Baiaco
e a história do futebol baiano: um legado esquecido?
Quando
vejo esta nova geração de torcedores falarem que gostariam de ter visto Pelé,
Garricha e tantos outros jogadores que atuaram no eixo Rio-São Paulo, eu me
pergunto: será que não estamos fechando os olhos para outras praças do futebol?
É estranho ver qualquer lista dos maiores jogadores da história do futebol
brasileiro sem um determinado volante que atuou no futebol baiano na década de
setenta como um dos grandes craques do futebol brasileiro. Na verdade, é quase
impossível, devido a suas façanhas dentro do campo e sua postura ética e
discreta.
Eu tive a sorte de ver Baiaco jogar pelo
Bahia e posso dizer que ele foi um dos maiores volantes que já pisaram no
gramado da Fonte Nova. Baiaco era um jogador completo: marcava com firmeza,
saía com qualidade, tinha visão de jogo e liderança. Era o coração do time
tricolor que dominou o futebol baiano nos anos 70 e 80, conquistando vários
títulos estaduais. Por isto, falar
de Baiaco é falar de uma pessoa desprendida destas coisas que tem encantado
esta nova juventude. Ele era um profissional que não tinha apego pelo dinheiro,
recusou propostas de clubes como Cruzeiro
Vasco e Botafogo para permanecer no Bahia talvez tenham sido o amor
pelo time que fez com que este atleta não fosse contratado por grandes clubes.
A
grandeza de Baiaco condiz com a sua personalidade. Nem as glórias nem a
idolatria foram capazes de mudar seu comportamento reservado e desinteressado
dos holofotes. Talvez isso explique a quantidade de histórias folclóricas em
torno do ex-jogador. Por exemplo, seu apelido. Conta-se que a criança gordinha
e explosiva foi apelidada de "Baiaçu" pela avó Masulina, devido a sua
barriga redonda e facilidade em se cansar.
Baiaco era um volante que sabia marcar e sair jogando com qualidade. Ele era um dos pilares do Bahia, ele tinha orgulho de vestir a camisa tricolor e de defender as cores do seu estado. O meio-campista adorava jogar. Conta-se que chorava, encostado nas quinas dos centros de treinamento por onde passava, quando não conseguia entrar em campo. O amor pela bola só era superado pelo que tinha pelo São Francisco do Conde.
Ele era um ídolo da torcida e um
exemplo para os mais jovens.
Baiaco fez uma partida impecável. Ele não
deu espaço para Pelé respirar. Ele o acompanhou em todos os lances, desarmou,
interceptou e bloqueou as suas tentativas de gol. Ele mostrou que era um
jogador inteligente, disciplinado e valente. Ele não se intimidou com a fama do
adversário e nem com a pressão da torcida santista.
Quando Pelé conseguiu escapar da marcação
de Baiaco, ele ainda teve que enfrentar a muralha chamada Nildo. O zagueiro do
Bahia salvou um gol certo do Rei em cima da linha, evitando que ele entrasse
para a história naquele dia. O Santos até saiu na frente com um gol de Edu, mas
Baiaco não desistiu.
Ele se lançou ao ataque e aproveitou uma
bola rebatida na área para empatar o jogo. Foi um dos 13 gols que ele marcou
pelo Esquadrão, mas certamente um dos mais importantes. Ele calou a Fonte Nova
e frustrou os planos de Pelé. Ele foi ovacionado pela torcida do Bahia e
reconhecido pelo próprio Pelé, que o cumprimentou pelo seu desempenho.
Baiaco foi um herói naquele dia. Ele
impediu que o Bahia fosse coadjuvante na festa de Pelé e mostrou que o
Esquadrão era um time de respeito. Ele entrou para a história do futebol
brasileiro como um dos poucos que conseguiram parar o Rei.
Com sua
raça, disposição e liderança, ele foi peça fundamental na conquista do
hepta-campeonato baiano de 1973 a 1979, além de outros dois títulos estaduais
em 1970 e 1971. brasileiro.
Hoje em dia não é raro ver nossos jogadores tendo
problemas com a Justiça. Prisões por atraso no pagamento de pensão alimentícia,
denúncias por sonegação fiscal e tantos outros crimes e ainda são chamados de ídolos.
Temos que entender que as questões morais e o comportamento ético são valores
fundamentais que devem ser levados em conta em qualquer situação da vida,
dentro e fora do campo. Por isto Baiaco é o nosso ídolo e para não esquecermos
os verdadeiros heróis, resolvemos presta esta homenagem.