sexta-feira, 5 de agosto de 2022

ARTIGO - Há 85 anos, o Brasil perdia Noel Rosa (Padre Carlos)

 

O último desejo

 

 




Outro dia estava lendo um artigo sobre a forma como alguns países do primeiro mundo trata seus pacientes em estado terminal. Surpreendi-me quando tomei conhecimento que uma organização holandesa cumpre as vontades destes doentes e como estes gestos ajudam estas pessoas a se sentirem amadas no final de sua jornada. Uma visita à praia ou reencontrar amigos são alguns dos mais recorrentes, que são proporcionados a estas pessoas. Mas nosso objetivo aqui não é comentar os tratamentos para paciente terminal, queremos falar de Noel Rosa e seu ultimo sucesso que na verdade terminou se tornando seu ultimo desejo.

Apesar da década de 1930 surgirem avanços no combate à tuberculose com a invenção da vacina BCG, a baciloscopia, a abreugrafia, o pneumotórax e outras cirurgias torácicas, esta doença ainda matava muita gente principalmente os boêmios que tinham uma vida desregrada. .Assim, sentindo que estava preste a morrer, escreve estes versos como forma de despedida e buscando dá um toque de humor e humanizar esta situação que estava se formando.


“Em Ultimo Desejo,” deixa um “testamento de amor”. Esta
música foi composta meses antes de ele morrer, em 1936 (e ele provavelmente já sabia que morreria em breve por conta da tuberculose) e fala do romance dele com Ceci (Juracy Correia de Araújo - dançarina por quem era apaixonado).  

Nos versos desta canção, podemos constatar ao mesmo tempo um amor profundo e uma grande dor por está partindo. Acredito que a grande força da sua poesia e da sua melodia nesta obra (considerada por alguns como a sua obra prima), estava relacionada ao fato dele sentir que estava preste a morrer.

Em quatro de maio de 1937, há exatamente 85 anos, o Brasil perdia um de seus maiores gênios musicais: Noel de Medeiros Rosa. Ou apenas Noel Rosa

 

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

ARTIGO - A amizade é um bem escasso (Padre Carlos)

 

A importância da vida

 




Só numa situação difícil como está que enfrentei nestes últimos meses é que se aprende a importância da espiritualidade e da fé. Se não fossem meus companheiros e companheiras de caminhada que sinalizavam a todo instante que era preciso ter esperança, eu não sei o que seria de mim.

Por mais que tente explicar, só quem sentiu na pele todos estes problemas de saúde, sabe o que eu estou dizendo. Quando saiu o diagnostico, o médico falou com minha esposa que as chances eram mínimas de eu sair com vida da sala de cirurgia. Tudo isto trouxe para minha vida de uma hora para outra, uma tristeza, um vazio e uma revolta diante de tudo que estava acontecendo. 

Foi a minha família e os meus amigos que me ajudaram a superar todas as dificuldades e me fizeram acreditar que os milagres acontecem, ainda que devagar, e que a bondade e a misericórdia de Deus é infinita. A felicidade estava dentro de mim, lá onde eu poderia dormir em paz e sonhar. Onde os abraços acontecem mais fortes e demorados.

Aprendemos com esta nova conjuntura, que a coragem e determinação, a paciência e compreensão são dons do Espírito,  para enfrentar as aflições, os problemas e desafios naturais deste mundo. Não sabemos quantos anos Deus nos permite viver, mas o importante é viver intensamente com moderação em tudo, sendo prudente e sabendo discernir o bem do mal.

Por isto, entendo que apesar da amizade ser um bem escasso, o Bom Deus me presenteou com alguns tesouros que eu busco preservar. Foram eles que me fizeram acreditar que tinha de haver mais vida neste mundo para mim. E há.

terça-feira, 2 de agosto de 2022

ARTIO - Ajudar alguém a passar pela dificuldade é o ponto de partida para que haja civilização. (Padre Carlos)

 

Minhas prosas com o Irmão Michel.

 






Um amigo verdadeiro é para a vida toda! E para cultivar uma amizade duradoura, nada melhor do que agradecer aos meus amigos pelo companheirismo que eles tem me proporcionado neste momento. Confesso a vocês, que hoje me surpreendi com o carinho e a amizade que tenho recebido. Foi conversando com um deles que terminei viajando e me lembrei do tempo em que morei com os irmãos de Taize e das conversas com aqueles monges.

