O bolsonarismo se alastrou sob as tropas
Nunca
foi tão certo o ditado popular que diz: “Brasileiro só fecha a porta depois de
roubado.” Ou ainda: nada como uma crise para a gente cair na real. Isso vale,
hoje, para problemas antigos, como a questão da influencia do bolsonarismo nas
Polícias Militares. Uma coisa é certa, o bolsonarismo já é algo que faz parte
da PM, e o que pode ser feito neste momento é buscar uma redução dos danos.
Já
faz alguns anos que a direita bolsonarista vem investindo na formação de
quadros e ocupando um espaço de influencia no imaginário das Polícias
Militares. Hoje o risco de uma guinada bolsonarista nesta corporação é grande.
Por isto, este foi um dos temas discutidos durante o Fórum dos Governadores,
realizado na semana passado em Brasília. A preocupação destes gestores tem sido
os crescentes movimentos pró-Jair Bolsonaro dentro das PMs, com o objetivo de
construir um caminho para se insurgir contra os governadores e os prefeitos em
todo o Brasil. Não se trata de mera suspeita, este movimento é real e já está
sendo monitorado pelas inteligências da Polícia de alguns estados. Não foi por
acaso, que o governador Dório, determinou o afastamento de um coronel
bolsonarista, que comandava cerca de cinco mil pessoas. Este comandante estava convocando
"amigos" para atos de 7 de setembro favoráveis ao presidente.
Não
sou especialista em assuntos relacionados à segurança, mas como filosofo e
cientista político, tenho minhas dúvidas se só as punições administrativas
seriam capazes de tornar a corporação mais obediente, mas diante do caos que
está se formando, talvez neste momento possa reduzir os danos e criar uma
correlação de força e hierarquia. O certo é que a desarticulação desses grupos
tem que passar necessariamente pelo combate à impunidade. Não é
de hoje que Bolsonaro vem acenando aos policiais militares, com ações que
acabam criando um alinhamento.
Todos
estes problemas que tem surgidos nos últimos tempos tem haver com a falta de
uma reforma nas Polícias Militares, que deveria ter sido feita em 1988 com a
nova Constituição. Estamos vivendo esse momento agora, porque não passamos por
um processo de adequação, isto é, em um novo movimento democrático, por isto fica
cada vez mais latente a necessidade de mudar o paradigma. Para muitos, o
policial é um combatente a serviço da lei, quando, na verdade, o policial é um
servidor público a serviço do cidadão.
A
redemocratização chegou, mas os policiais continuaram os mesmos, a mudança da
polícia deve ser ideológica, ela deve ser
profunda e estrutural, com a criação de uma única polícia e também acompanhada
de uma mudança legislativa. A sociedade clama por uma reforma
profunda no sistema de segurança pública em âmbito nacional e é preciso
coragem e vontade política para fazê-la. A desarticulação desses grupos passa pelo
combate à impunidade e não tomando uma posição mais severa para não contrariar
a tropa, só aumentará os problemas na caserna. Assim, gostaria de deixar claro,
que não é apenas o presidente que seria o responsável pelo caos dentro das polícias,
mas também seus filhos e seus parlamentares e apoiadores que angariaram votos à
custa de ações antiéticas
A
verdade é que o bolsonarismo se alastrou sob as tropas, ele usa de todos os instrumentos
para instalar o caos. Precisamos entender que as maiorias destes policiais são profissionais
dedicadas e precisam ser reconhecidos pelos estados como aliados e não como
adversários. Talvez por não for valorizado e por se sentir a margem das
decisões, se tornaram defensores do presidente, por encontrar um discurso vazio
e corporativo que não tem mais lugar no Estado
Democrático de Direito.
É preciso entender esta problemática como um
todo, antes de sair criminalizando estes homens, principalmente antes de
conhecer o lado honroso e cidadão destas pessoas
e o que aconteceu com estes policiais. Não basta só criticar as Polícias
Militares. Precisamos tirar as PMs desse buraco.