terça-feira, 3 de dezembro de 2019

ARTIGO - A amizade é a verdadeiras alegrias da vida! (Padre Carlos)




A amizade é a verdadeiras alegrias da vida!



Se tem uma graça que recebi de Deus, foi com certeza a capacidade de construir muitas amizades nesta vida. Assim, outro dia estava pensando nestes tesouros que me orgulho muito de ter conquistado e busquei catalogar estes amigos para poder preserva-lo melhor. Tenho os amigos da infância, os do grupo de jovens e da militância, os amigos do seminário de filosofia e teologia. Quando me ordenei sacerdote, achava que tinha conquistado muitos amigos, mas minha surpresa foi grande ao deixar de exercer o ministério sacerdotal, descobrir que aquelas pessoas não eram meus amigos, eram amigos sim, do Padre Carlos e terminei me decepcionando muito com certos tipos de “amizade”.

Quem busca um amigo sem defeito, não entende a natureza humana e termina cobrando e exigindo mais do que uma pessoa possa lhe proporcionar e desta forma, termina ficando sem amizades e colocando a culpa no mundo e na vida
Muitos filósofos abordaram este tema, mas a abordagem que eu gosto mais é feita por Aristóteles, suas observações a respeito deste tema, sempre me chamaram atenção. Ele via a amizade como uma das verdadeiras alegrias da vida e achava que uma vida bem vivida deveria incluir amizades realmente significativas e duradouras. Em suas palavras: “Na pobreza, assim como em outros infortúnios, as pessoas supõem que os amigos são seu único refúgio. E a amizade é uma ajuda para os jovens, para salvá-los do erro, assim como é para os idosos, com vistas ao cuidado de que necessitam e à capacidade diminuída de ação decorrente de sua fraqueza; é uma ajuda também para aqueles em seu auge na realização de ações nobres, pois ‘dois juntos’ são mais capazes de pensar e agir.”
Costumo dizer, que o poeta é aquele que consegue traduzir o que está escondido no mais profundo da nossa alma e Vinícius de Moraes em um dos seus poemas traduz de forma clara estes sentimentos: “Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!”
Eu tenho amigos que se encontram distante e que faz muitos anos que não conversamos, mas tenho certeza que faço parte das suas lembranças e por mais distantes que eles estejam de mim, sinto sua presença e suas orações me protegendo. Estes amigos não tem data de validade e serão sempre lembrados na minha história de vida, por algo que fizeram, falaram, mostraram, pelo que nos fizeram sentir. É isso… As pessoas são lembradas pelos sentimentos que despertaram em nós… E quanto maior o sentimento, maior se torna a pessoa.
Os amigos de verdade, nos ajudam a ser mais humanos, eles revelam com sua sinceridade quem somos de verdade, são como espelhos para nossa alma, através deles podemos nos enxergar.
O verdadeiro amigo compartilha a nossa dor, e a dor que dividimos, perde muito da sua intensidade e só assim, podemos suportar este fardo.  Aprendemos ao longo da nossa vida ser amigo, ninguém nasce sabendo, mas tem gente que passa por esta vida sem conhecer esta dádiva.  Onde reina o amor, fraterno amor, ali se encontra a verdadeira amizade.

Padre Carlos

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segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

ARTIGO - Francisco e o diálogo inter-religioso (Padre Carlos)




