sexta-feira, 1 de maio de 2020

ARTIGO - O que é mesmo ser católico? (Padre Carlos)



O que é mesmo ser católico?



Quando exercia o ministério sacerdotal, fui chamado no meio da noite para administrar o sacramento da Reconciliação a uma pessoa que se encontrava muito enferma. Segundo a agente de saúde, se tratava de um antigo sindicalista que trabalhou muitos anos na indústria têxtil em Contagem.  Apesar do avanço da doença, o pobre homem ainda estava lúcido e ao sentir a minha presença, começou a falar sobre sua militância e a falta de fé que o acompanhou a vida toda. Para ele as rezas eram para as mulheres e sua esposa enquanto estava viva, rezava para os dois. Não era um homem sem formação, tinha um conhecimento extraordinário e uma visão de mundo interessante. Falei-lhe da misericórdia de Deus e ele perguntou: o que faço para conseguir esta misericórdia? Eu disse: um fator decisivo para a obtenção da misericórdia Divina é a confiança. 

   Perguntei se ele queria se confessar e ele respondeu com outra pergunta: Padre o que é ser católico? Fiquei comovido diante das dúvidas e do medo daquele homem de partir sem conhecer verdadeiramente a Deus. Olhei-o nos olhos e disse:  ser católico é ter a consciência da necessidade de transmissão de uma herança cultural muito antiga que está consignada a uma ética e uma estética muito próprias. Em termos éticos, assenta sobretudo na transmissão dos valores do cristianismo, algo que penso estar assegurado, embora, por vezes, se pudesse fazer mais com certeza faria. Do ponto de vista estético temos a beleza das igrejas, das liturgias das celebrações este é um património que não só faz sonhar como é uma viagem no tempo. A credibilidade desta fé passa pela solidariedade, pela opção pelos mais pobres, [pelas] intervenções em contexto de guerra e de extrema pobreza e na luta pelos direitos humanos onde eles são desrespeitados. 
Mas, para ser católico, é preciso antes de tudo ser sensível à questão das injustiças socias, às desigualdades gritantes, crítico das relações internacionais que assentam sobre interesses e não sobre os direitos das pessoas. 
É essencial que lutemos contra as estruturas das raízes da pobreza. No entanto, faz parte da fé cristã valorizar os pobres como pessoas e revelar a presença divina nelas. A Igreja deve se revelar próxima e solidária a todas as vítimas da pobreza injusta. Trata-se de uma presença que favoreça e apoie o protagonismo das comunidades e organizações nas quais os pobres lutam por seus direitos e pelo reconhecimento de sua dignidade humana. 
Atualmente, quanto mais a sociedade vive em crise social e econômica, mais os ricos aumentam os seus lucros. Geram-se novas escravidões. Cada vez mais, aumenta o número de pessoas que sobrevivem nos lixões da sociedade. Por todo o mundo se multiplicam as vítimas do tráfico e das drogas. 
Depois de tudo que eu falei, ele me olhou e disse: minha vida foi tudo isto que o senhor falou. Então Deus estava lá o tempo todo e eu não conseguia enxergar. Me pediu a absolvição e recebeu a comunhão. Me despedir daquele homem com a promessa que retornaria no final de semana. Na manhã seguinte, a agente da pastoral esteve na casa que eu estava hospedado em Belo Horizonte e me falou que ele partiu naquela mesma noite. 




quinta-feira, 30 de abril de 2020

ARTIGO - Quem planta irresponsabilidade colhe sofrimento (Padre Carlos)



