quinta-feira, 6 de junho de 2019

ARTIGO |Conquista e seus candidatos a prefeito ! (Padre Carlos)




Conquista e seus candidatos a prefeito!


                Acontece sempre do mesmo jeito, apesar de que dessa vez aconteceu bem mais cedo do que eu esperava.  A cada eleição majoritária políticos lançam suas pré-candidaturas na esperança de, não podendo ser aceitos, ganharem algo e eu não estou falando apenas de votos. Quem não se lembra das últimas eleições em Vitória da Conquista?

     
  Entre os meses de março e maio de 2016 chegamos a ter 13 pré-candidaturas. Algumas não reuniam chances mínimas para pleitear sequer o cargo de vereador, quanto mais o de prefeito.

             Em outras eleições os políticos esperavam, ao menos, que o carnaval do ano eleitoral terminasse para se lançarem candidatos. Agora, mal terminamos 2018, e já temos algo em torno de cinco ou seis pré-candidaturas assumidas ou pré-assumidas.

        É bom lembrar que a candidatura do prefeito Herzem Gusmão é a exceção, pois ele não precisa pedir a ninguém para postular seu segundo mandato. Na verdade, está é a única candidatura certa que temos no momento. Eu disse no momento, não no futuro.

 O modus operandi dos partidos políticos é sempre o de colocar um nome a disposição dos aliados para abrir as negociações. Apesar do PT na última eleição ter grandes dificuldades para se definir. Inclusive, já conhecemos bem o procedimento. Não há muitos mistérios, mas existem algumas regras que poucos ousam desobedecer. 

        Uma liderança lança o nome de um político e este se faz de rogado no começo para depois dizer que aceita com muita honra a indicação. Em geral, o político diz que não tem a vaidade de ser candidato, mas que aceita o desafio em nome do partido.


 Alguns gostam de dizer que aceitaram a missão depois de ouvir a família, os amigos e os aliados. E ainda tem aqueles que gostam de se vitimizar. Dizem que estão fazendo um grande sacrifício em nome do partido, do povo, da sociedade e blá- blá, blá- blá, blá- blá. Lembro-me da ex-senadora Heloísa Helena fazendo um discurso piegas de como estava sendo sacrificada por ser candidata a presidente da República. Como se lhe tivessem imposto a postulação. Esse é um discurso útil aos que sabem que vão perder.

            Um candidato que não tem retaguarda política, isto é, um mandato de vereador ou de deputado, pode terminar com uma divida estrondosa e uma carreira política comprometida. Na nossa cidade temos exemplo disto. Política não se faz sem uma retaguarda.

 Neste jogo, quem realmente é candidato não se lança com antecedência. Os que possuem lastro não se apressam, se resguardam, pois sabem que quanto mais cedo de lançarem, mais ataques receberão. Já os que sabem que não vão ganhar, ou que não podem ser candidatos, precisam largar antes de todos. São os que têm que buscar um lugar na mesa das negociações, pois necessitam estar no lugar e no momento certo para ver que cargos podem amealhar.

  O lançamento precoce de uma candidatura é, em geral, uma forma de exercer pressão sobre os atores e partidos políticos relevantes do jogo. Claro, muitos se lançam candidatos para serem adulados e assim desistirem da disputa.

     
   Nesse jogo, quem abre mão da peleja não sai de mãos abanando. Sempre dá para barganhar cargos e espaços no processo eleitoral. Todos sabemos que, aqui em Vitória da Conquista, pré-candidaturas foram desfeitas numa relação do toma lá dá cá.

       Enquanto não houver uma reforma política e os partidos não tiverem vidas orgânicas, apesar da eleições deste ano, estes empreendimentos para alugar, não poderão fazer mais o leilão. Mesmo assim, haverá sempre siglas de aluguel a serviço deste tipo de fazer política. Temos que aprender a fazer política com mais seriedade e menos oportunismo.



Padre Carlos

ARTIGO | Amanhã será um novo dia! (Padre Carlos)




Amanhã será um novo dia!



            Tem certos dias que meu corpo se recusa a me obedecer, como se quisesse me dizer: não, eu não vou ou, pare!
            Meu querido corpo, esta vida não nos permite parar, não podemos parar no tempo e nem deixar que o tempo pare os nossos projetos e sonhos que ainda temos o direito de sonhar. 
        
