José Saramago e a esquerda brasileira
Nunca as palavras de José Saramago, tiveram
tanto sentido. Ao estudarmos as correlações de força no Brasil podemos entender
o que o pensador português queria dizer: “A direita nunca deixou de ser
direita, mas a esquerda deixou de ser esquerda”. A explicação pode parecer
simples de mais para nossa elite política e acadêmica, mas é a única que contempla
todos os acontecimentos que desembocaram nesta frente que se formou entre o PT
a direita e a esquerda brasileira.
Para serem palatável politicamente e não
passar uma imagem de velho e ultrapassado, a esquerda busca mudar o nome dos
partidos histórico e centenário para ser aceitos nos jogos do poder, quando não
correm todos para o centro, abrindo mão de suas convicções. Só assim, eles
podem compor com outros seguimentos da direita política e económica que sempre
esteve presente sem precisarem se camuflar alegando uma política de centro.
Vivemos um daqueles bailes de mascaras, ou então, de uma farsa carnavalesca, e
desta forma, passa a surgir às caricaturas com as designações de
centro-esquerda ou centro-direita. Como diz Saramago, Pá, assim como em
Portugal, no Brasil também se vive esta realidade.
Quando a esquerda foi demonizada pela turma
do Bolsonaro, MBL, Olavo de
Carvalho e outras, pudemos perceber que nem todos tiveram a capacidade de se
manterem integro e na luta. De 2016 a 2020, pudemos constatar que para uma
parte da população, a esquerda tinha virado tudo o que não prestava, seja lá o
que for. Às vezes esquerda e comunismo e marxismo viravam uma coisa só no
discurso repetitivo e feito para a repetição. Hoje apesar das coisas terem
mudado e a população entenderem que foram manipuladas, não se viu até o momento
uma mudança e defesa de projetos de esquerda que justifique a existência deste
bloco.
O problema é que está muito difícil saber o
que a esquerda é dentro deste contexto. E o que a esquerda propõe que seja claramente
diferente da direita. E quando falo na direita, não me refiro ao bolsonarismo,
mas a direita democrática. O PT não se corrompeu no poder, mas tem perdido ao
longo da sua existência, o eixo ideológico da sua essência e abraçado um
projeto social democrata como se fosse seu. E isto é um fato. Pode se discutir
bastante se o PT é um partido de esquerda. Eu, pessoalmente, acho que foi de
esquerda só até a Carta ao Povo Brasileiro, durante a campanha de 2002. Outros
encontram marcos anteriores de rompimento com um ideário de esquerda.
O paradoxo da esquerda é não saber o seu
papel na história e na política brasileira. Com exceção do ultimo pleito, ela
costuma vencer as eleições no Brasil, mas não governa. Para seus dirigentes,
nas democracias modernas, não há inconsistência entre uma coalizão de esquerda
e o capitalismo. E desta forma, a história se repete quando na experiência
brasileira a esquerda de fato vence as eleições, mas não governa.
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