quinta-feira, 16 de abril de 2020

ARTIGO - À qual pandemia o Sr. se refere? (Padre Carlos)



À qual pandemia o Sr. se refere?
  

Não podemos negar, que estamos vivendo tempos difíceis. Em todas as partes do mundo, surgem fatos que revelam que esta quadra da história está sendo movida pela intolerância. O mundo contemporâneo tem presenciados vários fatos concretos que dão provas, que a intolerância se coloca como uma espécie de pandemia global. Ela é diferente do covid-19, doença causada pelo novo coronavírus que causa infecção, esta é diferente, por meio dessa, infecta-se a alma, os doentes seguem dispersando o vírus, cujos sinais e sintomas mais comuns são o discurso do ódio contra os pobres e nordestinos e os atos de violência contra os desfavorecidos .  Podemos constatar que as reações xenófobas provocada por este vírus, atingiram um grau de violência aqui no Brasil nunca visto. Não sabemos como enfrentar esta pandemia de ódio e irracionalismo que infectou a nossa gente, nem se tem vacina para tal enfermidade que se abateu contra os brasileiros. 
          
No século passado, a humanidade presenciou todo tipo de violência: os ataques aos monumentos históricos, aos massacres de segmentos populacionais, aos atentados terroristas, entre outros. Esses são alguns exemplos que trazem à luz a conjuntura de intolerância. É certo que a intolerância não é um mal da humanidade contemporânea. A história registra fatos que realçam a intolerância em todas as épocas da humanidade. Apesar da humanidade assistir com certa apatia a estes episódios políticos, religiosos e sociais, a discussão sobre a pandemia da intolerância que se abate sobre o país carece de reflexão mais aguçada sobre os danos que traz a saúde. 
A exemplo das demais infecções virais, a pandemia da intolerância vai se instalando sorrateira e silenciosamente. Ao se dispersar na tessitura da alma, o vírus da pandemia da intolerância alcança as dimensões mais profundas, tentando se instalar pela alteração da capacidade racional. Os doentes da alma, vítimas da pandemia da intolerância, usam argumentos supostamente racionais para difundirem a enfermidade de que são portadores à sociedade. 
Na verdade, para estes doentes da alma, acometidos da pandemia da intolerância, há valores maiores que a vida que devem ser preservados. A intolerância se mascara sob o discurso que estão preocupados com as pessoas. Minimizando assim, os efeitos da outra pandemia que já matou 137.000 pessoas pelo mundo, além de 1769 brasileiros; estas autoridades  infectadas estão garantindo que é hora de as pessoas fora do grupo de risco voltarem à vida normal. 
Segundo o presidente: “Nossa vida tem que continuar, os empregos devem ser mantidos, o sustento das famílias deve ser preservado, devemos, sim, voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades, estaduais e municipais, devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes e o fechamento de comércio e o confinamento em massa", infelizmente este é a visão da maior autoridade deste país. Só um infectado pelo vírus da intolerância reagiria assim. 
Infelizmente, à semelhança entre algumas doenças e os enfermos das duas pandemias, eles não tem consciência do mal que carrega em si e que eles mesmo dissemina com suas práticas e discursos cotidianos. Há doentes que sequer têm consciência da doença e há países que não tem noção das pandemias que estão enfrentando. 

terça-feira, 14 de abril de 2020

ARTIGO - “Os santos da porta ao lado” (Padre Carlos)




“Os santos da porta ao lado” 



