quarta-feira, 29 de maio de 2019

ARTIGO |Nossas masmorras medievais (Padre Carlos)




Nossas masmorras medievais




            Hoje ao receber a notícia que 55 presos foram encontrados mortos em celas de três presídios do estado do Amazonas, lembrei que em janeiro de 2017, uma rebelião de 17 horas resultou na morte de 56 pessoas no Compaj e em dezembro de 2018, um agente penitenciário tinha sido assassinado dentro deste complexo. Estes acontecimentos era o suficiente para que o estado que é o grande responsável por estas vidas, toassem providencia para que jamais se repetisse tal barbárie.
            Não podemos tampar o sol com uma peneira, infelizmente, temos que admitir que o sistema carcerário esta falido, superlotado e entranhado pela corrupção e dominado pela disputa de poder entre facções criminosas; são poucas as medidas que tentam, de fato, resolver o problema. Assim, nos tornamos a mão destes carrascos ao fechar a todo o momento os olhos e não denunciamos os verdadeiros responsáveis, aqueles que tinham o poder de evitar. Sabíamos do histórico de rebeliões nos presídios do Estado do          Amazonas, no entanto não fizemos nada e a nossa inercia misturada com a nossa omissão, levaram mais uma vez, a testemunhar a falta do estado nestes acontecimentos que levaram dezenas de mortos.
            O mesmo estado que hoje condenou cinquenta e cinco pessoas à morte, protege com todo o rigor da lei os transgressores bem-nascidos e a elite política e econômica. Cuidamos bem da elite que vai parar atrás das grades, sempre com a esperança que ela possa retornar ao convício social como se nada tivesse acontecido.
            Já com os “Josés” e as “Marias” de sempre a coisa é diferente. Não queremos ressocializar ninguém. Para que mesmo vamos dar mais uma chance para aqueles que não merecem ter oportunidades, pois nasceram pobres e pobres devem morrer. Assim é a política do novo governo: “bandido bom é bandido morto”.
          
  Desta forma, nosso modelo de masmorra medieval é aplicado na Amazonas e no resto do país, serve bem, pois lá se pratica toda sorte de castigos corporais e mentais. Lá se aniquila aos poucos, e com requintes de crueldades, aqueles que nos achamos que, afinal de contas, merece mesmo isso tentar retomar o controle das cadeias.
            Como Padre e coordenador da Pastoral Carcerária, tive a oportunidade de visitar vários presídios e constatar que existe na verdade uma reprodução de um modelo que é nacional. Vimos que a questão carcerária não é parte das políticas públicas de segurança e que os presídios são a válvula de escape para quando todo o resto falhar.
            O governo parece dizer que não temos direitas as políticas públicas nas áreas de educação, saúde e moradia e se a falta desta política falharem, pois sempre teremos as masmorras para atirar os que o Estado não conseguir atingir com seu enorme braço.
Padre Carlos


ARTIGO | Refazendo nossa história (Padre Carlos)*



Refazendo nossa história




            Um dos granes desafios que temos que enfrentar nestes tempos difícil em que estamos vivendo é a falta de consciência história de alguns setores da sociedade e das novas gerações. Não resgatamos os nossos valores históricos e não buscamos celebrar as nossas vitórias. Para construir o Brasil do futuro, nós precisamos usar os mitos do passado que alimentam nossas utopias e assim, sustentam o nosso presente. Por isso, uma sociedade que não faz uso de sua história, não consegue se entender.
            Nós somos chamados a participar da construção do futuro deste país, assim podemos nos perguntar: quais são as nossas âncoras de identidade?
Quem escreveu nossa história, quais os nossos heróis, nos identificamos com este passado? Os nossos mitos, portanto, é checado o tempo todo porque, no fundo, nós estamos confrontando a nossa própria identidade.
            Primeiramente pode haver um susto, mas depois nos perguntamos: será que realmente somos assim? É aí que começamos a fazer perguntas como: será que somos democráticos ou a nossa índole é, na essência, autoritária?
Queremos soluções rápidas que não nos deem o trabalho de construir consenso, na construção de soluções duradouras.
            Na verdade, estamos órfãos de identidade. Onde fica a casa grande e a senzala? Afinal, quem nós somos? O Brasil precisa encontrar um eixo comum que suavize os conflitos e, neste momento de confronto, é necessário voltar ao passado para nos perguntarmos: dá para construir o Brasil com a matéria-prima que temos à disposição?
            Uma identidade, para ser realmente sólida, preciso ser produto de um pacto, isto é, a sociedade tem que se reconhecer coletivamente nessa identidade como nação. E é isso que nos polariza tanto e que reflete uma intolerância, não aceitamos a senzala neste projeto nacional.
A democracia só irá consolidar na medida em que ela devolver as esperanças do povo de que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”…
            Os frutos virão mais lentamente do que imaginamos, mas eles serão resultados da história que construímos hoje. O Brasil de hoje pode não ser o melhor, pode não ser o mais justo, mas o Brasil que nós sonhamos hoje pode, sim, ser melhor e mais justo se nós assumirmos o desafio de construí-lo hoje.
Padre Carlos

