Um
legado de amor, sabedoria e esperança!
Já faz algum tempo que um amigo me pediu
para que eu escrevesse sobre Dom Timóteo. Depois de algum tempo, minha pena
resolveu aceitar o convite, e hoje gostaria de compartilhar com você um pouco
sobre a vida e obra deste grande homem.
No dia 12 de julho de 2023, completaram-se
113 anos do nascimento de Dom Timóteo Amoroso Anastácio, um monge beneditino
que foi um dos grandes líderes religiosos e sociais do século XX no Brasil. Sua
trajetória é marcada por uma profunda fé, uma coragem profética e uma abertura
ao diálogo e à diversidade cultural.
Dom Timóteo nasceu em Barbacena, Minas
Gerais, em 1910, em uma família de origem italiana. Formou-se em Direito no Rio
de Janeiro, onde se casou com Maria Helena, mas ficou viúvo aos 28 anos. Em
1940, ingressou na Ordem de São Bento no Mosteiro do Rio de Janeiro, adotando o
nome religioso de Timóteo. Em 1965, foi eleito arquiabade do Mosteiro de São
Bento da Bahia, o mais antigo do novo mundo.
Sua chegada à Bahia coincidiu com um dos períodos mais turbulentos da história do Brasil, a ditadura militar que se instalou em 1964 e durou até 1985. Dom Timóteo não se calou diante das violações dos direitos humanos e da repressão aos movimentos sociais que lutavam pela democracia e pela justiça. Ele se destacou pela sua atuação contra a ditadura militar que oprimia o Brasil na década de 1960 e 1970. Ele não se intimidou diante das ameaças e das violências do regime e usou sua voz e sua influência para defender os direitos humanos e a democracia. Um episódio marcante foi em 1968, quando ele abriu as portas do Mosteiro de São Bento para acolher os estudantes que fugiam da repressão policial na Avenida Sete de Setembro, em Salvador. Ele também denunciou a prisão arbitrária do jornalista Aroldo Pereira, que era seu amigo e colaborador do jornal O Estado de S. Paulo. Dom Timóteo se tornou um símbolo da resistência e da solidariedade aos perseguidos políticos, muitos dos quais encontraram no Mosteiro um refúgio e uma esperança.
Outro caso emblemático da atuação de Dom
Timóteo contra a ditadura militar foi a denúncia que ele fez da prisão de
Haroldo Lima, um dos líderes da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), que se
incorporou ao PCdoB em 1972. Haroldo Lima foi preso em 1976, junto com outros
dirigentes comunistas, na chamada Chacina da Lapa, em São Paulo, onde foram
assassinados Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond. Dom Timóteo,
que era amigo de Haroldo Lima e de sua família, soube da prisão por meio de uma
carta anônima e decidiu torná-la pública, para evitar que ele fosse torturado e
morto pelos militares. Ele escreveu uma nota no jornal O Estado de S. Paulo,
informando que Haroldo Lima estava preso e exigindo seu julgamento legal. Essa
atitude corajosa de Dom Timóteo salvou a vida de Haroldo Lima, que depois foi
libertado em 1979, com a anistia.
Dom Timóteo também foi um pioneiro na
promoção do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, especialmente com as
religiões afro-brasileiras e judaicas. Ele reconhecia a riqueza e a beleza da
diversidade cultural e religiosa do povo brasileiro e buscava uma integração
respeitosa e fraterna entre as diferentes tradições. Ele celebrou a Missa do
Morro com atabaques e berimbaus, abriu o Mosteiro para as manifestações
artísticas e culturais da Bahia e incentivou o estudo e a valorização da
história e da cultura afro-brasileira.
Dom Timóteo também se preocupava com as
questões sociais e ambientais do seu tempo. Ele defendia uma ética humanista
que preservasse a natureza e promovesse a dignidade de todos os seres humanos.
Ele criticava o consumismo desenfreado e a exploração dos recursos naturais que
ameaçavam a vida no planeta. Ele propunha uma espiritualidade que integrasse fé
e razão, ciência e religião, cultura e evangelho.
Dom Timóteo faleceu em 1994, aos 84 anos,
deixando um legado de amor, sabedoria e esperança para as gerações futuras. Sua
vida é um exemplo de como um monge pode ser um agente de transformação social e
um testemunho de como a fé pode iluminar a história.