Viver
em função da literatura, viver para a literatura.
A morte da escritora Nélida
Piñon, reacendeu a necessidade de chamar a atenção da comunidade literária sobre os verdadeiros critérios para escolha
dos imortais da ABL. Infelizmente o sentido que a expressão Popular assobiar e Chupar Cana tem feito muito
sentido nas ultimas escolhas dos membros daquela Academia. Ela se refere à ideia de uma pessoa fazer ao mesmo tempo duas coisas impossíveis,
isto é, não é possível assobiar enquanto se chupa cana e vice-versa. Quem
primeiro chamou a nossa atenção para esta questão foi o compositor Benito de
Paula, quando na década de setenta do século passado, alguns jogadores de
futebol e atores passaram a gravar musica, ele afirma que: cantor ou compositor, não podem
ser ator nem jogador de futebol. Não podemos banalizar a ABL e achar que a
imortalidade está somente naquelas cadeiras.
Temos que definir quais os critérios verdadeiros para se
ingressar naquela casa. Ultimamente ser representante de conglomerados de
comunicações ou ter uma quantidade de discos de ouro tem chamado mais a atenção
dos imortais para escolha de seus pares que uma vida dedicada à literatura. Mas
hoje não vou me prender a estas questões, quero memorizar esta grande escritora
que foi e é referencia para diversas gerações pelo pioneirismo e coragem em
abri caminhos para as mulheres de nosso tempo ocupar o métier das letras. A
escritora foi à primeira mulher, em 100 anos, a tornar-se presidente da ABL,
entre 1996 e 1997 e a primeira à frente de uma academia literária no mundo. Mas
para isto, ela teve que Viver em função da literatura, viver para a literatura.
Autora
de mais de 20 livros, entre novelas, contos, literatura infanto-juvenil,
ensaios e memórias. Estreou na literatura com o romance Guia-Mapa de Gabriel
Arcanjo, lançado em 1961. O seu segundo livro Madeira Feito Cruz saiu dois anos
depois, em 1963. Em 1984, lançou uma das suas obras mais marcantes: A República
dos Sonhos. A Academia Brasileira de Letras destaca precisamente este romance
no seu percurso, uma obra sobre uma família de imigrantes galegos no Brasil, em
que “faz reflexões sobre a Galiza, a Espanha e o Brasil”.
Nélida
Piñon morreu em Lisboa, no sábado passado, aos 85 anos. Para sempre iremos
guardar o exemplo que ela deixou, de mulher lutadora e guerreira que não cai
com o primeiro embate e que nunca recua, nem desiste. Sua imortalidade esta na
sua obra e exemplo de vida. Descanse em paz minha escritora.