sexta-feira, 3 de junho de 2022

ARTIGO - Não podemos fechar os olhos para aqueles que rasgaram a constituição! (Padre Carlos)

 


Para construir o Brasil do futuro

 




Um dos grandes desafios que temos que enfrentar nestes últimos tempos são os ataques as base do nosso regime republicano democrático e suas instituições sem que possamos fazer muita coisa em sua defesa no que se refere às tentativas de golpe e o desrespeito a nossa constituição. Como professor de filosofia chamo a atenção da classe política para que possa entender que uma das causas estes problemas estão relacionado à falta de consciência história de alguns setores da sociedade e das novas gerações. Não resgatamos os nossos valores históricos e não buscamos celebrar as nossas vitórias para entrar no período de democratização. Fechamos os olhos para aqueles que rasgaram a constituição em 64 e não repactuamos a Nação. Para construir o Brasil do futuro, nós precisávamos ter usado os mitos do passado que alimentaram nossas utopias e assim, poderiam ter capacidade de sustentar o nosso presente. Por isso, uma sociedade que não faz uso de sua história, não consegue se entender.

         Nós somos nesta eleição, através de uma frente democrática chamada a participar da construção do futuro deste país, assim podemos nos perguntar: quais são as nossas âncoras de identidade?

 Quem escreveu nossa história sabia que as masmorras de Curitiba tinha uma função estratégica. Quais dos nossos heróis nos identificamos com este passado? Nossa cultura autoritária fez com que absolvêssemos os valores burgueses e tivéssemos vergonha da senzala.  Os nossos mitos, portanto, é checado o tempo todo porque, no fundo, nós estamos confrontando a nossa própria identidade, quando colocamos um retirante como protagonista do projeto de salvação e não um filho de coronel.

         Primeiramente pode haver um susto, mas depois nos perguntamos: será que realmente somos assim? É aí que começamos a fazer perguntas como: será que somos democráticos ou a nossa índole é, na essência, autoritária?

         Queremos soluções rápidas como em 85 que não nos deram o trabalho de construirmos um pacto entre a senzala e a casa grande, ou queremos um consenso, para construção de soluções duradouras?

          Na verdade, estamos órfãos de identidade. Onde fica a casa grande e a senzala?  Afinal, quem nós somos? O Brasil precisa encontrar um eixo comum que suavize os conflitos e, neste momento de confronto, é necessário voltar ao passado para nos perguntarmos: dá para construir o Brasil com a matéria-prima que temos à disposição?

         Uma identidade, para ser realmente sólida, preciso ser produto de um pacto, isto é, a sociedade tem que se reconhecer coletivamente nessa identidade como nação. E é isso que nos polariza tanto e que reflete uma intolerância, não aceitamos a senzala neste projeto nacional.

          Para as camadas populares, só valerá a pena salvar a democracia se todas as classes envolvidas nesta luta devolver as esperanças do povo de que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”...

         Os frutos virão mais lentamente do que imaginamos, mas eles serão resultados da história que construímos hoje. O Brasil de hoje pode não ser o melhor, pode não ser o mais justo, mas o Brasil que nós sonhamos hoje pode, sim, ser melhor e mais justo se nós assumirmos o desafio de construí-lo hoje.

Padre Carlos


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