quarta-feira, 22 de junho de 2022

ARTIGO - Uma Nova Esquerda (Padre Carlos)

 


Uma Nova Esquerda

 


Para um leigo em política internacional, seria impossível enxergar algum padrão das esquerdas nas mudanças que estão acontecendo em todo o planeta. A eleição na Colômbia bem como os resultados das eleições legislativas da França aponta um novo período político onde não existe mais espaço neste campo a não ser uma grande frente de esquerda sem o personalismo e as vaidades se quiserem sobreviver neste novo milênio. Sou de um tempo que falar de perfeição e coerência era encarado como um mantra nas esquerdas. Todas as correntes se achavam o berço da coerência e da perfeição, elas se fechavam em suas convicções e não percebiam o que estava transcendendo ao seu conjunto de certezas.  Foi preciso muitos anos e uma nova geração, para que estas lideranças entendessem que não  existem partidos, correntes ou agrupamentos perfeitos, porque são compostos por homens e ninguém é perfeito ou sempre coerente o tempo todo.

Diferente de Emmanuel Macron, agora o grande desafio para Gustavo Petro, será o velho problema brasileiro: a governabilidade no Congresso. Petro convenceu metade dos colombianos com suas promessas de mudança. Mas agora o primeiro presidente de esquerda eleito da Colômbia terá que formar maiorias e vencer a resistência de militares e empresários para governar um país dividido sobre seu mandato. Petro deve tentar propor o que chamou de grande acordo nacional porque claramente o país está bem fragmentado e entende que sem repactuar a nação, será impossível empreender as mudanças que a Colômbia tanto precisa.

         Fatos ocorridos nesta campanha lembraram  aos brasileiros um pouco da eleição de 1989 entre Collor e Lula.  Durante a campanha os empresários acusaram de promover um socialismo fracassado. Foi uma campanha de mentiras e medo, que ele iria expropriar os colombianos, destruir a propriedade privada. Como falou o presidente: “eu sou de esquerda, mas isso não quer dizer que vou transformar radicalmente o modelo econômico”.

 


sexta-feira, 3 de junho de 2022

ARTIGO - Não podemos fechar os olhos para aqueles que rasgaram a constituição! (Padre Carlos)

 


Para construir o Brasil do futuro

 




Um dos grandes desafios que temos que enfrentar nestes últimos tempos são os ataques as base do nosso regime republicano democrático e suas instituições sem que possamos fazer muita coisa em sua defesa no que se refere às tentativas de golpe e o desrespeito a nossa constituição. Como professor de filosofia chamo a atenção da classe política para que possa entender que uma das causas estes problemas estão relacionado à falta de consciência história de alguns setores da sociedade e das novas gerações. Não resgatamos os nossos valores históricos e não buscamos celebrar as nossas vitórias para entrar no período de democratização. Fechamos os olhos para aqueles que rasgaram a constituição em 64 e não repactuamos a Nação. Para construir o Brasil do futuro, nós precisávamos ter usado os mitos do passado que alimentaram nossas utopias e assim, poderiam ter capacidade de sustentar o nosso presente. Por isso, uma sociedade que não faz uso de sua história, não consegue se entender.

         Nós somos nesta eleição, através de uma frente democrática chamada a participar da construção do futuro deste país, assim podemos nos perguntar: quais são as nossas âncoras de identidade?

 Quem escreveu nossa história sabia que as masmorras de Curitiba tinha uma função estratégica. Quais dos nossos heróis nos identificamos com este passado? Nossa cultura autoritária fez com que absolvêssemos os valores burgueses e tivéssemos vergonha da senzala.  Os nossos mitos, portanto, é checado o tempo todo porque, no fundo, nós estamos confrontando a nossa própria identidade, quando colocamos um retirante como protagonista do projeto de salvação e não um filho de coronel.

         Primeiramente pode haver um susto, mas depois nos perguntamos: será que realmente somos assim? É aí que começamos a fazer perguntas como: será que somos democráticos ou a nossa índole é, na essência, autoritária?

         Queremos soluções rápidas como em 85 que não nos deram o trabalho de construirmos um pacto entre a senzala e a casa grande, ou queremos um consenso, para construção de soluções duradouras?

          Na verdade, estamos órfãos de identidade. Onde fica a casa grande e a senzala?  Afinal, quem nós somos? O Brasil precisa encontrar um eixo comum que suavize os conflitos e, neste momento de confronto, é necessário voltar ao passado para nos perguntarmos: dá para construir o Brasil com a matéria-prima que temos à disposição?

         Uma identidade, para ser realmente sólida, preciso ser produto de um pacto, isto é, a sociedade tem que se reconhecer coletivamente nessa identidade como nação. E é isso que nos polariza tanto e que reflete uma intolerância, não aceitamos a senzala neste projeto nacional.

