Precisamos de uma missão
Uma
das coisas que mais chamava a minha atenção como teólogo e filósofo quando
exercia o ministério sacerdotal, era a preocupação que boa parte dos meus
antigos paroquianos começavam a ter sobre a velha questão do sentido da vida;
da falta de fé e o medo da morte. Estas reflexões levavam a certeza da nossa
finitude e que nossas vidas precisavam ter um proposito, um sentido e mesmo se
tratando de uma comunidade rural, começavam a ter consciência que era
necessário dar um sentido, uma resposta a sua existência. Quando a nossa fé nos interroga,
devemos responder as estas questões não com o intelecto, com certeza teológica,
mas com simplicidade e leveza da alma, na certeza que somos responsáveis por
nossas vidas, como disse Santo Agostinho: temos livre arbítrio para escolher ou
como disse Sartre: o homem está condenado a ser livre, mas, é também responsável
por tudo que fizer. Desta forma, o homem se projeta para o mundo, sabendo das consequências
que esta liberdade acarreta em suas existências.
São
estas reflexões que nos levam a certeza da nossa finitude mas, não de uma
finitude qualquer, ela nos leva a busca de uma causa que represente o nosso
sagrado, ou o nosso código de ética para que realmente tenha condições de representar
algo que dê sentido à nossa existência e não um ser que simplesmente encerre a
vida. A certeza da nossa finitude, abre a discussão e põe o grande enigma em
evidência: a morte, esta é assunto inevitável em uma abordagem, seja de caráter
filosófico ou teológico. É preciso entendermos nossa vida é preciso dar sentido
a nossa existência, ela carece de utopia já que a morte é inevitável.
Quando perdemos alguém especial,
terminamos despedindo de uma parte de nós mesmo e temos que apreender a conviver com
a saudade e as lembranças que ficaram, isto tudo é muito doloroso. Mas
não podemos esquecer que a morte também tem sua dimensão pedagógica,
ela existe para lembrarmos que morreremos um dia e por esta razão, não podemos ficar adiando nossas
ações até o infinito. Se fossemos imortais, nunca teríamos a necessidade realizá-las logo. Assim, a finitude, a temporalidade, não é apenas uma
nota essencial da vida humana, ela é também constitutiva do seu sentido e está
fundada em seu caráter irreversível. Daí, que só se pode entender a
responsabilidade que o homem tem pela vida quando a referimos à temporalidade,
à vida que só vive uma única vez. Como bem disse o poeta Vinicius: “ Feito essa
gente que anda por aí brincando com a vida. A vida é pra valer. E não se engane
não, tem uma só. Duas mesmo que é bom. Ninguém vai me dizer que tem. ”
Nesta caminhada do meu presbitério, constatei que
muitos fiéis após a perda de um ente querido, ficavam inseguros e sem saber se a sua vida ainda
tinha algum sentido. O que importa numa situação como esta, é acreditar na sua capacidade
de continuar vivendo, sabendo inclusive que parte do sentido da vida está,
precisamente, em superar interiormente a infelicidade, em crescer com ela. Nada há de mais
apropriado para vencer ou superar suas dificuldades
do que ter a consciência de que tem uma missão a cumprir na vida.
Neste sentido, penso que minha
missão é antes de tudo, está comprometido com a luta por Justiça no mundo,
jamais me imaginei de mãos dadas com os fariseus – mesmo porque, bom que se
diga, foram os que detinham e detém o poder político, econômico e religioso que
mataram Jesus e hoje, em nossos dias, defendem em seu projeto de sociedade
questões conservadoras que aprofundam mais e mais a pobreza e a injustiça.