Muita gente não sabe, mas o irmão Michel era um grande antropólogo. Certa vez conversei com ele sobre os hebreus e como eles foram consumidores de trigo e da sua importância na cultura hebraica. Ele adorava conversar sobre estes assuntos e me falava com todo carinho sobre como essa planta fazia e ainda hoje faz parte de seus rituais sagrados ao lado do vinho, do azeite, do mel e do leite. Querendo mostrar que entendia do assunto, falei: mas para ser considerada civilização tem que ter os seguintes elementos anzóis, panela de barro ou pedras para amolar, não é? “ Não,” disse ele. “O que acreditamos ser o primeiro sinal de civilização numa cultura antiga é a prova de uma pessoa com um fêmur quebrado e curado.”

Aí sentamos em um banco do refeitório e ele começou a falar: “talvez você não saiba, mas no resto do reino animal, se você quebrar a perna, você morre. Você não pode fugir do perigo, ir para o rio beber água ou caçar para se alimentar. Você se torna carne fresca para predadores.”

“Nenhum animal sobrevive a uma perna quebrada o tempo suficiente para que o osso cure. Um fêmur quebrado que se curou é a prova de que alguém tirou o tempo para ficar com o que caiu, curou a lesão, colocou a pessoa em segurança e cuidou dele até que ele se recupere". E acrescentou: "ajudar alguém a passar pela dificuldade é o ponto de partida da civilização", explicou o monge. "A civilização é uma ajuda comunitária.”

O homem é um animal que não vive sozinho, pois todo ser humano, desde que nasce até o momento em que morre, precisa da companhia de outros seres humanos. Aristóteles escreveu que o homem é um animal político, pois é a própria natureza humana que exige a vida em sociedade.

Naquela hora tomei consciência que não falávamos mais de antropologia e se tratava de uma catequese. Ele me falou que primeiramente, temos que ter a consciência da dependência de Deus em nossa vida, do seu amor, dos seus cuidados e da sua misericórdia. Em segundo lugar, ter a humildade de reconhecermos e aceitar que precisamos das pessoas de boa índole em nosso viver. Nunca podemos nos achar auto-suficientes por mais elevada posição social e de poder aquisitivo que possamos ter.

 

 

domingo, 31 de julho de 2022

ARTIGO - Hoje é a festa de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus (Padre Carlos)

 

A importância da fé

 

 


A Igreja precisa de mais fieis que consigam dar testemunho da sua fé. Hoje ao celebrar o santo que embalou minha juventude com seus exercícios espirituais e a militância na Pastoral Operária, não poderia deixar de registrar como santo Inácio e a Companhia de Jesus influenciaram e moldaram no homem que me tornei. Eu começo este artigo, parafraseando um grande amigo: “Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, fazei com que a esperança venha nos lembrar que amanhã tudo poderá ser diferente se nós acreditarmos!”

Desta forma, celebrando esta data, me fez lembrar um fato que aconteceu alguns anos atrás e o testemunho de fé e como ela foi e é importante para vencer e conviver com os nossos problemas. Um time famoso estava para cair para terceira divisão e já tinha feito de tudo para reverter os resultados e não conseguia, a ultima tentativa foi mudar mais uma vez de técnico. Na coletiva de imprensa do início do seu primeiro jogo a frente daquela equipe, o novo treinador, surpreendeu os jornalistas ao ler um texto antes de responder às suas questões. Esse texto foi escrito devido a criticas ao time antes de entrarem em campo e desconfiar do seu sucesso é um erro que a imprensa e os torcedores cometem com esta equipe. Nessa altura, todavia, ele continuava a acreditar e por isto, escreveu o discurso da vitória.

Nas suas primeiras palavras agradeceu a Deus a vitória. Lembrou todos os que contribuíram para ela e as pessoas que lhe são mais próximas. Termina dedicando a vitória a Jesus Cristo e à sua Mãe e agradece por "ter sido contratado" e por lhe ter sido concedido "o dom da sabedoria, perseverança e humildade para guiar esta equipa e Ele a ter iluminado e guiado".

São frequentes muitos dos protagonistas do futebol terem gestos religiosos, como o sinal da cruz ao entrar em campo, e até agradecerem a Deus os seus sucessos. Contudo é muito raro ouvir destes atletas algum testemunho de fé com a clareza e a profundidade. As palavras deste treinador não foram de circunstância, diante de um resultado, ela surge de uma vivência interior profunda que soube transmitir com verdade. Não foi pelo que disse, nem pela forma, mas pela sua autenticidade que recolheu o respeito e a admiração dos que assistiam.

