As revoluções em marcha
Estamos
vivendo um momento impar na história da humanidade, onde presenciamos grandes
transformações. Não podemos negar que existem várias revoluções em
andamento. A primeira e a mãe de todas é
a revolução económica, com o advento da globalização e a confirmação das
teorias de McLuhan de que formamos na verdade uma "pequena aldeia" e
a chegada ao palco da história dos países emergentes, como a China, a Índia...
Outra é a revolução cibernética, que faz nascer um quase-planeta, um
"sexto continente". Nunca como hoje houve tanta informação e com a
rapidez com que circula pelo mundo. Esta é a era da informática. A internet, o
correio electrónico, os celulares, as televisões, nos coloca em contato
constante e imediato com tudo o que acontece no mundo. Depois, com a facilidade
dos transportes e no quadro das novas classes económicas, há a circulação
permanente das pessoas de uns países para outros e também entre
continentes.
As
revoluções no campo da inteligência artificial, na nanotecnologia e
biotecnologia, estão fazendo verdadeiros milagres nestas áreas. Outra grande
revolução que não poderíamos deixar de citar, com certeza é a revolução
ecológica. Sabemos da necessidade de criar novas relações com a natureza e
sabendo da urgência de uma repactuação entre a humanidade e o planeta, o homem
tem que buscar soluções para que o futura da raça humana e de todo o ecossistema
não seja comprometido.
Perante
todas estas revoluções e face aos problemas que agora são globais, como a droga
ou o trabalho, os mercados impõem-se, em primeiro lugar, pensar não em blocos
que cria seres humanos de primeira e segunda classe, mais em uma coalizão para
que a humanidade volte a sonhar com a vida. Criando assim, uma
"modernidade mestiça", mas, para evitar o "choque das
civilizações", impõe-se o diálogo intercultural e inter-religioso. De
fato, como escreveu o teólogo José María Castillo, com todos estes fatos
produziu-se “um fenómeno inteiramente novo na” história da humanidade: a
mistura, a fusão ou o choque, a inevitável convivência de culturas, tradições,
costumes, formas de pensar e de viver, de pessoas que vão de uns países para
outros, de um extremo ao outro do mundo
.
Como
conviver com estas pessoas, como não interpretar estes fenômenos como uma
ameaça a minha cultura, o meu emprego e a minha forma de viver? O novo
desestabiliza e nos torna frágil. Talvez este tenha sido o canal que as forças
de extrema-direita tem usado na Europa, isto é, ideologizar estes fenômenos. No
quadro desta ambiguidade, entende-se como, por medo, ignorância, desígnios de
domínio, se pode proceder à construção ideológica e representação social do
outro essencialmente e, no limite, exclusivamente, como ameaça, bode
expiatório, encarnação e inimigo a menosprezar, marginalizar, humilhar e, no
limite, abater, eliminar. Num mundo global, cada vez mais multicultural e de
pluralismo religioso, é urgência maior repensar a identidade e avançar no
diálogo intercultural e inter-religioso, sempre no horizonte da unidade na
diferença e da diferença na unidade.
As
revoluções em curso, que obrigam a repensar o futuro da humanidade, são outras
razões que aprofundam a necessidade e a urgência do encontro e do diálogo entre
as culturas e as religiões. O que desde há anos Hans Küng vem sublinhando - a
necessidade do diálogo inter-religioso para ser possível a paz no mundo - é cada
vez mais urgente. Hoje mais do que nunca, entendemos que a obra do célebre
teólogo, autor principal da "Declaração de Uma Ética Mundial",
aprovada pelo Parlamento Mundial das Religiões em Chicago, em 1993, se oriente
pelo lema: "Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões. Não
haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não haverá
diálogo entre as religiões sem critérios éticos globais. Não haverá
sobrevivência do nosso globo sem um
ethos global, um
ethos mundial.”.
Padre Carlos