quarta-feira, 29 de setembro de 2021

ARTIGO - Vem aí a federação de partidos políticos? (Padre Carlos)

 

Qual o objetivo da criação desta federação?

 


 

Quando falamos de federação partidária, queremos dizer que se trata de uma aliança temporária entre os partidos políticos que tem de certa forma uma aproximação ideológica e programática que convergindo em um acordo poderá resultar na criação de uma única instituição — a federação. Mas o que é uma federação? A palavra "federação" vem do latim foederatio, de foedus, que significa aliança, liga tratado e acordo. Podemos dizer que esta liga precisa ser alicerçada em acordos para que estes partidos possam construir esta federação de partidos políticos de fato e de direito. Por isto, precisamos romper com tudo que nos divide e buscar uma verdade que transcenda meu métier, o meu grupo o meu partido e buscar a soma do coletivo como a verdade que é fruto de um consenso. Só assim, teremos a união formal de duas ou mais agremiações que passarão a compartilhar interesses comuns a fim de formar uma comunidade ideológica e política mais ampla.


Não podemos negar, sem sombras de dúvidas, que haverá uma considerável redução na autonomia de cada partido integrante da federação. Diante disto, é fundamental o grau de afinidade ideológica, por isto ele deve ser conditio sine qua non para se criar este pacto. Os partidos integrantes transferem parte de sua autonomia para um conselho político formado pelos partidos — a nova Instituição.

 


O objetivo da criação desta federação, não deve ser apenas continuar tendo acesso a recursos públicos e representação no Congresso Nacional, nem ser salvo da extinção por causa da chamada "cláusula de barreira". Mas aproveitar esta oportunidade e afunilar os pontos de confluência para se criar um projeto para a nação. Tem que ser algo que estabeleça compromissos e reciprocidade, e não uma manobra meramente eleitoral. Poderemos entender melhor os campos ideológicos e passar a acompanhar a esquerda o centro e a direita, nas suas movimentações. Tem que ser uma união programática e não um produto com prazo de validade.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

ARTIGO - Fé, Política e Cidadania (Padre Carlos)

 


O homem não pode se separar de Deus, nem da fé e da política.

 


O papel da política é materializar o bem comum, de modo a construir uma sociedade moralmente sã, onde reina a paz, com oportunidades para todos e justiça social. Este ensinamento nos foi dado por São Tomas More, patrono dos políticos. Desta forma quando doou a sua vida por esta causa, ele queria ensinar que não devemos abrir mão dos valores católicos, pois é na formação da consciência política individual que construímos o Reino de Deus. São justamente estes valores que levamos para o mundo da política, por isto eles não servem apenas aos católicos, mas por sua construção moral e ética, servem a todas as pessoas que passamos a conviver neste métier.


Faltando um ano para as eleições e entrando de fato neste período eleitoral, de forma objetiva e com sobriedade, é importante para o cristão criar uma consciência política madura, sólida, de modo a enxergar quais candidatos comungam dos valores cristãos, não apenas com palavras, mas com gestos e testemunho de vida. Neste período é comum a demagogia de muitos e os discursos oportunistas, no entanto, é importante ver o passado, investigar sem paixões, mas com responsabilidade, o histórico dos candidatos, os seus posicionamentos ou a ausência deles, as suas incoerências, enfim, o seu testemunho autêntico de competência e coerência na vida pública, a fim de formar um juízo de valor que colabore na tomada de decisão do voto.

Gostaria de lembrar aos leitores as palavras do Papa emérito Bento XVI, que afirma de forma clara que “é papel da Igreja emitir juízo moral em questões políticas quando isso for importante para defender os direitos fundamentais da pessoa”. O Papa Francisco nos recorda que “a atuação política por parte dos leigos é uma das mais altas formas de caridade”, portanto, o cristão leigo não pode ignorar a ação política e a fé precisa caminhar junta, para que a obra seja repleta de fé. O que eu gostaria de dizer, é que o verdadeiro cristão, não pode cultivar indiferença à política, pois ela é o instrumento para melhorar a qualidade de vida da nossa gente, para garantir os direitos individuais e coletivos, para promover a paz e a justiça social.

