O centrão nosso de
cada dia!
Um dos grandes problemas da democracia brasileira
está na fragmentação da nossa representação política. É quase impossível identificar
linhas ideológicas quando se tem 23 partidos representados na Câmara dos
Deputados. Esta é uma das equações mais difícil para os cientistas político e
uma tarefa quase impossível, mesmo para os mais informados dos cidadãos. Se
fizermos as conta os partidos mais à Esquerda e próximos de Lula (incluindo o
PT), somam agora pouco mais de 100 deputados (de um total de 513). O bloco de
Direita mais próximo de Bolsonaro tem cerca de 200. Então isto quer dizer que
Bolsonaro terá mais facilidade do que Lula na hora de negociar acordos no
Congresso que permitam governar? Não, porque quem manda mesmo em Brasília é o
"centrão".
Se o alinhamento político aqui no Brasil fosse coisa para ser
levar a sério, não haveria dúvidas de que a soma do Centro-Direita, Direita e
Extrema-Direita seria maioria absoluta. Infelizmente não é isto que acontece. O
que constatamos nestes mais de quarenta anos fazendo política é que a maioria
dos partidos brasileiros (à Direita como à Esquerda) termina se alinhando pelo
"centro", seja qual for o presidente. Não se trata de preferência
pelo centro político, mas pelo centro de poder. O que tem cargos e dinheiro
para distribuir. Um dos exemplos desse pragmatismo é o Partido Liberal, que
agora acolhe Bolsonaro: quando Lula foi presidente, fez parte do
"centrão" que deu estabilidade ao governo petista. Será que alguém ainda
tem dúvida que isto possa voltar acontecer?
O grande problema de Lula hoje não é ganhar, isto tem se
desenhado estes dia diante da distancia dos votos que separam os candidatos. Mesmo
tratando-se do Brasil, seis milhões são muitos votos para Bolsonaro recuperar. Desta
forma, não podemos negar que o ex-presidente Lula está em vantagem e é o
favorito para o segundo turno. Outro fato importante foram os apoios dos
candidatos Simone Tebet e Ciro Gomes, com este reforço em sua campanha Lula
ficou a um passo do Planalto e se aproxima de uma parte suficiente dos oito
milhões de eleitores da (terceira via). Quanto a Bolsonaro, superou as
sondagens. Mas, do que precisa é de se superar a si próprio. Não existe
marqueteiro que possa esconder a misoginia, o racismo, a homofobia e a apologia
da violência que o presidente tem demostrado.
Parafraseando ACM Neto, na verdade não importa quem
será o eleito para ocupar o Palácio do Planalto, ele terá que negociar com o
Congresso Nacional que saiu das urnas neste domingo. O Centrão é parte do jogo de um presidencialismo
de coalizão. O que queremos dizer é que em toda democracia há
pontos positivos e
negativos e isto se dá devido à forma de pensar e como sua influência na
sociedade está diretamente ligada a nossa cultura. Como quase sempre foi feito na democracia
brasileira, o presidente eleito este ano terá, então, que negociar com partidos
e não com indivíduos isoladamente ou agrupamentos suprapartidários se quiser
ter uma base de apoio sólido e confiável a partir de 2023, para trabalhar pelo
seu programa de governo.