terça-feira, 11 de junho de 2019

ARTIGO | Um coração para amar e perdoar (Padre Carlos)





Um coração para amar e perdoar


            Existe nesta vida pessoas que tem uma personalidade inabalável, pelo menos é essa impressão que fica. Elas são capazes de suportar todos os sofrimentos, sem que isso comprometa sua capacidade de amar além é claro de poder superar e ser feliz; também existem aquelas que sejam indiferentes aos sofrimentos alheio, não sensibiliza com a dor que os outros estão sentindo. Não podemos negar que existem também indivíduo , que sinta solidariedade pelo sofrimento do outro e sofra junto com que sofre e sinta na própria carne o sofrimento alheio, da mesma forma que sente tudo aquilo que acontece na sua vida. Trata-se de sensibilidades diferentes, de formas de viver e sentir distintas.
   
         Mas, a solidariedade não implica forçosamente sentir o mesmo que os outros, até porque o nosso sofrimento, a nossa tristeza em nada vai ajuda aquele que sofre. É aí que a nossa atenção, a nossa solidariedade se torna «escuta, consonância, responsabilidade, escolha solidária, gestos, permanência». E, nesta relação, importa saber que «Uma coisa é sofrer com o outro, outra é sofrer em vez do outro ou projetando-se nele”. Compadecer-se significa sofrer o sofrimento do outro enquanto outro. Não se trata de tomar o lugar do outro. Sabemos que nosso objetivo não é curar, até porque não temos capacidade para tanto, o mais importante do que a cura é estarmos presentes». A presença, salvadora e vivificadora, de um ombro amigo, de um abraço solidário. Como diz Chico:
 « - Posso sentar um pouco? - Faça o favor - A vida é um dilema- Nem sempre vale a pena... - Pô...- O que é que há?- Rosa acabou comigo - Meu Deus, por quê? - Nem Deus sabe o motivo - Deus é bom».
            Ora, a presença real é fundamental para não nos sentirmos tão sós na nossa dor, estar só é estar no íntimo do mundo. É essa presença que, atualmente, substituímos pela presença virtual. Desacompanhados, na nossa solidão interior, a «presença» à distância de outro, que se revela solidário com os nossos sentimentos, acaba por ser a realidade alcançável que nos garante a segurança de podermos sofrer em companhia, de nos sentirmos escutados, e que nos dá a ilusão de nos sentirmos amados.
            É porque os nossos corações são, na realidade, de carne e sangram que necessitamos dos outros, que nos sentimos valorizados, naquilo que revelamos e, muitas vezes, naquilo que procuramos ocultar, porque os verdadeiros amigos sabem quando estamos representando uma máscara social ou sendo sincero e, ao confrontar com as nossas limitações ou ilusões, termina nos obrigando a voltar a nós mesmos, à nossa essência.
     
       Aqueles que têm uma personalidade inabalavel, procurando esconder as suas fragilidades, constroem uma «persona» rígida, quase insensível, que não se deixa vulnerabilizar pelo que de bom ou de mal possa lhe acontecer. De tanto acreditarem que é assim, convencem os outros da sua extrema solidez, da sua inabalável capacidade para tudo enfrentar e tudo aguentar, sem qualquer ponto  de fraqueza ou debilidade.
            Assim, como qualquer tipo de exagero, o extremo acaba por não ser uma boa estratégia, porque o que importa mesmo é o equilíbrio, para que possamos ser o que realmente somos e deixemos os outros se revelarem.

Padre Carlos


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