É preciso que fique claro que estamos de acordo com as palavras do nosso Papa Francisco: “é papel do leigo esse envolvimento, o engajamento na ação política; o leigo deve ser comprometido com o seu voto e com a formação de uma consciência política permeada pelos valores cristãos que nos levam em direção ao próximo”.


Num país como o nosso onde o estado é laico, mas o povo é predominantemente cristão, se faz necessário a formação de uma nação cada vez mais consciente de que “O homem não pode se separar de Deus nem a política da moral”, para que alcancemos o nosso objetivo maior, que é ter uma sociedade moralmente sã, que possua o amor, a paz e a justiça social como pilares de sua existência.

 

 


sábado, 25 de setembro de 2021

ARTIGO - O Centrão diante da crise política (Padre Carlos)

 


O Centrão não é o centro!

 


Outro dia, estava assistindo um deputado falando, sobre a forma como o Centrão vem ocupando a estrutura de poder no governo Bolsonaro. Quero dizer que concordo com aquele dep. em gêneronúmero e grau. Este grupo de parlamentares sempre se utilizou de uma absoluta falta de escrúpulos para sacramentar uma política do toma lá, dá cá, mantendo todos os governos deste período que conhecemos como redemocratização, refém e subordinado aos seus interesses.


Sim, prezado leitor, aí começa minha discordância com o proeminente deputado! Sua Excelência se esqueceu de dizer no seu discurso da tribuna daquela casa, que o "centrão" aderiu também os governos de Fernando Henrique, de Lula e Dilma, até ela perder popularidade. Podemos falar tudo de ruim deste bloco parlamentar, menos que eles não foram obediente e votou contra a agenda dos conservadores, e agora, aí reside o perigo, adere a Bolsonaro da mesma forma que o pântano político italiano dos anos 20 aderiu e sustentou ainda mais do que os fascistas, Benito Mussolini.

         Afinal, é possível denunciar a barbárie e continuar celebrando a vida com os bárbaros? Gostaria de lembrar ao nobre parlamentar, que a opção de Dilma e do PT para acalmar o PMDB e o Centrão diante da crise política enfrentada em seu mandato, foi oferecer dois ministérios à bancada do partido na Câmara e dois aos parlamentares do Senado. Um quinto ministro seria indicado pelos peemedebistas das duas Casas. Michel Temer, sabendo que o governo agonizava e que aquela reforma nada mais era do que uma compra de votos, disse em tom de deboche: provavelmente" o PMDB ficaria com seis ministérios, um a mais do que o planejado inicialmente. O tiro saiu pela culatra  e o governo petista saiu ainda mais fraco deste processo.

O modus operandi deste bloco parlamentar é o mesmo, primeiro enfraquece o seu aliado para depois espoliar todo seu governo. Desta forma, quando Ciro Nogueira, presidente do PP e líder informal do "centrão", o conjunto de deputados que se move apenas por cargos e verbas, tornou-se ministro da Casa Civil, tinha como objetivo uma única coisa, tornar Bolsonaro refém do "centrão" para fazer do governo e da política um verdadeiro balcão de negócios.


Diante disso, gostaria de dizer para aquele deputado que discursava na Câmara, que como já vivi um pouquinho mais, tive a oportunidade de ver outras forças políticas utilizando o dinheiro público para se manter no poder. Assim, gostaria de afirmar, que Bolsonaro perdeu toda a legitimidade e deve sangrar até o fim e como em qualquer governo que está caindo, o Centrão "provavelmente" ficará com bem mais do que os seis ministérios, que foram oferecidos pelo governo passado.

 

 

 

 

 


sexta-feira, 24 de setembro de 2021

ARTIGO - O conservadorismo e o mito do velho reacionário (Padre Carlos)

 

É verdade que nascemos revolucionários e morremos conservadores?