    Mas parar como?  Mesmo que eu quisesse, não conseguiria parar na altura desta vida, descobriria com certeza outros trabalhos para preencher os meus dias. Mas e as doenças? Não, estas não chegaram e espero que não apareçam tão cedo, falo de coisas graves, mas as pequenas coisas com que o corpo nos bloqueia a força, cada vez mais vai nos limitando.  Falo das facetas da corporeidade a fim de mostrar sua prodigiosa força, que com o tempo, vai incapacitando esta matéria nos deixando mais lento.
            As horas demoram de passar, o relógio parece brincar comigo e se recusa a girar e de repente chegou à noite e nada conseguir fazer de concreto, uma sensação toma conta de mim. Sim perdi muito do meu tempo esperando que algo de novo chegasse à minha vida, será que foi um tempo tão mal perdido assim.  E vem uma tristeza que nos cobre, que nos dilacera o coração parecendo uma doença e para quem já viveu momentos muito mais terríveis, há ainda a culpa da perda.
     
       Diante de tudo isto, o que me restou? O medo. Esse velho amigo que nunca mais me deixou e que parece está atento e escondido, nos recantos mais escuros da minha alma, na minha casa ou na minha rua. Eu olho do meu portão e com uma lágrima e quase chorando posso ainda dizer: Amanhã é outro dia.

Padre Carlos

quarta-feira, 5 de junho de 2019

ARTIGO | Um ano sem Dom Celso José (Padre Carlos)




Celso José o bispo misericordioso



“Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam.”


            A vida é repleta de encontros e desencontros. Planejados ou frutos do acaso, são eles que definem os nossos caminhos. O que somos, quem somos, tem muito a ver com quem nos relacionamos nas veredas da vida. Como disse o poeta: “A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.
No início da década de noventa, morava com os irmãos de Taizé, durante um ano convivi com estes monges ecumênicos e tinha como orientador espiritual, a irmã Rafaela, uma religiosa que tinha a espiritualidade inaciana na sua formação. Com a indicação do irmão Michel, fui convidado por Dom Mario para ingressar na Diocese de Paulo Afonso, conversei com o bispo e me coloquei a disposição daquela Igreja local. 
      
      Como morava em Alagoinhas e a orientação espiritual era em Salvador, visitava esta religiosa uma vez por semana e aprofundava com ela os exercícios espirituais além é claro, de partilhar minha caminhada de fé. Ao relatar o convite que recebera daquela diocese, esta sabia mulher me propôs conhecer um bispo da Diocese de Vitória da Conquista, pois este estava naquele dia em Salvador, hospedado na Casa de Retiro no bairro de Brotas.    Pra falar a verdade, não queria conversar com outro bispo, achava que já estava definida minha opção em relação ao meu futuro, porem não queria ser indelicada com minha orientadora, afinal ela sabia o que estava fazendo.
Ao ser apresentado a Dom Celso José, fui apresentado também a uma Igreja misericordiosa e gratuita, onde todos podiam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados. Este foi o sentimento que brotou no meu coração. Um verdadeiro pai que manifestava bondade, graça e amor. Eu sentir durante todos os anos que convivi com este santo, a manifestação da graça, isto é, tinha a mesma atitude que o nosso Deus. O amor e carinho pelos seus presbíteros eram comoventes, sempre fazendo algo em favor do seu presbitério, mesmo que ele não merecesse, mesmo que este não fosse digno, mesmo que aqueles padres não reconhecesse a intenção daquele pastor. Sua preocupação com a formação acadêmica e o bem estar dos seus era o primeiro objetivo e também seu grande legado.
      
      Uma geração de bispo está partindo para o braço do Pai e boa parte deste, foram formados pela Ação Católica. Grandes intelectuais e formadores vieram deste movimento. Acho que a preocupação de Dom Celso com a formação de seu clero e também dos leigos e movimentos tem muito da espiritualidade de uma igreja que busca na formação de quadros, ajudar a criarmos uma consciência de ser verdadeiramente comunidade de fé. 
            Hoje, agradeço a Deus e aquela freira, por ter insistido em me apresentar a Diocese de Vitória da Conquista e a seu bispo um verdadeiro pastor. Se não tive coragem ou oportunidade de dizer na vida, durante sua existência aqui, digo agora antes que seja tarde de mais: Obrigado Dom Celso, por ter me acolhido, protegido e acreditado em mim.



