terça-feira, 5 de maio de 2020

ARTIGO - O coronavírus e os pobres (Padre Carlos)


coronavírus e os pobres



Quando a gente pensa que já viu de tudo nesta vida, aparece um doido transvestido de pastor e passa a pregar que todas as coisas que estão acontecendo é da vontade de Deus, ou “isso é uma vingança da natureza sobre os seres humanos”, apesar de que em certos momentos parece mesmo ser isso, temos que ser objetivo e maduro o suficiente para saber que nada acontece ao acaso. Não quero aqui tratar da casualidade do vírus, nem da intervenção divina na crise.    Quando foi revelado o perfil da primeira vítima fatal do covid 19 no Brasil passei a entender que se tratava de uma tragédia anunciada e apesar de não ter participação nenhuma pela circulação mundial do vírus, o coronavírus tinha um público especifico os pobres: uma doença introduzida por ricos no país — que viajaram para o exterior – mas que matará, sobretudo, os mais pobres. Manoel Messias Freitas Filho, de 62 anos, era porteiro aposentado, o que podemos concluir que se tratava de uma pessoa de vida modesta.  
A idade avançada e os problemas de saúde de uma empregada doméstica de 63 anos não a impediam de sair de sua casa humilde em Miguel Pereira, na região de Vassouras, até o apartamento onde trabalhava no Leblon, bairro da zona sul do Rio que tem o metro quadrado mais valorizado do país. Ali dona Mariana Simões trabalhou como empregada doméstica por mais de dez anos até meados de março, quando apresentou os primeiros sintomas do coronavírus e morreu no dia seguinte. A patroa voltara de viagem recentemente da Itália, país que naquela altura já registrava o maior número de mortes pela doença e aguardava o resultado do exame quando a empregada chegou ao trabalho naquele domingo.  Desta forma, estávamos presenciando o deslocamento do vírus do calçadão para os morros e a baixada fluminense ou poderíamos dizer que ele se deslocava do bairro jardins para Brasilândia.  
Isto não quer dizer que não esteja morrendo ricos no Brasil por conta do coronavírus. Morreram e morrerão, mas os meios de que dispõem para enfrentar a doença são infinitamente melhores, a começar pelo próprio estilo de vida. Com pouca informação, vivendo em ambientes superlotados e sem condições de seguir recomendações como comprar álcool em gel, estocar comida ou trabalhar de casa, os moradores das favelas estão sendo as principais vítimas do novo coronavírus no Brasil.  
O que gostaríamos aqui de afirmar é que o vírus que chegou ao Brasil por alguém que viajou à Ásia ou à Europa vai matar muito mais gente com o perfil de dona Mariana e seu Manuel, devido a saúde fragilizada por falta de cuidado adequado, que é decorrente de falta de condições financeiras ou de qualidade de vida mais precária. 
Apesar do vírus infectar todas as classes socias, constatamos uma preferência devidos as condições sanitárias e a situação de vulnerabilidade que a pobreza traz. 
Que o nosso Deus possa proteger a todos e ser misericordioso com os mais pobres desta nação. 
  
  

domingo, 3 de maio de 2020

ARTIGO - Fomos todos agredidos (Padre Carlos)

Fomos todos agredidos



Desde a eclosão da crise pandémica, que vem nos afetando, os profissionais de saúde têm desempenhado uma missão fundamental na linha de frente do combate a um inimigo invisível e traiçoeiro que nos ataca, avançando em todas as direções sem distinção de classe social raça ou credo. Neste momento os profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, auxiliares e demais pessoal de apoio hospitalar, têm mantido uma postura, altruísta, empenhada e de inabalável dedicação. Na Europa, a população de vários países presta homenagem a esta classe de trabalhadores. Os esquadrões aéreos dos EUA, Thunderbirds e Blue Angels, sobrevoaram Nova Iorque, Nova Jérsia e Filadélfia em homenagem aos profissionais de saúde que atuam na linha da frente contra o novo coronavírus. 
Neste contexto e em sinal de reconhecimento, o mundo inteiro homenageia seus profissionais desta área, lembrando o quanto esta ação tem salvado vidas e agradecendo a estes anjos que colocam suas vidas e dos seus familiares em uma situação de risco, que escrevo estes texto, para que possamos não só agradecer seus esforços, mas para pedir desculpas por termos deixado o país chegar a este ponto. 
Causou-me uma profunda tristeza ao assistir através dos noticiários os profissionais de saúde sendo agredidos (as) pelos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Os enfermeiros carregavam cruzes em homenagem a colegas que morreram na linha de frente do combate à Covid-19 e faziam protesto silencioso quando um grupo de bolsonaristas se aproximou e começou a gritar com eles. “Vocês querem passagem para Venezuela e para Cuba? (…) Quando a gente sente o cheiro da pessoa, não passa um perfume, a gente entende o que você é”, gritou uma militante pró-Bolsonaro. 
           Sem uma escala de valores que oriente a nossa vida e o nosso procedimento moral, não podemos ser felizes e não podemos criar um mundo feliz. Não podemos, por exemplo, tratar os nossos superiores como “Mito", e os nossos subordinados com desprezo. Quando Bolsonaro afirmou que não tem nenhuma ligação com a milícia do Rio de Janeiro e ao mesmo tempo condecora o miliciano Adriano da Nóbrega com a medalha Tiradentes, ele busca criar a figura do herói sem caráter. 
Neste momento pensei como estamos em descompasso com a civilização, será que Mário de Andrade tinha razão?  Somos verdadeiramente um país de Macunaímas (o herói sem caráter, lembram?), pois ao aceitarmos passivamente esse estado de coisas erradas que aqui acontecem somos, pelo menos, coniventes. 


