quarta-feira, 18 de março de 2020

ARTIGO - Vitória da Conquista e as eleições (Padre Carlos)




Vitória da Conquista e as eleições

           


Eleições e alternância no poder são essenciais em qualquer regime democrático. Mas, o cidadão tem que se responsabilizar pelas escolhas feitas nas urnas e não adianta arrependimento, como dizia um velho político baiano: Se paga em 4 anos o erro de um dia! E Vitória da Conquista tem vivido na pele este ditado popular. Em busca do novo, querendo experimentar novas visões administrativa, o conquistense terminou esquecendo que eleger um prefeito é fazer uma escolha de extrema importância e, ao mesmo tempo, de responsabilidade por parte de cada eleitor, pois o futuro da cidade estaria nas mãos de quem vencesse aquela disputa.  
Outro ponto importante era saber que o prefeito não administraria sozinho, e por isso dependeria de apoio político dos vereadores, assim como de outras esferas governamentais, ou seja, dos governos estadual e Federal. No campo Federal pouco se conseguiu com o Presidente Michel Temer, na sua curta e tumultuada gestão. Tendo como padrinho Gedel Vieira Lima, um ex-ministro do MDB preso por corrupção, logo após as eleições municipais, não pode ajudar seu afilhado nesta empreitada de governar a Capital do sudoeste baiano. Com o Governo Estadual, seria mais fácil, mas para se manter politicamente vivo, tinha que bater nos petista e desta forma sua relação com o governador passou a ter um desgaste profundo. A ajuda destes dois últimos foi comprometida pela falta de habilidade política para que houvesse por meio de uma relação política o repasses de verbas que tanto Conquista precisa. 
Por outro lado, como estaria sendo totalmente honesto com o leitor se não admitisse que as eleições em Vitória da Conquista têm se tornado um verdadeiro “FLA X FLU”. Sim, a nossa política-partidária-eleitoral conquistense, não é se o senador Otto Alencar manterá a aliança, forjada em 2010, com o atual governador Rui Costa.  Não, isto não deve, não pode, ser o centro das atenções, pois não estamos tendo nenhuma revolução política no pequeno e heroico Sertão da Ressaca . Para acima e além das paixões, e dos interesses, precisamos ter claro que tudo isso é absolutamente normal. O sentido da ação dos atores e partidos políticos é a permanente luta pela hegemonia no poder. Assim, as alianças, e os rachas, são absolutamente normais. Eles se unem e se separam de acordo com as conveniências das conjunturas eleitorais. Em nossa história política podemos enumerar um sem número de casos em que relevantes atores políticos desfizeram alianças. 

O atual modelo político-partidária que temos foi criado neste caso no ano de 1998, em que pese mudanças que foram sendo feitas ao longo dos períodos eleitorais que tivemos. A principal delas foi justamente à aliança entre a esquerda e o centro da direita brasileira. Aliança esta que parece caminhar para o seu fim. O que importa observarmos é que os grupos políticos sobrevivem aos rachas. Às vezes, achamos que os rompimentos são fruto da insanidade dos políticos. Mas, em geral, nos enganamos. Aos rachas e rompimentos precede todo um jogo de bastidores. Os apaixonados e as vivandeiras de plantão só saem às ruas depois que seus chefes políticos autorizam. Como dizia o velho Suassuna: Não sei, só sei que é assim! 

Padre Carlos 


  

terça-feira, 17 de março de 2020

ARTIGO - O autoritarismo e o coronavírus (Padre Carlos)