ARTIGO | Diálogo inter-religioso e conversão das religiões (Padre Carlos)*




Diálogo inter-religioso e conversão das religiões




            Há quem anuncie o fim da religião. Outros, porém, constatam o seu regresso. Mas o que é a religião? De onde emana? Pode-se ser religioso e ateu ao mesmo tempo? Por que há muitas religiões? A religião está vinculada à violência? Qual o lugar da religião na escola pública?
      As sociedades são cada vez mais multiculturais e multirreligiosas. Tornou-se claro, como há anos vem proclamando Hans Küng*, que não haverá paz no mundo sem paz religiosa. Mas não pode haver paz entre as religiões sem diálogo inter-religioso e uma ética mundial.



            Segundo Lucrécio, “o medo criou os deuses”. Desde então, isso tem sido repetido, acrescentando a ignorância e a impotência, de tal modo que, com o avanço da ciência e da técnica, a religião acabaria por ser superada e desapareceria por completo.

           
Penso que não estamos muito distante das questões que levaram o apóstolo Paulo a falar no areópago de Atenas há quase 2000 anos a propósito do ‘Deus desconhecido’. Também ‘nós’, mesmo para um grande número de cristãos, e apesar desses 2000 anos de cristianismo, falamos do Deus-Desconhecido, (Atos 17:23). É triste, mas é uma realidade nua e crua. Deus é ainda o Grande-Desconhecido dos nossos dias. Como está longe de conhecê-lo realmente. O medo é a força motora da religião?

         Não na verdade não é uma força, o medo é uma fraqueza e dela que nascem os deuses e as religiões! Assim, queremos dizer que o homem pelo medo da morte e de todos outros fenômenos naturais, criou deus, uma imagem fictícia de si mesmo.

             Antes do Vaticano II, para muitos católicos, era absurdo defender esta liberdade de religião, a cristandade não deixava que mantivessem um dialogo com os irmãos que professavam outro credo. A tese ortodoxa era simples: só a verdade tem direitos; a depositária da verdade e da sua defesa era a Igreja católica, fora da qual não havia salvação.

             Assim como no caso do diálogo inter-religioso, a construção da unidade no cristianismo, isto é, do ecumenismo tem como pressuposto o reconhecimento da caminhada das igrejas cristãs e da sua manifestação de fé.
 
             De fato, no Ocidente cristão, essa abertura ao outro, em grande parte imposta pelas condições históricas, deu também origem ao ecumenismo, uma exigência do pluralismo religioso no âmbito das Igrejas cristãs. Assim como no caso do diálogo inter-religioso, temos que buscar mais que um diálogo, temos que ter humildade e reconhecer e respeitar o sagrado do outro.

         A declaração sobre a liberdade religiosa foi discutida, desde o início Concílio, mas teve de vencer tantos obstáculos, que só a 7-12-1965 é que foi aprovada. Hoje, é uma bandeira e, sem ela, estaríamos como as religiões que exigem liberdade para si no estrangeiro, mas que a negam onde são elas próprias a impor a lei. É a velha táctica: em nome das vossas leis, exigimos liberdade e auxílios especiais; em nome dos nossos princípios e do nosso regime religioso e político, temos de vos negar essa liberdade.

