quinta-feira, 21 de julho de 2022

ARTIGO - A era do descartável (Padre Carlos)

 

A era do descartável





Hoje estava pensando como o mundo tem mudado. Como disse Camões:  Tudo muda nesta vida: “Muda-se o ser, muda-se a confiança/Todo o mundo é composto de mudança…”.  Somos testemunhas das mudanças que ocorrem na sociedade e nada podemos fazer para evitá-las. Gostemos ou não, as coisas vão mudando e os novos tempos trazem sempre algo de diferente à nossa vida.

        Quando eu era criança e vivia com os meus pais, na Pituba não tínhamos eletrodomésticos (televizinho), mas se algum aparelho quebrava lá na casa do vizinho, chamava-se o técnico para concertar – que procurava repará-lo no domicílio. Se o concerto fosse mais complicado, tinha de ser levado para a oficina, regressando mais tarde como novo. E durava sei lá mais quanto tempo! 

Infelizmente, nos dias de hoje, já não é assim. Primeiro, por que há poucos técnicos, pois o que conta agora é ter uma licenciatura. Mesmo que seja de faz de conta por correspondência.  Por isto, as escolas técnicas vêm perdendo terreno e interesse das novas gerações, abrindo caminho às Faculdades à distância, que estão superlotadas. 

Depois, sabemos que, quando um eletrodoméstico deste quebra, vira sinónimo de aparelho novo, devido à fragilidade do material que desta forma termina se tornando descartável. Aliás, não é novidade para ninguém que hoje nada tem a mesma duração dos materiais produzidos antigamente, seja em que área for. 

O relacionamento entre os seres humanos também mudou consideravelmente. As pessoas pareciam ser mais verdadeiras, mais solidárias, mais amigas. Hoje, os amigos (dignos desse nome) são cada vez menos e passaram a aparecer os ‘conhecidos’ – que, em muitos casos, se servem dos outros em função dos seus interesses e conveniências. 

E quando os objetivos são atingidos, estes ‘conhecidos’ põem aqueles de lado e substituem por outros – de acordo com a velha teoria “muito tens muito vales, nada tens nada vales”.

        Vivemos, na era do descartável. Até a própria vida, para muitos, parece também ser descartável. E não é um problema político da esquerda ou da direita, é uma realidade que tem a ver com novas mentalidades que estes ‘ventos de mudança’ trouxeram à sociedade.

Num momento de tantas dificuldades, convém ter presente que os profissionais, tal como os grandes jogadores de futebol, já não correm por amor à camisa. A todo o momento nos decepcionamos com o caráter destes “Ídolos”, para eles, não têm problema algum em “abandonar o barco” e deixar o campeonato pelo meio, se aparecerem propostas mais aliciantes. Esta é a realidade. É isto que temos no presente. O que nos reservará o futuro?

 


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