Francisco e o diálogo inter-religioso


Quando entrou na Companhia de Jesus, seu sonho era ser missionário no Japão, este sonho de juventude, nunca escondeu e só não realizou porque os planos de Deus para Bergoglio eram outros. A vida não o permitiu, mas Jorge Mario Bergoglio acabou por realizar em parte, esse sonho, ao visitar a Tailândia e o Japão, nestes últimos dias. Ao pisar no solo japonês e visitar as cidades de Hiroshima e Nagasaki, as duas bombardeadas de forma criminosa, Francisco passa a entender por que a missão é o centro da sua vocação e diante de tal constatação, envia uma mensagem ao mundo mostrando a importância fundamental do diálogo inter-religioso. Foi diante destas constatações, que o Papa condenou como crime imoral não só a guerra nuclear, mas também a simples posse de armamento atómico.
Desta forma, após retornar da sua visita a Ásia, Francisco, resumiu a sua estada na Tailândia. "Na Tailândia, prestei homenagem à rica tradição espiritual e cultural do povo thai, o povo do belo sorriso. As pessoas estão sempre sorrindo. Busquei incentivar as autoridades na busca de um desenvolvimento económico que possa beneficiar a todos e que busquem mecanismo para estancar as feridas da exploração, especialmente de mulheres, de meninas e meninos, expostos à prostituição e ao tráfico. A religião budista é parte integrante da história e da vida deste povo, por isso fui visitar o Patriarca Supremo dos budistas, prosseguindo o caminho da estima recíproca, começada pelos meus predecessores, para que cresçam no mundo a compaixão e a fraternidade. Neste sentido, foi muito significativo o encontro ecuménico e inter-religioso, celebrado na maior universidade do país."
Há muitos anos que o famoso teólogo Hans Küng não se cansa de proclamar que "não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões" e não haverá paz entre as religiões sem conhecimento e reconhecimento mútuo e, consequentemente, diálogo.
Como não podia deixar de ser, Francisco fez do diálogo inter-religioso uma das marcas essenciais do seu pontificado, e isso ficou bem claro também nesta visita à Tailândia. Enquanto no sul do país um grave e sangrento conflito confronta separatistas muçulmanos e forças governamentais, insistiu na necessidade do diálogo inter-religioso como "serviço a favor da harmonia social na construção de sociedades justas, compassivas e inclusivas".
Neste contexto de diálogo inter-religioso, Francisco insistiu na sua mensagem constante: "O missionário não é um mercenário da fé nem um gerador de prosélitos. A evangelização não consiste em somar o número de membros nem aparecer como poderosos, mas em abrir portas para viver e partilhar o abraço, misericordioso e que cura, de Deus Pai, que nos faz família."


Padre Carlos
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domingo, 1 de dezembro de 2019

ARTIGO - Isaac Bonfim e seu legado político ( Padre Carlos )