 

Como professor de filosofia, venho percebendo que os Conceitos que definem nossas ações e os que defendemos muitas vezes se apresentam de um jeito confuso e sendo usado de forma indevida. É o caso do conservadorismo, como do liberalismo, do socialismo e da modernidade. Há um conservadorismo possível para o século XXI que nada tem a ver com associações erradas. Ser conservador não é ser reacionário, nem tradicionalista, nem ser apologista do mau populismo, nem fascista, da alt-right ou qualquer expressão extremista e radical da direita, ou aceitar qualquer movimento que proponha mundos alternativos, paranóicos e conspirativos e que seja antissistema por sistema.


Estamos perante uma profunda crise de legitimidade ela está ligada entre a sociedade em que vivemos e o funcionamento das nossas democracias liberais. Quando falo isto, me refiro ao alheamento e a abstenção das pessoas, a descrença nos políticos, a agitação sem efetiva vigilância do extremismo à direita como se deu no início do séc. passado.  Não há chão sólido de idéias e de práticas e esse vazio está cada vez mais presente na profunda desorientação das sociedades atuais.

Ser conservador para um velho professor significa guardar o que há de melhor no que fizemos e pensamos, para que as novas gerações possam adaptá-lo a cada tempo e corrigir o que há para corrigir. Há um tesouro que é a o acumulo de toda a experiência humana, que encontramos na nossa história e na nossa idéia de futuro, das nossas ações em comum, como resultado dos laços sociais e da relação de liberdade individual com a comunidade e o bem comum, da idéia da dignidade da pessoa e de sociedades decentes. 

Ser conservador significa que não vale tudo, que existem limites e portas que não se devem abrir. Ser conservador é saber que não somos deuses, que as promessas de trazer o céu para a terra ou do homem-deus que é o homem demente não são utopias, são estória que não tem lugar hoje em no movimento estudantil.  Não há uma bondade natural, nem uma maldade inevitável, mas nem tudo é relativo ou simples contexto. Não há também conquistas irreversíveis, como é caso da liberdade individual responsável, da democracia e da equidade que têm que ser defendidas e reafirmadas. Não há sociedades idéias, mas sociedades reais.


Ser conservador não é defender qualquer desigualdade econômica e social imutável ou baseado em algo que não o esforço, o mérito, trabalho, mas também a justiça social. A igualdade de condições é fundamental, por isto, o igualitarismo não é destrutivo para liberdade, quando defendemos a igualdade de direitos e oportunidades, para todos os seres humanos, tanto no âmbito político como no âmbito econômico e social. Isto só faz reforçar a importância do mérito e do esforço. Diferença não é desigualdade. A base das sociedades não é a economia, mas sim um conjunto de valores fundamentais. O mercado livre, a livre iniciativa e concorrência são alicerces de sociedades decentes, mas devem fundar-se na confiança, na justiça social e nos direitos trabalhista. Só assim, esta liberdade individual se torna indissociável da responsabilidade. Um conservador sabe que a mudança significa vitalidade, mas há também um patrimônio civilizacional que se deve cuidar e guardar. Esse patrimônio são os nossos tesouros: da filosofia grega ao cristianismo, à ciência moderna, à apologia da razão, ao iluminismo, à democracia, ao Estado de direito e à separação de poderes. Começar tudo do zero, considerar que tudo vale o mesmo, que não há limites, autoridade (diferente de autoritarismo), que tudo é subjetivo e que todo o poder é opressivo e maquiavélico, que podemos fazer o que quisermos faz parte do niilismo destrutivo que não tem nada de revolucionário e progressista.

Precisamos acabar com o mito do velho reacionário e buscar o que existe de melhor na nossa sociedade e valorizar toda a experiência acumulada que as gerações que nos antecederam deixaram como herança para humanidade.

 

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

ARTIGO - Quais as condições para existência de uma terceira via. (Padre Carlos)

 

Vivemos uma crise ética, política e de liderança no centro democrático. 

