Em memória do padre Bruno Baldacci,
Gostaria de transmitir para os mais jovens o que representou aqueles tempos de mudanças, de transformações e esperanças.
Quero falar de um tempo em que a Igreja despertou para a realidade que a cercava
para os gritos dos oprimidos e as injustiças que se perpetuavam. Este grito era
tão forte que cegavam aos ouvidos de alguns jovens italianos.
O Concílio Vaticano II foi uma semente, que
germinou em todo o mundo, mas no solo latino-americano, ela floresceu e cresceu
como o milagre do maná que alimentou os famintos no deserto. Desta forma,
quando a teologia da libertação passou a pregar a opção pelos pobres e a luta
por uma sociedade justa e igualitária, mostrava aquele povo sofrido à face de
um Deus que era mãe e misericordioso com o seus filhos.
Os teólogos da libertação e os agentes
pastorais, leigos e clérigos, foram os guias, que iluminaram o caminho, e
inspiraram um clero comprometido, com a causa dos mais humildes, que abraçaram
a causa da justiça, e choraram contra a opressão.
As Comunidades Eclesiais de Base viveram,
como sementes plantadas em terra fértil, nesta diocese e em todo canto deste Continente.
Cresceram e frutificaram, em meio a um povo que sonhava com a libertação que
viria, e que já se fazia presente.
Era lindo ver em cada irmão, a semente da
libertação, e juntos caminhavam, rumo a uma sociedade mais justa, onde todos
tinham direito a vida, e aprenderam que lhes era negada.
Mas o tempo passou, e muitos daqueles jovens padres e leigos que lutavam e sonharam já não se encontram entre nós, mas seu trabalho está
presente, como a videira que deu um vinho de qualidade, uma boa safra. Estes são
os novos Bispos que foram colhidos neste canteiro, são como uvas que deram vinhos finos.
É triste ver que as novas gerações, não
abraçaram a causa com a mesma paixão, e a Igreja que surgiu pós Vaticano II,
parece estar perdendo sua voz profética, parece que partiu como meu amigo.
Mas o amor que você nos ensinou pela Igreja
permanece, e a esperança de um mundo melhor, ainda é uma chama que queima, no
coração daqueles que acreditam que um mundo justo e fraterno, é possível e
necessário.
Que a Igreja volte a ser a voz dos pobres,
e que os sonhos de outrora, sejam eternamente sonhados, e que aqueles como o
Pe. Bruno, que lutaram e sonharam, sejam sempre lembrados, como inspiração e
guia, para novas gerações.