Quando a velha Fazenda Pituba, foi adquirida no início do século passado pelo baiano Manoel Dias da Silva e pelo seu cunhado mineiro, Joventino Pereira da Silva, já havia na localidade uma colônia de pescadores que poderíamos hoje identificar como remanescentes de quilombos, esta área passou a ser na época disputada a partir da primeira metade do século passado por uma população de renda média que passaram a construir casas de veraneio. Quem tinha carro poderia chegar a antiga fazenda através de uma estrada de chão batido que terminava, nas imediações do Costa Azul, devido ao rio que impedia a passagem para o Jardim de Alá. Quem não possuía transporte próprio, descia no terminal do bonde no largo de Amaralina e seguia a pé tendo como referência uma casa em formato de navio, esta era o marco da divisão entre o bairro de Amaralina e a Pituba. Com a expansão imobiliária, cada vez mais avançando no litoral e a construção de uma avenida que cortava toda a faixa litorânea até o aeroporto, substituindo assim o antigo acesso pelo subúrbio. Desta forma, o setor imobiliário viu aí uma oportunidade de grandes negócios, já que eram praias praticamente virgens e até então a antiga estrada de Ipitanga, era o único acesso ao bairro de Itapoá. Foram acontecimentos como estes, que proporcionaram esta estância de veraneio da classe média e alta a se tornar um bairro da grande Salvador. Em 1969 o então prefeito Antônio Carlos Magalhães (A CM), determinou a demolição de cerca de 300 casas acabando assim com o (Chega Nego) ou Bico de Ferro e como não havia interesse dos poderes públicos em documentar a história daquela localidade, jamais saberemos a origem desta colônia de pescadores. No local onde era o Bico de Ferro, hoje se encontra o Jardim dos Namorados. Estas pessoas foram deslocadas junto com uma outra comunidade que se formara na praia da Ondina com as mesmas características desta para o bairro da Boca do Rio. A nova orla não comportava estas pessoas e assim perdemos muito com esta limpeza étnica. A burguesia estava chegando ao litoral e aquelas comunidades de negros e pescadores para ACM e os representantes da expansão imobiliária, desnorteava a imagem que eles queriam vender do litoral e das praias virgem que a nova avenida tinha proporcionado.
Hoje esta parte da cidade, se tornou um grande bairro de classe média, mas na época em que meus país se mudaram no início de 1958 era ainda um bairro de veraneio da elite de Salvador e estava se desenvolvendo rápido. Vamos falar um pouco como foi criado este empreendimento. A Pituba foi o primeiro loteamento planejado em Salvador. Com isto, em 1919, o novo balneário dos soteropolitano, foi criada com régua e compasso a partir da experiência de Belo Horizonte, a primeira capital planejada do Brasil. Inicialmente a Pituba funcionou como um lugar de difícil acesso para a elite veranear, onde a classe média e alta passava com a família o verão e não se misturavam com os nativos. No pós-guerra, passou a se torna um local de segunda residência, como são hoje muitas propriedades nas cidades do litoral de São Paulo e Santa Catarina.
Mas o antigo local de veraneio, com enormes casas da elite baiana, passou a se desenvolver rapidamente a partir do final da década de cinquenta e início da década de sessenta. A transformação de balneário para um bairro de classe média, se dá em menos de uma década. Entre o final da década de cinquenta e o início o início dos anos sessenta, passamos a presenciar a instalação de restaurantes e bares, o Clube Português, o Colégio Militar e o Colégio das Irmãs Mercedária para educar as filhas destes moradores.
Apesar de não haver vestígios materiais no local, a antiga capela de Nossa Senhora da Luz, que sempre acolheu aquelas pessoas que sempre passava suas férias naquele balneário e a colônia de pescadores, tinha sua localização entre a rua Minas Gerais com a AV. Otávio Santos, em frente do armazém do Sr. Milton. A atual Igreja de Nossa Senhora da Luz, foi inaugurada em 1960.
Com relação a devoção à Senhora da Luz, esta teve início no final do Séc. XVII e início do Séc. XVIII. Segundo a tradição, uma menina de uns doze anos de idade, andando para apanhar gravetos para cozinhar, sentindo sede, viu (ou imaginou ver) surgir entre a mata e a areia, uma figura de uma mulher linda, com um menino sentado no braço esquerdo e na mão direita uma vela acesa; atrás da figura veio um manancial de água, e todo o quadro como iluminado com uma luz azul. Saciada a sede, a menina correu para casa e comunicou aos seus pais o ocorrido, os quais vieram acompanhando-a; chegados ao lugar por ela indicado, constataram a existência do manancial de água, não sabendo explicar se já existia antes; e mais nada viram. Infelizmente as autoridades política e religiosa deixaram o proprietário da antiga fazenda vender este lote que se encontrava esta nascente. Este lugar situa-se perto da confluência das ruas São Paulo com Rio Grande do Sul, bem perto da Praça Belo Horizonte, onde se encontra a casa do engenheiro elétrico, o Dr. João Cunha.
Falar da Pituba das décadas de cinquenta e sessenta, é falar de todo um ambiente boêmio com a boate de Aurino que animava as noites daquele balneário, era um lugar mágico aquela casa de espetáculo, lembrava muito os espaços musicais dos afro-americanos dos anos vinte e trinta. As noites da Pituba tinha uma certa magia que se perderam com o tempo e aquela geração. Como não lembrar da cabana de Pedro, do Galo de Ouro e do Jangadeiro, das alvoradas patrocinadas por Dr. Haroldo, além das festas de largos e do ambiente que se formava com a chegada do verão.
Assim nasceu a Pituba, como um balneário e bairro que encantou várias gerações com os carnavais do Clube português e a Festa de Largo. Saudade daqueles tempos!
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