quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

ARTIGO - Democracia em Vertigem ( Padre Carlos )




Democracia em Vertigem



Apesar de ter sido indicado para o Óscar na categoria de Melhor Documentário, não podemos esquecer que o filme já recebeu vários prémios e foi aclamado pela crítica internacional, como um dos melhores trabalhos produzidos no ano passado. Democracia em Vertigem, o documentário de Petra Costa sobre o golpe e a ascensão da extrema-direita no Brasil, é um documento vivo e uma forma de levarmos ao conhecimento do mundo o que se passou e o que estamos passando na terra das palmeiras e sabias.
Podemos afirmar, que este trabalho é um documentário cheio de emoções e ao revelar toda uma história ligada as elites e sua participação no golpe, a autora rompe com o silêncio e mesmo vindo de uma família ligada ao setor da construção pesada,  faz uma narrativa sem ligação com as elites e as classes socais, por isto ela consegue ser  absolutamente honesta. Petra Costa aproxima e afasta o foco com uma capacidade notável, mostra-nos Brasília vista de cima e Lula visto de perto, relata todos os fatos como vimos nas notícias do telejornal da Globo e revela de perto, fatos que nunca teríamos condições de ter conhecimento se não fosse por ela.
Não podemos deixar de chamar a atenção do leitor, para a carga individual que a autora dá ao documentário através da sua voz.  Ao fazer a narrativa, Petra dá ao filme toda a dimensão emocional ao seu trabalho, criando assim uma ligação com o seu público, mostrando desta forma, as veias abertas do poder. Este documentário não é uma visão pessoal, nem tão pouco uma ficção, é um relato fidedigno dos fatos, ele busca transmite a angústia e a inquietação de quem vê a democracia brasileira ruir como uma construção frágil no meio de um tremor de terra. O New York Times disse que esta era a visão de quem olha para o Brasil com o coração partido.
Eu lutei contra o regime militar e dei, os melhores anos da minha juventude para que tivéssemos uma democracia neste país. Eu achava que os 35 anos que desfrutamos de liberdade política, traria uma maturidade para que fatos como este não voltasse a repetir. A geração de Petra Costa tem demasiada memória. Nasceu nos últimos anos de uma violenta ditadura, lambeu as feridas com maior facilidade do que a minha geração, entrou na vida adulta com a euforia da primeira eleição de Lula. Viu 26 milhões de pessoas saírem da pobreza e o Brasil entrar na rota dos astros da geopolítica internacional.
Este filme foi produzido de encomenda para minha geração, achávamos que tínhamos consolidado a democracia e na verdade o fenômeno fascista que assolou o Brasil deixou a gente em vertigem de quem achava que tinha os pés no chão, mas descobre que, afinal, está em queda.
Quando a autora resolveu narrar o documentário em inglês, ela buscou levar ao conhecimento do mundo o que estava acontecendo no Brasil e projetar os fatos de forma que o golpe fosse desmascarado. Como não houve crime de responsabilidade, o impedimento da Presidenta Dilma Rousseff foi um verdadeiro Golpe de Estado, que teve o Congresso Nacional como algoz, o STF como espectador indiferente e uma parcela da sociedade brasileira, incitada pela grande mídia, como bucha de canhão.
Como diz Petra: “Somos uma República de famílias. Umas controlam a mídia, outras os bancos. Elas possuem a areia, o cimento, a pedra e o ferro. E, de vez em quando, acontece de elas se cansarem da democracia, do Estado de Direito.”

Padre Carlos








quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

ARTIGO - É a minha Igreja! (Padre Carlos)




É a minha Igreja!



