terça-feira, 5 de abril de 2022

ARTIGO - A Esquerda Deixou de Ser Esquerda (Padre Carlos)

 


José Saramago e a esquerda brasileira

 


Nunca as palavras de José Saramago, tiveram tanto sentido. Ao estudarmos as correlações de força no Brasil podemos entender o que o pensador português queria dizer: “A direita nunca deixou de ser direita, mas a esquerda deixou de ser esquerda”. A explicação pode parecer simples de mais para nossa elite política e acadêmica, mas é a única que contempla todos os acontecimentos que desembocaram nesta frente que se formou entre o PT a direita e a esquerda brasileira.

Para serem palatável politicamente e não passar uma imagem de velho e ultrapassado, a esquerda busca mudar o nome dos partidos histórico e centenário para ser aceitos nos jogos do poder, quando não correm todos para o centro, abrindo mão de suas convicções. Só assim, eles podem compor com outros seguimentos da direita política e económica que sempre esteve presente sem precisarem se camuflar alegando uma política de centro. Vivemos um daqueles bailes de mascaras, ou então, de uma farsa carnavalesca, e desta forma, passa a surgir às caricaturas com as designações de centro-esquerda ou centro-direita. Como diz Saramago, Pá, assim como em Portugal, no Brasil também se vive esta realidade.

Quando a esquerda foi demonizada pela turma do Bolsonaro, MBL,  Olavo de Carvalho e outras, pudemos perceber que nem todos tiveram a capacidade de se manterem integro e na luta. De 2016 a 2020, pudemos constatar que para uma parte da população, a esquerda tinha virado tudo o que não prestava, seja lá o que for. Às vezes esquerda e comunismo e marxismo viravam uma coisa só no discurso repetitivo e feito para a repetição. Hoje apesar das coisas terem mudado e a população entenderem que foram manipuladas, não se viu até o momento uma mudança e defesa de projetos de esquerda que justifique a existência deste bloco.

O problema é que está muito difícil saber o que a esquerda é dentro deste contexto. E o que a esquerda propõe que seja claramente diferente da direita. E quando falo na direita, não me refiro ao bolsonarismo, mas a direita democrática. O PT não se corrompeu no poder, mas tem perdido ao longo da sua existência, o eixo ideológico da sua essência e abraçado um projeto social democrata como se fosse seu. E isto é um fato. Pode se discutir bastante se o PT é um partido de esquerda. Eu, pessoalmente, acho que foi de esquerda só até a Carta ao Povo Brasileiro, durante a campanha de 2002. Outros encontram marcos anteriores de rompimento com um ideário de esquerda.

O paradoxo da esquerda é não saber o seu papel na história e na política brasileira. Com exceção do ultimo pleito, ela costuma vencer as eleições no Brasil, mas não governa. Para seus dirigentes, nas democracias modernas, não há inconsistência entre uma coalizão de esquerda e o capitalismo. E desta forma, a história se repete quando na experiência brasileira a esquerda de fato vence as eleições, mas não governa.


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