Quando a gente pensa que já viu de tudo nesta vida, aparece um doido transvestido de pastor e passa a pregar que todas as coisas que estão acontecendo é da vontade de Deus, ou “isso é uma vingança da natureza sobre os seres humanos”, apesar de que em certos momentos parece mesmo ser isso, temos que ser objetivo e maduro o suficiente para saber que nada acontece ao acaso. Não quero aqui tratar da casualidade do vírus, nem da intervenção divina na crise. Quando foi revelado o perfil da primeira vítima fatal do covid 19 no Brasil passei a entender que se tratava de uma tragédia anunciada e apesar de não ter participação nenhuma pela circulação mundial do vírus, o coronavírus tinha um público especifico os pobres: uma doença introduzida por ricos no país — que viajaram para o exterior – mas que matará, sobretudo, os mais pobres. Manoel Messias Freitas Filho, de 62 anos, era porteiro aposentado, o que podemos concluir que se tratava de uma pessoa de vida modesta.
A idade avançada e os problemas de saúde de uma empregada doméstica de 63 anos não a impediam de sair de sua casa humilde em Miguel Pereira, na região de Vassouras, até o apartamento onde trabalhava no Leblon, bairro da zona sul do Rio que tem o metro quadrado mais valorizado do país. Ali dona Mariana Simões trabalhou como empregada doméstica por mais de dez anos até meados de março, quando apresentou os primeiros sintomas do coronavírus e morreu no dia seguinte. A patroa voltara de viagem recentemente da Itália, país que naquela altura já registrava o maior número de mortes pela doença e aguardava o resultado do exame quando a empregada chegou ao trabalho naquele domingo. Desta forma, estávamos presenciando o deslocamento do vírus do calçadão para os morros e a baixada fluminense ou poderíamos dizer que ele se deslocava do bairro jardins para Brasilândia.
Isto não quer dizer que não esteja morrendo ricos no Brasil por conta do coronavírus. Morreram e morrerão, mas os meios de que dispõem para enfrentar a doença são infinitamente melhores, a começar pelo próprio estilo de vida. Com pouca informação, vivendo em ambientes superlotados e sem condições de seguir recomendações como comprar álcool em gel, estocar comida ou trabalhar de casa, os moradores das favelas estão sendo as principais vítimas do novo coronavírus no Brasil.
O que gostaríamos aqui de afirmar é que o vírus que chegou ao Brasil por alguém que viajou à Ásia ou à Europa vai matar muito mais gente com o perfil de dona Mariana e seu Manuel, devido a saúde fragilizada por falta de cuidado adequado, que é decorrente de falta de condições financeiras ou de qualidade de vida mais precária.
Apesar do vírus infectar todas as classes socias, constatamos uma preferência devidos as condições sanitárias e a situação de vulnerabilidade que a pobreza traz.
Que o nosso Deus possa proteger a todos e ser misericordioso com os mais pobres desta nação.