Os heróis da democracia
Lembro com
carinho da minha juventude, era uma época de sonhos e de esperanças, mas também
de medo e de repressão. A ditadura militar havia se instalado no país e muitos
jovens se viram obrigados a lutar pela liberdade, arriscando suas vidas em nome
de um ideal maior.
Não
podemos negar que foram tempos difíceis, de pouca liberdade e muita opressão. Mesmo
assim, minha geração não se deixou intimidar e lutamos bravamente pela
democracia.
Éramos estudantes, artistas,
trabalhadores, intelectuais, enfim, pessoas de diferentes origens e ideologias,
que se uniam em torno de um objetivo comum: a luta pela liberdade. Éramos
idealistas, sonhávamos com um futuro melhor, um país mais justo e democrático. Organizávamos passeatas, manifestações, greves
e outras formas de protesto, mesmo sabendo que poderíamos ser presos,
torturados ou mortos.
Nesta luta
tive companheiros que tiveram suas vidas interrompidas pela repressão. Foram
perseguidos, presos, torturados e exilados, impedidos de viverem em liberdade e
de realizarem seus sonhos. Muitos morreram na luta, deixando um legado de
coragem e resistência. Hoje, muitos desses jovens que lutaram contra a ditadura
estão partindo e por isto resolvi lembrar alguns que nos deixaram recentemente
e que marcaram baste minha caminhada: Carlos Valadares, Zezeu, Haroldo Lima, Edmilson Carvalho, Anilson e
tantos outros que sumiram sem que eu tivesse notícias. Nossa geração está idosa,
mas ainda carregamos nas nossas lembranças daqueles tempos difíceis. Tem dias que
me vem na memória os amigos que perdi, das famílias que foram separadas e das
oportunidades que foram negadas. Mas também me lembro com orgulho da coragem e
da determinação que tivemos para lutar por um futuro melhor para todos.
Esses
jovens das gerações de 60 e 70 são exemplos de como a juventude pode ser uma
força transformadora da sociedade. Mesmo diante de circunstâncias adversas, nós
não nos resignamos à opressão e lutamos por um futuro melhor para nós e para as
gerações que viriam.
Hoje,
olhando para trás, podemos ver que a nossa luta foi fundamental para a
redemocratização do país e para a conquista de direitos que hoje consideramos
básicos, como a liberdade de expressão e o direito ao voto. Mas também é preciso
lembrar que muitos de nós ainda sofremos as sequelas físicas e psicológicas da
tortura e da prisão, e que muitos dos nossos sonhos foram impedidos de se
concretizar.
Ainda há
muito a ser feito para que a justiça seja feita e para que essa geração seja
reconhecida e homenageada como heróis da democracia. Mas é importante que não nos
esqueçamos de seu legado, de sua coragem e de sua determinação em lutar por um
Brasil mais justo e livre.