Quem planta irresponsabilidade colhe sofrimento



Manaus é hoje uma realidade que não podemos ignorar. O triste cenário que terrivelmente ocupa a capital amazonense, com mortos e mais mortos empilhados sem perspectivas de sepultamentos com dignidade é fruto da ganancia e da falta de um planejamento e políticas públicas para que evitasse esta tragédia.  A vida transformou-se de uma hora pra outra em algo banal, sem valor e sem cuidados, tamanho o colapso da rede hospitalar privada e do sistema  público. 
A expectativa é de crescimento dos óbitos pela Covid-19 que se associam a outros não identificados, mas todos arrolados como provindos da mesma origem. Com ou sem identificação, todos são encaminhados a uma vala comum, entulhados como lixo.  
Esta realidade não é exclusiva do estado da Amazônia ela se encontra em todo o território nacional. Só nas últimas 24 horas, o Brasil registrou 435 novas mortes e 7.218 novos casos confirmados de coronavírus, segundo boletim do Ministério da Saúde. É o maior número de novos casos em um dia -o recorde anterior era do dia anterior, 6.276. Agora, o país tem ao todo 5.901 óbitos e 85.380 casos. 
Diante dos fatos apresentados, gataríamos de chamar a atenção das autoridades locais para a falta de fiscalizações nas agencias bancarias e nas casas lotéricas em decorrência do pagamento do auxilio emergencial. Acredito que a Caixa Econômica e as loterias deveriam assumir um compromisso social e só atender ao público dentro de parâmetros sanitários. Esta aglomeração pode causar um surto do vírus na nossa cidade e todo o esforço que estamos fazendo com a quarentena está sendo desconstruído diante das grandes aglomerações que estão sendo formado nestes lugares. 
Segundo estudo de uma consultoria: “A situação crítica de Vitória da Conquista, que até o momento possui 31 casos positivos para a Covid-19, com três evolução para óbitos (pouco mais de 10% do total) preocupa os responsáveis pelo estudo justamente por conta da estrutura do sistema de saúde e dos indicadores econômicos.” 
  Os conquistenses ainda não entenderam o medo do contágio, ainda não passaram por situações de impotência das pessoas nas ações de socorro, por isto não tem respeitado as medidas protetivas determinadas pelas autoridades.  
O pico da pandemia ainda não foi alcançado. As autoridades não sabem precisar. Por isto, acredito que não seja a hora de flexibilizar o decreto; pelo contrário é hora de fiscalizar se as medidas estão realmente sendo cumpridas. As pessoas estão perdidas. Não se está mais morrendo de Covid 19, mas também de solidão. Toda dor necessita ser mitigada. Só temos um caminho até então, a misericórdia divina. Através dela haveremos de vencer esta pandemia, antes que ela se transforme num pandemônio. 



Artigo - Como sair da crise? (Padre Carlos)



Como sair da crise? 


   

Nestes últimos dias venho me perguntando se não estamos perdendo o foco dos verdadeiros problemas que o país vem enfrentando e deixando as crises do planalto pautar a nossa agenda. Acredito que mesmo às dificuldades encontradas pelo governo que aí está para conseguir a legitimidade necessária para se manter, não podem sobrepor os verdadeiros interesses para que possamos sair o mais rápido desta crise. 
O debate político que as esquerdas devem travar neste momento, precisa passar por duas vertentes: o das medidas urgentes para responder e combater a crise pandémica e o outro, diz respeito as medidas que teremos que tomar para reconstrução da nossa economia. Todos nós sabemos que esta crise provocada pelo coronavírua será prolongada. Mas, mesmo se não fosse verdade, a pergunta fundamental ainda seria a mesma: conseguiremos manter os nossos empregos? Sabemos da importância que tem as medidas adotadas pelos governos: federal, estadual e municipal bem como das suas consequências já que o prazo ainda é incerto e o impacto social econômico pode ser muito grande. Não temos uma prescrição objetiva, mas seguramente, os estados e municípios que não têm transmissão comunitária, se começarem a tomar medidas de distanciamento social muito rígidas podem não sustentar por muito tempo. Por outro lado, se deixa pra fazer no pico, pode ter hospitais e UTIs sobrecarregados demais. Desta forma, apesar da questão ser de ordem técnica, a decisão sempre será política. 
O clima formado pela quarentena devido a pandemia do covid 19 – termina criando uma neurose coletiva que impede de avaliarmos todos os ângulos da questão fazendo com que deixemos a ideia de definição estratégica da nossa economia, para mais tarde. Na verdade, não é desta forma que vamos superar todos estes problemas.  
Este é o tempo para se pensar em uma estratégia econômica que englobe todo o território nacional, incluindo as regiões que sempre foram desprezadas pelo poder central. Temos que discutir a crise climática a industrialização do Norte e Nordeste e a soberania nacional. A crise pandémica atinge com particular violência os estados mais pobres da União, onde as cicatrizes das políticas neoliberal de Temer e Bolsonaro estão muito presentes. Além de todos estes problemas que os estados enfrentam, o governo federal cortou 96 mil benefícios do Bolsa Família. Esses cortes representam 61% do cancelamento de 158 mil bolsas no país, anunciado pelo governo Bolsonaro, que anteriormente havia prometido aumentar o programa. É preciso ter alguma sensibilidade social e proteger as pessoas mais pobres, estes cortes aumentam a miséria no país e há uma crise justificada de legitimidade do próprio governo. Não podemos deixar que estes acontecimentos destrua o pacto federativo. 
Precisamos na verdade de uma política que seja capaz de corrigir o desequilíbrio estruturais do nosso país. E que, ao fazê-lo, imponha uma economia justa onde até hoje só existiu desigualdade.  

quarta-feira, 29 de abril de 2020

ARTIGO - As denúncias começam a chegar (Padre Carlos)