Ficou também bem patente a sua leitura de fé dos acontecimentos. Como homem de fé, acreditou que Deus lhe confiou à missão de conduzir aquele teme. Que não o abandonou, mesmo quando muitos dele desconfiavam. E, por isso, é com humildade que ele recolhe o sucesso e o converte num voto de tom jesuítico: "Espero e desejo que seja para glória do Seu nome." O lema proposto por S. Inácio de Loiola aos jesuítas é: "Ad maiorem Dei gloriam" (Para maior glória de Deus).

A Igreja Católica precisa de mais católico que consigam dar testemunho da sua fé, desta forma autêntica e esclarecida.

 

quarta-feira, 27 de julho de 2022

ARTIGO - Festa da Padroeira (Padre Carlos)

 

MÃE DOS CATÓLICOS CONQUISTENSE

 


Quando o inicio de agosto se aproxima é hora de reacender as chamas da vida. É hora de agradecer a Deus e pedir a intercessão da nossa Mãe junto ao Pai, por tudo que temos recebido e em especial. Pelo dom da vida.  

Por isto, só a sensibilidade do poeta quando declama seus versos, faz chegar aos fieis à expressão sensível da beleza ou da dor desta mulher, ganhando um significado nos mínimos detalhes buscando assim rimar com alegria e tristeza que gostaríamos de expressar. Foi assim que Gonzaguinha via na catingueira, não na flor, mas na mulher que vive na caatinga e que luta contra todas as diversidades para criar seus filhos a mensageira da esperança.

“Catingueira fulorou! Macambira se abriu! As donzelas se animaram! E a estrada se floriu! Floreceu todo sertão! Alegria então voltou! Velho, mulher e menino! Todo povo se alegrou.”

Talvez o Padre Valmir seja o poeta que mais se aproximou do verdadeiro sentido desta mãe. A mulher que celebramos nesta data tem a face de “Mãe catingueira do povo sofrido / no sim ao teu Deus, deu-nos o Salvador. De todos os cantos congrega teus filhos / dos campos, cidades, caatinga e sertão / Batalhas travadas aqui neste chão / Nos fazem agora pedir-te perdão”. Um pouco daquelas mulheres quebrando pedras no auto da serra para levar o sustento ou a catadora de café, buscando justiça.

É hora de repensar a nossas atitudes, o modo como vivemos e mudar aquilo que precisa ser mudado. É hora de ser cristão, irmão na partilha do pão.

Mesmo diante da crise financeira, do desemprego e da falta de perspectiva, ao aproximar da novena e festa de nossa Padroeira, a Paroquia de Nossa Senhora das Vitórias e a cidade, se enchem de alegria para celebrar com a comunidade esse tempo forte de oração, de missão, de louvor, de fé e de agradecimento a Deus. Celebrar a Padroeira de nossa cidade deve ser para cada um de nós tempo de graça no qual renovamos o nosso compromisso de seguir Jesus tendo como modelo sua mãe Maria Santíssima.

Cada ano, durante o novenário é abordo um tema. E assim, entramos em comunhão com Nossa Senhora e o mundo atual. Nesse sentido, a novena e a festa de Nossa Senhora das Vitórias é mais uma oportunidade para olharmos para Maria e pedir a intercessão dela para que nos ensine a ter fé, a escutar Deus, a responder sim, a ser discípulo de Jesus, a ser missionário, a perdoar, acolher, amar, servir, rezar, partilhar, compadecer-se, doar-se… Queremos em cada festa contemplar a figura de Maria e pedir que ela nos ensine a ter na vida virtudes cristãs que nos conduz ao encontro de seu filho Jesus Cristo.

 

sexta-feira, 22 de julho de 2022

ARTIGO - A operação das polícias no Complexo do Alemão foi um crime contra a humanidade (Padre Carlos)

 


O Rio de Janeiro tem sido laboratório de políticas de cunho fascista




 

Uma operação conjunta das polícias Militar e Civil no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, deixou varias pessoas mortas, inclusive moradores e inocentes, na manhã desta quinta-feira (21). A operação tem como objetivo combater o roubo de veículos, de carga e a bancos. Esta operação chamou minha atenção para o problema que o Rio vem enfrentando e como articulista, não poderia deixa de abordar e tentar esclarecer o que realmente vem acontecendo na antiga capital federal.

Quando o ex-governador Wilson Witzel. sobrevoou as comunidades dos morros acompanhado de policiais atiradores, sem saber quem iria atingir, parecia que as autoridades do estado encaravam a população de baixa renda e que vivem nos morros cariocas, como um inimigo perigoso e que precisava ser neutralizado. Witzel ao subir ao helicóptero da polícia, tomando parte do metralhamento indiscriminado de casas pobres, em Angra dos Reis, no que foi classificado por alguns membros da imprensa como “crime contra a humanidade,” representa o sentimento que as autoridades e uma parcela da sociedade nutrem pelas camadas mais pobres.