          Para as camadas populares, só valerá a pena salvar a democracia se todas as classes envolvidas nesta luta devolver as esperanças do povo de que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”...

         Os frutos virão mais lentamente do que imaginamos, mas eles serão resultados da história que construímos hoje. O Brasil de hoje pode não ser o melhor, pode não ser o mais justo, mas o Brasil que nós sonhamos hoje pode, sim, ser melhor e mais justo se nós assumirmos o desafio de construí-lo hoje.

Padre Carlos


quarta-feira, 1 de junho de 2022

ARTIGO - Polícia Rodoviária Federal mata cidadão asfixiado (Padre Carlos)

 

 

Polícia Rodoviária Federal e a Declaração Universal de Direitos Humanos

 



Nestes dias assistimos de forma perplexa um assassinato brutal de um cidadão por parte do Estado brasileiro e de suas forças de segurança que operam em seu nome. Quando levanto esta questão, quero afirmar que aqueles dois policiais na cidade de Umbaúba, no litoral sul de Sergipe, quando torturaram aquele cidadão durante uma abordagem policial e que terminou resultando em sua morte de uma maneira extremamente violenta e sem justificativa para tal ação, estavam a serviço do estado e que aquele crime brutal representa um comportamento e uma cumplicidade com tal ação daqueles que deveria proteger o cidadão. Assim, não entendemos, nem aceitamos este tipo de ação que representa uma cultura de morte e que se estende as classes mais pobres deste país.

Em nota, a PRF afirmou que o homem teria “resistido ativamente” à abordagem. Os agentes, então, teriam utilizado “técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo”.

Leia a íntegra da nota da PRF:

“Na data de hoje, 25 de maio de 2022, durante ação policial na BR-101, em Umbaúba-SE, um homem de 38 anos resistiu ativamente a uma abordagem de uma equipe PRF”. Em razão da sua agressividade, foram empregados técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo para sua contenção e o indivíduo foi conduzido à Delegacia de Polícia Civil em Umbaúba.

Durante o deslocamento, o abordado veio a passar mal e socorrido de imediato ao Hospital José Nailson Moura, onde posteriormente foi atendido e constatado o óbito.

A equipe registrou a ocorrência na Polícia Judiciária, que irá apurar o caso. “A Polícia Rodoviária Federal em Sergipe lamenta o ocorrido e informa que foi aberto procedimento disciplinar para averiguar a conduta dos policiais envolvidos”.

 

Foram ações como esta contra o cidadão comum, que me fez pensar sobre os direitos fundamentais do Homem e o quanto este Estado tem violado. Encontramos múltiplos indícios destas violações, sejam nos morros cariocas nas periferias de Salvador ou no litoral de Sergipe.  Assim conhecendo a história de violência e a guerra que se trava de forma silenciosa em nosso país, não entendemos como o Brasil pode assinar uma Declaração Universal de Direitos Humanos, que foi aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a 10 de Dezembro de 1948, em Paris e praticar tais atos.   Nos artigos 1 e 2, lê-se: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e distinção alguma de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou qualquer outra situação".

Na fundamentação dos direitos humanos, encontramos inevitavelmente as famosas afirmações de Kant: "Tudo no mundo tem um preço; só o Homem tem dignidade." "O Homem é fim, e nunca meio ou instrumento; portanto, independentemente da sua maior ou menor utilidade, reclama um respeito incondicional." Kant está falando da liberdade enquanto ela é de fato, que nos distingue das coisas e dos animais e se explicita na consciência do dever. Para ser fim, o Homem tem de ter nele algo de absoluto, incondicional, infinito. Então, se tem algo de infinito em si mesmo, que é a pergunta pelo Infinito, o Homem é fim, pois, para lá do Infinito, não há mais nada.

Várias são as explicações para o processo de humanização e as ciências que o discutem: a filosofia, a antropologia, a sociologia, a história, a biologia, a psicologia, entre outras. Entretanto, consideramos que este processo se dar através das lutas e o acumulo de forças das conquista dos povos. São violências com esta que aconteceu em Umbaúba, no litoral sul de Sergipe que fazem o filosofo se questionar: Será que o homem nasce humano? As características humanas estão presentes desde o nascimento? O que é ser humano? Como ocorre o processo de tornar-se humano? O que diferencia os humanos dos animais? Questões como essas inquietam e inquietaram o filósofo e todo o homem de bem no decorrer dos séculos de sua existência.

P.S: estos como este, não representa os valores desta corporação, que tanto tem feito para manter nossas rodoviária segura.

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...