            Nenhuma religião tem o direito de impor os seus dogmas, ritos e normas às outras confissões. Seria continuar uma violência execrável, mas se cada uma só pensar em manter-se, defender-se e expandir-se, o chamado diálogo torna-se uma simples capa para o proselitismo das mais aguerridas. Todas as religiões deveriam procurar descobrir de que reformas precisam para que as fronteiras do diálogo acontecessem no coração do homem.
Padre Carlos




terça-feira, 28 de maio de 2019

ARTIGO || Pessach dos judeus (Padre Carlos)*




Pessach dos judeus


            Assim como os cristãos, a comunidade judaica também se prepara para celebrar a Páscoa (Pessach), a mais importante das suas festividades que assinala a libertação dos judeus do Egito e não a ressurreição de um judeu chamado Jesus.O facto mais importante, com o qual todos concordam e que não devem esquecer, é a história da Pessach (ou Páscoa) e o valor de liberdade que nos foi concedido. Qualquer que seja o tipo de judeu, esta história une-nos e lembra-nos dos melhores dias que virão. A comunidade judia do Brasil conta não só com judeus muito devotos mas também com os menos praticantes, trabalhando todos num esforço conjunto para preservar a identidade, a tradição e a mensagem de liberdade que representa a festa da Pessach".
            Os brasileiros, tradicionalmente cristãos, preparam-se para celebrar a semana santa, que encerra no domingo de Páscoa, e manda a tradição que o almoço seja cordeiro assado; o mesmo alimento que, reza o livro do Êxodo da Torá (o mesmo do Antigo Testamento da Bíblia), Deus terá dito para os judeus comerem, antes de lançar a sua décima praga sobre o Egito, há cerca de 3.500 anos, assinalando-se então a primeira Pessach.
        
    Atualmente nas comunidades religiosas, os judeus não comem cordeiro "assado" (ritual reservado para a época do Templo de Jerusalém) mas no jantar cerimonial de Seder -- o ponto alto da festividade de Pessach -- é colocado simbolicamente num prato especial um osso de cordeiro ou frango (Zeroá). No mesmo prato é também colocado um ovo cozido (Beitzá) que representa a vida, a roda do destino e a tristeza pela destruição do Templo, ervas amargas (Maror) que simbolizam a amargura provocada pelos egípcios aos antepassados dos judeus, argamassa (Charosset) semelhante àquela com que os escravos judeus fizeram as pirâmides, cebola/batata/salsa (Karpas), simbolizando a esperança da libertação que se renova e alface (Chazeret), como as verduras que cresciam na Terra de Israel.
            Toda a cerimónia de Seder, durante a qual é narrado o Hagadá -- o texto que contém a história da libertação, conforme descrito no livro do Êxodo -- é regada a vinho e manda a tradição que em quantidade suficiente para que cada um possa ter a sua taça cheia quatro vezes.
Os alimentos fermentados (Chamets) estão proibidos em todo o período da Pessach, sendo retirados das casas e simbolicamente queimados, devendo-se comer Matza (pão ou bolacha sem fermento).
            Quando estudava teologia em Belo Horizonte, fui convidado junto com meu professor de eclesiologia o Pe. ALBERTO ANTONIAZZI para participar em uma sinagoga daquela cidade desta cerimônia.

