Nestes últimos dias venho me perguntando se não estamos perdendo o foco dos verdadeiros problemas que o país vem enfrentando e deixando as crises do planalto pautar a nossa agenda. Acredito que mesmo às dificuldades encontradas pelo governo que aí está para conseguir a legitimidade necessária para se manter, não podem sobrepor os verdadeiros interesses para que possamos sair o mais rápido desta crise.
O debate político que as esquerdas devem travar neste momento, precisa passar por duas vertentes: o das medidas urgentes para responder e combater a crise pandémica e o outro, diz respeito as medidas que teremos que tomar para reconstrução da nossa economia. Todos nós sabemos que esta crise provocada pelo coronavírua será prolongada. Mas, mesmo se não fosse verdade, a pergunta fundamental ainda seria a mesma: conseguiremos manter os nossos empregos? Sabemos da importância que tem as medidas adotadas pelos governos: federal, estadual e municipal bem como das suas consequências já que o prazo ainda é incerto e o impacto social econômico pode ser muito grande. Não temos uma prescrição objetiva, mas seguramente, os estados e municípios que não têm transmissão comunitária, se começarem a tomar medidas de distanciamento social muito rígidas podem não sustentar por muito tempo. Por outro lado, se deixa pra fazer no pico, pode ter hospitais e UTIs sobrecarregados demais. Desta forma, apesar da questão ser de ordem técnica, a decisão sempre será política.
O clima formado pela quarentena devido a pandemia do covid 19 – termina criando uma neurose coletiva que impede de avaliarmos todos os ângulos da questão fazendo com que deixemos a ideia de definição estratégica da nossa economia, para mais tarde. Na verdade, não é desta forma que vamos superar todos estes problemas.
Este é o tempo para se pensar em uma estratégia econômica que englobe todo o território nacional, incluindo as regiões que sempre foram desprezadas pelo poder central. Temos que discutir a crise climática a industrialização do Norte e Nordeste e a soberania nacional. A crise pandémica atinge com particular violência os estados mais pobres da União, onde as cicatrizes das políticas neoliberal de Temer e Bolsonaro estão muito presentes. Além de todos estes problemas que os estados enfrentam, o governo federal cortou 96 mil benefícios do Bolsa Família. Esses cortes representam 61% do cancelamento de 158 mil bolsas no país, anunciado pelo governo Bolsonaro, que anteriormente havia prometido aumentar o programa. É preciso ter alguma sensibilidade social e proteger as pessoas mais pobres, estes cortes aumentam a miséria no país e há uma crise justificada de legitimidade do próprio governo. Não podemos deixar que estes acontecimentos destrua o pacto federativo.