quarta-feira, 10 de maio de 2023

ARTIGO - Padre Josimo: um mártir da terra e da fé. (Padre Carlos)

 



O legado do padre que deu a vida pelo povo





No dia 10 de maio de 1986, dia das mães, o padre Josimo Morais Tavares foi assassinado covardemente em Imperatriz, no Maranhão. A morte foi planejada por latifundiários inconformados com a atuação do padre e da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em favor dos posseiros e dos lavradores sem terra na região do Bico do Papagaio, que abrange partes dos estados do Maranhão, Tocantins e Pará.

O padre Josimo tinha 33 anos e era o coordenador da CPT do Araguaia-Tocantins. Ele era conhecido entre os agricultores como “o padre negro de sandálias surradas”, que andava de bicicleta pelas estradas de terra levando a palavra de Deus e a esperança de justiça social. Ele denunciava as violências e as arbitrariedades cometidas pelos fazendeiros e pelos pistoleiros contra os trabalhadores rurais, que sofriam com despejos, ameaças, torturas e assassinatos.

O padre Josimo era filho de lavradores e nasceu em Marabá, no Pará. Ele estudou no seminário de Tocantinópolis, no Tocantins, onde foi ordenado sacerdote em 1980. Ele se inspirava na teologia da libertação e na opção preferencial pelos pobres. Ele defendia a reforma agrária e a organização dos trabalhadores rurais em sindicatos e associações. Ele também lutava pela preservação da cultura e da identidade dos povos indígenas e quilombolas da região.

Em 1985, o padre Josimo recebeu uma carta anônima com uma ameaça de morte: “Padre Josimo, você tem 30 dias para deixar o Bico do Papagaio ou será morto”. Ele não se intimidou e continuou seu trabalho pastoral e social. Ele chegou a registrar um boletim de ocorrência na delegacia de Tocantinópolis, mas não obteve proteção policial.

No dia 10 de maio de 1986, o padre Josimo foi a Imperatriz para participar de uma reunião da CPT. Ao sair do hotel onde estava hospedado, ele foi abordado por um pistoleiro contratado pelos fazendeiros. O assassino disparou dois tiros à queima-roupa contra o padre, que morreu na hora.

A morte do padre Josimo causou grande comoção e indignação na sociedade civil e na Igreja Católica. Milhares de pessoas participaram do seu velório e do seu enterro em Tocantinópolis. O bispo Pedro Casaldáliga, que era amigo pessoal do padre Josimo e um defensor dos direitos humanos, proferiu uma frase que se tornou célebre: “Um povo que não lembra de seus mártires não merece sobreviver”.

O padre Josimo foi reconhecido como um mártir da terra e da fé pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela CPT. Ele é lembrado todos os anos em diversas celebrações e homenagens. Em 2018, foi lançado um documentário sobre sua vida e sua luta, intitulado “Padre Josimo: memória viva”. O filme resgata a memória do padre Josimo e mostra sua atualidade e sua relevância para os movimentos sociais do campo.

O padre Josimo continua presente na consciência do povo e no coração dos lavradores. Ele é um exemplo de coragem, de amor e de compromisso com a causa dos pobres e dos oprimidos. Ele é uma semente que germinou na terra fértil da esperança.

 


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