O autoritarismo e o coronavírus 



Depois que o estado de emergência for suspenso, sempre haverá quem queira estender este período a um pretexto qualquer. Estas manobras tem  como  objetivo  manter alguns dos poderes que o estado de emergência lhe concedeu; como a dispensa de licitação nos casos de emergência, prevista no art. 24, IV da Lei de Licitações e Contratos Administrativos, muito utilizada no âmbito da Administração Pública das três esferas de poder.  
Depois de algum tempo as pessoas acostumam à nova situação e vão cedendo ao autoritarismo do Estado. 
O medo leva as pessoas a ceder. Foi justamente neste momento de fraqueza que esquecermos deste perigo e abrimos as portas ao autoritarismo do Estado. Não faz muito tempo vimos este filme aqui no Brasil, quando passamos a viver amedrontado pelo crime e pela violência e, em um momento de profunda crise de legitimidade das instituições democráticas, que até hoje se encontra  sob ataque destes grupos.  Estes novos agentes políticos,  professam sua fé na violência como forma de governar e de, paradoxalmente, pacificar a sociedade, emulando uma espécie de vendeta moral e política que nunca tem fim e que parece ganhar cada vez mais adeptos ao amplificar ódios, preconceitos e intolerância. Assim, deixamos o autoritarismo entrar pela porta da frente. 
O resultado mais emblemático desta pandemia pode ser traduzido,  pelo perigo real de ser contaminado pelo vírus e em nome deste medo justificamos todo autoritarismo. Um outro caso que podemos também fazer um paralelo é o jogo de mata-mata vivido por policiais e criminosos, cuja regra de ouro é sobreviver mesmo que, para isso, tenha-se que puxar o gatilho primeiro. Há uma grave fratura na sociedade sobre como lidar com o medo, seja este provocado por um vírus ou pela violência, pela qual muitos “aceitarão” a morte de alguns em defesa do Estado e da sociedade.  
O que os brasileiros não perceberam ainda é que o autoritarismo é uma fonte de empobrecimento e, nos piores casos, pode ser tão ou mais mortal do que um vírus. Depois de vencermos este vírus, mesmo cansados teremos outra luta importante: vencer o autoritarismo. Eu espero que as forças democráticas estejam unidas para que possamos combater esse vírus da mesma forma que combatemos este: com distanciamento social em relação a todos os oportunistas autoritários. Este vírus levará muitas vidas, mas é importante que quando for derrotado não sirva também para que nos levem a liberdade. 

Padre Carlos 

domingo, 15 de março de 2020

ARTIGO - Em mais um ato de irresponsabilidade. (Padre Carlos)



Em mais um ato de irresponsabilidade.  
  
Neste domingo o país ficou chocado com o comportamento do presidente Jair Bolsonaro ao cumprimentar apoiadores no Palácio do Planalto que levantavam a bandeira do fechamento do Congresso Nacional e  da nossa maior Corte da Justiça. Com este gesto impensado ou nada responsável termina cometendo dois graves erros que pode lhe custar muitos dividendos político e uma imagem de uma autoridade sem preparo para assumir tamanha responsabilidade. Sua participação, além de ferir a Constituição não é recomendado por conta da pandemia do coronavírus. 
Diante deste comportamento gostaria que o leitor fizesse comigo uma abordagem filosófica sobre a importância da autoridade ter uma postura ética, diante da função que exerce. Desta forma, vamos abordar a questão da autoridade e a responsabilidade.  
A responsabilidade é a chave da porta de entrada no terreno da autoridade presidencial. Uma não conseguiria existir sem a outra; desta forma, podemos dizer que autoridade e responsabilidade, devem coexiste no mesmo espaço. Existe uma combinação mais perfeita do que autoridade/responsabilidade? Não existe autoridade irresponsável; quando a irresponsabilidade chega é porque a autoridade já se esvaiu ou se foi. Refletir sobre a ideia de autoridade a partir de sua associação indissolúvel com a ideia de responsabilidade pode ser um recurso interessante. Uma autoridade sempre responde pelos outros. Quem não quer assumir responsabilidades pelo outro não pode exercer qualquer tipo de autoridade. Os gestos de extrema irresponsabilidade, do presidente Jair Bolsonaro passou todos os limites nesta manhã de domingo (15) postando vídeos de apoiadores aglomerados em cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador. Assim, agindo desta forma o presidente esquece   como o exercício do poder relaciona-se diretamente com a necessidade de responder pelas ações dos outros, a responsabilidade é um dever inerente ao exercício do cargo.  
 O que me impressiona mais e ver a inercia das forças democráticas e o oportunismo de algumas lideranças. Com este comportamento, termina legitimando o estado policial do ódio e do medo que acompanha a ação política dos seus seguidores pedindo o fechamento do Congresso e do STF. Além da irresponsabilidade política, ao deixar o isolamento no Alvorada e abraçar manifestantes em meio a um surto de coronavírus, termina desautorizando seu Ministro e brinca com a saúde pública dos seu povo.           

A relação entre direitos e responsabilidades também é interessante a pasta da Presidência da República. A garantia dos direitos dos cidadãos que se encontra na Constituição que seus seguidores querem rasgar é responsabilidade, é dever do Estado proteger; por outro lado, é direito do Estado que o cidadão assuma suas responsabilidades, que cumpra seus deveres cívicos. No que se refere ao poder, a autoridade pressupõe um poder legitimamente constituído, mas nem todo poder advém de uma só autoridade.  Assim como somente pode ser excêntrico aquele que vislumbra só um centro de poder.  Somente é tolerado ser irresponsável quem não tem o dever de responder pelos outros e pela Nação. Em compensação, cada um de nós é absolutamente responsável por tudo o que advém de tal âmbito: somos responsáveis até – e principalmente – pelos nossos atos irresponsáveis. 