Isaac Bonfim e seu legado político



              Nestes últimos dias, tenho  lido alguns filósofos que dizem que as relações humanas - e não só elas, mas tudo - está se tornando descartável. Tudo é líquido: Assim, constatamos como um termo filosófico se torna parte do vocabulário do nosso dia-a-dia. Claro que é uma verdade incontestável. Mas, por que não ir além e falar que isso é apenas e tão somente uma consequência da superficialidade humana?
Aos meus companheiros de partido, vou logo avisando: não adianta fazer cara feia. Nós, vanguarda, intelectual ou operário ditos inteligentes, estamos vivendo na superfície de um pires. Como não nos aprofundamos, descartamos, afinal, se não há profundidade no entendimento político, no comprometimento, com meu mandato ou corrente se não há intensidade política é natural que se descarte rapidamente.
Somos a geração dos relacionamentos e companheirismo descartáveis. Dos camaradas descartáveis. Das utopias descartáveis. Das ideias descartáveis. Dos amigos descartáveis.
Até temos alguns companheiros da vida inteira, sim. Para os quais costumamos manter nos nossos projetos de vida e político, para estes temos muito tempo na nossa agenda. Somos a geração do raso, da água pelas canelas. Já faz muito tempo que mergulhamos fundo. Não sabemos mais o que é profundidade. Conversas curtas, encontro rápidos. O pior disso tudo, é que a gente ainda acredita que é rocha, mas a gente é gelo. E derrete, evapora, desaparece. Uma geração que deveria dá exemplo, mas trata tudo como descartável e que termina por ser, ela mesma, tão descartável quanto uma garrafa pet. Com a diferença de que a garrafa será reciclada e nós… Nós deixaremos algumas selfies ou documentos que não podem ser apagados como legado.
O filósofo fala que somos a soma de nossas ações, não podemos fugir disto. E o PT de Vitória da Conquista é a soma dos esforços dos companheiros que deram os melhores anos da sua juventude e muitas vezes não são reconhecidos. Ignorando suas existências, como se não tivessem passado nesta terra.
Hoje estava lembrando o papel que Wilton Cunha, os Irmãos Carvalhos, Almir Pereira tiveram na organzação regional do PT no Sudoeste baiano e o que não dizer da importância de termos uma esquerda de verdade com Carlos Luna, Detão, Dudu e tantos outros quadros. Será que lembramos destes companheiros? Alias, a palavra companheiro remete ao latim cum – pane; o seu significado é comunhão, isto é "o que come do mesmo pão, na mesma mesa". Quando foi que  chamamos estes companheiros para nossa mesa?  Na Roma antiga, os romanos sentavam juntos para comer, beber e compartilhar as suas alegrias, tristezas e também preocupações. Esse ato de compartilhar era um momento importante na vida dos cidadãos romanos.
Mas, porque estou falando estas coisas? Na noite desta sexta-feira, 30,  o Partido dos Trabalhadores (PT) deu  posse ao novo presidente e também a executiva municipal do Partido para os próximos 4 anos. 
Não podemos deixar de lembrar a nova Direção, que durante estes seis anos, presenciamos um presidente, jovens e competente. Acredito que a escolha do atual presidente se deu pelo sucesso que foi o mandato de Rudival. Desta fora, passamos a apostar em lideranças mais jovens, com capacidade para fazer política mais dinâmica, móvel e conectada com mídias sociais. É de fato preciso contar com lideranças preparadas para um mundo mais rápido, muito mais conectado, onde as decisões são mais colegializada e com um espírito democrático.
.           Depois de todos estes anos no partido como presidente, Rudival provou que o seu sucesso se deve a capacidade de investir tempo nos detalhes e nas pessoas. Foi ao campo ouvir a ponta dos lados! Com a mão e o coração no pulso da política, meu presidente escutou os companheiros e agrupamentos e foi lá na base que ele ouviu o que estava acontecendo,  quando alguém chegava no partido e dizia: “Estamos tendo um problema....” e ele se fazia ouvinte.
        
  Mas, por que fiz esta longa introdução? Foi para lembrar ao novo presidente, que não somos uma geração do descartável e que temos que mergulhar na diáspora e resgatar os companheiros que ficaram no caminho. Este pode ser seu grande legado. Só os estadistas tem grandes sonhos.

Padre Carlos.



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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

ARTIGO - O governo da Bahia é de esquerda? (Padre Carlos)


                    O governo da Bahia é de esquerda?




Como poderíamos analisar os treze anos de governo progressista do PT na Bahia, será que poderíamos de fato definir estas gestões como governos genuinamente de esquerda?  Podemos afirmar, que a falta de referência do que seria uma política de esquerda para os governos petistas e grande parte da sua militância, levaram todo o conjunto das forças progressistas que sempre gravitaram em torno do partido, a refundar novos paradigma e buscar novos caminhos.
Não podemos negar, que os governos Lula e Dilma, tiveram influência nos programas e ações no governo petista e sua falta deixa um vazio no que diz respeito às políticas sociais na Bahia. A crise da esquerda, não é a mesma coisa que a oposição ao neoliberalismo, pode ser compreendida justamente pela falta de um “embasamento ideológico e clareza política de que projeto de esquerda seria aplicado.
Não estou fazendo uma crítica, aos governadores petista, mas apenas afirmando que faltou ao governo de Wagner e Rui, um embasamento ideológico e clareza política de que projeto queriam. Assim, com a falta de políticas clara de esquerda, chegamos à Era do Administrador. Desta forma, gostaria de lembrar que administração é uma ciência neutra, como a engenharia e a medicina são frias e não leva em conta se o governo é de esquerda ou de direita, seu objetivo é manter as contas em dia. Por isto, a missão do administrador moderno é ser um político e um político moderno, ser um administrador, ele tem de saber dosar e manter unido este grupo de interesses conflitantes. Mas, e o partido e o seu programa? Sabemos que o PT não é um partido revolucionário, mas temos certeza que o partido hegemônico da esquerda brasileira tem que ser de esquerda, então onde estão as políticas de esquerda na Bahia? O Programa e Estatuto do partido, defendem uma política de esquerda e por omissão ou inabilidade política, seus dirigentes deixaram tudo isto acontecer.
Qual a política para educação de esquerda? Defendemos grandes transformações radicais para a educação aqui no nosso estado? Valorizamos o conhecimento popular, integrando-o à pedagogia? Temos o dever de acreditar, que a educação é a maior das armas contra a opressão e que a autonomia dos educandos deve ser a principal conquista do fazer educativo.  
Com relação a saúde, a política pública deve ser construída a partir da participação direta ou indireta da sociedade civil, visando assegurar um direto a determinado serviço, ação ou programa. No Brasil, o direto à saúde é viabilizado por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) que deverá ser universal, integral e gratuito. Esta política tem como base o Estado de bem-estar social. O que seria política de esquerda na área da saúde?

