Minhas
prosas com o Irmão Michel.
Um
amigo verdadeiro é para a vida toda! E para cultivar uma amizade duradoura,
nada melhor do que agradecer aos meus amigos pelo companheirismo que eles tem
me proporcionado neste momento.
Confesso a vocês, que hoje me surpreendi com o carinho e a amizade que tenho
recebido. Foi conversando com um deles que terminei viajando e me lembrei do tempo em que morei com os irmãos de
Taize e das conversas com aqueles monges.
Muita
gente não sabe, mas o irmão Michel era um grande antropólogo. Certa vez conversei
com ele sobre os hebreus e como eles foram consumidores de trigo e da sua importância
na cultura hebraica. Ele adorava conversar sobre estes assuntos e me falava com
todo carinho sobre como essa planta fazia e ainda hoje faz parte de seus
rituais sagrados ao lado do vinho, do azeite, do mel e do leite. Querendo
mostrar que entendia do assunto, falei: mas para ser considerada civilização
tem que ter os seguintes elementos anzóis, panela de barro ou pedras para
amolar, não é? “ Não,” disse ele. “O que acreditamos ser o primeiro sinal de
civilização numa cultura antiga é a prova de uma pessoa com um fêmur quebrado e
curado.”
Aí sentamos
em um banco do refeitório e ele começou a falar: “talvez você não saiba, mas no
resto do reino animal, se você quebrar a perna, você morre. Você não pode fugir
do perigo, ir para o rio beber água ou caçar para se alimentar. Você se torna
carne fresca para predadores.”
“Nenhum
animal sobrevive a uma perna quebrada o tempo suficiente para que o osso cure.
Um fêmur quebrado que se curou é a prova de que alguém tirou o tempo para ficar
com o que caiu, curou a lesão, colocou a pessoa em segurança e cuidou dele até
que ele se recupere". E acrescentou: "ajudar alguém a passar pela dificuldade é o
ponto de partida da civilização", explicou o monge. "A civilização é uma ajuda comunitária.”
O homem
é um animal que não vive sozinho, pois todo ser humano, desde que nasce até o
momento em que morre, precisa da companhia de outros seres humanos. Aristóteles
escreveu que o homem é um animal político, pois é a própria natureza humana que
exige a vida em sociedade.
Naquela
hora tomei consciência que não falávamos mais de antropologia e se tratava de
uma catequese. Ele me falou que primeiramente, temos que ter a consciência da
dependência de Deus em nossa vida, do seu amor, dos seus cuidados e da sua
misericórdia. Em segundo lugar, ter a humildade de reconhecermos e aceitar que
precisamos das pessoas de boa índole em nosso viver. Nunca podemos nos achar
auto-suficientes por mais elevada posição social e de poder aquisitivo que
possamos ter.
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