 


 

         Vamos entrar no ano eleitoral  com a esquerda  liderando todas as pesquisas de opinião, enquanto isto, os partidos da direita democrática buscam de todas as formas uma alternativa para continuar na disputa e como não poderia ser de outra forma,  buscam entre os pré-candidatos um bom portfólio, para poder se manter no jogo.  Como observador, poderia dizer que o grande objetivo neste momento deveria ser buscar entre seus quadros técnicos, alguém com capacidade de rascunhar um discurso propositivo que viesse polarizar com a esquerda e a utra-direita para conquistar o voto de opinião desta parcela tão importante da sociedade que é a classe média. Existem momentos em que precisamos perder, para dar-mos conta de quão estáva-mos errados.  Quero dizer que as instituições da República como o MPF e os meios de comunicação, não poderão agir como agentes políticos, como fizeram recentemente, eles ocuparam este espaço, porque os partidos de direita e do centro, que deveriam fazer isso, não estavam conseguindo atuar de forma eficiente em se constituírem como opção de poder pelo voto. Não é desta forma que conseguirão reverter esta vantagem do seu oponente. Tudo isto, somado a incompetência, a arrogância e o desespero de alguns quadros, poderão levar mais uma vez a polarização do processo eleitoral e frustrar a construção de uma frente democrática capaz de repactuar a nação.


Porém, não aparece no atual quadro da política brasileira, Uma liderança do centro ou a direita que reúna as qualidades de estadista e tenha densidade eleitoral para empreender este projeto. Não basta ter respeitabilidade moral para exercer o governo da república é preciso acima de tudo, ter força política para representar os diversos setores da sociedade. E quando falo isto, me refiro da urgência de encontrar este nome devido ao agravamento da situação política e econômica bem como à desmoralização que atinge o governo atual em todos os setores.

Alguns temem que a aparente indiferença do povo brasileiro, diante das revelações sobre a corrupção moral e política do governo Bolsonaro e do próprio presidente seja uma prova, de que a corrupção, já se expandiu por toda parte.  Gostaria aqui de lembrar ao leitor das palavras de Maquiavel: se a corrupção se estendeu até o público, de modo que o povo não se sente ultrajado pela corrupção moral e política de seus líderes; se, em vez de exigir leis e líderes que defendam a virtude e promovam o bem comum, o povo passar a imitar seus lideres justificando todo tipo de corrupção então chegou ao fim do poço. Quando ficar claro este estágio, estaremos no caminho que nos levará a tirania. •

      

 Falta também discutir coletivamente de forma racional as causas e conseqüências desta crise ética, política e de liderança que o centro democrático vem enfrentando. Podemos dizer que ela é decorrente da perseguição que o MPF o Judiciário e setores da imprensa criaram ao demonizar a classe política. Não que alguns políticos não mereçam ser afastado por desvio ético. Mas o que estamos falando aqui é de uma campanha midiática, que teve como fim deliberado  desmoralizar toda a classe política.


É preciso que esta direita liberal-democrata entenda de uma vez, que só conseguirá entrar no jogo se mudar sua mentalidade e quando falo isto não me refiro à retórica. A direita democrática tem que entender que a dimensão do social não se separa do econômico e é tida como mais-valia para este, e onde o direito é respeitado em todos os seus campos, principalmente no do trabalho. O discurso tem que ser um compromisso político, para que se possa construir e viabilizar principalmente aos atores: econômicos, o setor privado público e social a criarem as condições para existência de uma terceira via.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

ARTIGO - O Pacto Social (Padre Carlos)

 

 

Os nossos oponentes não são nossos inimigos



A crise econômica no Brasil tem se aprofundado, os problemas sociais não diminuíram, as dificuldades orçamentais aumentam a cada dia e o povo assiste a tudo isto e não sabe a quem recorrer. Estamos num dos momentos em que um país vira a página ou coloca em risco todo o pacto federativo.