Padre Carlos.


ARTIGO | Qual o nosso objetivo? (Padre Carlos)




Qual o nosso objetivo?


            Os artigos que tenho publicado é fruto de quarenta e cinco anos de militância. Todos giram em torno da filosofia política, sua característica, potencial e, também, as suas dificuldades. Podemos dizer que foram escritos querendo praticar esta matéria de estudo filosofando com vocês. Escrever não é fácil, isso todo mundo já está cansado de saber, principalmente quando nos propomos a certos assuntos como: filosofia, antropóloga e história, buscando assim com este trabalho uma abordagem conjuntural. Mesmo sabendo de todas estas dificuldades, não desisto nem me intimido de colocar no papel meus sentimentos e as felicidades e dores de todos aqueles que estão precisando de alguém que possa traduzir. Assim, aprendi que as dificuldades de escrever e entender o inconsciente de um povo faz parte destas pessoas que se propõe a mergulhar cada vez mais neste mundo das ideias e só assim poderão se sentir um verdadeiro artesão das palavras e conseguir de forma precisa interpretar as alegrias e tristeza de um povo marcado pelo sofrimento e esquecido pelos poderes públicos e pelo estado brasileiro.
 Assim, acredito ter deixado claro o nosso objetivo.
          
  Sei que escrevendo sobre a conjuntura política e levantando as questões filosófica que estejam relacionadas com o nosso dia-a-dia, posso quem sabe, envolver esta juventude, dentro deste contexto político e filosófico da melhor forma possível. Desta forma, procuro apresentar as pessoas que não conhece o submundo da militância e desconhece a linguagem aplicada e a escrita engajada vivenciar este universo. 
          
 
A ideia de uma espora surgiu das leituras de Aristóteles, ela me lembra do conceito de animal político e nos remete ao estimulo que faz o animal sair de sua inercia. Ah! Se eu pudesse de alguma forma no campo das ideias esporar, estimular, avivar, espicaçar, incitar incentivar e desta forma encorajar a todos que queiram nos honrar com suas atentas leituras, tenho certeza que seria a espora do saber. 

O que eu desejo mesmo é provocar reações no leitor, capaz de sair da inercia política e se envolver com a luta de um mundo melhor.

            Só assim poderemos entender o que queria dizer aquele antigo compositor cearense, que a pouco nos deixou: “Não me peça que eu lhe faça /Uma canção como se deve / Correta, branca, suave / Muito limpa, muito leve / Sons, palavras, são navalhas / E eu não posso cantar como convém / Sem querer ferir ninguém” (Belchior).·.

Padre Carlos


ARTIGO ESPECIAL || Senhor, eu creio, mas aumentai a minha fé (Padre Carlos)





Senhor, eu creio, mas aumentai a minha fé


            Recordar alguns aspectos fundamentais da nossa fé é certamente favorece uma melhor compreensão da mesma, resgatando elementos que a caracterizam: acolhida do diferente, respeito pelas diferenças, promoção e defesa da vida, itinerância, exercício generoso da misericórdia e abertura para uma autêntica universalidade. 


            Tudo isso sustentado por uma profunda unidade espiritual e a certeza do Ressucitando. Esta sim é de todos os fundamentos da nossa fé, a mais importante. A fé na ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento da mensagem cristã.

            A fé cristã estaria morta se lhe fosse retirada a verdade da ressurreição de Cristo. A ressurreição de Jesus são as primícias de um mundo novo, de uma nova situação do homem. Ela cria para os homens uma nova dimensão de ser, um novo âmbito da vida: o estar com Deus.

            Também significa que Deus manifestou-se verdadeiramente e que Cristo é o critério no qual o homem pode confiar. A fé na ressurreição de Jesus é algo tão essencial para o cristão que São Paulo chegou a escrever:

“Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia, e vazia também a vossa fé” (1Cor 15, 14).

