sexta-feira, 3 de abril de 2020

ARTIGO - A fazenda Pituba (Padre Carlos)

A fazenda Pituba 







 

Quando a velha Fazenda Pituba, foi adquirida no início do século passado pelo baiano Manoel Dias da Silva e pelo seu cunhado mineiro, Joventino Pereira da Silva, já havia na localidade uma colônia de pescadores  que poderíamos hoje identificar como remanescentes de quilombos, esta área passou a ser na época disputada a partir da primeira metade do século passado por uma população de renda média que passaram a construir casas de veraneio. Quem tinha carro poderia chegar a antiga fazenda através de uma estrada de chão batido que terminava, nas imediações do Costa Azul, devido ao rio que impedia a passagem para o Jardim de Alá. Quem não possuía transporte próprio, descia no terminal do bonde no largo de Amaralina e seguia a pé tendo como referência uma casa em formato de   navio, esta era o marco da divisão entre o bairro de  Amaralina e a Pituba. Com a expansão imobiliária, cada vez mais avançando no litoral e a construção de uma avenida que cortava toda a faixa litorânea até o aeroporto, substituindo assim o antigo acesso pelo subúrbio. Desta forma, o setor imobiliário viu aí uma oportunidade de grandes negócios, já que eram praias praticamente virgens e até então a antiga estrada de Ipitanga, era o único acesso ao bairro de Itapoá. Foram acontecimentos como estes, que proporcionaram esta estância de veraneio da classe média e alta a se tornar um bairro da grande Salvador. Em 1969 o então prefeito Antônio Carlos Magalhães (A CM), determinou a demolição de cerca de 300 casas acabando assim com o (Chega Nego) ou Bico de Ferro e como não havia interesse dos poderes públicos em documentar a história daquela localidade, jamais saberemos a origem desta colônia de pescadores. No local onde era o Bico de Ferro, hoje se encontra o Jardim dos Namorados. Estas pessoas foram deslocadas junto com uma outra comunidade que se formara na praia da Ondina com as mesmas características desta para o bairro da Boca do Rio. A nova orla não comportava estas pessoas e assim perdemos muito com esta limpeza étnica. A burguesia estava chegando ao litoral e aquelas comunidades de negros e pescadores para ACM e os representantes da expansão imobiliária, desnorteava a imagem que eles queriam vender do litoral e das praias virgem que a nova avenida tinha proporcionado.  

Hoje esta parte da cidade, se tornou um grande bairro de classe média, mas na época em que meus país se mudaram no início de 1958 era ainda um bairro de veraneio da elite de Salvador e estava se desenvolvendo rápido. Vamos falar um pouco como foi criado este empreendimento. A Pituba foi o primeiro loteamento planejado em Salvador. Com isto, em 1919, o novo balneário dos soteropolitano, foi criada com régua e compasso a partir da experiência de Belo Horizonte, a primeira capital planejada do Brasil. Inicialmente a Pituba funcionou como um lugar de difícil acesso para a elite veranear, onde a classe média e alta passava com a família o verão e não se misturavam com os nativos. No pós-guerra, passou a se torna um local de segunda residência, como são hoje muitas propriedades nas cidades do litoral de São Paulo e Santa Catarina. 

Mas o antigo local de veraneio, com enormes casas da elite baiana, passou a se desenvolver rapidamente a partir do final da década de cinquenta e início da década de sessenta. A transformação de balneário para um bairro de classe média, se dá em menos de uma década. Entre o final da década de cinquenta e o início o início dos anos sessenta, passamos a presenciar a instalação de restaurantes e bares, o Clube Português, o Colégio Militar e o Colégio das Irmãs Mercedária para educar as filhas destes moradores. 

Apesar de não haver vestígios materiais no local, a antiga capela de Nossa Senhora da Luz, que sempre acolheu aquelas pessoas que sempre passava suas férias naquele balneário e a colônia de pescadores, tinha sua localização entre a rua Minas Gerais com a AV. Otávio Santos, em frente do armazém do Sr. Milton. A atual Igreja de Nossa Senhora da Luz, foi inaugurada em 1960.  

