quinta-feira, 13 de junho de 2019

Por que não falamos da solidão ( Padre Carlos )




Por que não falamos da solidão


            As pessoas costumam  afastam-se da tristeza como se ela fosse uma doença. O pior é que ninguém quer estar ao lado de quem está sofrendo e em decorrência desta vergonha, ao invés de pedir ajuda ou compartilhar o que estamos sentindo, terminamos  fingindo para família e os amigos. A vergonha ou a culpa de se sentir desta forma , vai nos consumindo e  porque há sempre quem esteja pior do que nós, terminamos nos calando.
       
     Mas a solidão do outro é uma dor que não tem dimensão. Não tem forma definida nem tempo limite para doer. Resta-nos fingir que estamos vivos, que noutro local qualquer da mesma cidade, metade de nós mesmos não anda por aí, não vive sem nós.
             E o que nos resta, são todas as horas de um dia interminável e as noites terrivelmente longas, porque é quando o sol se põe que mais os espaços se enchem de sons que um dia existiram. Quando o coração vai sufocando a alma com um vazio. Lembro-me da infância e das travessuras, sinto o medo e a angustia de está preso no passado, porque os sentimentos e as paixões reaparecem como se estivessem retornando para  cobrar uma dívida
            Quando o amor se parte, é como se o universo se partisse também e o céu ficasse povoado de fragmentos.
            A solidão é isto. Um certo  mal-estar que vai invadindo o nosso ser. Então, nos sentiremos pressionados e começaremos a experimentar um  sentimento de sufoco que vai nos consumindo.
     

 Quando o poeta fala da solidão, ele capta este sentimento no mais profundo do nosso ser, assim Chico Buarque define:

             “Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado… Isso é circunstância.                                 

         Solidão é muito mais do que tudo isso.

         Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.”
            Nós que sorrimos ou fazemos um esforço para não demostrar o que estamos sentindo, dizendo que sim com a cabeça como se ouvíssemos os outros, quando na verdade mergulhámos no buraco fundo que temos no estômago, nesta ausência de coração e Alma.
             Sim, foi essa danada que partiu há muito e não deu mais notícias.
Padre Carlos

quarta-feira, 12 de junho de 2019

ARTIGO | A inspiração do articulista (Padre Carlos)




A inspiração do articulista


            Muitas pessoas me perguntam como consigo ter tema para escrever regularmente. Ainda que tenha bastante imaginação e um dom meio criativo para resgatar fatos históricos, a verdade é que muitas vezes bate a angústia da folha em branco.
            E numa área como a nossa essa angústia pode ser assustadora, quando todos os leitores pedem um conteúdo capaz de se tornar viral, nas redes sociais, um tema revolucionário e que consiga fazer jus à expressão: parabéns!  Assim sendo como trabalhar esta inspiração?
            O tema pode parecer vago e sem grandes motivações, mas tudo o que fazemos enquanto trabalhamos um artigo deve partir de uma inspiração e gerar outra ainda maior. Numa era em que a diferenciação, a customização, o entretenimento e a criatividade assumem papéis fundamentais na relação entre os meios de comunicação e os leitores, a inspiração é a linha condutora do nosso processo de trabalho.
            Se para alguns uma boa ideia nasce de um impulso, de um momento e quase de um toque de genialidade que não conseguimos bem compreender, para outros é preciso pesquisar, investigar, ler, procurar para chegar ao mesmo resultado.
            É claro que ambos os processos são válidos e muitas vezes estão interligados. 
            Ninguém esquece o exemplo de Airton Sena - gostaria de incluir neste meu texto Este gênio do automobilismo se tornou conhecido por treinar a exaustão, nunca desistir e procurar sempre a superação para elevar o seu talento ao seu ponto máximo. 
            Quando olhamos para a filosofia política, penso que bom seria que existissem Airton Senna por trás de todas elas para que sentíssemos verdadeira inspiração. 
            É certo que nos focamos aqui muitas vezes nos grandes temas e em abordagem conjuntural, nosso papel é buscar na hermenêutica uma forma de contextualizar os temas filosóficos para o grande publico.
             Mas onde fica a filosofia política do dia a dia? Aquela mais tática, mas tão fundamental para o leitor que busca algo mais? Aí sinto muitas vezes um vazio de ideias. 
            Por mais meios, tecnologia e soluções que hoje tenhamos; por mais que todos saibam que o leitor procura histórias, propósitos e causas, nem sempre é fácil transpor isso para missões tão básicas e fundamentais como escrever um artigo.
            Aqui entra a inspiração. É importante trazer sangue novo para os nossos textos, questionar e revolucionar o status quo para que consigamos fazer diferente.
            Não porque andamos fazendo bons artigos, não porque os resultados são maus, mas porque se procura sempre fazer mais e melhor. 
            Porque se procura garantir que a inspiração está em todo o lado. Num mundo em constante mutação, repletos de conflitos, causas contraditórias e opiniões, a inspiração pode-nos salvar.  
            Um grande caminho desde a inspiração até chegar aos meus textos até à inspiração chegar ao papel, mas o nosso objetivo é comprovar que a inspiração é transversal e tão importante na vida e no trabalho. 
  
