1 kg de ouro para educação
Quando recebi de um amigo de Salvador de
forma carinhosa e cômica um vídeo de Moreira da Silva fazendo alusão ao pastor
trambiqueiro do samba e o mais novo escândalo do governo Bolsonaro no
Ministério da Educação, me chamou a atenção para este problema que não só
teológico, mas que tem muito haver com uma antropologia e a nossa cultura.
Naquela hora, imaginei um mundo em que a teologia não fosse utilizada para ganhar
dinheiro e poder. Um cenário em que os pastores, padres e sacerdotes — que se
dizem enviados por Deus — não utilizassem a boa-fé dos cristãos e tementes a
Deus para enriquecer. Infelizmente este é um universo paralelo e fictício, muito
diferente daquele que encontramos na vida real.
Assim, ao ler a matéria do jornal
o Estado de S. Paulo, revelando suposto tráfico de influência para liberação de
verbas do Ministério da Educação para as prefeituras, fiquei triste ao constatar
que tinha como protagonista, um dos pastores que negociam transferências de
recursos federais para prefeituras. Segunda a matéria, o pastor pediu ao prefeito
de Luis Domingues (MA), Giberto Braga (PSDB), 1 kg de ouro para
conseguir liberar verbas de obras de educação para a cidade.
Estes operadores da fé são colocados em
posições estratégicas no governo e servem acima e tudo os interesses das
bancadas evangélicas que transformam a fé das suas ovelhas em bases eleitorais.
Ou seja, há um ciclo vicioso que traz mútuos ganhos para as empresas da fé e
para os governos, sejam de esquerda ou de direita.
De facto, as empresas da fé precisam tanto
de fiéis como os governos autoritários ou populares precisam de seguidores que
não questionem nem se interessa por política. Demonstrando, assim, que a fé dos
brasileiros tem servido, sobretudo, para encontrar um caminho para a salvação
eterna individual, sem provocar qualquer ato de transformação política,
remetendo muitos brasileiros para a condição de súdito de uma fé cega, ou de
não sujeitos.