sábado, 1 de abril de 2023

ARTIGO - Baiaco: o herói que impediu Pelé de marcar o milésimo gol. (Padre Carlos)

 


Baiaco e a história do futebol baiano: um legado esquecido?

 

 



 

Quando vejo esta nova geração de torcedores falarem que gostariam de ter visto Pelé, Garricha e tantos outros jogadores que atuaram no eixo Rio-São Paulo, eu me pergunto: será que não estamos fechando os olhos para outras praças do futebol? É estranho ver qualquer lista dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro sem um determinado volante que atuou no futebol baiano na década de setenta como um dos grandes craques do futebol brasileiro. Na verdade, é quase impossível, devido a suas façanhas dentro do campo e sua postura ética e discreta.

Eu tive a sorte de ver Baiaco jogar pelo Bahia e posso dizer que ele foi um dos maiores volantes que já pisaram no gramado da Fonte Nova. Baiaco era um jogador completo: marcava com firmeza, saía com qualidade, tinha visão de jogo e liderança. Era o coração do time tricolor que dominou o futebol baiano nos anos 70 e 80, conquistando vários títulos estaduais. Por isto, falar de Baiaco é falar de uma pessoa desprendida destas coisas que tem encantado esta nova juventude. Ele era um profissional que não tinha apego pelo dinheiro,  recusou propostas de clubes como Cruzeiro Vasco e Botafogo para permanecer no Bahia talvez tenham sido o amor pelo time que fez com que este atleta não fosse contratado por grandes clubes.

         A grandeza de Baiaco condiz com a sua personalidade. Nem as glórias nem a idolatria foram capazes de mudar seu comportamento reservado e desinteressado dos holofotes. Talvez isso explique a quantidade de histórias folclóricas em torno do ex-jogador. Por exemplo, seu apelido. Conta-se que a criança gordinha e explosiva foi apelidada de "Baiaçu" pela avó Masulina, devido a sua barriga redonda e facilidade em se cansar.

Baiaco era um volante que sabia marcar e sair jogando com qualidade. Ele era um dos pilares do Bahia, ele tinha orgulho de vestir a camisa tricolor e de defender as cores do seu estado. O meio-campista adorava jogar. Conta-se que chorava, encostado nas quinas dos centros de treinamento por onde passava, quando não conseguia entrar em campo. O amor pela bola só era superado pelo que tinha pelo São Francisco do Conde.

 Ele era um ídolo da torcida e um exemplo para os mais jovens.

       Um dos momentos mais marcantes da sua carreira foi o dia em que ele enfrentou o Santos de Pelé na Fonte Nova. Era um jogo histórico, pois o Rei do Futebol estava prestes a marcar o seu milésimo gol. Todos esperavam que ele fizesse a festa em Salvador, mas Baiaco e seus companheiros tinham outros planos.

Baiaco fez uma partida impecável. Ele não deu espaço para Pelé respirar. Ele o acompanhou em todos os lances, desarmou, interceptou e bloqueou as suas tentativas de gol. Ele mostrou que era um jogador inteligente, disciplinado e valente. Ele não se intimidou com a fama do adversário e nem com a pressão da torcida santista.

Quando Pelé conseguiu escapar da marcação de Baiaco, ele ainda teve que enfrentar a muralha chamada Nildo. O zagueiro do Bahia salvou um gol certo do Rei em cima da linha, evitando que ele entrasse para a história naquele dia. O Santos até saiu na frente com um gol de Edu, mas Baiaco não desistiu.

Ele se lançou ao ataque e aproveitou uma bola rebatida na área para empatar o jogo. Foi um dos 13 gols que ele marcou pelo Esquadrão, mas certamente um dos mais importantes. Ele calou a Fonte Nova e frustrou os planos de Pelé. Ele foi ovacionado pela torcida do Bahia e reconhecido pelo próprio Pelé, que o cumprimentou pelo seu desempenho.

Baiaco foi um herói naquele dia. Ele impediu que o Bahia fosse coadjuvante na festa de Pelé e mostrou que o Esquadrão era um time de respeito. Ele entrou para a história do futebol brasileiro como um dos poucos que conseguiram parar o Rei.

Com sua raça, disposição e liderança, ele foi peça fundamental na conquista do hepta-campeonato baiano de 1973 a 1979, além de outros dois títulos estaduais em 1970 e 1971. brasileiro.

Hoje em dia não é raro ver nossos jogadores  tendo problemas com a Justiça. Prisões por atraso no pagamento de pensão alimentícia, denúncias por sonegação fiscal e tantos outros crimes e ainda são chamados de ídolos. Temos que entender que as questões morais e o comportamento ético são valores fundamentais que devem ser levados em conta em qualquer situação da vida, dentro e fora do campo. Por isto Baiaco é o nosso ídolo e para não esquecermos os verdadeiros heróis, resolvemos presta esta homenagem.


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