          Fechemos este texto com o meu querido Senna e na inspiração, trabalho e até sorte envolvida numa produção que sempre vai exigir a superação para elevarmos o nosso talento ao seu ponto máximo. 
Padre Carlos




ARTIGO | Que falta de respeito seu juiz! (Padre Carlos)




Que falta de respeito seu juiz!


            Faço política a quarenta e cinco anos.  Comecei a fazer em uma época onde o respeito e a confiança era fundamental para sobreviver. Por isto, hoje tenho uma herança moral para transmiti as minhas filhas. Ao longo da vida fiz amigos. Amigos com diferentes ideias e opiniões. Tenho muito orgulho de respeitar pessoas de todos os credos e filiações partidárias. Não é isso que define um ser humano para mim, mas sim a sua prática no dia-a-dia. A forma como lida com as pessoas principalmente aqueles sem recursos, quer financeiramente quer em termos de posição social ou profissional.
   
         A educação é para mim sinónimo de respeito pelo próximo e por todas as diferenças. Se uma pessoa é um bom ser humano é incapaz de querer mal aos outros, de fazer ou que não gostariam que lhe fizessem.
            Pode ser que a minha forma de ver a vida seja apenas uma ilusão, mas tenho mantido firme nestes meus princípios.
            Por isso mesmo doí profundamente o estado a que chegámos enquanto nação. Ouvir discursos que nada mais é que incitamentos a violência, li entrevistas de quem deveria por razões profissionais e pessoais ter conhecimento da realidade do país, mas a sede do poder e a certeza da impunidade, lhes proporcionaram a fazer política com a toga e com seus atos levaram inocentes a cadeias e destruíram com suas vaidade  empresas brasileiras e a reputação do Brasil no exterior. O nosso imaginário coletivo precisa de uma representação humana. A toga faz a transição entre o homem e o ideal, mas, infelizmente esta transição está cheias de imperfeições. Usar a toga é tomar parte da comunidade daqueles que devem dizer o que é justo, não cometer injustiça,  tudo isto me parece uma loucura total.
   
         Não é por mim que me preocupo. Mas pelas minhas filhas. Que país vai sobreviver a isto?
            Para muitos comentaristas e analistas que falam e escrevem sobre o Brasil, mas que não têm a mínima ideia do que éramos enquanto sociedade antes da Constituição Cidadã, convém alertar para o fato de a Democracia ser frágil e não substituível por algo melhor. Pelo menos até hoje ninguém descobriu melhor forma de viver em sociedade.

Padre Carlos

terça-feira, 11 de junho de 2019

ARTIGO | Lamento de um velho militante (Padre Carlos)





Lamento de um velho militante


            Olho muitas vezes em todas as direções e não vejo uma única saída, nem sei em quem acreditar : Quantas vozes meu Deus e quantos discursos, análise e projeções se não acreditamos mais no conjunto.
            Como é triste a percepção que tudo ficou submerso em palavras. Sou eu que não enxergava ou foi sempre assim mesmo, meus companheiros?
      
      O que me dizes, meus senhores?
            Não falas nada? Continua no teu silêncio?  
            Ah! Como este silêncio me machuca!
            Como sou tolo, já estava escrito: “ Converterão as espadas em arados e as lanças em foices...”
            - Quando Senhor? Se aqueles que deveriam marchar ao meu lado, puxaram as espadas para os seus pares?
            Mesmo assim, as vozes retornam aos meus ouvidos: “ Estai preparados porque não sabeis o dia nem a hora”.
            Faça-me compreender que chegou a hora de levantarmos do nosso sono, da nossa inercia.
    
        Afinal tantos percurso iluminados, tantos convidados a mesa que não plantaram o trigo e eu aqui catando as migalhas do pão.
            Olhando, olhando as barreiras que levantaram para mim.