Padre Carlos


ARTIGO | O pacote anticrime| (Padre Carlos)*


O pacote anticrime



            Para manter uma mentira de pé, outras tantas precisarão ser criadas! Desta forma, a primeira informação do Comando Militar do Leste foi que militares do Exército brasileiro atiraram 80 vezes contra o carro que alegaram estar de posse de bandidos armados e que teriam atirado contra eles. Assim, o veículo na verdade, era conduzido pelo músico Evaldo dos Santos Rosa, que foi atingido e morreu. Ele levava consigo a mulher, o filho, o sogro e uma amiga da família. Iam para um chá de bebê no bairro de Guadalupe, zona oeste do Rio de Janeiro.
            Gostaríamos de afirmar que não somos analistas na área de segurança, mas, faremos uma abordagem no campo da ética e da moral. Em primeiro lugar, gostaríamos de afirmar, que o militar, em confronto, tem um olhar diante do inimigo que não pode ser o mesmo dirigido ao cidadão. Ele é treinado para matar. A polícia, para reprimir. Só mata em legítima defesa. Ou, pelo menos, só deveria.
            É com estas certezas, que a Constituição veta a utilização das Forças Armadas como força de segurança. É questão de direito.
O Exército realizou no Estado do Rio de Janeiro, um trabalho de segurança que não é da natureza da função militar. Militares não são formados para dar segurança, são formados para a guerra. Há diferenças grandes nos enfoques da função do policial ostensivo e do militar. Desta forma, os cariocas tiveram em seu território, o Exército agindo como uma atividade policial.
Á primeira vista, a entrada em cena dos militares nas comunidades principalmente as mais sofridas pela ação do trafico, tem uma função política às vezes eleitoreira, devido à falsa visão de tranquilidade e segurança. Este foi durante algum tempo a propaganda oficial para a população do Rio de Janeiro e outros municípios da Região Metropolitana.
            Não basta só estar fardado e armado nas ruas. Embora tenha um papel fundamental, a presença fardada, quer seja de policial militar ou de militar das Forças Armadas, tem de ser mais bem entendida. A natureza da função das Forças Armadas não é atuar em Segurança Pública, da forma como nós a entendemos. Elas podem atuar episodicamente numa situação como essa (solicitação do governo do Estado ao governo federal), mas, efetivamente, os militares não foram preparados para isso.
            A situação levantou mais uma vez o temor de que o pacote anticrime do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, leve a impunidade desse tipo de ação.
            A proposta do ministro de ampliar as excludentes de ilicitude legitima as execuções e extermínios praticados por policiais, seguranças, militares do exército.
Uma sociedade de polícia sob a ênfase da violenta emoção não vai parar de matar brasileiros. E para sustentar esta ilusão, quantos sujarão as próprias mãos neste sangue-irmão?

Padre Carlos

ARTIGO | Que a Justiça se faça presente nesta casa. (Padre Carlos)*


Que a Justiça se faça presente nesta casa.



            Quando cada ministro do Supremo Tribunal Federal tem o seu próprio código de ética, passa a ser moralmente permitido tudo o que não está na lei. Desta forma, as boas intenções dos Magistrados, podem ter efeitos negativos ao tentar interpretar a Carta Magna. Queremos aqui lembrar, que a Constituição é a base política de uma sociedade. Ela estabelece os princípios orientadores para formar a unidade política e contém os indicadores das tarefas do Estado. Contêm os procedimentos para regular os conflitos sociais. Cria as bases e determina os princípios que regulam a ordem jurídica como um todo.
            É claro que uma Constituição não pretende ser um sistema fechado e sem lacunas, seja porque pode querer deixar determinados assuntos, como da área econômica, abertos para a discussão, seja porque determinados temas são muito complexos para serem tratados, ou, ainda, porque se pretende deixar uma configuração aberta.
         
   Assim, o texto constitucional deve permanecer inacabado, uma vez que se destina a regular as relações sociais que são mutáveis no decorrer do tempo, portanto seu conteúdo deve estar aberto para a interpretação no tempo e por meio dessa interpretação se alcançar a força normativa da Constituição. Isto não quer dizer que a nossa Corte pode legislar e mudar por completo o sentido do texto.
            Quando sabemos da intenção de alguns ministros que buscam dentro das possibilidades semânticas oferecidas pelo texto, procurará à interpretação de maneira alinhada com a sociedade, eu me pergunto: como interpretar o tal ‘sentimento social propalado por eles num país dividido e que segmento teria na Constituição uma proteção básica de seus direitos, já que a Constituição é para a proteção e direitos de todos?
            No Direito Penal, a interpretação do que está na Constituição ‘só pode valer para beneficiar o réu e nunca para prejudicá-lo. É disto que estamos falando?
            Quando invadiu a Polônia e deflagrou a Segunda Guerra Mundial, em 1939, Hitler produziu a seguinte frase que animava seu espírito bélico, expansionista e fantasioso: “Ninguém vai perguntar ao vencedor se disse a verdade.” Os membros da nossa, Corte de Justiça, são Mestre em Direito pelas melhores universidade, Doutores e reconhecidos mundialmente, assim quando abordamos questões, mesmo de cunho filosófico, não podemos esquecer que estamos falando de uma elite e que destes não se espera erros nem tão pouco, discernimento que não seja condizente com a nossa cultura jurídica, e quando falo de cultura, me refiro como a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de práticas que criam por cultura, a pratica da existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e artística.
            Que a Justiça se faça presente nesta casa.
Padre Carlos.