Com relação a devoção à Senhora da Luz, esta teve início no final do Séc. XVII e início do Séc. XVIII. Segundo a tradição,  uma menina de uns doze anos de idade, andando para apanhar gravetos para cozinhar, sentindo sede, viu (ou imaginou ver) surgir entre a mata e a areia, uma figura de uma mulher linda, com um menino sentado no braço esquerdo e na mão direita uma vela acesa; atrás da figura veio um manancial de água, e todo o quadro como iluminado com uma luz azul. Saciada a sede, a menina correu para casa e comunicou aos seus pais o ocorrido, os quais vieram acompanhando-a; chegados ao lugar por ela indicado, constataram a existência do manancial de água, não sabendo explicar se já existia antes; e mais nada viram. Infelizmente as autoridades política e religiosa deixaram o proprietário da antiga fazenda vender este lote que se encontrava esta nascente. Este lugar situa-se perto da confluência das ruas São Paulo com Rio Grande do Sul, bem perto da Praça Belo Horizonte, onde se encontra a casa do engenheiro elétrico, o Dr. João Cunha.  

Falar da Pituba das décadas de cinquenta e sessenta, é falar de todo um ambiente boêmio com a boate de Aurino que animava as noites daquele balneário, era um lugar mágico aquela casa de espetáculo, lembrava muito os espaços musicais dos afro-americanos dos anos vinte e trinta. As noites da Pituba tinha uma certa magia que se perderam com o tempo e aquela geração. Como não lembrar da cabana de Pedro, do Galo de Ouro e do Jangadeiro, das alvoradas patrocinadas por Dr. Haroldo, além das festas de largos e do ambiente que se formava com a chegada do verão. 

Assim nasceu a Pituba, como um balneário e bairro que encantou várias gerações com os carnavais do Clube português e a Festa de Largo. Saudade daqueles tempos! 

quarta-feira, 1 de abril de 2020

ARTIGO - O mundo não será o mesmo (Padre Carlos)


 




O mundo não será o mesmo 

 

Não podemos negar que esta crise é diferente de todas as outras que enfrentamos ao longo dos anos, seu aspecto imprevisível com que está evoluindo e afetando de igual modo, todos os países sejam do primeiro ou do terceiro mundo, tem um caráter assustador .A grave crise, ética, política e econômica que antes da pandemia já estávamos vivendo, tinha como componente uma das maiores recessões da história do Brasil e esta vem sendo intensificada e ganhando novos contornos que até então era desconhecido da nossa cultura. Esta nova crise que está chegando, não tem precedentes nas últimas décadas e será, certamente, a mais grave desde a segunda guerra. É muito diferente da crise de 2008, até porque as consequências são, desde já, muito mais negativas para todos nós. 

Além da crise de autoridade, das instituições e política, passaremos a conhecer uma crise que levará a uma desregulação da própria sociedade e que precisará de muito tempo até ser superada. 

Sabemos que a crise econômica será devastadora, mas a vida é o maior bem que o ser humano tem. Desta forma, quando o presidente Jair Bolsonaro incentiva as pessoas a descumprirem o isolamento social e saírem de casa durante a pandemia do coronavírus, ele coloca em risco a vida dos brasileiros. Um exemplo claro desta irresponsabilidade, é o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, que patrocinou a campanha “Milão não para”. Depois que o número de mortes na região chegou a 4.474, ele pediu desculpas publicamente  reconhecendo o seu erro ao apoiar uma iniciativa do setor privado, apoiando assim, a campanha de que Milão não deveria parar. A lição de humildade do prefeito  de reconhecer os erros não devolveram as vidas, mas foi suficiente para que outros agentes públicos não cometessem os mesmos desatinos. Infelizmente o presidente Jair Bolsonaro jamais reconhecerá o seu erro de estimular as pessoas a saírem de casa. Quando a narrativa deste governo cair sobre terra e os corpos das vítimas desta pandemia começarem a assustar a sociedade, será difícil conter a revolta e a sensação de que foram enganados. 

 Precisaremos de um grande pacto e uma autocrítica de todos aqueles que terminaram proporcionando esta loucura para que possamos repactuar a sociedade brasileira e mesmo quando isso acontecer, deixará sequelas muito significativas. Não podemos negar que a crise existe e ela não é só em decorrência do coronavíros, mas também das crises moral, política e econômica. O País está dividido a muito tempo e isso é muito ruim. 

Por isto afirmamos que esta crise é diferente de todas as outras, pela imprevisibilidade como afeta a economia, mas também o comportamento ético, político, moral da sociedade.  E por afetar, de igual modo, todos os cidadãos sejam trabalhadores e empresários, todos terão que pagar a conta, espero que não seja com a própria vida. 

Mas, aquilo que se pode concluir é que o Brasil e o mundo ficarão, certamente, diferente depois do coronavírus! 