Outro dia um jovem me perguntou qual a reforma da Igreja que eu defendia? Eu olhei nos seus olhos e me deparei com um rapaz de aproximadamente vinte anos. Naquele momento lembrei-me de minha trajetória como cristão à beira de completar neste vinte e sete de janeiro, sessenta e três anos e quantas coisas vividas por mim no seio da minha Igreja.
Assim falei para aquele pequeno aprendiz de cristão: defendo uma reforma da igreja que seja mais evangélica e que tenha una presença forte no seio do povo, como aprendi nesta diocese com Pe. Vasco e Conceição do cabelo branco. Aqui existiu CEBs, nas comunidades os leigos são verdadeiramente o grande protagonista. Para isso é preciso ter consciência que os leigos nas periferias têm também o direito das decisões.
Não existe outra forma de se tornar evangélica e continuar a missão se não for missionário como um jesuíta que conheço, quando você pensa que ele está na África, ele aparece no meio da selva amazônica.  A Igreja que eu me refiro, tem que ter este rosto missionário. A minha Igreja tem de estar inteiramente voltada, para o serviço. Por isto, ela deve ser toda ministerial, isto é: que devem ser criados ministérios para que os leigos e leigas, possam de fato ter autoridade e autonomia de falar do Evangelho pela nossa Igreja. Temos que superar esse clericalismo, um problema que nos últimos tempos se acentuou demais dentro da Igreja católica.
           A igreja serva e pobre, “uma Igreja pobre para os pobres”. Para isto, como diz Pe. Gustavo Gutierrez é necessário colocar as pessoas no centro de tudo o que é estratégia política e económica porque o ser humano tem uma dignidade sublime e deve ser a preocupação de toda a ação da Igreja. Outro ponto importante da nossa proposta é a presença cada vez mais da mulher assumindo com dignidade seu papel na sociedade e dentro da Igreja.
Uma Igreja que viva também a compaixão, ternura e piedade, como fui recebido por Dom Celso José nesta Igreja Local.  Esta é a Igreja misericordiosa, ela é fruto do Concílio Vaticano II. O Concílio, como se sabe, é considerado uma Primavera na vida da Igreja, um sopro do Espírito Santo, assim como hoje muitos veem no Pontificado do Papa Francisco uma nova Primavera na vida da Igreja e uma oportunidade desta torna-se verdadeiramente misericordiosa. Estamos falando aqui, de uma igreja de portas abertas, isto é, uma igreja que oferece a misericórdia do Senhor em todas as situações.
 Uma igreja que estende pontes para todos os lados, e que não vive fechada em si, como sonhou o Irmão Roger, que não é autossuficiente, como diz o poeta: que não acha feio o que não é espelho, que não está fechada só nos seus problemas internos, mas que procura construir um mundo melhor.
Depois que falei todas estas coisas, ele olhou pra mim e disse: Existe mesmo esta Igreja? Eu então falei: existe e ela está no nosso coração!

         Padre Carlos.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

ARTIGO - O caráter festivo da Celebração Eucarística (Padre Carlos)