Padre Carlos


ARTIGO | Um coração para amar e perdoar (Padre Carlos)





Um coração para amar e perdoar


            Existe nesta vida pessoas que tem uma personalidade inabalável, pelo menos é essa impressão que fica. Elas são capazes de suportar todos os sofrimentos, sem que isso comprometa sua capacidade de amar além é claro de poder superar e ser feliz; também existem aquelas que sejam indiferentes aos sofrimentos alheio, não sensibiliza com a dor que os outros estão sentindo. Não podemos negar que existem também indivíduo , que sinta solidariedade pelo sofrimento do outro e sofra junto com que sofre e sinta na própria carne o sofrimento alheio, da mesma forma que sente tudo aquilo que acontece na sua vida. Trata-se de sensibilidades diferentes, de formas de viver e sentir distintas.
   
         Mas, a solidariedade não implica forçosamente sentir o mesmo que os outros, até porque o nosso sofrimento, a nossa tristeza em nada vai ajuda aquele que sofre. É aí que a nossa atenção, a nossa solidariedade se torna «escuta, consonância, responsabilidade, escolha solidária, gestos, permanência». E, nesta relação, importa saber que «Uma coisa é sofrer com o outro, outra é sofrer em vez do outro ou projetando-se nele”. Compadecer-se significa sofrer o sofrimento do outro enquanto outro. Não se trata de tomar o lugar do outro. Sabemos que nosso objetivo não é curar, até porque não temos capacidade para tanto, o mais importante do que a cura é estarmos presentes». A presença, salvadora e vivificadora, de um ombro amigo, de um abraço solidário. Como diz Chico:
 « - Posso sentar um pouco? - Faça o favor - A vida é um dilema- Nem sempre vale a pena... - Pô...- O que é que há?- Rosa acabou comigo - Meu Deus, por quê? - Nem Deus sabe o motivo - Deus é bom».
            Ora, a presença real é fundamental para não nos sentirmos tão sós na nossa dor, estar só é estar no íntimo do mundo. É essa presença que, atualmente, substituímos pela presença virtual. Desacompanhados, na nossa solidão interior, a «presença» à distância de outro, que se revela solidário com os nossos sentimentos, acaba por ser a realidade alcançável que nos garante a segurança de podermos sofrer em companhia, de nos sentirmos escutados, e que nos dá a ilusão de nos sentirmos amados.
            É porque os nossos corações são, na realidade, de carne e sangram que necessitamos dos outros, que nos sentimos valorizados, naquilo que revelamos e, muitas vezes, naquilo que procuramos ocultar, porque os verdadeiros amigos sabem quando estamos representando uma máscara social ou sendo sincero e, ao confrontar com as nossas limitações ou ilusões, termina nos obrigando a voltar a nós mesmos, à nossa essência.
     
       Aqueles que têm uma personalidade inabalavel, procurando esconder as suas fragilidades, constroem uma «persona» rígida, quase insensível, que não se deixa vulnerabilizar pelo que de bom ou de mal possa lhe acontecer. De tanto acreditarem que é assim, convencem os outros da sua extrema solidez, da sua inabalável capacidade para tudo enfrentar e tudo aguentar, sem qualquer ponto  de fraqueza ou debilidade.
            Assim, como qualquer tipo de exagero, o extremo acaba por não ser uma boa estratégia, porque o que importa mesmo é o equilíbrio, para que possamos ser o que realmente somos e deixemos os outros se revelarem.

Padre Carlos


ARTIGO | Um momento, uma lembrança (Padre Carlos)





Um momento, uma lembrança




            Durante muito tempo, vivi com a perspectiva de que era infinito (Imortal). Achava que podia fazer tudo e que tinha todo o tempo do mundo. Foi o convívio com os monges de Taizé, durante o ano que passei nesta comunidade ecumênica, que me despertou para descobrir um Deus mais acessível, para todos os povos. Não devemos restringi-lo a uma instituição qualquer que seja, pois Ele transcende religiões e culturas. Antes de entrar no seminário, tive esta oportunidade de conviver neste mosteiro e entender verdadeiramente sobre o movimento ecumênico. Esta é a mística dos Irmãos de Taizé e do   Irmão Roger, o monje suíço protestante que fundou a comunidade de Taizé na França –um dos mais importantes centros ecumênico, ela parte da  ideia que católicos, evangélicos, protestantes, ortodoxos, anglicanos e muitos outros grupos cristãos se sentem à mesa para debater sobre temas que a eles são comuns, por exemplo: o testemunho cristão em terras distantes; os trabalhos sociais que se podem fazer juntos; a produção acadêmica; liberdade religiosa; entre outros.
            Assim, passei a entender, que todos os momentos da minha vida são importantes. Como dizia o Irmão Michel, “Nunca se esqueça Carlos, cada segundo que passa não volta mais”. É a pura verdade!
     