Foi preciso que algo acontecesse para que tomássemos consciência que alguma coisa estava errado. Andávamos apressados, distraídos, adormecidos. Assim, foi precisa uma quarentena para entendermos que é tempo de ir ao essencial. Neste drama, sempre presente, mas agora de forma brutal e de intensa dor, qual o nosso papel e que papel queremos desempenhar? A Igreja, concretamente, terá um papel fundamental para orientar seus fiéis, porque ela tem de saber que o centro não é de modo nenhum o poder, rituais imperiais, mitras e barretes cardinalícios, mas apenas o serviço a favor de todos. Muitos perguntam agora: Onde está Deus? Jesus respondeu que no Juízo Final não nos será perguntado pelo ritual, mas pelo amor, concretizado no que fizermos aos outros, principalmente aos desgraçados: "Tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber, estava nu (nu de vestido, de honra, de dignidade...) e vestiste-me, estava no hospital, na cadeia, e foste visitar-me". Perguntaremos: "Quando te fizemos (ou não fizemos) isso, Senhor?". "Sempre que o fizeste a um destes meus irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizeste". Ele, ela, sou eu. 
Muitos perguntarão: onde está Deus hoje, no meio desta catástrofe? Está nos hospitais, nos lares, nas casas, nas empresas..., em todos os crucificados e naqueles e naquelas que, mesmo no meio de perigos e até correndo o risco de morte, procuram por todos os meios curar, dar alento, aliviar a dor, dar esperança, brincar com as crianças, animar e alegrar os outros com um telefonema, com música, consolar os tristes e mais idosos, fazendo o país funcionar de forma mínima. Esses são "os santos da porta ao lado", como disse o Papa Francisco. 
Não podemos esquecer que a morte é sempre paradoxal: por mais que fiquemos escandalizados, ela é biologicamente natural, faz parte da vida, mas, por outro lado, apresenta-se como o maior enigma e mistério. Porquê? Porque o ser humano não se reduz a biologia. Por isso, na longa história da evolução, sabemos que há pessoa humana, surge quando a consciência da morte e rituais funerários se torna essências na sua existência. Aí, sabemos que já não estamos perante algo, mas alguém. E a morte angustia-nos, porque é o confronto com a ameaça do nada. "Para onde é que eu irei, quando já não estiver aqui?": pergunta de forma dolorosa Tolstoi. 
  Se a morte é um evento desolador, o que me diz de uma morte na solidão no abandono, excluído de todos aqueles que amamos. “Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste?” Como não falar daquela cena na Itália, ou em New York City das marchas fúnebres que poderá repetir-se aqui no Brasil se não tomarmos consciência a tempo. Para onde se encaminhava a marcha? E a pergunta volta, mais intensa, densa e dramática, para não dizer trágica: para onde vão os mortos? Para eternidade do nada o para eternidade de Deus. 
Voltando ao outro crucificado, Jesus morreu na cruz. Mas, se ele fosse apenas o crucificado, não passaria de um homem bom que quis revolucionar a imagem de Deus e do Homem, mas não passaria de mais um crucificado e não haveria cristianismo. "Eu sou a Ressurreição e a Vida": foi por causa desta proclamação que o cristianismo venceu e o verdadeiro motivo desta vitória é a mensagem de Jesus, o Reino de Deus, que entrou em conflito com o Templo, que compareceu perante Pilatos e que foi executado. Mas também sabemos que, "depois da sua morte, seguidores fizeram a experiência do que descreveram como "ressurreição": aquele que tinha morrido realmente apareceu como "pessoa viva, mas transformada". Acreditaram nisso, viveram-no e morreram por isso." Assim, criaram um movimento, que cresceu e se estendeu pelo mundo e mudou a História. Grande parte da Humanidade foi atingida por esse movimento e pela esperança que transporta para Vida eterna. 

segunda-feira, 13 de abril de 2020

ARTIGO - Criar dificuldades para vender facilidades. (Padre Carlos)



Criar dificuldades para vender facilidades.  


A norma dos maus administradores, dos maus políticos, dos maus gestores públicos e daqueles a quem sequer de longe podemos chamar de exemplo de uma grande liderança é esta: Criar dificuldades para vender facilidades. Será que hoje ainda existem pessoas que criam dificuldades para vender o “seu peixe”? Com certeza sim. Mas não são estes que fazem sucesso. Estes são os medíocres que sobrevivem na esteira do sucesso dos outros. São estes que reclamam o tempo todo da antiga administração e só olham para o passado com o único intuito de esconder sua incompetência. 
Mas o que me chamou a atenção para ligar os fatos sobre o conceito de criar dificuldades, foi o áudio atribuído a secretária de Governo, Geanne Oliveira, que  foi veiculado nas redes sociais  em que ela diz que os servidores com contratos temporários da Secretaria Municipal de Educação (SMED) seriam dispensados, em razão da crise econômica que passa o município  provocada pela pandemia que se alastra pelo país. Assim, segundo o áudio, a Prefeitura pretende fazer um corte nos quase 2.200 contratos que a administração municipal vem estabelecendo, para sobrarem recursos a serem aplicados no enfrentamento da crise provocada pelo novo coronavírus 
Para os leigos em comunicação de massa, não passou de uma fatalidade o áudio vir a público, mas na verdade, a possibilidade do corte dos referidos contratos, supostamente admitida pela secretária em um primeiro momento e posteriormente abandonada pelo prefeito, ao menos por enquanto, é mais um episódio que denota uma estratégia política e de comunicação do governo municipal. O enredo é sempre o mesmo: o assunto vaza ou é colocado abertamente pelo governo e, diante das reações públicas, é enterrado. Além de acalmar as reações de seu eleitorado e testar seus limites, o prefeito ou seus aliados ainda aproveitam para tentar colocar na conta da crise eventual cortes de gratificação e eventual desfecho sobre uma possível medida provisória sobre redução de salário. Desta forma, tenta desfazer todo mal-estar inicialmente criado pela sua subordinada. 
Não foi a primeira vez que o governo municipal usa esta estratégia, quando manteve por duas semanas a suspensão temporária de uma parte do comércio. Porém, ao sofrer uma forte pressão dos seus aliados que até a semana passada divulgava na imprensa sua posição: "em  mensagem ao Prefeito, a CDL sugere a reabertura imediata do Comércio Varejista e Atacadista em Vitória da Conquista", no domingo Herzem assinou decreto autorizando o funcionamento das lojas de rua. Diante dos protestos do Conselho Municipal de Saúde, da Câmara de Vereadores e da população e um desgaste político de grande proporção, além do mal-estar provocado por este decreto que causou uma comoção em toda a comunidade, o prefeito em  menos de 24 horas depois da decisão de autorizar o funcionamento das lojas, revogou o decreto e determinou o fechamento do comércio. 
O prefeito, além de ser um admirador do Presidente Bolsonaro, tentou copiar suas ações em relação a crise instalada pelo  coronaviros. Acredito que Herzem pensou que seria como a quatro anos atrás, quando surfou na onda do antipetismo em 2016, assim da mesma forma que este comportamento abalou a confiança do presidente diante da população, também  atingiu a popularidade do prefeito que já não era boa mas dava sinais que poderia reverter o quadro.  
Sobre o esquema de criar dificuldades para vender soluções, acredito que estamos nos tornando expert em criar certas situações para tirar proveito próprio. Desta forma, cria-se um fato político para ficar em evidência.  

