segunda-feira, 3 de junho de 2019

ARTIGO | As revoluções em marcha. (Padre Carlos)





As revoluções em marcha



            Estamos vivendo um momento impar na história da humanidade, onde presenciamos grandes transformações. Não podemos negar que existem várias revoluções em andamento.  A primeira e a mãe de todas é a revolução económica, com o advento da globalização e a confirmação das teorias de McLuhan de que formamos na verdade uma "pequena aldeia" e a chegada ao palco da história dos países emergentes, como a China, a Índia... Outra é a revolução cibernética, que faz nascer um quase-planeta, um "sexto continente". Nunca como hoje houve tanta informação e com a rapidez com que circula pelo mundo. Esta é a era da informática. A internet, o correio electrónico, os celulares, as televisões, nos coloca em contato constante e imediato com tudo o que acontece no mundo. Depois, com a facilidade dos transportes e no quadro das novas classes económicas, há a circulação permanente das pessoas de uns países para outros e também entre continentes. 
            As revoluções no campo da inteligência artificial, na nanotecnologia e biotecnologia, estão fazendo verdadeiros milagres nestas áreas. Outra grande revolução que não poderíamos deixar de citar, com certeza é a revolução ecológica. Sabemos da necessidade de criar novas relações com a natureza e sabendo da urgência de uma repactuação entre a humanidade e o planeta, o homem tem que buscar soluções para que o futura da raça humana e de todo o ecossistema não seja comprometido.
          
  Perante todas estas revoluções e face aos problemas que agora são globais, como a droga ou o trabalho, os mercados impõem-se, em primeiro lugar, pensar não em blocos que cria seres humanos de primeira e segunda classe, mais em uma coalizão para que a humanidade volte a sonhar com a vida. Criando assim, uma "modernidade mestiça", mas, para evitar o "choque das civilizações", impõe-se o diálogo intercultural e inter-religioso. De fato, como escreveu o teólogo José María Castillo, com todos estes fatos produziu-se “um fenómeno inteiramente novo na” história da humanidade: a mistura, a fusão ou o choque, a inevitável convivência de culturas, tradições, costumes, formas de pensar e de viver, de pessoas que vão de uns países para outros, de um extremo ao outro do mundo. 
            Como conviver com estas pessoas, como não interpretar estes fenômenos como uma ameaça a minha cultura, o meu emprego e a minha forma de viver? O novo desestabiliza e nos torna frágil. Talvez este tenha sido o canal que as forças de extrema-direita tem usado na Europa, isto é, ideologizar estes fenômenos. No quadro desta ambiguidade, entende-se como, por medo, ignorância, desígnios de domínio, se pode proceder à construção ideológica e representação social do outro essencialmente e, no limite, exclusivamente, como ameaça, bode expiatório, encarnação e inimigo a menosprezar, marginalizar, humilhar e, no limite, abater, eliminar. Num mundo global, cada vez mais multicultural e de pluralismo religioso, é urgência maior repensar a identidade e avançar no diálogo intercultural e inter-religioso, sempre no horizonte da unidade na diferença e da diferença na unidade.
      
      As revoluções em curso, que obrigam a repensar o futuro da humanidade, são outras razões que aprofundam a necessidade e a urgência do encontro e do diálogo entre as culturas e as religiões. O que desde há anos Hans Küng vem sublinhando - a necessidade do diálogo inter-religioso para ser possível a paz no mundo - é cada vez mais urgente. Hoje mais do que nunca, entendemos que a obra do célebre teólogo, autor principal da "Declaração de Uma Ética Mundial", aprovada pelo Parlamento Mundial das Religiões em Chicago, em 1993, se oriente pelo lema: "Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões sem critérios éticos globais. Não haverá sobrevivência do nosso globo sem um ethos global, um ethos mundial.”.

Padre Carlos



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