sábado, 28 de março de 2020

ARTIGO - DIÁRIO DA QUARENTENA (Padre Carlos)



DIÁRIO DA QUARENTENA 





Ler novamente um bom livro é como um reencontro de amigos, você fica muito feliz. Em tempos de quarentena e isolamento social, por causa da PANDEMIA, a leitura tem sido uma companheira de viagem. São estas releituras que nos permitem descobrir que há livros que podem ser lidos de várias formas, permitindo diversos níveis de interpretação - sem nunca perderem o fascínio que exercem sobre o leitor. É o caso deste romance de Albert Camus sobre uma cidade no norte da África - Orão, na então Argélia francesa - sitiada devido à peste. 
A cidade de Oran, uma possessão francesa na costa da Argélia, norte da África, é atingida pela peste bubônica. De repente, ratos começam a morrer aos montes. Rapidamente, a população da cidade é atingida. Camus fala como é viver numa cidade sitiada pela peste.   
O grande romance de Albert Camus - publicado em 1947 - libertava-se do seu significado literário aos meus olhos de leitor, surgindo como uma assombrosa metáfora de um tempo de trevas e de um espaço submetido ao bacilo mortal do totalitarismo. Camus, ele próprio membro da resistência e jornalista envolvido no combate quotidiano às forças ocupantes, nunca teve dúvidas sobre a missão que deve caber aos intelectuais nas encruzilhadas do mundo contemporâneo: a defesa intransigente da liberdade, sabendo que esta é inseparável da justiça. Nenhum sistema ideológico está autorizado a capturar a liberdade em nome de causas que a sufoquem nem neutralizar a justiça a pretexto de bandeiras que a violentem. 
 A vida imita a ficção, como tantas vezes sucede. Dando ainda mais relevância à lucidez das palavras finais d' A Peste. Se o novo vírus se assemelha em muito à peste bubónica europeia de 1343-53, que matou cerca de 200 milhões de pessoas, creio ser importante tirar proveito do que temos hoje para fazer a diferença no combate a este inimigo.  
Com relação ao outro vírus, Camus sabia que "o bacilo não morre nem desaparece nunca" e que "viria talvez o dia em que, para desgraça e ensinamento dos homens, a ‘peste’ acordaria os seus ratos estão vivos, sobreviveram ao pós-guerra e seu discurso é que a  morte está presente numa cidade feliz". Oran, conflagrada pela peste, com o mundo em que vivemos sitiado pelos dois vírus mais perigosos dos dias de hoje: o coronavirus e a ignorância deste governo e seus seguidores. 



quinta-feira, 26 de março de 2020

ARTIGO - O pobre de direita (Padre Carlos)



O pobre de direita 



  Durante algumas décadas de militância política e de alguns anos de formação acadêmica, confesso aos senhores que nunca tinha lido ou tomado conhecimento de uma abordagem tão direta e honesta como esta que o compositor Tim Maia expressou: “Um país onde traficante é viciado, prostituta se apaixona, cafetão tem ciúmes e pobre é de direita não pode mesmo vir a dar certo”. Quem sabe estes não foram os verdadeiros motivos da sociedade brasileira não ter dado certo como projeto político?  
Esse país é uma onda mesmo. Tem pobre que se diz classe média; Tem classe média que se diz rica. Pense numa muvuca desta! Antes do Impeachment da Presidente Dilma, um conceituado jornal do Estado de São Paulo levantou os seguintes dados: Um terço dos brasileiros que pertence à classe alta se considera pobre. E quase a metade daqueles que têm menor poder de consumo e renda (classes C e D) acham que são brasileiros de classe média. Além disso, tinha aumentado o número de pessoas, entre os vários estratos sociais, que acreditavam que estavam num situação financeira mais estável e que tinha melhorado de vida.   
Seria cômico se não fosse trágico. A gente ri chora e se arrepende dos nossos próprios erros. E um dele foi não ter politizado as conquistas sócias. Deixamos o pobre de direita acreditar nas mentiras do Estado mínimo, na meritocracia, no individualismo, na competição etc. provenientes da ideologia liberal que pregava essas mentiras como contraponto do sucesso que foi os governos petistas. Sabíamos que este adestramento pela ideologia liberal se encontrava a anos presentes no inconsciente da população pobre deste país.  
O pobre de direita não tem consciência de classe, assim ele age de maneira condicionada. Age já por reflexo condicionado, como os cães de Pavlov, em relação a todo e qualquer problema complexo histórico e social. Hannah Arendt escreveu em “Origens do Totalitarismo — Antissemitismo, imperialismo, totalitarismo”: A aliança entre a ralé e o capital está na gênese de toda política imperialista. Essa sua obra deixa explícita a promiscuidade existente entre o que ele chama de ralé se referindo àqueles que são excluídos pela sociedade burguesa/capitalista e o poder. É assim que vejo nosso governo hoje e seus fiéis apoiadores e também com a ralé, segundo Hannah Arendt, que apoia a ambos. Ficam na ilusão que chegarão a algum lugar e/ou serão beneficiados por políticas que só satisfazem às elites.  
O problema é que o pobre de direita não se vê pobre, não sabe que é ralé, não se acredita ralé. Esta massa deixa-se manipular, habilmente iludida e fortemente explorada. O novo componente no cenário político e responsável em grande parte por esta situação são os religiosos, estes que deveriam lutar contra esta estrutura de poder, terminam vendendo suas ovelhas. Parafraseando Jung, acredito que o pobre de direita enquanto não tomar consciência da sua situação de manipulado e explorado, o seu inconsciente permanecerá dirigindo suas vidas e eles chamarão o triste mal que se abaterá sobre eles em destino.  
“ Que Deus tenha misericórdia desta nação”.  