É natural que, mais tarde ou mais cedo, estas autoridades venham pedir novos sacrifícios da sociedade. Mas, para que possamos aceitar, é necessário que eles tenham sentidos, sejam justos e equitativamente repartidos entre os setores que compõe a sociedade civil. E seja explicado por que são necessários e que efeitos podemos espera que produzam.

Um dos mais graves erros de Bolsonaro e Paulo Guedes foi o de confundir a febre orçamental com a doença da economia e terem receitado terapias que pouco baixaram a febre e não mexeram minimamente nas raízes da doença. Mas a solução não pode ser a da desistência de combater a doença e a febre.

 

Por isto, acredito que um pacto social não pode ser encarado como o resultado concreto de um acórdão específico, mas a vontade de todas as forças políticas que representam a sociedade em geral. E para que isto aconteça de fato, elas precisam assumir compromissos e celebrar isto de forma que o que está no papel será cumprido pelas partes. Assim, não acredito que exista empresários ou trabalhadores que não queira recolocar o país no caminho do desenvolvimento.

Tenho uma visão otimista. Por uma razão fundamental: quem tinha 25 anos quando através do colégio eleitoral, derrotamos a ditadura, não poderia conceber que passados estes trinta e poucos anos pudéssemos chegar aonde chegamos. O que era a mortalidade infantil, a incapacidade de saber ler e escrever, a pobreza generalizada ... A minha visão é sempre completada com um olhar para de onde viemos, para onde estamos indo e como precisamos avançar. Sim, para o salto que se deu! Eu pertenço a uma das últimas gerações do antes da democratização, as outras já estão partindo, e isso dá uma perspectiva grande e um redobrado otimismo

Num artigo publicado, no Washington Post, em Dezembro de 2018, Bill Clinton referiu-se, nos seguintes termos, a George Bush, falecido poucos dias antes, e que tinha derrotado nas eleições de 1992: “Tendo em conta aquilo que a política aparenta hoje ser, na América e à volta do mundo, é fácil suspirar e dizer que G. H. W. Bush pertencia a uma era que acabou e que nunca regressará – em que os nossos oponentes não são nossos inimigos, em que estamos abertos a idéias diferentes para mudar aquilo que pensamos e que os fatos importam e que a nossa dedicação ao futuro dos nossos filhos nos obrigam formar compromissos honestos, duradouros e a um progresso de garantias partilhadas de direitos e deveres, para que possamos construir o pacto nacional. Sei que muitos diriam: que absurdo. É dever dos políticos trazem essa América de volta”.

            Se substituirmos América por Brasil, tenho a convicção profunda de que essas palavras podem também aplicar, na íntegra, ao momento em que vive o país.


        
Da esquerda à direita, dos empresários ao mundo da cultura, do cidadão comum aos mais altos responsáveis dos poderes da nossa República, podemos afirmar que o Brasil precisa passar por um pacto. E quando falo estas coisas, não me refiro ao processo eleitoral que mais parecem com um plebiscito e termina deixando mais dividido ainda o nosso país. Como disse Rousseau, o verdadeiro pacto social consistente reside no fato dos cidadãos sendo ao mesmo tempo súditos e soberanos, obedecem às leis que eles mesmos estabeleceram entre si. O Brasil precisa se encontrar com suas fases de súditos e soberanos, para se encontrar na história.  

 

 

 

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Renée de Carvalho - UMA VIDA DE LUTAS (Padre Carlos)

 

"Atrás de um grande homem, há sempre uma grande mulher".

 


Sempre detestei esta frase!  Porque “atrás de um grande homem”? Porque não “ao lado...”? Talvez porque essa é uma antiga expressão característica da sociedade patriarcal, referindo-se ao tempo em que a mulher ficava nos bastidores, cuidando do lar e dos filhos para que o homem tivesse a tranqüilidade de apenas preocupar-se com o provimento do lar... Porém, os tempos eram outros, num combate entre feministas e mulheres trabalhadoras que defendiam que seu lugar não era apenas está ao lado de um grande homem. Naquele período de “France occupe,” Renée, acumulava várias funções: ser mãe, guerrilheira contra o fascismo e ser companheira.


