Depois que o estado de emergência for suspenso, sempre haverá quem queira estender este período a um pretexto qualquer. Estas manobras tem como objetivo manter alguns dos poderes que o estado de emergência lhe concedeu; como a dispensa de licitação nos casos de emergência, prevista no art. 24, IV da Lei de Licitações e Contratos Administrativos, muito utilizada no âmbito da Administração Pública das três esferas de poder.
Depois de algum tempo as pessoas acostumam à nova situação e vão cedendo ao autoritarismo do Estado.
O medo leva as pessoas a ceder. Foi justamente neste momento de fraqueza que esquecermos deste perigo e abrimos as portas ao autoritarismo do Estado. Não faz muito tempo vimos este filme aqui no Brasil, quando passamos a viver amedrontado pelo crime e pela violência e, em um momento de profunda crise de legitimidade das instituições democráticas, que até hoje se encontra sob ataque destes grupos. Estes novos agentes políticos, professam sua fé na violência como forma de governar e de, paradoxalmente, pacificar a sociedade, emulando uma espécie de vendeta moral e política que nunca tem fim e que parece ganhar cada vez mais adeptos ao amplificar ódios, preconceitos e intolerância. Assim, deixamos o autoritarismo entrar pela porta da frente.
O resultado mais emblemático desta pandemia pode ser traduzido, pelo perigo real de ser contaminado pelo vírus e em nome deste medo justificamos todo autoritarismo. Um outro caso que podemos também fazer um paralelo é o jogo de mata-mata vivido por policiais e criminosos, cuja regra de ouro é sobreviver mesmo que, para isso, tenha-se que puxar o gatilho primeiro. Há uma grave fratura na sociedade sobre como lidar com o medo, seja este provocado por um vírus ou pela violência, pela qual muitos “aceitarão” a morte de alguns em defesa do Estado e da sociedade.
O que os brasileiros não perceberam ainda é que o autoritarismo é uma fonte de empobrecimento e, nos piores casos, pode ser tão ou mais mortal do que um vírus. Depois de vencermos este vírus, mesmo cansados teremos outra luta importante: vencer o autoritarismo. Eu espero que as forças democráticas estejam unidas para que possamos combater esse vírus da mesma forma que combatemos este: com distanciamento social em relação a todos os oportunistas autoritários. Este vírus levará muitas vidas, mas é importante que quando for derrotado não sirva também para que nos levem a liberdade.
Padre Carlos
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