ARTIGO || A dor da perda (Padre Carlos)*



A dor da perda
        

         Quando ouvimos que alguém está de luto, muitas vezes não entendemos direito o que quer dizer, bem como o estado emocional que esta pessoa esta vivenciando. Quando falamos de luto, estamos nos referindo a esse processo natural e universal diante de uma perda. 
         Perdas muitas vezes suportadas através de medicamentos e silenciadas por frases feitas de pessoas cheias de boas intenções: “sei o que isso é” (não sabe só eu sei o que estou sentindo!); “tenha força!” (não tenho, a dor é intensa e é muito grande para suportar!); “pensa noutra coisa” (não penso, só a lembrança de minha perda me consola!); “tem que andar pra frente” (não consigo, não vejo perspectiva sem conviver com minha perda!); “está no céu” (mas eu estou aqui e vivo, sofrendo!).

         Sim, precisamos viver o nosso luto, conhecer nossas feridas e saber que só com o remédio do tempo ela poderão se fechar e não é da noite para o dia que isto vai acontecer.

         Estas lesões na alma podem ser causadas por: pelos que morrem e eu sei que jamais verei nesta vida; luto pelos que, continuando vivos e sei que não represento mais nada na vida desta pessoa, embora os meus sentimentos permaneçam os mesmo e ela partiu da nossa vida.

         Lutos antes do tempo da partida; lutos prolongados e lutos bem ritmados; lutos que viram doenças e lutos que geram oportunidades; lutos que põem em causa a fé e lutos que redobram a confiança em Deus; lutos pela pátria que deixamos e luto pela saúde que perdemos; luto pelo divórcio ou luto por um filho perdido; luto pela traição, pela falta de emprego e de sentido; luto pela imagem perdida ou pelo animal de estimação que morreu; luto pela fé que sentimos ter perdido. No fundo, há sempre um luto que mora dentro de nós. E perder é verbo de difícil conjugação.

         A palavra “luto” vem de lugere, que quer dizer “chorar”, e expressa a dor natural pela perda de algo ou de alguém. É a consequência da perda de um vínculo. Manifesta-se em sinais de sofrimento (físico, psíquico, social, espiritual), em comportamentos (vestir...) e, frequentemente, em rituais (ida ao cemitério...).

         É um processo lento, assim como a cicatrização de uma ferida, só que esta é na alma, que passa por diferentes fases, muitas vezes fases que vão e voltam. Quando a sua decisão for adaptar, e integrar a perda, isto levará à possibilidade de uma nova vida, de novos projetos, de uma vida reconfigurada.

         Outras vezes, se a perda não é assumida, conduz a doenças físicas, psíquicas, espirituais... Não é garantido que quem cala consente.

         É praticamente impossível sobreviver a uma situação de sofrimento se não formos capazes de conseguir contar uma história articulada sobre a mesma, pelo menos a nós próprios.

                   Uma das pastorais que eu sinto falta na Igreja, é com certeza a que se preocuparia em proporcionar um lugar para quem está em luto, isto é, um centro de escuta e acompanhamento espiritual. Um lugar  de encontro, de escuta, de fraternidade, de oração, de misericórdia, de perfume e de esperança cristã... no caminho de Emaús!

         Se você está em luto, se conhece alguém em luto, seja esperança para esta pessoa e não se esqueça que o luto pode ser uma ação missionária, ele é também, “terra de missão”.
Padre Carlos

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...