Foram muitas perdas que a esquerda e o movimento popular tiveram neste ano: amigos, companheiros e companheiras de luta contra o autoritarismo e o fascismo. Podemos dizer que com estas perdas que sofremos, morremos também um pouco este ano marcado pelo flagelo da pandemia e pelo descaso das autoridades.

            Sentimos e choramos pela perda de cada um deles e delas que partiram, confesso aos senhores que sentir um pedacinho da minha história morrendo em cada despedida.


Na semana passada, mais uma companheira se despediu desta vida.  Perdemos uma lutadora das grandes, uma mulher que dedicou sua vida à luta por um mundo mais justo. Militante e aguerrida, nasce em Marselha, na França, em 1925. Filha de pais comunistas dedicou-se desde muito cedo, aos 16 anos, a luta pela resistência francesa contra a ocupação nazista e o governo colaboracionista de Vichy. Renée de Carvalho nos deixou aos 93 anos de idade.

Ainda na juventude conheceu Apolônio de Carvalho, o dirigente comunista brasileiro foi seu companheiro de vida e de luta.  

 

Descanse em paz companheira!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 14 de setembro de 2021

ARTIGO - Um "Estado Social" com Supremo e tudo (Padre Carlos)

 

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        Um pacto político passa necessariamente por um pacto social








Os problemas estruturais da pobreza e da exclusão social no Brasil, não se resolvem apenas com medidas isoladas e pontuais. Assim como na medicina, é indispensável fazer o “diagnóstico das causas da pobreza” para acabar com ela e para prevenir reincidências. Por isto, o aumento da pobreza e da extrema-pobreza em nosso país, tem demonstrado a importância de se criar de fato um Estado Social.


O "Estado Social", que me refiro, é um conjunto de medidas dirigidas à melhoria das condições de vida dos brasileiros. Devem ser conquistas consolidadas de políticas de Estado, não de governo. Isto é, ações que possam proporcionar a criação de mais vagas nas creches, de benefícios fiscais a jovens adultos, da melhoria do Bolsa família e de apoios pontuais às famílias carentes.

É preciso que esta direita dita liberal-democrata entenda de uma vez, que um Estado moderno é um Estado social de direito democrático, onde a dimensão do social não se separa do econômico e é tida como mais-valia para este, e onde o direito é respeitado em todos os seus campos, principalmente no do trabalho. O "Estado social" é um compromisso coletivo que o poder político deve evidenciar sempre, até porque a sua existência não depende apenas da "vontade política". A sua construção e viabilidade obriga a todos, principalmente aos atores: econômicos, os setores privado, público e social criarem as condições para sua existência.

 Hoje, diante do aumento da pobreza em nosso país, a necessidade de uma recuperação da nossa economia precisa ser intrinsecamente, socioeconômica e se faz urgente. Sabemos que pela cultura escravagista que ainda insiste sobreviver na nossa sociedade, levará alguns dirigentes de confederações patronais, diante do menor sinal de preocupação do poder político com as políticas sociais e trabalhistas, buscarem apoio na imprensa corporativa e em seus representantes no parlamento, para barrar qualquer avanço nestas pautas. Estas políticas e reformas que este setor empreendeu no governo Temer e Bolsonaro foram comprovadamente às causadoras do aumento da pobreza em nosso país.


Queremos deixar claro, que um pacto político passa necessariamente por um pacto social e nestes acordos precisarão esta clara não só para este governo, mas para os futuros, saberem qual a economia e qual a sociedade que queremos?

 

 

 

 

 

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

ARTIGO - Uma carta testamento vem sempre acompanhada com um tiro no peito. (Padre Carlos)

 

Um tiro no pé.

 


Meu pai sempre me dizia que os maiores covardes são aqueles que mais querem status de valentões. Foi assim, com enorme surpresa que eu assisti esta semana ao vergonhoso recuo de Jair Bolsonaro, diante de todo o mundo. Confesso aos senhores, que aquela figura abatida e com um semblante como se tivesse beijado a lona, não parecia nada com aquele personagem incendiário que durante meses atacou de todas as formas e feitios a Justiça e a nossa democracia.