domingo, 12 de abril de 2020

ARTIGO - Dória vai prender quem violar regras (Padre Carlos)





Dória vai prender quem violar regras




Nestes últimos dias, certas decisões tomadas por alguns governadores, tem chamado minha atenção para a legalidade destas medidas e até onde vai o   estado de emergência dentro do estado de direito. Ora, se não restam dúvidas que as medidas de confinamento são essenciais para a Saúde, também não podemos esquecer que os direitos e garantias individuais são normas consagradas pela Constituição para efetivar e promover a dignidade da pessoa humana. Diante disto, me surpreendeu a fala do Governador de São Paulo ao dizer: “Se não houver consciência das pessoas, seja na região de São Paulo ou qualquer outra região neste fim de semana, nós estamos monitorando isso pelos celulares. A partir de segunda-feira (13), o governo de São Paulo tomará medidas mais rigorosas, com a penalização de prisão para as pessoas que desobedecerem a essa recomendação. Eu espero que a gente não chegue a esse patamar, mas se chegarmos, vamos fazer isso em defesa da vida”. 
Gostaria de aproveitar este espaço para dizer ao Senhor Governador, que não se rasga a Constituição, em defesa da vida. Não se declara um Estado de exceção, com monitoramento das pessoas e prisões sumárias, em defesa da vida. Sendo assim, chamamos a atenção do leitor para o fato que os mecanismos utilizados para reprodução de autoritarismo em democracias estão diretamente relacionados aos modos de socialização dos indivíduos. 
Sempre haverá quem queira entender o estado de emergência, com a retirada de direitos constitucionais a um pretexto qualquer. Estas manobras tem como objetivo manter alguns dos poderes que o estado de emergência supostamente lhe concedeu. É desta forma que vemos o monitoramento do governo feito com dados de operadores telefônicas uma forte violação aos direitos individual do cidadão, além de fortalecer toda uma cadeia autoritária de comando. 
No Rio de Janeiro, duas mulheres foram presas por estarem andando no calçadão de Niterói e na Bahia, a polícia cria situação de constrangimento a população de uma comunidade rural. Depois de algum tempo as pessoas acostumam à nova situação e vão cedendo ao autoritarismo do Estado. 
    O medo leva as pessoas a ceder. Foi justamente neste momento de fraqueza que esquecermos deste perigo e abrimos as portas ao autoritarismo do Estado. Não faz muito tempo vimos este filme aqui no Brasil, da mesma forma quando passamos a viver amedrontado pelo crime e pela violência. O resultado mais emblemático desta pandemia pode ser traduzido, pelo perigo real de ser contaminado pelo vírus e em nome deste medo justificamos todo autoritarismo.   O que os brasileiros não perceberam ainda é que o autoritarismo é uma fonte de empobrecimento e, nos piores casos, pode ser tão ou mais mortal do que um vírus. Depois de vencermos este vírus, mesmo cansados teremos outra luta importante: vencer o autoritarismo. Eu espero que as forças democráticas estejam unidas para que possamos combater esse vírus da mesma forma que combatemos este: com distanciamento social em relação a todos os oportunistas autoritários. Este vírus levará muitas vidas, mas é importante que quando for derrotado não sirva também para que nos levem a liberdade. 
  



ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...