O caráter festivo da Celebração Eucarística



Sabendo que estava próximo à sua morte, Jesus entendeu que era necessário oferecer uma ceia, a Última Ceia. Nela, abençoou o pão e o vinho, que significam a entrega da sua pessoa por amor a todos e disse: "Fazei isto em memória de mim." Os primeiros cristãos reuniam-se e, recordavam com carinho este grande acontecimento: essa Ceia, o que Jesus fez.  Assim, repetiam celebrando um ágape, o "partir do pão", uma refeição festiva e fraterna em sua memória, abertos a um futuro novo de Vida. E desta forma, aconteceu o que ninguém poderia prever, talvez a maior revolução nestes dois mil anos de história: se algum senhor se convertia verdadeiramente à fé cristã, sentava-se agora na mesma mesa que os seus escravos, em fraternidade.
Todos estes acontecimentos de caráter festivo não podem se perder devido uma mudança de mentalidade do Mystérion ao Sacramentum. Em memória de mim, recordem tudo isto! E como dizia o Irmão Michel de Taizé, recordar é uma palavra muito rica, pois significa voltar a passar pelo coração.
Infelizmente, ao longo dos séculos, a Missa foi perdendo esse carácter de banquete festivo e fraterno e começou a ser concebida como sacrifício. Foi a partir desta transformação, que resultaram nos equívocos que presenciamos até os dias de hoje. Foi introduzido na Celebração, uma concepção cultual sacrificial, que contradiz desta forma, a revelação essencial de Jesus: "Deus é amor incondicional." Portanto, não precisa de sacrifícios expiatórios.
Com este entendimento de sacrifício, embora o Novo Testamento tenha evitado a palavra, apareceu o sacerdote que oferece o sacrifício. Com a celebração diária da Missa enquanto sacrifício, impõe-se a obrigação do celibato, pois o sacerdote está separado, à parte, e, tocando no Corpo do Senhor, não pode tocar a profanidade impura do corpo da mulher. Precisamente por esta razão, a mulher é excluída do sacerdócio, já que é naturalmente impura. Esta visão, beira o ridículo! Certa vez ouvir de um bispo conservador: como é que a mulher, feita para ser mãe, poderia sacrificar o Filho de Deus?
Diante de tais fatos, os sacerdotes acabaram adquirindo um poder divino: o de "trazer Cristo à Terra", realizando o milagre da transubstanciação do pão e do vinho. Se se casarem, são "reduzidos" ao estado laical, como se ser clérigo fosse um estado mais nobre dentro da Igreja. Nesta situação de "redução", existe hoje mais de cem mil, que, em uma outra conjuntura ou um novo quadro de compreensão, poderiam prestar grandes serviços à Igreja e ao mundo.
Foi assim, que a Eucaristia deixou de ser celebração festiva em que todos participavam ativamente, para tornar-se um sacrifício objetivo autónomo, que o padre até podia celebrar sozinho e que oferecia pelas almas do purgatório e outras intenções.
Hoje me pergunto: é possível ir à Missa e não comungar?  A celebração da memória de Jesus deve implicar uma real conversão ao seu projeto. E aí estão os católicos "não praticantes": foram batizados, mas não vão à Missa. Pergunta-se: mas praticam a justiça e a fraternidade, aliviando a cruz de tantos?
E, depois, esta distorção: as "Missas oficiais", a que assistem agnósticos, ateus, indiferentes, patifes e políticos que fazem mal a milhões de pessoas e entram na fila da Eucaristia sem arrependimento.
Quando me perguntam se os católicos acreditam na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia? A resposta é sim. Mas é preciso distinguir entre presença física e coisista e a presença real pessoal. Um homem e uma mulher, pela relação sexual, estão fisicamente presentes, mas, se não houver amor, estão realmente ausentes como pessoas. Também pode acontecer que tenham de estar fisicamente ausentes, mas, se houver amor, continua a presença real entre eles.
Enquanto houver a síndrome de Corinto, não haverá Eucaristia: Corinto representa as nossas contradições: enquanto uns comem para se lambuzar e se embebedam, outros irmãos passam fome.

Padre Carlos




quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

ARTIGO - Conversa de Gente Grande (Padre Carlos)