Sabemos que a esquerda entrou no século XXI como todas as perdas acumuladas nas duas ultimam décadas. Os anos noventa representaram uma derrota para a esquerda mundial. Políticas sociais dos estados de bem-estar social retrocederam, a integração das economias socialistas ao mundo capitalista e a regressão dos movimentos de emancipação do terceiro mundo parecem sinalizar que o tempo da emancipação política radical chegou ao fim.      Ser de esquerda hoje é um desafio. Acredito que requer muita “dureza”, mas, também, muito jogo de cintura. O diabo é descobrir como ter princípios sem ser ingênuo, como ser pragmático sem ser oportunista. Não tenho a receita, para os programas de esquerda, não tenho os algoritmos para solucionar este problema.
Mais uma coisa eu tenho certeza, eu ainda acredito que podemos fazer um governo de esquerda na Bahia.


Padre Carlos.

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terça-feira, 26 de novembro de 2019

ARTIGO - A narrativa dos pobres (Padre Carlos)



A narrativa dos pobres



Escrever pra mim é antes de tudo, um testemunho e um gesto solidário, para que possa dar notoriedade a vidas a personagens que são excluídos pelo sistema. Estas pessoas e suas histórias, são como o ouro misturado ao barro, ainda que não seja notado, nem apanhado ou devidamente reconhecido, nunca perde o seu valor. Dá uma existência àqueles que foram esquecidos pelo tempo, trazê-los de volta à vida com seus desejos, suas fraquezas... e sua coragem, sempre será nosso objetivo.
A filosofia e a teologia, me deram acesso a toda complexidade da alma humana, eu busco descobrir a bondade e o mal que existe no homem. O covarde e o herói. É com esse paradoxo que busco nutri minha escrita, os meus artigos e as minhas observações. Não se trata só de conjuntura política, a abordagem quando leva em conta o ser humano, tem que  transcender o  mundo da militância. Mesmo que não seja minha intenção, não posso evitar que meus artigos não sejam escritos dentro de uma visão mística, apesar de não está exercendo o ministério sacerdotal, esta formação que recebi, sempre me lançará para um certo olhar sobre o mundo buscando uma dimensão humana e cristã da realidade.
O papel do articulista é dar voz e visibilidade a todas aquelas pessoas que foram esquecidas e abandonadas pelo poder público e pela iniciativa privada do nosso país ao longo dos anos, os excluídos da sociedade de alguma maneira, é o nosso único e exclusivo objetivo. Sejam eles (as) vítimas da violência urbana e policial ou das desigualdades desse sistema político e econômico que concentra renda e riqueza,  promovendo assim, o desemprego e a miséria.
 Sei que um dia, todos nós seremos esquecidos, esta é a lei natural, mas o que dói mais neste mundo, não é ser esquecido, mas ser ignorada, é como se estivessem apagando a existência destas pessoas em vida.  De fato, ser humano significa ser racional, mas, no meu entender, a humanidade está cada vez mais irracional. A violência, a intolerância, a maldade, a mesquinhes cresce a cada dia. A inversão de valores é gritante a cultura de morte ganha cada vez mais adeptos e o mundo fica cada vez mais excludente para os pobres.
Nos últimos dias venho pensando como é gratificante escrever, como fico feliz e grato ao bom Deus, por poder reescrever aquilo que muitos tentaram apagar! Nossos netos vão perguntar um dia, onde estão as narrativas das lutas   das mulheres, negros e indígenas que não aparecem nos nossos livros de história?  


