segunda-feira, 26 de junho de 2023

ARTIGO - São Paulo e as mulheres: Uma visão libertadora. (Padre Carlos)

 

 

 


 

Paulo e sua relação com as mulheres.

 




          Caro leitor, adentraremos agora em um tema de extrema importância e relevância, capaz de despertar o espírito reformista que habita em cada um de nós. Nossos olhos se voltam para São Paulo, um dos grandes pilares do cristianismo, e sua relação com as mulheres. Inicialmente, deparamo-nos com textos aparentemente desafiadores, onde se afirma a submissão das mulheres aos maridos, a proibição de ensinar e até mesmo o silêncio imposto nas assembleias. Contudo, é fundamental compreendermos o contexto histórico e cultural em que tais palavras foram proferidas.

          O artigo de hoje me remete aos tempos da teologia e das abordagem hermenêutica que travava com meus mestres em Belo Horizonte. Assim buscando entender o tempo em que Paulo escreveu suas cartas, fica mais claro pra gente a situação da mulher na Grécia e em Roma que era de completa opressão. Elas não eram consideradas pessoas, desprovidas de direitos e tratadas como meros objetos. A sociedade da época perpetuava a crença na superioridade masculina e na dominação das mulheres. Os próprios filósofos, como Aristóteles, afirmavam que a mulher era inferior e que sua voz deveria permanecer calada. Era um quadro de desigualdade e discriminação arraigada nas estruturas sociais.

          É nesse contexto que podemos enxergar a verdadeira revolução proposta por São Paulo. Ele, ao vivenciar uma experiência transformadora com Deus através de Jesus Cristo, compreendeu que a mensagem do Evangelho não poderia ser limitada por preconceitos e opressões. Paulo entendeu que Deus não faz distinção de pessoas, que todos são igualmente valiosos e amados por Ele. Foi assim que proferiu palavras ousadas e revolucionárias na Carta aos Gálatas: "Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo."

          Essa afirmação é uma poderosa declaração de igualdade e libertação. Paulo quebrou as correntes do preconceito e da opressão, afirmando que em Cristo todos são livres e possuem dignidade infinita. Essa mensagem transcendia as barreiras culturais e desafiava as estruturas discriminatórias da época. Foi um convite para que a sociedade cristã se desvencilhasse dos estereótipos e abraçasse a verdadeira igualdade entre homens e mulheres.

          Além disso, é importante ressaltar que São Paulo trabalhou na formação de comunidades cristãs que valorizavam os dons e talentos de todos, independentemente de seu gênero. As celebrações eucarísticas ocorriam nas casas dos cristãos, e não havia impedimento para que mulheres presidissem tais encontros. Paulo se dirigia às mulheres casadas com não cristãos, acolhendo-as como indivíduos autônomos e independentes, não subordinadas aos seus maridos.

          Ao examinarmos a lista de pessoas saudadas na Carta aos Romanos, encontramos oito mulheres mencionadas, algumas das quais desempenhavam papéis significativos na propagação da mensagem cristã. Febe era reconhecida como diaconisa e portanto não justifica está visão sobre o apóstolo.

Diante destas verdade, concluímos, portanto, que as acusações de misoginia atribuídas a São Paulo não são justas. Devemos lembrar que dentre as treze cartas que lhe são atribuídas, apenas sete são consideradas autênticas. As demais são pseudopaulinas, ou seja, foram escritas por seguidores da "escola paulina" em uma tentativa de expandir e desenvolver as ideias do apóstolo. Os trechos que exigem subordinação e silêncio das mulheres pertencem a essas cartas não autênticas. Além disso, o versículo da Primeira Carta aos Coríntios, que aparenta limitar a participação feminina nas assembleias, é agora aceito como uma interpolação posterior, já que o próprio texto menciona mulheres que oram e profetizam.

          Portanto, devemos olhar para São Paulo não como um promotor da submissão e opressão das mulheres, mas como um agente de transformação e igualdade. Ele rompeu com as normas sociais de sua época e defendeu a igualdade de todos perante Deus, independentemente de gênero, classe social ou origem étnica. Ele reconheceu o valor e a contribuição das mulheres nas comunidades cristãs, destacando suas realizações e envolvimento ativo na propagação do Evangelho.

          A teologia da libertação, inspirada pelo exemplo de São Paulo, nos chama a lutar contra todas as formas de opressão e discriminação. Ela nos desafia a questionar as estruturas sociais e religiosas que perpetuam desigualdades e a trabalhar pela justiça e igualdade de gênero. Ela nos lembra que o verdadeiro ensinamento de Jesus é um chamado para a liberdade, a solidariedade e a valorização plena de cada indivíduo, independentemente de seu gênero.

          Portanto, é chegado o momento de enxergar São Paulo sob uma nova luz, reconhecendo seu compromisso com a libertação e a igualdade. É hora de seguir seus passos, desafiando os padrões estabelecidos e construindo uma sociedade onde homens e mulheres sejam verdadeiramente livres para realizar seu potencial e contribuir para o bem comum. A teologia da libertação nos convida a abraçar essa visão transformadora e a trabalhar incansavelmente pela emancipação das mulheres, em São Paulo e em todo o mundo.

          Que possamos, juntos, trilhar o caminho da justiça, da igualdade e da libertação, inspirados pela mensagem de São Paulo e impulsionados pela força do amor divino.

 

 

 

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