            Celebrar a Eucaristia, não pode jamais ser considerada uma rotina devocional nem tão pouco uma obrigação. Ela requer uma comunidade agradecida por acreditar que a morte não é a última palavra sobre o itinerário de uma existência humana. Essa convicção não é de ordem racional, não é a conclusão de qualquer elaboração científica.

            Estas certezas se dá através da “fé na ressurreição”.

            A vida pública de Jesus Cristo foi breve, atribulado e que terminou cravado numa cruz, a morte mais cruel da antiguidade. Não morreu, foi assassinado mediante um julgamento injusto. Sentiu-se abandonado pelo céu e pela terra e, sobretudo, sentiu o fracasso da sua luta.

            No entanto, teve forças e um carinho misericordioso tão grande, que foi capaz de perdoar aos autores da sua morte e para prometer o paraíso a um companheiro de infortúnio. Foi morto, mas, se estivermos atentos às narrativas da Paixão, com a  sua morte Ele ia carregando toda a humanidade, com esperança para todos, sem excluir ninguém, isto é, até  os seus  inimigos. Queixando-se do abandono de Deus, foi nas Suas mãos que lhe entregou o seu destino, entrego o meu espírito. A esperança contra toda a esperança foi o seu último suspiro.

            Depois, as mulheres vieram dizer, não apenas que ele não estava no sepulcro, onde fora colocado, mas que as convocou para anunciar aos discípulos que estava vivo e era preciso continuar o caminho por ele aberto. As mulheres estão na origem do movimento cristão, na origem da Igreja. São elas as primeiras pregadoras do Evangelho na sua novidade contra a morte.

            Ser discípulo de Cristo é empregar todas as energias para continuar a aventura da transformação da vida que a morte parece derrotar. Quem procura centrar a sua vida em si mesmo, nos seus projetos de êxito pessoal, muitas vezes à custa dos pobres, está perdido. Em todas as épocas e circunstâncias, o que caracteriza o cristão autêntico é cuidar de quem não pode cuidar de si.

            A história está carregada de figuras que dedicaram sua vidas e as suas energias para que os outros pudessem viver com dignidade. O Papa Francisco chama atenção que esta era e é a grande mística dos primeiros cristãos e da Igreja.

            Os pessimistas dizem que é um esforço perdido, pois a Igreja está morta na opinião pública por causa dos escândalos divulgados, dia a dia, nos meios de comunicação.
O importante não é saber se o Papa vai vencer ou vai ser derrotado, mas se vamos ter ou não quem se apaixone pela paixão do Nazareno.

            Quando participo da celebração da Eucaristia eu dou graças por toda a bondade do mundo e para pedir perdão pelos crimes acumulados ao longo dos séculos. Mas é, sobretudo, para reerguer a figura do Ressuscitado, o testemunho de que vale a pena, contra ventos e marés, acreditar na vida de todas as épocas da história.

            Uma vez, Jesus sentiu que os seus discípulos, não só procuravam honra e glória, como também colocava a sua esperança nos êxitos que iam conseguindo, em nome do próprio Nazareno. Este, porém, advertiu-os: "Não vos alegreis porque os espíritos se submetem a vós; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão inscritos nos céus."

            Quando Jesus declara alegrai-vos porque os vossos nomes estão inscritos nos céus, diz: a vossa vida está inscrita no coração de Deus e ninguém vos poderá arrancar desse infinito amor. Isto é tão verdade que o narrador acrescenta que o próprio Jesus se sentiu comovido, no Espírito Santo, pelo que tinha dito.

             A fé cristã diz-nos que as pessoas, que já não vemos, andam por onde sempre andaram, estão onde sempre estiveram, vivem onde sempre viveram, em Deus. Dizer em Deus é dizer que são nossa companhia, que participam nos cuidados de Deus por nós e por todo o universo.

            Foram estas certezas da Ressurreição e as promessas de Jesus Cristo, que embalaram minhas orações nesta Semana Santa. Assim, pensado muito na espiritualidade do Bom Pastor, foi que me veio a presença de  Dom Celso José, ele se fez presente nas minhas orações. Este Bispo e Pai, sempre vai está presente na minha vida, foi e sempre será minha  grande referencia   de Pastor, do Bom Pastor. Um pastor que nunca  abandona suas ovelhas.

