O legado do padre que deu
a vida pelo povo
No
dia 10 de maio de 1986, dia das mães, o padre Josimo Morais Tavares foi
assassinado covardemente em Imperatriz, no Maranhão. A morte foi planejada por
latifundiários inconformados com a atuação do padre e da Comissão Pastoral da
Terra (CPT) em favor dos posseiros e dos lavradores sem terra na região do Bico
do Papagaio, que abrange partes dos estados do Maranhão, Tocantins e Pará.
O
padre Josimo tinha 33 anos e era o coordenador da CPT do Araguaia-Tocantins.
Ele era conhecido entre os agricultores como “o padre negro de sandálias
surradas”, que andava de bicicleta pelas estradas de terra levando a palavra de
Deus e a esperança de justiça social. Ele denunciava as violências e as
arbitrariedades cometidas pelos fazendeiros e pelos pistoleiros contra os
trabalhadores rurais, que sofriam com despejos, ameaças, torturas e
assassinatos.
O
padre Josimo era filho de lavradores e nasceu em Marabá, no Pará. Ele estudou
no seminário de Tocantinópolis, no Tocantins, onde foi ordenado sacerdote em
1980. Ele se inspirava na teologia da libertação e na opção preferencial pelos
pobres. Ele defendia a reforma agrária e a organização dos trabalhadores rurais
em sindicatos e associações. Ele também lutava pela preservação da cultura e da
identidade dos povos indígenas e quilombolas da região.
Em
1985, o padre Josimo recebeu uma carta anônima com uma ameaça de morte: “Padre
Josimo, você tem 30 dias para deixar o Bico do Papagaio ou será morto”. Ele não
se intimidou e continuou seu trabalho pastoral e social. Ele chegou a registrar
um boletim de ocorrência na delegacia de Tocantinópolis, mas não obteve
proteção policial.
No
dia 10 de maio de 1986, o padre Josimo foi a Imperatriz para participar de uma
reunião da CPT. Ao sair do hotel onde estava hospedado, ele foi abordado por um
pistoleiro contratado pelos fazendeiros. O assassino disparou dois tiros à
queima-roupa contra o padre, que morreu na hora.
A
morte do padre Josimo causou grande comoção e indignação na sociedade civil e
na Igreja Católica. Milhares de pessoas participaram do seu velório e do seu
enterro em Tocantinópolis. O bispo Pedro Casaldáliga, que era amigo pessoal do
padre Josimo e um defensor dos direitos humanos, proferiu uma frase que se
tornou célebre: “Um povo que não lembra de seus mártires não merece
sobreviver”.
O
padre Josimo foi reconhecido como um mártir da terra e da fé pela Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela CPT. Ele é lembrado todos os anos
em diversas celebrações e homenagens. Em 2018, foi lançado um documentário
sobre sua vida e sua luta, intitulado “Padre Josimo: memória viva”. O filme
resgata a memória do padre Josimo e mostra sua atualidade e sua relevância para
os movimentos sociais do campo.
O
padre Josimo continua presente na consciência do povo e no coração dos
lavradores. Ele é um exemplo de coragem, de amor e de compromisso com a causa
dos pobres e dos oprimidos. Ele é uma semente que germinou na terra fértil da
esperança.