sábado, 2 de maio de 2020

ARTIGO - Água mole em pedra dura tanto bate até que fura ( Padre Carlos )


Nada substitui a persistência, por isto o título deste artigo cabe bem com a determinação que o vereador professor Cori, vem travando com os poderes públicos para que aceite as denúncias sobre os contratos emergências que a prefeitura realizou ao longo dos últimos meses com algumas empresas, sem qualquer critério licitatório 

Durante várias tentativas de chamar atenção ao MP na nossa cidade sobre a grave questão do transporte público e sem que com isto sensibilizasse  as autoridades local, foi necessário protocolar junto ao  Ministério Público Estadual e no Ministério Público do Trabalho sobre irregularidades que estariam sendo cometidas pelas empresas que estavam operando na nossa cidade.  
O trabalho do vereador começa a surtir efeito, nesta semana o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), através da 8ª Promotoria de Justiça de Vitória da Conquista, instaurou um inquérito civil para investigar os contratos administrativos firmados pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista com as empresas de transporte público Viação Novo Horizonte e Viação Rosa. 
Entre os problemas apontados está a retenção de documentos de funcionários há meses e o não recolhimento de FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Cori frisou que a Viação Rosa tem contrato com a prefeitura de mais de R$ 2 milhões. Os contratos atuais evocam um edital de transporte de 2011. Para Cori, o caminho é fazer uma licitação para o transporte público, obedecendo todos os critérios legais.  
O Transporte Coletivo Urbano antes desta pandemia provocada pelo coronavírus, era o grande problema que esta gestão enfrentava. Seja com o Transporte Irregular, através de vans e carros de passeio, e também com a única empresa oficial: Cidade Verde Transporte Rodoviário. A Viação Rosa e a Viação Novo Horizonte, são as empresas cujo os contratos chamaram a atenção do Ministério Público, por ter   caráter de emergência, sem necessidade de licitações públicas.  Todas essas possíveis irregularidades está agora sendo alvo de um Inquérito Civil movido pela Procuradoria de Justiça de Vitória da Conquista. Segundo o documento publicado nesta quarta-feira (29), no Diário da Justiça do Estado da Bahia os interessados são a “Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista; Viação Novo Horizonte, Viação Rosa e a Sociedade.  
Parabenizamos o vereador professor Cori, pela iniciativa destas denuncias e por não ter desistido de levar esta luta com determinação até as últimas consequências. Foi a insistência deste parlamentar, que proporcionou a iniciativa do Ministério Público investigar a Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista quanto aos contratos administrativos firmados com as empresas de transporte público Viação Novo Horizonte e Viação Rosa, nos termos da legislação aplicável. Se for comprovado estas irregularidades que as autoridades locais estão investigando, pode resultar em um crime de improbidade Administrativa, o que resultaria na perda do mandato, suspensão de direitos políticos acarretando, por via de consequência, a impossibilidade de exercício de cargo público.  

sexta-feira, 1 de maio de 2020

ARTIGO - O que é mesmo ser católico? (Padre Carlos)



O que é mesmo ser católico?



Quando exercia o ministério sacerdotal, fui chamado no meio da noite para administrar o sacramento da Reconciliação a uma pessoa que se encontrava muito enferma. Segundo a agente de saúde, se tratava de um antigo sindicalista que trabalhou muitos anos na indústria têxtil em Contagem.  Apesar do avanço da doença, o pobre homem ainda estava lúcido e ao sentir a minha presença, começou a falar sobre sua militância e a falta de fé que o acompanhou a vida toda. Para ele as rezas eram para as mulheres e sua esposa enquanto estava viva, rezava para os dois. Não era um homem sem formação, tinha um conhecimento extraordinário e uma visão de mundo interessante. Falei-lhe da misericórdia de Deus e ele perguntou: o que faço para conseguir esta misericórdia? Eu disse: um fator decisivo para a obtenção da misericórdia Divina é a confiança. 