             Os anos que Celso José  viveu, multiplicam-se nas vidas dos outros que ele ajudou a viver. São tantos, que só em Deus se podem contar e cantar.

Padre Carlos

terça-feira, 4 de junho de 2019

ARTIGO | A cultura de morte vem de longe (Padre Carlos)

A cultura de morte vem de longe


            

            Quando percebemos o quanto nossa sociedade é perversa e mesquinha, passamos a entender as morte e perseguições com os mais pobres e os mais fracos. Hoje, ao assistir um empresário matando a tiro um morador de rua, tomei consciência que a história e as neuroses desta sociedade, sempre vai se repetir. Faz parte da natureza da Casa Grande. Assim a história da cultura de morte passou como um filme na minha mente.


Uma das políticas mais perversas implantadas no Brasil foi à chamada “Limpeza da Cidade” adotada por Carlos Lacerda, então governador do Estado da Guanabara. A ideia do político (segundo investigações de uma CPI) era acabar com os mendigos do Centro e Zona Sul do Rio de Janeiro com uma solução simples: matando-os.


No começo de 1963 uma equipe do jornal a Última Hora, liderada pelo Luarlindo Ernesto Silva, seguiu um comboio policial e flagrou agentes jogando mendigos de cima de uma ponte. Os jornalistas conseguiram salvar uma das vítimas, e realizou, partindo de seu depoimento, uma série de matérias jornalísticas denominadas: Política do Mata-Mendigos.

A relatoria da CPI, aberta para investigar o caso, encontrou mais de 50 casos de desaparecimentos de moradores de rua, o número só não foi maior, pela dificuldade de identificar esses indivíduos. Com o Golpe Civil-Militar de 1964 a CPI foi arquivada.

O mais impressionante de toda a história é que parte da população apoiou a política de Lacerda.

Com a entrada dos militares no poder em 1964, e com a ajuda da legitimação popular, a partir do discurso de políticos como Carlos Lacerda, grupos de policiais passaram a agir por conta própria, sem nenhum padrão legal, matando meliantes perigosos, com passagens na polícia, ou simplesmente pessoas que segundo o julgamento das autoridades policiais teriam potencial para virar criminosos.

Os esquadrões da morte passaram a ganhar fama nas ruas, matavam e colocavam sobre o cadáver um cartaz com o nome e uma caveira para deixar claro quem havia feito o serviço.

A chacina da Candelária aconteceu em 1993 no Rio de Janeiro, em frente à Igreja da Candelária, e chocou o mundo. Na madrugada do dia 23 de julho, policiais à paisana abriram fogo contra mais de 40 meninos de rua que dormiam nas escadarias da igreja, no Centro da cidade. Oito crianças morreram e dezenas ficaram feridas. Três policiais foram condenados pelo crime e dois foram absolvidos.

Os "meninos de rua" eram considerados, principalmente por comerciantes das redondezas, como delinquentes e entraves ao turismo na região. O que facilitou a legitimação dos assassinatos por parte da população.

Em pesquisa do Jornal do Dia na época, 70% das pessoas declararam que apoiavam os polícias suspeitos de cometerem a chacina, alegando que as crianças e adolescentes mortos eram bandidos.

Mesmo com a condescendência de parte dos brasileiros, o crime teve repercussão negativa internacionalmente, o Brasil chegou a sofrer sanções econômicas e o governo do Rio de Janeiro foi cobrado pela Organização das Nações Unidas. A cobrança requisitava ações para descobrir e processar efetivamente os autores da barbárie. 

O Brasil vive numa fronteira entre a barbárie e a civilização. Nunca se viu tanto ódio e descaso com a viva. A força dos estúpidos que apoia este projeto de civilização vem junto com ela à cultura mórbida da morte. Os gestos de matar, se utilizando até de crianças, os gritos de guerra, a pregação de que todo brasileiro deve ter uma arma em casa, emergi-o no país um novo brasileiro junto com esta nova cultura.