As denúncias começam a chegar 



A decretação de situação de emergência por parte dos municípios baianos, como já o fez o Governador Rui Costa, foi fundamental para a flexibilização da burocracia imposta à administração pública exigida em tempos normais. Desta forma, ao declarar situação de emergência nos municípios, o decreto autoriza a mudança de procedimentos nos gastos por parte da Prefeitura da nossa cidade. Gostaria de lembrar a Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista, que flexibilizar não significa fechar os olhos para estas despesas sem que haja critérios técnicos para comprovar tal gastos.  
No momento em que a administração municipal passa a gerir as receitas do município sobre o regime de situação de emergência, é fundamental que  a Câmara institua comissões específicas para acompanhar a situação fiscal e a execução orçamentária e financeira das medidas relacionadas à emergência de saúde pública decorrente do coronavírus (Covid-19) na nossa cidade. 
Levanto estas questões para chamar a atenção dos vereadores sobre a denúncia apresentada pelo empresário Francisco Estrela Dantas Filho, ou simplesmente Chico Estrela, com relação a divergências de valores sobre os contratos apresentados pelo Governo estadual e o da Rede municipal. A Prefeitura de Vitória da Conquista contratou, em caráter emergencial, 20 leitos clínicos adultos e 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Vicente de Paula para atender pacientes diagnosticados com coronavírus, no valor de: 3.458 milhões de reais. Por se tratar de um contrato em período de situação de emergência, foi redigido uma ata de dispensa de licitação para este contrato que foi firmado entre a Prefeitura e o Hospital que foi publicado no Diário Oficial do Município nesta sexta-feira (24). Já o governo do estado, contratou ao todo 20 leitos de UTI, outros 20 leitos de enfermaria e um tomógrafo para auxiliar no tratamento com Coronavírus. Mensalmente a contratação dos leitos vai custar: R$ 1.656 milhão. 

Precisamos entender os critérios que foram alicerçados tal contratos e porque existe uma diferença exorbitante entre ambos? O papel do vereador é apontar falhas e investigar “O que queremos na verdade é que fiscalizem esta e todas denúncias que por ventura surgirem neste período de situação de emergência.  
O serviço à comunidade conquistense é uma das ações mais nobres desempenhadas pelos Senhores. Assim, trabalhar para melhor a vida das pessoas e transformar realidades difíceis neste momento de pandemia devido ao covid-19 no nosso município, deve ser o objetivo de Vossas Excelência. Por acreditar no Presidente e em todos os representantes daquela casa, temos a certeza que as medidas serão tomadas para que estes fatos sejam esclarecidos.  

terça-feira, 28 de abril de 2020

ARTIGO - Um plano de ação estratégica (Padre Carlos)

Um plano de ação estratégica 


Nestes dias em que a pandemia causada pelo novo coronavírus impõe a nossa cidade, adoção de medidas sanitárias extremas, como a necessária política da quarentena e distanciamento social, não podemos fechar os olhos e achar que o isolamento por si só resolverá o problema. Sei que a comparação pode parecer um absurdo, mas se não começarmos planejar o retorno ao trabalho dentro de critério técnicos, poderemos está condenando esta população ao gueto como aconteceu em Varsóvia. Não quero flexibilizar as leis. Quero que o comitê gestor de saúde tenha liberdade e autonomia para fazer de forma isenta e criteriosa se já podemos dentro de normas sanitária, retornar ao trabalho. 
Sabemos das pressões que se abatem sobre os poderes públicos neste momento seja este: legislativo, executivo ou judiciário, eles neste momento são obrigados a lidar com as  consequências advindas das suas decisões e com certeza se houver, essas serão irreversíveis tanto para economia do município como para as vidas que porventura poderemos perder. Independentemente da política adotada por cada cidade, haverá mudanças duradouras no nosso dia-a-dia, que vão desde a forma como interagimos com as pessoas mais próximas até a forma como trabalhamos. 
Se por um lado, compete a este comitê gestor da saúde as informações e decisões sobre o retorno ou não das atividades do nosso comercio, por outro, chama a responsabilidade os representantes público para a criação de um Fórum em Defesa do Emprego, que tenha como objetivo propor medidas de curto, médio e longo prazo para reduzir os efeitos da crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus. 
Precisamos mobilizar empresas, trabalhadores, universidades, poder público e a sociedade para discutir ações para ajudar as pessoas nessa crise. É preciso agir em favor da nossa gente. Por isso precisamos com urgência criar estas iniciativas de Ação em Defesa do Emprego, uma mobilização em nossa cidade e em todo o Sudoeste baiano. Muitas famílias estão sem renda, sem poder comer ou pagar suas contas.  
Estas ações se fazem necessária neste momento de crise e tem que partir das autoridades competentes. Já passou da hora de termos um plano de ação estratégica para minimizar esse sofrimento no curto prazo possível e nos próximos meses. 
De um lado, os profissionais de saúde lutam pra salvar vidas e garantir a saúde das pessoas e avaliam a conjuntura se a comunidade já pode ou não retornar as suas atividades.  De outro, as autoridades e seus parceiros buscarão garantir emprego, ocupação e renda desta população. Só desta forma, conseguiremos enfrentar esta crise e responder da melhor forma as demandas que são apresentadas. 


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...