        


Como acreditar se tratar da mesma pessoa que alguns dias atrás ameaçavam descumprir ordens do Supremo Tribunal Federal e incitava seus apoiadores contra os ministros da corte, em pleno Sete de Setembro. Esta mesma autoridade que acenou diversas vezes para uma ruptura entre os poderes, fazendo de forma concreta ameaça de golpe de Estado. Este mesmo homem que na terça-feira aos delírios buscava a centralização total do poder, como na figura do Rei. Para ele, assim como Luiz XIV, "O Estado sou eu." Agora, menos de uma semana, estava na minha frente, fazendo um inesperado ‘mea culpa’, pedindo desculpa pelos excessos antidemocráticos e garantindo que as ameaças, insultos e injúrias dos últimos meses foram apenas fruto “do calor do momento”. Ao atribuir “este momento," quer que acreditemos que não cometeu crime nem teve "intenção de agredir" os poderes.

Diante deste “milagre,” Alexandre de Moraes, passou, no léxico do presidente, de "canalha" por ter condenado a prisão de bolsonaristas que tiveram atitudes inconstitucionais, a "jurista e professor", em apenas 48 horas.

 

Neste país, uma carta testamento vem sempre acompanhada com um tiro no peito, mas como de valentão virou como disse o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, "frouxo e covarde," não podemos esperar tal comportamento. Se com uma carta testamento o velho político da década de cinqüenta deu o tiro no peito, com estas qualidades que Maia revelou do presidente, com certeza  este tiro foi no pé.


O recuo do discurso do presidente, entretanto, causou um curto-circuito entre a sua base de adoradores. A militância oscilou entre o apoio cego e incondicional ao presidente e o desembarque do Governo, algo que costuma ocorrer com políticos que demonstram fraqueza e estão balançando no poder.

Diante de tanta fraqueza, a direita já rendeu o bolsonarismo para tentar emplacar a terceira via.

 

 

domingo, 12 de setembro de 2021

ARTIGO - Nosso tecido social esta dilacerado (Padre Carlos)

 

 

 

 

 

 

Reconstruir o tecido social

 

 


 

         Outro dia me fizeram esta pergunta: o que podemos esperar do próximo presidente? Eu olhei aquele jovem que mais parecia comigo nos tempo de movimento estudantil e disse: esta Terra - o país que somos - nesta quadra da história exige mais de nós! Não podemos esquecer este fato para não nos limitarmos em fazer remendos no tecido social ferido pela polarização que tem assolado o país. Precisamos reconstruir esse tecido e pensar nas próximas gerações.


Quando levanto estas questões, quero dizer que precisamos de uma liderança que possa repactuar o país e ser capaz de formular um projeto que seja transformador na vida dos brasileiros. Para que isto aconteça, duas questões são fundamentais: primeira, a sociedade brasileira - começando pelo presidente – precisa ser capaz de romper com a tolerância e condescendência face à pobreza e segundo, não sermos ingênuos na busca de soluções mágicas para daqui a décadas, como forma de escamotear os problemas que estamos vivendo e que são crônicos em nossa sociedade.

A profunda relação entre o trabalho, o emprego e a proteção social está no cerne de qualquer estratégia para reconstrução do tecido social. É preciso valorizar o trabalho e criar mais e melhor emprego, o que passa por reforçar e qualificar o tecido produtivo e garantir os direitos sociais e trabalhistas deste povo. Nestes campos, temos que colocar de lado as políticas de remendos e dar passos consistentes que possam romper com posturas oportunistas ou tacanhas muito enraizadas na nossa sociedade.

