São Pedro da minha geração
Esta semana celebramos o dia de São Pedro e olhando a caminhada da
Igreja, sentir falta de uma utopia e um jeito de ser comunidade de e fé, assim,
passei a lembrar de outro Pedro. Pensei
em certo Pedro, catalão, um missionário claretiano que em 1968, com quarenta
anos, veio para o Brasil. Aqui, viveu e exerceu seu ministério na defesa dos
mais pobres, dos índios, dos explorados pelos latifundiários, dos sem-terra, ao
longo de 52 anos. Este irmão foi referência para mim e para os companheiros que
abraçavam o ministério sacerdotal nas décadas de setenta e oitenta do século
passado.
Como
bispo, sempre escolheu o lado dos mais pobres. Até as suas insígnias episcopais
tinha este sinal: em vez da mitra, ornamento que os bispos usam na cabeça,
aparecia com um chapéu de palha; como báculo utilizava um cajado indígena; e não
tinha anel de ouro ou prata, mas um de tucum, feito de uma semente de uma
palmeira da Amazônia.
Viveu
até aos 92 anos, mas, por diversas vezes, foi ameaçado de morte. Ainda em 2012,
foi retirado pela polícia para um lugar secreto para evitar que fosse assassinado.
Como impõem as normas da Igreja, já tinha renunciado ao seu cargo em 2005. Mas
como bispo emérito continuou a sua luta até a morte - e até depois dela.
Deixou
instruções para ser sepultado num cemitério abandonado nas margens do rio
Araguaia, da sua diocese, onde eram sepultados os que não tinham terra nem para
serem enterrados. Pediu que o seu túmulo não tivesse qualquer ornamento, apenas
terra e uma cruz. Como epitáfio deixou o refrão de um poema, o seu último grito
em defesa dos mais pobres: "Para descansar eu quero só esta cruz de pau
com chuva e sol, estes sete palmos e a Ressurreição!".