A foto revela nossa
história
Hoje encostei por acaso na Face book uma foto de um companheiro dos anos
de chumbo. Ao olhar aquela imagem me dei conta como gostava de ver o mundo preto e branco, de não ter
dúvidas, de apoiar cegamente a minha ideologia, de concordar sempre com o meu
partido, de defender até à exaustão as resoluções das convenções partidária, de
estar incondicionalmente do lado dos meus camaradas, de abanar a cabeça em
sinal de concordância mesmo não entendendo tal proposta, de receber palmadinhas
nas costas, de pensar estrategicamente, de falar apenas como fruto dessa
estratégia, de tecer elogios, de gritar bem alto o nome daqueles dirigentes, de
chorar e rir com as vitórias e derrotas que sofremos.
O mundo era preto e branco e eu era feliz, não tínhamos duvidas quem era
nosso inimigo e adversário e por isto, nos sentíamos os mocinhos. Quase meio século
daqueles acontecimentos da foto, passei a entender que a luta é a mesma, mas os
lutadores mudaram por dentro. A melhor
coisa sobre uma fotografia, é que ela não muda mesmo quando as pessoas mudam.
Acreditava que o inimigo viria de fora e era visível, isto me confortava
e me dava uma vantagem na luta. Hoje percebo que, na grande maioria das vezes,
o inimigo está oculto fora e dentro das organizações. É Importante um olhar
crítico e um discernimento profundo para podermos descobrir os adversários de
hoje. A militância, o medo e a preocupação com a repressão faziam com que
apenas acreditássemos nos dogmas.
Depois destes anos compreendi que
o mundo se tornou confuso, por isto, me concentrei na fotografia, ela tinha
algo de sonho verdadeiro e utopia. Com isto, busquei me identificar naquela
foto para não esquecer quem realmente sou. O preto e branco daquela época tornavam
mais fácies nossas escolhas. Infelizmente as imagens coloridas destes novos tempos
se tornaram inadequadas, desta forma, só me resta o silêncio.
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