de ponderar de forma reflexiva a acerca das questões que estão sobre sua responsabilidade.
       
     “A pós-verdade, é a ideia de que um fato concreto tem menos significância ou influência do que apelos à emoção e as crenças pessoais”. De acordo com o dicionário, o prefixo “pós” transmite a ideia de que a verdade ficou para trás. (Como querem a Rede Globo, Mouro e a Força Tarefa). Sem pretensão de fazer uma abordagem psicológica, podemos afirmar que a tendência do ser humano de julgar fatos com base na sua própria percepção é uma tendência natural. Com isto, podemos afirmar que, a pós-verdade é uma “seleção afetiva de identidade”, através da qual os indivíduos se identificam com as notícias que melhor se adaptam aos seus conceitos.
            Sabendo de todas estas informações, Glenn Greenwald, parte no sentido de fazer parcerias e ampliar através dos órgãos de comunicação que transcende o métier da imprensa alternativa. Foi com o objetivo de disputar a narrativa entre a forma e o conteúdo, que o site The Intercept fechou uma parceria para Reinaldo Azevedo a Rede Bandeirante e com a Folha de S.Paulo e a Revista  Veja.          
            Assim, quando essas certezas são exploradas pelos meios de comunicação para fins midiáticos, econômicos ou políticos, nasce o fenômeno da pós-verdade, no qual as massas “preferem” acreditar em determinadas informações que mesmo não sendo verdade traz a credibilidade do órgão que transmite.
            Os meios de comunicações são concessões do governo. Assim, por se tratar de um bem público, não podemos admitir este tipo de comportamento em relação à veracidade dos fatos, estas empresas tem que ter mais responsabilidade pelas notícias que divulgam, É necessária uma reforma das comunicações para que a democratização das informações seja uma ponte entre o cidadão e a verdade. Desta forma, a responsabilidade de importante ferramenta não deve ficar concentrada nas mãos de poucas famílias, como um feudo controlador da informação no Brasil. São estes, os grandes responsáveis pelas manchetes e matéria, com elementos de pós-verdade, Assim, estas empresas, junto com um judiciário partidário, formavam as manchetes desta imprensa sem compromisso com a veracidade dos fatos, esta aliança, esta sendo quebrada agora com as revelações da Vasa Jato.
            . A pós-verdade é a aceitação de uma informação por um indivíduo ou grupo de indivíduos, que presumem a legitimidade desta informação por razões pessoais, sejam preferências políticas, crenças religiosas, bagagem cultural, etc. Assim, a pós-verdade não implica necessariamente em uma mentira (tendo em vista que a informação não verificada pode ser verdadeira), mas sempre implica em uma negligência com relação à verdade.
            Recentemente foi compartilhada por milhares de pessoas nas redes sociais a informação de que o cantor Pabllo Vitar seria beneficiado pela Lei Rouanet em cerca de R$ 5 milhões de reais para uma produção musical. A notícia trazia o fato paralelo de que o Hospital de Câncer de São Paulo teria sido fechado por ausência de verba, fato este que trouxe imediata indignação coletiva de muitas pessoas que, antes da informação, possuíam algum tipo de preconceito com o cantor e com a representatividade LGBT no meio cultural.
            Surpresa! A informação era falsa e compõe um dos diversos casos de notícias incorretas espalhadas virtualmente ao longo do processo judicial do Presidente Lula.
            O ódio ao PT e ao Presidente Lula, também foi fruto desta prática criminosa dos meios de comunicações e da estrutura da Sec. De Comunicação do Estado de São Paulo, governado pelo PSDB. As técnicas mais sofisticadas e profissionais com capacidade de colocar em pratica a manipulação da verdade dividiram o país em duas vertentes: Os que têm senso críticos e as vitimas da pós-verdade.
        
    Assim, foi comum que informações potencialmente falsas relacionadas ao tema da campanha eleitoral, como por exemplo: o acordo de delação do ex-ministro Antônio Palocci no âmbito da Operação Lava Jato se estabeleceram e se propagaram na sociedade como se fosse verdade, ainda que de forma passageira, tendo em vista que os beneficiados, muitas vezes, só precisavam sustentá-las até o dia da eleição.
            Logo, quando se trata de política, o senso crítico (capacidade de questionar e analisar informações de maneira objetiva) é a grande arma que o cidadão comum, tem em relação às informações que chegam a todo instantes em nossas casas, por isto entendo e concordo com Glenn Greenwald em criar uma rede e se fortalecer para participar desta guerra.

Padre Carlos.



ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...