Não é de hoje que o Rio de Janeiro tem sido laboratório de políticas de cunho fascista a serem aplicadas, posteriormente, a todo o país. Foi assim, por exemplo, que a sua Polícia Militar (PM) se converteu, entre a segunda metade da década de 1990 e a primeira metade da década de 2000, numa das instituições policiais mais letais de todo o mundo.

Assim, a Polícia Militar e a Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmaram pelo menos 18 mortos na operação conjunta que foi iniciada na madrugada desta quinta-feira (21) e durou cerca de 12 horas nas comunidades do Complexo do Alemão, na capital. O número de vítimas da chacina pode ser maior. Os policiais afirmaram que esse é um balanço parcial, e a Defensoria Pública contabilizou pelo menos 20 corpos em unidades de saúde da região.

Em todo esse tempo lutamos e trouxemos às claras as entranhas e maquinações do velho Estado brasileiro e das suas classes dominantes. Nosso blog neste quatro anos de existência, manteve sua independência inalterada, denunciando e desmascarando o governo reacionário de Bolsonaro e seus aliados. Por isto, resolvemos denunciar o atual governador do Rio. Esta administração não tem sido diferente da anterior. Este governo que tenta a reeleição foi responsável por três das cinco operações policiais mais letais da história do estado, com 70 mortos. Esta mentalidade de política pública tem levado este governo a índice insustentável, fazendo a letalidade policial no Rio com o governador Cláudio Castro a maior em 15 anos.

 

 


quinta-feira, 21 de julho de 2022

ARTIGO - A era do descartável (Padre Carlos)

 

A era do descartável





Hoje estava pensando como o mundo tem mudado. Como disse Camões:  Tudo muda nesta vida: “Muda-se o ser, muda-se a confiança/Todo o mundo é composto de mudança…”.  Somos testemunhas das mudanças que ocorrem na sociedade e nada podemos fazer para evitá-las. Gostemos ou não, as coisas vão mudando e os novos tempos trazem sempre algo de diferente à nossa vida.

        Quando eu era criança e vivia com os meus pais, na Pituba não tínhamos eletrodomésticos (televizinho), mas se algum aparelho quebrava lá na casa do vizinho, chamava-se o técnico para concertar – que procurava repará-lo no domicílio. Se o concerto fosse mais complicado, tinha de ser levado para a oficina, regressando mais tarde como novo. E durava sei lá mais quanto tempo! 

Infelizmente, nos dias de hoje, já não é assim. Primeiro, por que há poucos técnicos, pois o que conta agora é ter uma licenciatura. Mesmo que seja de faz de conta por correspondência.  Por isto, as escolas técnicas vêm perdendo terreno e interesse das novas gerações, abrindo caminho às Faculdades à distância, que estão superlotadas. 

Depois, sabemos que, quando um eletrodoméstico deste quebra, vira sinónimo de aparelho novo, devido à fragilidade do material que desta forma termina se tornando descartável. Aliás, não é novidade para ninguém que hoje nada tem a mesma duração dos materiais produzidos antigamente, seja em que área for. 

O relacionamento entre os seres humanos também mudou consideravelmente. As pessoas pareciam ser mais verdadeiras, mais solidárias, mais amigas. Hoje, os amigos (dignos desse nome) são cada vez menos e passaram a aparecer os ‘conhecidos’ – que, em muitos casos, se servem dos outros em função dos seus interesses e conveniências. 

E quando os objetivos são atingidos, estes ‘conhecidos’ põem aqueles de lado e substituem por outros – de acordo com a velha teoria “muito tens muito vales, nada tens nada vales”.

        Vivemos, na era do descartável. Até a própria vida, para muitos, parece também ser descartável. E não é um problema político da esquerda ou da direita, é uma realidade que tem a ver com novas mentalidades que estes ‘ventos de mudança’ trouxeram à sociedade.

Num momento de tantas dificuldades, convém ter presente que os profissionais, tal como os grandes jogadores de futebol, já não correm por amor à camisa. A todo o momento nos decepcionamos com o caráter destes “Ídolos”, para eles, não têm problema algum em “abandonar o barco” e deixar o campeonato pelo meio, se aparecerem propostas mais aliciantes. Esta é a realidade. É isto que temos no presente. O que nos reservará o futuro?

 


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...