       Hoje, quase sexagenário, olho para traz com uma saudade, porem, a certeza de que vivi cada momento de forma intensa mais ao mesmo tempo responsável.
            O homem ao se tornar pai aos cinquenta a
nos, tem outra visão de educação e convívio familiar. Esta certeza que é finitude, se transforma em  uma presença mais constante ao lado da família e a estabilidade emocional, lhe proporciona um coração mais  misericordioso diante dos filhos e amigos. Ele não precisa abandonar a família para conquistar o mundo, como faz os homens mais novos. Nesta altura da vida ele já descobriu que o verdadeiro tesouro são os familiares e os amigos.
          
  Aprendi muito com aqueles monges que vinham de diversos nacionalidades e seguimentos Cristãos. Por isto hoje, faço valer cada instante e busco nunca desperdiçar, qualquer oportunidade para ser feliz. 


Pe. Carlos

segunda-feira, 10 de junho de 2019

ARTIGO | Pré-adolescência: uma fase difícil para todos (Padre Carlos)





Pré-adolescência: uma fase difícil para todos



            O milagre da vida é explicado de formas diferentes pela ciência, pela fé e por céticos, mas há uma coisa em que todos concordam: somos unidos por um laço poderoso e este milagre é a família. Assim, gostaria de partilhar com vocês, a diferença de ser pai aos 30 ou depois dos 50. No primeiro caso, as ambições profissionais e alguma instabilidade financeira podem dificultar a proximidade entre pai e filhos.
        
    Na idade madura, a maior estabilidade psicológica permite habitualmente que o papel de pai seja exercido com maior dedicação. E também porque o homem maduro se liberta mais facilmente dos rígidos padrões da masculinidade, dando expressão diferente às suas emoções. Ser um pai maduro pode, no entanto, ser difícil quando o filho atinge a adolescência, este é o meu caso.
            Não é novidade que de uma geração para outra tudo acontece mais cedo. Mas não é por isso que deixamos de ser apanhados de surpresa quando nos deparamos com a forma repentina como as nossas crianças crescem.
Se antigamente aos dez e onze anos a maioria das crianças eram ingénuas e inocentes, ainda limitadas e protegidas pelo mundo dos pais, agora muitas já estão despertando para o exterior, para o grupo de amigos, novos ídolos e toda uma realidade que até então não davam importância. À medida que começam a identificar com estes novos modelos, os pais passam a ficar de fora e começam a surgir conflitos e atritos.
            É uma fase dura para quem cuidou carinhosa e incansavelmente, para quem criou laços especiais e profundos que achava inabaláveis. E chega sempre cedo demais.
            Por seu lado as crianças vivem o presente de forma intensa, com entusiasmo e curiosidade, saboreando cada descoberta. Começam a libertar-se de um mundo feliz, mas mais restrito, para perceberem que têm um mar de possibilidades, de coisas que podem ser, fazer ou escolher. Não olham tanto para o passado, do mais longínquo – que os pais guardam e preservam para a vida – nem se lembram, e vivem incessantemente o presente com os olhos postos no futuro. Já os pais tendem a ter dificuldade em se libertar do que ficou para trás. Quem está vendo melhor as coisas? Quem tem a atitude mais saudável?
            Queremos que os nossos filhos sejam livres e independentes, mas temos dificuldade em deixá-los crescer.
Na verdade a pré-adolescência é uma fase difícil para todos, porque acarreta também para os mais novos uma série de desafios, de inseguranças e medos. É uma fase de mudança, que põe todos à prova. E o nosso papel só pode ser o de apoiar e guiar o caminho do crescimento e independência que aqui começa, embora de forma ainda imatura por está iniciando. Não ridicularizar as escolhas e tendências, por mais absurdas que nos pareçam. Também nós fizemos as nossas e sabemos como algumas nos parecem agora descabidas.       
  Provavelmente as deles também não vão durar para sempre, mas agora são importantes, para se afirmarem e crescerem. Devemos guiar e alertar, não deixar de impor regras e limites, mostrar que crescer não é incompatível com boa educação e respeito. Devemos arranjar estratégias para manter o diálogo, nunca os deixando sozinhos. Por mais difícil que seja aceitar a mudança, é essencial respeitá-la, para que não se abra uma vala ou um muro intransponível entre gerações.
            Preocupante é não crescer, não se tornar adolescente. Não arriscar ser diferente dos pais e perder uma vida nova, só com o intuito de agradar. Por melhor que possa ter sido estar no ninho, chega uma altura em que se tem de encontrar coragem para sair e fazer a descoberta e isso só é possível aprendendo a voar com as próprias asas, como nós também fizemos – ou, se não fizemos, devíamos ter feito.
           

            Padre Carlos.


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...