 

 

 

 


terça-feira, 31 de março de 2020

ARTIGO - Uma narrativa manipulada sobre a ditadura militar (Padre Carlos)

Uma narrativa manipulada sobre a ditadura militar 

 

 
 

    Em plena crise do coronavírus, o governo de Jair Bolsonaro não deixa de, mais uma vez, tentar reescrever a história do país através de uma narrativa manipulada sobre a ditadura militar. O vice-presidente Hamilton Mourão aproveitou o aniversário do golpe de 1964, neste 31 de março, para exaltar a ditadura que se alastrou no país e que perseguiu, torturou e matou minorias e opositores. 



    Na ótica deste governo, temos que comemorar um regime que tinha como linha mestra o arbítrio, cassação de direitos como habeas corpus, a tortura de homens e mulheres por discordarem de toda aquela barbárie. Não há menor possibilidade de defesa ética, moral e histórica dessa data, que na referência em nível mundial, não nos engrandece; pelo contrário, nos coloca numa página obscura, numa página que temos, na pior das hipóteses, tentá-la esquecer. Mas como esquecer tal agressão? Como comemorar um golpe inconstitucional ao Estado Democrático de Direito? 

                     

    Durante o período foram presas mais de 5 mil pessoas, além de vários casos de civis que sofreram com brutalidade e torturas. Não podemos esquecer que entre os anos de 1964 e 1973, 4.841 pessoas foram punidas com perdas de diretos políticos, cassação de mandatos, aposentadorias e demissões. 513 políticos tiveram seus mandatos cassados, 35 dirigentes sindicais perderam direitos políticos. Sei o que estou falando, porque vivi na pele o período de chumbo, como sei que muitos militares nunca aceitaram a democracia, se o Estado Maior pensa deste jeito é um direito dos militares pensarem dessa forma, mas utilizar o dinheiro público ministerial é inconstitucional. 

    

    Não podemos negar, que este governo, está na contramão da história, o poder público brasileiro constrange a sua cidadania. O que o Vice-presidente tentava homenagear, era um dos regimes mais sangrentos de toda a história do país, uma verdadeira ditadura. Se isto ocorresse na Argentina, país onde a Justiça se incorporou à recuperação das responsabilidades dos crimes cometidos durante a ditadura, uma homenagem como essa seria punida por apologia do terrorismo de Estado. No Brasil, um fato como esse se reduz à mera discussão política. Que uma iniciativa como essa não gere um escândalo imediato mostra o grau de despolitização ou de desconhecimento que ainda impera no conjunto da sociedade brasileira. No Brasil, infelizmente a indignação com tal discurso ficou restrita a certos setores da sociedade civil, e a situação ainda não foi revista. 

    O conhecimento é a chave para a melhor compreensão do cotidiano das ditaduras, suas formas de controle, a ausência de proteção estatal, a conexão regional de segurança nacional, a participação de funcionários públicos e de estruturas estatais (que, em vez de proteger seus cidadãos, por motivações políticas os perseguiram). Essas práticas e experiências estimulam reflexões sobre conceitos como democracia, autoritarismo, liberdade, direitos humanos, justiça, cidadania ou crimes de lesa humanidade. Em síntese, a dimensão política desta luta aprofunda uma percepção cidadã sobre o papel das instituições, dos protagonistas sociais e os limites da tolerância política. Pode-se dizer que tal constatação é o resultado, mais do que a ausência de “políticas de memória”, da aplicação deliberada de “políticas de esquecimento”, ou seja, a proposição de ações de “esquecimento: sonegação de informação e difusão de informações ambíguas”. 

    

    Como foi afirmado antes concluo com a convicção de que a sociedade brasileira - e particularmente a juventude -, não é alienada, omissa ou descomprometida diante do passado imediato. Bem pelo contrário, quando ela se apropria de informação, de forma criteriosa, reflexiva, sedenta por mais informação. A palavra indignação é uma boa medida para expressar o que sentimos com a iniciativa do governo brasileiro. Desta forma, muitos já começam a ter uma dimensão mais realista do que foram aqueles fatos; a legítima indignação que motiva escraches e denúncias de impunidade. A indignação de gerações que foram alvo de uma política de desconexão histórica, tanto a geração que teve seu protagonismo interditado, apagado ou deturpado pela “história e pelo silêncio oficial”, quanto as mais novas, atingidas no seu processo de formação social, cultural e político, pelas ausências e sequelas daquele apagamento. 

    Assim, gostaríamos de afirmar que a pretensão do Vice-presidente de tentar reescrever a história do país através de uma narrativa manipulada sobre a ditadura militar, tem por objetivo mascarar e profanar os cadáveres que este regime produziu. Também, precisa-se reafirmar a intenção do fechamento do espaço para outras memórias e versões históricas. 
Ditadura nunca mais,  

    Padre Carlos 

 
 


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...