Padre Carlos  

terça-feira, 24 de março de 2020

ARTIGO - A alegria e a dor de uma lagrima (Padre Carlos)



A alegria e a dor de uma lagrima


Estes dias de confinamento em decorrência da pandemia do coronavirus, aproveitei para refazer alguns escritos que tinha iniciado e por um motivo ou outro, terminei deixando inacabado. Esta quarentena me deu oportunidade de refazer um texto que eu gostaria muito de partilhar com vocês, este tema aborda a importância da amizade e do amor.  
Confesso a vocês que este assunto tem mexido muito comigo nestes últimos tempos. Este tema tem se tornado presente no meu inconsciente e vai povoando nossa linha do tempo de tal forma que você termina se enxergando pelas conquistas que obteve ao longo da sua vida e com certeza os amores e as amizades são algumas delas. É triste quando descobrimos tarde demais que fomos muito importantes para alguém, mas não demos o devido valor e a perdemos. Da mesma forma, percebemos como aquele amigo faz falta, mas aí já é tarde demais e você não teve coragem de falar.  
Tem pessoas que acham que os amigos e os amor são sentimentos passageiras e não fazem parte da nossa vida. Acredito que estas pessoas estão enganadas ou sou eu que sou diferente delas? Por mais que digam que sou piegas, não consigo esquecer todos aqueles e aquelas que ao longo da minha vida, venho carregando com carinho e sei da importância que cada uma teve um dia me fazendo feliz.  
Não posso apagar os defeitos do amor sem apagar as qualidades, perderia muito mais se pudesse cometer tal desatino. O amor humano é a junção de qualidades e defeitos, não teria como separa-lo sem arranhar a verdade dos seus sentimentos. Duas coisas aprendi nesta vida:  quando o amor é verdadeiro, ele se revela também um grande amigo e a amizade quando é sincera, vem acompanhada de carinho cuidados e amor. Mas não devemos esquecer que o amor é sensível enquanto a amizade é mais segura.     Não podemos ignorar e negar a importância do amor, mas uma amizade daquelas que vivi na infância e na minha juventude, jamais poderia ser esquecida. Foram elas que me ajudaram a sobreviver estes amores que se abateram sobre mim. Só a compreensão de um amigo poderia entender a falta do amor e do carinho da mulher amada.  

Mas confesso a vocês que não trocaria nenhuma outra experiencias de vida por estas lagrimas. Sei da importância de cada pingo delas e tenho que admitir que não foram só dores, elas trazem consigo em cada gotas também os momentos de alegrias e um tempo que jamais gostaria de esquecer, assim são as lagrimas da minha história de vida. 
Padre Carlos


segunda-feira, 23 de março de 2020

ARTIGO - Quarentena com dignidade (Padre Carlos)






Quarentena com dignidade


A cada dia nos surpreendemos como o novo coronavírus vem dizimando vidas. Esta pandemia já provocou a morte de mais de 15 mil pessoas no mundo inteiro e já foram registados quase 360 mil casos de infeção. Diante de toda esta tragédia, gostaria de chamar a atenção do leitor  e alertar a classe política que este surto epidémico tem de ser combatido com determinação, mas não pode ser usado e instrumentalizado para, aproveitando legítimas inquietações, servir de pretexto para o agravamento da exploração e para o ataque aos direitos dos trabalhadores. 
No início desta tarde, tomamos conhecimento da suspensão dos contratos de trabalho por quatro meses, enquanto este mesmo governo, estende sua bondade aos banqueiros com sessenta e oito bilhões. Nestes últimos tempos a classe empresarial e esta direita que chegou ao poder vem dando sinais de até onde setores patronais estão dispostos a humilhar e rasgar os direitos dos trabalhadores. Indicando um caminho que a não ser que consigamos parar a tempo, lançará as relações trabalhistas numa verdadeira ‘lei da selva. 
Atendendo pedidos de governadores de 7 estados do Nordeste, o ministro Marco Aurélio, do STF, suspendeu os cortes no Bolsa Família. Depois do despacho do Juiz, este governo postou nas redes que a iniciativa tinha partido do Planalto.  Segundo dados apresentados, apenas 3% dos benefícios foram destinados para o Nordeste, sendo 75% para as regiões Sul e Sudeste onde recebeu uma boa votacao.  
Precisamos ainda, exigir, uma resposta imediata para assegurar o pagamento integral dos salários aos trabalhadores de empresas cuja atividade está suspensa criando mecanismos específicos, incluindo um Fundo com esse objetivo, com meios financeiros a disponibilizar pelo Orçamento do Estado.  
Não podemos deixar que transformem a quarentena da nossa gente como os nazistas fizeram em Varsóvia, com o povo Judeu. Tudo o que eles querem é transformar nossas cidades em um grande gueto de doentes e famintos.  

Padre Carlos 
  

  

  
  
  
  
  

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...