Paulo e sua relação com as mulheres.
Caro leitor, adentraremos agora em um
tema de extrema importância e relevância, capaz de despertar o espírito reformista
que habita em cada um de nós. Nossos olhos se voltam para São Paulo, um dos
grandes pilares do cristianismo, e sua relação com as mulheres. Inicialmente,
deparamo-nos com textos aparentemente desafiadores, onde se afirma a submissão
das mulheres aos maridos, a proibição de ensinar e até mesmo o silêncio imposto
nas assembleias. Contudo, é fundamental compreendermos o contexto histórico e
cultural em que tais palavras foram proferidas.
O artigo de hoje me remete aos tempos
da teologia e das abordagem hermenêutica que travava com meus mestres em Belo Horizonte.
Assim buscando entender o tempo em que Paulo escreveu suas cartas, fica mais claro
pra gente a situação da mulher na Grécia e em Roma que era de completa opressão.
Elas não eram consideradas pessoas, desprovidas de direitos e tratadas como
meros objetos. A sociedade da época perpetuava a crença na superioridade
masculina e na dominação das mulheres. Os próprios filósofos, como Aristóteles,
afirmavam que a mulher era inferior e que sua voz deveria permanecer calada.
Era um quadro de desigualdade e discriminação arraigada nas estruturas sociais.
É nesse contexto que podemos enxergar
a verdadeira revolução proposta por São Paulo. Ele, ao vivenciar uma experiência
transformadora com Deus através de Jesus Cristo, compreendeu que a mensagem do
Evangelho não poderia ser limitada por preconceitos e opressões. Paulo entendeu
que Deus não faz distinção de pessoas, que todos são igualmente valiosos e
amados por Ele. Foi assim que proferiu palavras ousadas e revolucionárias na
Carta aos Gálatas: "Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não
há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo."
Essa afirmação é uma poderosa
declaração de igualdade e libertação. Paulo quebrou as correntes do preconceito
e da opressão, afirmando que em Cristo todos são livres e possuem dignidade
infinita. Essa mensagem transcendia as barreiras culturais e desafiava as
estruturas discriminatórias da época. Foi um convite para que a sociedade
cristã se desvencilhasse dos estereótipos e abraçasse a verdadeira igualdade
entre homens e mulheres.
Além disso, é importante ressaltar
que São Paulo trabalhou na formação de comunidades cristãs que valorizavam os
dons e talentos de todos, independentemente de seu gênero. As celebrações
eucarísticas ocorriam nas casas dos cristãos, e não havia impedimento para que
mulheres presidissem tais encontros. Paulo se dirigia às mulheres casadas com
não cristãos, acolhendo-as como indivíduos autônomos e independentes, não
subordinadas aos seus maridos.
Ao examinarmos a lista de pessoas
saudadas na Carta aos Romanos, encontramos oito mulheres mencionadas, algumas
das quais desempenhavam papéis significativos na propagação da mensagem cristã.
Febe era reconhecida como diaconisa e portanto não justifica está visão sobre o
apóstolo.
Diante destas verdade, concluímos,
portanto, que as acusações de misoginia atribuídas a São Paulo não são justas.
Devemos lembrar que dentre as treze cartas que lhe são atribuídas, apenas sete
são consideradas autênticas. As demais são pseudopaulinas, ou seja, foram
escritas por seguidores da "escola paulina" em uma tentativa de
expandir e desenvolver as ideias do apóstolo. Os trechos que exigem subordinação
e silêncio das mulheres pertencem a essas cartas não autênticas. Além disso, o
versículo da Primeira Carta aos Coríntios, que aparenta limitar a participação
feminina nas assembleias, é agora aceito como uma interpolação posterior, já
que o próprio texto menciona mulheres que oram e profetizam.
Portanto, devemos olhar para São
Paulo não como um promotor da submissão e opressão das mulheres, mas como um
agente de transformação e igualdade. Ele rompeu com as normas sociais de sua
época e defendeu a igualdade de todos perante Deus, independentemente de
gênero, classe social ou origem étnica. Ele reconheceu o valor e a contribuição
das mulheres nas comunidades cristãs, destacando suas realizações e
envolvimento ativo na propagação do Evangelho.
A teologia da libertação, inspirada
pelo exemplo de São Paulo, nos chama a lutar contra todas as formas de opressão
e discriminação. Ela nos desafia a questionar as estruturas sociais e
religiosas que perpetuam desigualdades e a trabalhar pela justiça e igualdade
de gênero. Ela nos lembra que o verdadeiro ensinamento de Jesus é um chamado
para a liberdade, a solidariedade e a valorização plena de cada indivíduo,
independentemente de seu gênero.
Portanto, é chegado o momento de
enxergar São Paulo sob uma nova luz, reconhecendo seu compromisso com a
libertação e a igualdade. É hora de seguir seus passos, desafiando os padrões
estabelecidos e construindo uma sociedade onde homens e mulheres sejam
verdadeiramente livres para realizar seu potencial e contribuir para o bem
comum. A teologia da libertação nos convida a abraçar essa visão transformadora
e a trabalhar incansavelmente pela emancipação das mulheres, em São Paulo e em
todo o mundo.
Que possamos, juntos, trilhar o
caminho da justiça, da igualdade e da libertação, inspirados pela mensagem de
São Paulo e impulsionados pela força do amor divino.