Este sentimento de ódio e desprezo pelos pobres não é novo, pelo contrario, ele esta no inconsciente coletivo e na cultura de classe do Brasil. A classe média e a burguesia brasileira nunca suportaram ver os mendigos e os meninos de rua “invadindo” o espaço sempre exclusivo que eles frequentam, querem que eles sejam invisíveis como os seus criados.

Desta forma, podemos constatar por que a opinião pública aplaude estes crimes, alegando que as crianças e adolescentes mortos eram bandidos.

O que há de semelhança entre as mortes dos mendigos no Governo de Carlos Lacerda, os meninos da Candelária e a
chacina do Cabula?
 Primeiro, a forma bárbara como as vítimas foram mortas. Por mais frio que seja um ser humano, não conseguirá ficar indiferente aos acontecimentos. 

Os meninos, executados a sangue frio! Os três, indefesos: dezenas de moradores de rua sendo exterminadas, crianças e jovens sendo executada de forma barbara.


Nas três situações, o sofrimento das vítimas não sensibilizou seus algozes! Assim como os mendigos no início da década de sessenta, os "meninos de rua e os jovens de Salvador eram considerados, principalmente por comerciantes das redondezas e os carrascos, como delinquentes e entraves a sua segurança e da região. O que facilitou a legitimação dos assassinatos por parte da população.

Esta realidade desperta, antes de qualquer análise, a necessidade de identificar a situação social, política, econômica e étnica das vítimas e de seus respectivos assassinos. De antemão é importante deixar claro que, os dois casos, aqui exposto, bem como qualquer outro ato violento, merecem veemente repúdio.

Assim, podemos perguntar para esta sociedade que se diz civilizada, quem matou todas estas pessoas? O sangue destas vitima estão escorrendo nas mãos de todos os homens e mulheres de “bem”.


Padre Carlos.



ARTIGO | Dois bispos e uma Igreja. (Padre Carlos)






Dois bispos e uma Igreja



“Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só. Mas, se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24).


            Não posso me queixar com relação aos bispos que durante o período que exerci o ministério, tive a oportunidade de conviver e servir aos cuidados do seu episcopado. Dom Celso José e Dom Geraldo, estes grandes pastores foram importante na minha formação espiritual e humana. Embora não entendesse as cobranças que faziam, hoje vejo que eles tinham tratamentos diferentes, apesar de sentir o amor e a proteção que ambos nutriam pelo clero.
          

  Dom Celso José, foi um Bispo misericordioso, tinha uma face materna para o seu presbitério. Assim como Dom Helder revolucionou a Igreja no Brasil, seu discípulo, da Ação Católica, tem transformado profundamente a Igreja da Bahia. Desta forma, embora não fosse engajado, como gostaríamos , formou um clero progressista e com uma formação acadêmica que chamou atenção de muitos bispos do Brasil. Assim hoje, estes quadros de pastores, tem capacidade para assumir qualquer ministério que venha ser convocado.
       
    
Já Dom Geraldo, exerceu seu episcopado com sabedoria e uma boa administração. Sua metodologia inicialmente causou um impacto, devido à diferença de método e forma em relação ao seu antecessor. Não posso negar que aprendi muito com este pastor. Desta forma, apesar de cobrar um comportamento e ação no que diz respeito à responsabilidade das paróquias em relação à Arquidiocese, educou os padres a se sentirem responsável por um todo. Sua dimensão paterna ajudou os presbíteros a amadurecer como pessoa e gerir de forma mais realista os recursos da sua paroquia. Sua dimensão paterna e seu amor pela Igreja local foram de fundamental importância para conquistar o clero e trazer para perto de si o seu presbitério. 

            Não podemos esquecer a participação dos leigos em todos os movimentos e pastorais durante a presença destes dois pastores aqui na nossa cidade. Existe um ditado árabe que diz: “Quem planta tâmaras, não colhe tâmaras!” Isso porque, antigamente, as tamareiras levavam de 80 a 100 anos para produzir os primeiros frutos. Atualmente, com as técnicas de produção modernas, esse tempo é bastante reduzido, porém o ditado é antigo e sábio.        Diante disso, somos frutos destes enviados de Deus, para dar testemunho de fé.
Padre Carlos.


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...