Conversa de Gente Grande


A nove meses da eleição que vai definir os rumos do nosso município pelos próximos quatro anos – com a escolha do próximo prefeito e vereadores é natural que haja um clima de ansiedade e até preocupação em relação ao futuro.
De todo modo, a esta altura do período pré-eleitoral, é preciso ter calma para não se deixar levar por resultados de pesquisas ou atitudes voluntaristas que em nada contribuem para o bom andamento do processo democrático.
Tenho reiterado que o nosso principal compromisso é trabalhar pela construção da unidade das esquerda e uma ação urgente da direção do PT, para incluir o PC do B e o PSB, ainda no primeiro turno se faz necessário para que não haja resquícios que sempre terminam contaminando a militância, sobretudo em uma conjuntura polarizada entre as forças democráticas e as forças conservadoras.
De um lado, a Frente Conquista Popular, que representa todos os avanços que esta cidade alcançou nestes últimos vintes anos; de outro, um governo populista autoritário e reacionário, personificado por um radialista que achava que poderia governar a terceira maior cidade da Bahia com um microfone nas mãos.
Em uma quadra tão tumultuada da vida municipal e nacional e diante da possibilidade concreta de que se configure tal disjuntiva, é importante ter a consciência de que lançar candidaturas à Prefeito sem que haja maior preocupação a respeito de sua viabilidade eleitoral e por outro lado, ignorar as forças que nossos aliados, tanto eleitoralmente como politicamente e não convidá-los para compor uma chapa que possa representar as forças no parlamento, seria um erro imperdoável.   
      Isso pode gerar graves consequências e, via de regra, deixa um profundo impacto até no relacionamento entre os militantes dos próprios partidos. É preciso ter cuidado e evitar atropelos. Nesse sentido, é evidente que as pesquisas de intenção de voto divulgadas a um ano das eleições pouco ou nada dizem de significativo a não ser a polarização da sociedade. Tais sondagens revelam pura e simplesmente a fotografia de um momento ainda incipiente do cenário político e eleitoral, que muito provavelmente terá uma visão da conjuntura nacional e desta forma, apresentará nas pesquisas. Esses levantamentos, hoje, trazem apenas o chamado “recall” de eleições anteriores e representam muito mais o nível de conhecimento dos candidatos.
Já se sabe ao certo qual é o mote que presidirá a próxima eleição – não será a busca pelo “novo” ou a reafirmação das estruturas partidárias mais tradicionais – e, nesse aspecto, é evidente que as pesquisas tem apontado uma polarização e desta forma, elas se tornam um bom indicativo a orientar os agentes políticos e a sociedade. Mas este é um dado pontual, isolado, que não reúne todos os elementos necessários para que corresponda fidedignamente ao quadro global mais abrangente.
Se observarmos com atenção o que ocorreu na última eleição em nossos municipais, será possível encontrar inúmeros exemplos de pesquisas que não decifraram com precisão o cenário que se desenhava. O fato de alguns candidatos aparecerem nos primeiros lugares na mais recente pesquisa, para o prefeito de Vitória da Conquista, apenas corrobora que cenário algum para outubro está definido neste momento.
Em meio a tantas indefinições, é forçoso reconhecer que outubro está próximo e, ao mesmo tempo, muito longe. Há inúmeras variáveis em jogo que ainda não se manifestaram. As obras os asfaltos tanto criticados pelo atual prefeito. Na Conquista do “faz-de-conta”, que pensava ter acabado com Pedralismo, criava-se dificuldades para vender facilidades, sempre foi uma prática política entre oposição e situação, não podemos deixar que este modo de fazer política retorne. A oposição tem que entender, qual o seu papel e da sua importância neste momento em que a comunidade conquistense pode ser mais uma vez enganada.  Ela tem que funcionar como fiscalizadora das ações deste governo que tem demostrado a cada dia, para que veio. Um governo autoritário e sem compromisso com uma boa administração, se não tiver uma oposição que saiba dizer não, bem como, dirigentes partidário comprometidos com o reagrupamento da Frente Conquista Popular, terminaremos se isolando e deixando que o governo imponha sua pauta impopular e eleitoreira.
Ocorre que o papel dos dirigentes dos partidos de esquerda é de corrigir os erros que levaram a nossa derrota em 2016 e não tentar uma carreira solo ou puro sangue, em um momento tão sério como estamos passando.
A máquina pública segue firme no seu processo de retomada das obras na véspera da eleição, o que indica que o governo exercerá certo protagonismo no pleito, ao contrário do que alguns previam.
Independentemente do que venha a acontecer, o mais importante é unirmos todas as forças democráticas em torno de uma candidatura competitiva, representativa de um projeto para nossa cidade e de um programa de governo, e que também impeça uma disjuntiva entre o campo democrático, que tanto bem faz a Vitória da Conquista. E para isto, temos que ter responsabilidade nas escolhas da chapa majoritária. Não podemos cometer erros primário como fizemos na eleição passada, o vice tem que ter densidade eleitoral e representar uma força política que traduza verdadeiramente em votos.
Não podemos negar que os políticos são ansiosos por natureza. Pois, agora, todos nós devemos ter tranquilidade e trabalhar pensando mais em Vitória da Conquista do que em nossos próprios interesses. Sábio, o povo fará suas escolhas no momento oportuno. Essa hora ainda não chegou.
Há uma longa estrada para outubro. Tanto melhor se caminharmos nela com calma, prudência e responsabilidade. 


Padre Carlos



terça-feira, 7 de janeiro de 2020

ARTIGO - Tirando lições das tragédias ( Padre Carlos )




