A escrita como conexão
Em um mundo onde as memórias são digitais, as mensagens são instantâneas e as redes sociais são onipresentes, a escrita ganhou um novo sentido para mim. Escrever virou uma forma de preservar as recordações, de registrar os momentos efêmeros e de dividir as emoções com os meus amigos, parentes e leitores. Nessa teia de palavras e sentimentos, eu descobri que a escrita não é só uma atividade solitária, mas também uma forma de me conectar com os outros.
Eu confesso a vocês que tinha pavor de escrever. Por isso, quando decidi pegar a caneta e o papel, não foi para me exibir ou mostrar minhas habilidades literárias, mas para encontrar uma forma de documentar minha existência, de dizer o que estava sentindo. Assim, escrever virou uma forma de me revelar, de abrir as portas do meu coração e deixar que as palavras fluíssem livremente. Como eu poderia falar da Pituba ou dos amigos da infância de outra forma? Mesmo quando as palavras ficavam confusas, desajeitadas, eu tentava escrever sobre a minha juventude, sobre os amigos do Nordeste de Amaralina, sobre o PCdoB e o PT. Não me importava se minha escrita era perfeita, pois ela não tinha essa pretensão. Era só uma forma de expressão, um canal para transmitir o que senti e vivi nesses anos de chumbo.
Eu me fortaleci ao descobrir que a linguagem podia ser para mim uma arma ou uma ferramenta poderosa. É por meio dela que eu tento dar sentido ao amor, à saudade, à alegria e à dor do menino Bel. Não existem palavras que possam abrir essas emoções completamente complexas, mas a escrita me permitiu criar uma ponte, uma conexão com o Mosteiro de São Bento e com o Mosteiro de Taizé, com a filosofia e a teologia. Mesmo que eu esteja separado por distâncias físicas ou emocionais, as palavras escritas têm o poder de me aproximar de Santo Antônio ou de Salvador. Como diz o poeta: com um risco no papel, viajo de um lado para o outro.
Por meio da escrita, eu posso compartilhar minha trajetória, minhas experiências e minhas reflexões com o mundo. Eu posso capturar momentos como o teológico em Belo Horizonte, preservá-los em letras e permitir que outros os vivenciem também. A escrita transcende o tempo e o espaço, permitindo que as histórias sejam contadas e que as conexões sejam sustentáveis mesmo quando os protagonistas estão distantes.
Escrever é um ato de coragem. É mergulhar fundo nos nossos pensamentos e emoções, revelando partes de nós mesmos que talvez nunca tivéssemos coragem de revelar se não fosse dessa forma. É também um ato de vulnerabilidade, pois ao expor minhas palavras pelo mundo, estou sujeito a críticas e incompreensões. Mas mesmo assim, a escrita vale a pena. Ela me dá a oportunidade de poder me conectar com pessoas que talvez nunca tivesse oportunidade de conhecer ou de encontrar conforto em histórias que ecoam dentro de nós e de deixar uma marca duradoura em um mundo efêmero.
Eu escrevi para não esquecer, para não perder o fio da memória. Eu escrevi para não deixar que o tempo apagasse as marcas. Eu escrevi para me conectar com outros corações, para trazer proximidade à distância. E, acima de tudo, eu escrevi porque descobri que as palavras têm o poder de transformar, curar e inspirar. E assim, na medida em que minhas palavras encontram os olhos e corações dos outros, percebo que a escrita é muito mais do que uma simples forma de comunicação. É uma forma de compartilhar a minha humanidade.