Padre Carlos 


sábado, 14 de março de 2020

ARTIGO - A história da esquerda e o PT (Padre Carlos)



A história da esquerda e o PT 

Uma das heranças que o PCB terminou, incorporando inconscientemente, na esquerda brasileira,  foi a tese da “unidade ideológica”, que determina que as minorias não poderiam se constituir em frações organizadas, hoje mesmo com o direito de representação das tendências no PT, esta máxima foi incorporada nos governos petistas, ele ainda vive no inconsciente e comportamento dos grupos hegemônico do Partido quando o assunto é a participação na estrutura do governo do estado.  
Por essa ótica, não haveria divergências no seio de uma organização, tudo deveria ser resolvido através da aplicação do controverso sistema de centralismo democrático, um eufemismo encontrado pelos comunistas para aliar, em um mesmo local, discussão democrática e imposição de ideias, ou seja, se não fosse possível encontrar o consenso através da discussão, ele instalar-se-ia através da imposição. O que interessava era ter o consenso. Caso a divergência persistisse, os discordantes deveriam ser sumariamente expulsos da organização. Essa concepção foi determinante para a falta de democracia interna que sempre acompanhou o PCB. Tornou-se prática comum no partido, em praticamente toda sua existência, e mais fortemente entre as décadas de 1940 e 1960, a expulsão de membros que divergiam das posições teóricas e políticas do Comitê Central.  
A falta de democracia passou a ser em outro âmbito, na participação da estrutura de poder. Quando são questionados nas instancias locais, responsabilizam a SERIN por tudo que acontece omitindo a participação das lideranças locais pelas indicações. Hoje sofremos uma dificuldade em formar uma chapa forte para proporcional devido esta política. Não vou citar nomes para preservar os companheiros, mas alguns quadros que hoje estão no partido da base de Rui que eram ou poderiam está compondo com a gente nesta eleição, não vão fazer parte desta chapa por causa desta política de asfixiar de forma política, as correntes menores e os companheiros independentes. 
Quando falo das correntes minoritária do PT não me refiro aqueles grupos que em 2005 aproveitaram-se dos primeiros ataques ao partido e passaram a chamar sua direção de mensaleiro. Lembro de companheiros aqui mesmo em Conquista me parando na rua e dizendo que eu votaria no mensalão. Não fizeram em momento algum a defesa do partido, queriam aproveitar o forte ataque da imprensa e da burguesia sobre o Governo Lula para assaltar o partido.  Falo do grupo que permaneceu lutando e carregando esta estrela, refiro-me aquelas pessoas que comeram poeira nas eleições de Wagner e Rui e nunca foram lembrados e reconhecidos pelo partido.  

  A eleição de Vitória da Conquista deste ano oferece uma rica oportunidade para entendermos de uma vez que a política de “unidade ideológica” ficou no séc. passado. O aprimoramento do processo democrático petista tem que passa por todas as correntes. A participação destes companheiros não pode ficar reduzida nos momentos eleitorais. O partido é mais do que os mandados regionais. Assim, estas forças precisam ser ouvidas e serem convidas a sentar à mesa. Em um exame rápido, duas reflexões despontam: que na política nada é definitivo e que o tempo correto para a tomada de decisões é determinante no êxito eleitoral. 
Existem um ditado que diz que o reconhecimento político vem atrás no trabalho e de uma militância dedicada ao partido. Correto? Não, errado. Errado, porque enquanto alguns militantes fazem muito, outros apesar de não terem a mesma militância, terminam sendo valorizado por outros motivos. Diante de tudo isto por que não sair do partido?   Ser petista hoje é complicado definir. Acredito que requer muita “dureza”, mas, também, muito jogo de cintura. O diabo é descobrir como ter princípios sem ser ingênuo, como ser pragmático sem ser oportunista. Não tenho a receita, não tenho os algoritmos para solucionar este problema, nem resposta para esta pergunta. 
Mais uma coisa eu tenho certeza, eu ainda acredito neste partido ele para mim ainda representa o sonho da esquerda, nos dias atuais, ser petista significa defender os direitos humanos, os direitos das minorias. Lutar, como sempre lutei, por justiça social. 

Padre Carlos 
  

  


  

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...