Tirando lições das tragédias




A tragédia de Mariana e Brumadinho – chamam-nos a uma reflexão profunda sobre o País – elucidou muitas coisas, que até então estavam escondidas do povo brasileiro. No dia 5 de novembro de 2015 acontecia o maior desastre ambiental do Brasil: o rompimento da barragem de rejeitos Fundão, localizada na cidade de Mariana, Minas Gerais. Pouco mais de três anos depois, surge uma nova tragédia tão preocupante quanto: o rompimento da barragem de rejeitos da Mina do Feijão, no município de Brumadinho, no mesmo estado.
 Desta forma, a irresponsabilidade como se encara o ato de administrar uma grande companhia como a Vale do Rio Doce, bem como a forma que a inciativa privada trata a vida de milhares de pessoas que estão sob a sua responsabilidade, remete-nos aos questionamentos sobre o processo de privatização e a necessidade de rever este grande património nacional. As riquezas naturas do país, não pode ser vista com o descaso que os últimos governos vêm tratando esta questão. Uma companhia como esta, precisa ser administrada levando em conta o bem comum, de servir as comunidades que dependem dela e sua riqueza deve ser incorporado ao patrimônio do país. Nas duas últimas décadas, a Companha Vale do Rio Doce, vem sendo administrada e gerida de acordo a circunstância, a conjuntura, o momento e as expectativas da opinião pública.
Assim, podemos constatar nas duas grandes tragédias que se abateram sobre seus funcionários e nas comunidades que foram fortemente atingidas. Diante de tais fatos, a empresa exibiu a fragilidade imensa da sua capacidade de zelar por tamanho patrimônio que colocamos sob sua responsabilidade e das suas estruturas, como mineradora, a falta de programação, a aversão à cooperação por parte do governo e instituições particulares.
 Estes acontecimentos, credencia ao governo brasileiro a duvidar da capacidade da empresa em relação a proteção dos seus cidadãos e a repesar uma forma de repatriamento da companhia, para que as comunidades possam se sentir mais segura. Não podemos jamais esquecer, que a responsabilidade é contaminante e quanto maior a integração maior, mais plural e mais séria aquela se torna.
 Desfez a imagem, que a companhia depois que foi privatizada, tinha se tornado uma empresa moderna, tecnologicamente desenvolvida, utilizadora dos métodos mais avançados e eficazes em todos os domínios. Vimos na realidade uma falta de preparo por parte da sua diretoria e diante das tragédias, ficou evidente que a Vale não tem, nem meios, nem preparação, nem estrutura, nem organização para confrontar situações desta natureza e magnitude e, porventura, outras de menor dimensão. A ninguém é lícito invocar a ignorância dos riscos e a necessidade de os prevenir. Nestas duas últimas décadas desarticulou-se tudo o que de bom e eficaz que existia na companhia.

Diante da repercussão internacional de ambas tragédias, acompanhadas de mobilização para ajudar as famílias atingidas, surgem questões como: por que esses desastres aconteceram? Quem foram os responsáveis? Algo mudou desde então?  Ficamos, em suma, sem saber que estamos entregues à própria sorte. Os crentes, como eu, ainda têm o privilégio de poderem contar e se entregar nas mãos da Divina Providência.

Padre Carlos


sábado, 4 de janeiro de 2020

ARTIGO - O memorial ao Padre Benedito Soares ( Padre Carlos )