   Perguntei se ele queria se confessar e ele respondeu com outra pergunta: Padre o que é ser católico? Fiquei comovido diante das dúvidas e do medo daquele homem de partir sem conhecer verdadeiramente a Deus. Olhei-o nos olhos e disse:  ser católico é ter a consciência da necessidade de transmissão de uma herança cultural muito antiga que está consignada a uma ética e uma estética muito próprias. Em termos éticos, assenta sobretudo na transmissão dos valores do cristianismo, algo que penso estar assegurado, embora, por vezes, se pudesse fazer mais com certeza faria. Do ponto de vista estético temos a beleza das igrejas, das liturgias das celebrações este é um património que não só faz sonhar como é uma viagem no tempo. A credibilidade desta fé passa pela solidariedade, pela opção pelos mais pobres, [pelas] intervenções em contexto de guerra e de extrema pobreza e na luta pelos direitos humanos onde eles são desrespeitados. 
Mas, para ser católico, é preciso antes de tudo ser sensível à questão das injustiças socias, às desigualdades gritantes, crítico das relações internacionais que assentam sobre interesses e não sobre os direitos das pessoas. 
É essencial que lutemos contra as estruturas das raízes da pobreza. No entanto, faz parte da fé cristã valorizar os pobres como pessoas e revelar a presença divina nelas. A Igreja deve se revelar próxima e solidária a todas as vítimas da pobreza injusta. Trata-se de uma presença que favoreça e apoie o protagonismo das comunidades e organizações nas quais os pobres lutam por seus direitos e pelo reconhecimento de sua dignidade humana. 
Atualmente, quanto mais a sociedade vive em crise social e econômica, mais os ricos aumentam os seus lucros. Geram-se novas escravidões. Cada vez mais, aumenta o número de pessoas que sobrevivem nos lixões da sociedade. Por todo o mundo se multiplicam as vítimas do tráfico e das drogas. 
Depois de tudo que eu falei, ele me olhou e disse: minha vida foi tudo isto que o senhor falou. Então Deus estava lá o tempo todo e eu não conseguia enxergar. Me pediu a absolvição e recebeu a comunhão. Me despedir daquele homem com a promessa que retornaria no final de semana. Na manhã seguinte, a agente da pastoral esteve na casa que eu estava hospedado em Belo Horizonte e me falou que ele partiu naquela mesma noite. 




quinta-feira, 30 de abril de 2020

ARTIGO - Quem planta irresponsabilidade colhe sofrimento (Padre Carlos)



Quem planta irresponsabilidade colhe sofrimento



Manaus é hoje uma realidade que não podemos ignorar. O triste cenário que terrivelmente ocupa a capital amazonense, com mortos e mais mortos empilhados sem perspectivas de sepultamentos com dignidade é fruto da ganancia e da falta de um planejamento e políticas públicas para que evitasse esta tragédia.  A vida transformou-se de uma hora pra outra em algo banal, sem valor e sem cuidados, tamanho o colapso da rede hospitalar privada e do sistema  público. 
A expectativa é de crescimento dos óbitos pela Covid-19 que se associam a outros não identificados, mas todos arrolados como provindos da mesma origem. Com ou sem identificação, todos são encaminhados a uma vala comum, entulhados como lixo.  
Esta realidade não é exclusiva do estado da Amazônia ela se encontra em todo o território nacional. Só nas últimas 24 horas, o Brasil registrou 435 novas mortes e 7.218 novos casos confirmados de coronavírus, segundo boletim do Ministério da Saúde. É o maior número de novos casos em um dia -o recorde anterior era do dia anterior, 6.276. Agora, o país tem ao todo 5.901 óbitos e 85.380 casos. 
Diante dos fatos apresentados, gataríamos de chamar a atenção das autoridades locais para a falta de fiscalizações nas agencias bancarias e nas casas lotéricas em decorrência do pagamento do auxilio emergencial. Acredito que a Caixa Econômica e as loterias deveriam assumir um compromisso social e só atender ao público dentro de parâmetros sanitários. Esta aglomeração pode causar um surto do vírus na nossa cidade e todo o esforço que estamos fazendo com a quarentena está sendo desconstruído diante das grandes aglomerações que estão sendo formado nestes lugares. 
Segundo estudo de uma consultoria: “A situação crítica de Vitória da Conquista, que até o momento possui 31 casos positivos para a Covid-19, com três evolução para óbitos (pouco mais de 10% do total) preocupa os responsáveis pelo estudo justamente por conta da estrutura do sistema de saúde e dos indicadores econômicos.” 
  Os conquistenses ainda não entenderam o medo do contágio, ainda não passaram por situações de impotência das pessoas nas ações de socorro, por isto não tem respeitado as medidas protetivas determinadas pelas autoridades.  
O pico da pandemia ainda não foi alcançado. As autoridades não sabem precisar. Por isto, acredito que não seja a hora de flexibilizar o decreto; pelo contrário é hora de fiscalizar se as medidas estão realmente sendo cumpridas. As pessoas estão perdidas. Não se está mais morrendo de Covid 19, mas também de solidão. Toda dor necessita ser mitigada. Só temos um caminho até então, a misericórdia divina. Através dela haveremos de vencer esta pandemia, antes que ela se transforme num pandemônio. 



ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...