Padre Carlos

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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

ARTIGO - A Igreja e o projeto de lei excludente de ilicitude (Padre Carlos)




A Igreja e o projeto de lei excludente de ilicitude




Enquanto o presidente Jair Bolsonaro defende o projeto de lei excludente de ilicitude para forças de repressão durante operações da GLO (Garantia da Lei e da Ordem), o Papa Francisco e a Igreja corrigem a sua posição em relação à pena de morte. Até agora, como se podia ler no Catecismo da Igreja Católica, em "casos de extrema gravidade" admitia-se que se pudesse aplicar essa pena. Por que estamos fazendo esta analogia?  O projeto que o presidente está preparando para encaminhar ao Congresso, dar a liberdade para todas as polícias e bombeiros reprimirem, torturarem e assassinarem todos aqueles que considerarem ameaça contra a "Lei e a Ordem".                


Essa tentativa de Bolsonaro de criação desse projeto vem com a intenção de torná-lo a face repressiva do Estado contra qualquer tipo de manifestação que vá contrária aos interesses do seu projeto de governo.

O Papa Francisco obrigou a Igreja a corrigir a sua posição em relação à pena de morte. Até agora, como se podia ler no Catecismo da Igreja Católica, em "casos de extrema gravidade" admitia-se que se pudesse aplicar essa pena. O Papa Francisco mandou corrigir o artigo 2667 para que fique claro que o discurso oficial da Igreja não aprova, em nenhuma circunstância, que se tire uma vida. Jamais a Igreja poderia aprovar esta política de legalizar o genocídio contra o povo pobre e em especial o povo negro; e a mão repressiva que irá calar e destruir qualquer tipo de manifestação de luta contra a precarização da vida da juventude e da classe trabalhadora.

O Papa lembra os católicos, que "a Igreja ensina, à luz do Evangelho, que "a pena de morte ou a autorização para matar é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa" e empenha-se com determinação a favor da sua abolição em todo o Mundo". Esta formulação integra uma citação de um discurso do Papa Francisco em 2017.

         Este é, na verdade, um passo que leva a Igreja a ser mais fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo no Evangelho e a estar mais de acordo com a sua práxis, a qual preferia vincar a imagem de um Deus misericordioso, em vez de um Deus justiceiro e castigador.  Se os Bispos não se levantarem contra este crime e justificarem a lei excludente de ilicitude, estarão cometendo o mesmo pecado quando a Igreja foi infiel ao Evangelho," quando defendeu a pena de morte. Só agora, ao considerá-la "inadmissível", a Igreja fez a passagem do Antigo para o Novo Testamento.
        Ao rever a sua posição, ainda que muitos anos depois do desejável, por fim a Igreja Católica atreve-se, neste campo, a ser cristã. Por fim, tem a ousadia de acreditar no Evangelho, com o que implica de fé na vida e de superação de um tipo de lei punitiva marcada pela lei do talião do olho por olho e dente por dente.
         De fato, quem aceita e prega a cultura da morte não acredita no Evangelho, nem no Deus misericordioso.  A questão é que esta não é uma forma cristã de encarar a vida e a condição humana. Pelo contrário, esvazia completamente e retira qualquer sentido à entrega de Jesus na cruz, que veio para salvar o que andava perdido e demonstrar que há "mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão" (Lc. 15, 7).
      
   Para além disso, a Igreja cometia uma grave incongruência ao vincar tanto a inviolabilidade da vida humana em situações como o aborto e a eutanásia e, ao mesmo tempo, a abrir mão desse seu princípio ao admitir a pena de morte. Ainda bem que, graças à determinação do Papa Francisco, a Igreja se reencontrou com a beleza da misericórdia divina que respira em todas as páginas do Evangelho. E pode, assim, ser mais determinada na América Latina na defesa da vida.

Padre Carlos

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ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...