O memorial ao Padre Benedito Soares


Apesar de nossa Arquidiocese ter apenas sessenta anos, podemos contar neste percurso vários pastores que deram os melhores anos do seu ministério, para que pudéssemos crescer como Igreja e fizéssemos as escolhas certas. Assim, gostaríamos hoje de lembra ao leitor que Memorial é resgatar a memória é lembrar um determinado dia é fazer com que nós não esqueçamos jamais desta data ou desta pessoa. Um aniversário de nascimento, de casamento a própria Missa é um memorial ela representa a Paixão Morte e Ressureição do nosso Senhor Jesus Cristo. No mundo marcado pela violência é fundamental a criação deste memorial para que os católicos de nossa cidade se lembrem deste pastor que hoje vamos resgatar a memória: Padre Benedito. Como diz o poeta:” E há que se cuidar do broto Pra que a vida nos dê flor e fruto”.
Seu ministério foi voltado para o futuro da Igreja e só um homem de visão poderia entender como era necessário aquele trabalho.
A juventude é o momento das grandes decisões na vida do ser humano. É a etapa das escolhas sobre estudos, carreiras, valores a serem seguidos, projeto de vida, vocação, etc. A fase da puberdade e da adolescência é tempo de descoberta de si mesmo e do próprio mundo interior; é o tempo dos planos generosos, dos ideais; o tempo do desejo de estar junto com os outros; o tempo de uma alegria particularmente intensa, ligada à inebriante descoberta da vida. Entretanto é, simultaneamente, a idade das interrogações mais profundas; das indagações angustiadas, de certa desconfiança em relação aos outros, acompanhada do desejo de debruçar-se sobre si mesmo, do autoconhecimento; é a idade, por vezes, dos primeiros fracassos e das primeiras amarguras. Trata-se da fase da vida humana em que a personalidade pode ser moldada com mais facilidade para a tendência ao bem ou ao mal.
O futuro de qualquer instituição depende de sua capacidade de atrair e envolver os jovens para dar continuidade aos seus objetivos. O desafio do padre Benedito de procurar uma pedagogia para evangelizar os
jovens na nossa cidade foi decisivo para o futuro da Igreja de Vitória da Conquista e para o crescimento dos próprios jovens e da nossa Igreja Local.
A evangelização da juventude empreendida por este pastor nas décadas de setenta até meados da década de oitenta foi um dos grandes desafios para a Igreja neste final de século. Para formular propostas pastorais para este grupo era preciso entender a mudança de mentalidade em relação às décadas anteriores. Podemos dizer que houve uma mudança de paradigmas, sobretudo na área cultural: na década de 1970 se caracterizou pela centralidade da cultura moderna.
Para desenvolver um processo de educação na fé, que também educasse para a cidadania e para a formação da consciência crítica, visando a um despertar para o compromisso com a sociedade, foi imprescindível aquele pastor compreender o contexto cultural em que os jovens estavam inseridos. O contexto cultural influenciou diretamente a maneira de ver, pensar e agir.
Quando Goretti, chama nossa atenção para importância desta luta de não deixarmos destruir o local onde Benedito tombou, ela lembra que o cruzeiro é o memorial da morte do Padre Bené. À crise dos jovens em relação a Igreja, está também relacionada à falta de memória coletiva e o difícil acesso à informação das novas gerações. É uma mentalidade de quem tudo quer menos a fé. Estejamos atentos.


Padre Carlos






sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

ARTIGO - Como se escolhe um vice ( Padre Carlos )





COMO SE ESCOLHE um vice


Sempre achei um erro nas  eleições para o Executivo municipal, de não dar a devida atenção para a escolha do vice na chapa majoritária. Desta forma, as atenções se voltam sempre para os candidatos titulares das chapas concorrentes.
Se fizermos uma analogia entre o PT no nosso município e o jogo de xadrez, poderíamos perceber que os políticos também têm as suas “pedras” (pessoas) para travarem as suas batalhas e manter intocável, de acordo com as leis as mesmas, para não deixar cair a peça principal. E, nas eleições, o mais importante para o voto são as narrativas. O rei ou o cabeça de chapa, é que não se mexe, a menos que seja necessário para sua defesa e dificultar os ataques. Se a falta de um entendimento político é que pode desencadear uma guerra, aqui o objetivo não é uma luta sangrenta a batalha é pela conquista de partidos que possam apoiar meus projetos e apoiadores, os soldados, únicas pedras que não podem recuar.
Desta forma, a corrente hegemônica, protege seu candidato e não abre mão da cabeça de chapa. Não estamos questionados este comportamento que é natural do partido hegemônico, o que chamamos atenção, é a falta de habilidade política de seus quadros de não saberem olhar o tabuleiro de xadrez.   Mas o que o partido está esquecendo, é que nas eleições ao lado de cada um desses candidatos encontramos uma figura ilustre: o candidato a vice. Sem muitas funções oficiais para além de substituir o titular do cargo, a existência dessa figura foi muitas vezes ignorada e se tornou um peso para a legenda.
Qual a importância do vice nesta eleição para o PT? Após o companheiro de chapa, o vice é a pessoa mais próxima do poder. E para isto precisamos compor com um partido da base que represente força política para governar e densidade eleitoral para ajudar na eleição. Um bom companheiro de chapa e o seu partido, pode colaborar e muito na gestão pública, dialogando com a sociedade e somando forças com o titular. Portanto, é muito importante entender os principais fatores envolvidos na escolha de um vice. Para além de ser meramente um tapa-buracos, o vice e o partido que queremos como parceiro, tem que ser também um articulador político no campo da esquerda visando o fortalecimento desta chapa e neutralizando através de acordos político a fragmentação da esquerda, como aconteceu na última eleição em nosso município.
Temos que procurar nossos parceiros urgente, independente do candidato esta discursão tem que entrar em pauta. Não podemos achar que no segundo turno tudo se resolverá a toque de caixa e com os freios, as abobaras se ajustarão na carroceria.

Padre Carlos







ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...