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Centrão e sua relação simbiótica com o governo
O bloco do Centrão é, talvez, o grupo parlamentar
mais influente da política brasileira atual. Quando meu amigo brincou, em 2022,
que o Centrão iria compor o governo de quem ganhasse a eleição presidencial,
ele captou uma verdade profunda sobre a natureza desse grupo. O Centrão é, por
excelência, governista e busca integrar qualquer governo, independentemente de
orientações ideológicas.
Isso ficou claro na composição do governo
Lula, iniciado em 2023. Mesmo tendo apoiado majoritariamente Bolsonaro na
eleição, o Centrão logo passou a integrar a base aliada do PT, ocupando
ministérios e cargos estratégicos. Nomes como Ciro Nogueira, Fábio Faria e
Daniela do Waguinho, todos filiados a partidos do Centrão, foram incorporados
ao primeiro escalão do governo petista.
Essa plasticidade ideológica do Centrão decorre
do fisiologismo que orienta sua atuação. Mais do que programas ou valores, o
que move esse bloco é a busca por espaços de poder, cargos e verbas públicas
para irrigar seus currais eleitorais. Daí a importância de sempre estar próximo
do Palácio do Planalto, independentemente de quem esteja na presidência.
Contudo, essa relação simbiótica com o
governo não está isenta de turbulências. O Centrão age como uma criança mimada,
ameaçando deixar a base aliada quando não tem suas demandas por cargos atendidas.
Foi assim nos governos do PT no passado e se repete agora com Lula. É um jogo
de pressão por mais espaço no Executivo.
O que torna essa estratégia de chantagem
ainda mais efetiva atualmente é o ineditismo da força do Centrão no Legislativo
e mesmo no governo. Com figuras como Arthur Lira, Rodrigo Pacheco e Geraldo
Alckmin em posições de destaque, o grupo nunca esteve tão influente. Por isso,
as ameaças de rompimento devem ser lidas mais como táticas de barganha do que
possibilidade real.
Ainda que desgastante, Lula parece não ter
alternativa a não ser continuar reproduzindo essa relação de troca com o
Centrão, distribuindo cargos em busca de governabilidade. Ao mesmo tempo, o
Centrão dificilmente abandonaria os privilégios do governo federal para uma oposição
incerta. Essa conexão, por mais criticada que seja, tende a se perpetuar, já
que atende aos interesses de ambos os lados.