O tecido produtivo está deslaçado, não basta proporcionar para este seguimento linhas de créditos. Se a economia for tratada apenas como um país agrário, alavancada pelo agronegócio, fruto de uma forte política de importações criando uma dimensão desproporcionada de serviços de baixo valor agregado e de baixos salários; se continuarmos com estas políticas e não olharmos o nosso parque industrial nem reconstruirmos o nosso mercado interno e não encararmos os desequilíbrios regionais sistêmicos, não criará as bases para reconstruir o tecido social. Mudaremos de um posto Ypiranga para outro qualquer. Desta forma, para as políticas econômicas serão necessário assegurar um sistema de relações trabalhistas em condições de se dar efetividade o diálogo e à negociação coletiva.

O sistema de proteção de que precisamos exige compromissos de solidariedade social estruturada. Cidadãos dependentes da caridade de outrem perdem a dignidade e a liberdade e são reprodutores de pobreza, em todo o espaço das suas relações sociais. É indispensável reforçar os programas sociais como uma forma de atacar a fome e a pobreza, enquanto a nova política econômica não criar as condições necessária para que seja revista. Isso depende, em primeiro lugar, do volume de emprego, do valor dos salários e da existência de vínculos trabalhista para todos os trabalhadores - brasileiros.

Os setores políticos e econômicos que aproveitaram o aumento do PIB no Governo Lula, quando apresentou expansão média de 4% ao ano, entre 2003 e 2010, isto é, anterior a crise criada no final da década passada, passaram a agir nesta crise  transferindo, injustamente, riqueza e poder do trabalho para o capital. Este tipo de comportamento oportunista, só agrava as rasuras deste tecido social.

        


Diante de tudo isto, creditamos que a interrupção desse processo de desagregação social só poderá ocorrer com o fim da pobreza e da injustiça social. Assim, enquanto um quarto da população brasileira, 52,7 milhões de pessoas, viverem em situação de pobreza ou extrema pobreza, este tecido estará dilacerado e jamais será o penhor dessa igualdade que fala o hino. 

 

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

ARTIGO - O Vereador Dr. Andreson, denunciou superfaturamento na compra de teste de Covid-19 (Padre Carlos)

 

 

A Independência desta casa é condição sem a qual não há democracia.

 


 

A Câmara Municipal de Vitória da Conquista é o Poder Legislativo do nosso município, suas funções principais são: legislar, fiscalizar, julgar e administrar. Ela representa toda a comunidade, porque ali está a maioria das correntes de pensamento da população, representando os mais diversos setores da sociedade.


A importância dos poderes municipais, serem independentes e harmônicos ficou claro nesta manhã quando o presidente daquela Casa respondeu ao vereador Dr. Andreson (PC do B), que a harmonia dos dois poderes no nosso município é importante, mas a independência daquela casa é condição sem a qual não há democracia.

Ao responder ao parlamentar sobre as sérias denuncia da existência de um suposto esquema de superfaturamento na compra de teste de Covid-19 pela administração municipal, o presidente da Câmara Luís Carlos Dudé (MDB), deixou claro o papel daquela casa e aguarda a chegada dos suposto documentos fidedignos que aponta as irregularidades, para que juntos possam tomar as devidas providencias. Desta forma, ao afirmar que tem um dossiê comprovando as compras irregulares efetuadas pela Prefeitura de Vitória da Conquista, o vereador precisa tornar público estas provas para que aquela casa possa avaliar a veracidade estes documentos e buscar os devidos esclarecimentos do poder executivo.

Mesmo fazendo estas acusações, o parlamentar não deixou de reconhecer a lisura da prefeita Sheila Lemos (DEM) e da sua família. Assim, mesmo fazendo esta denuncia, ele sabe muito bem que conhecendo a prefeita e sua família, ela jamais concordaria com este tipo de comportamento e se comprovado, os agentes público serão responsabilizados pelos seus atos.

 


Quando o presidente da Câmara de Vereadores e o líder da bancada se situação se colocam a disposição para apurar supostos desvios de recursos, não podemos negar que algo mudou na Prefeitura. A força dos atos e a forma que a prefeita vem administrando esta cidade, falam por si só. Temos que admitir que isto é um fato e contra fatos não há argumentos.

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...