Jesus, Reformista ou Revolucionário
Belo Horizonte
nas décadas de oitenta e noventa, era o grande centro teológico da América
Latina. Para esta cidade, os bispos e provinciais de muitas congregações
religiosas, enviavam seus estudantes para os diversos institutos teológicos que
havia naquela cidade.
Esta oportunidade de estudar no olho do furação teológico, me proporcionou a
conhecer grandes mestres desta área, foram eles que pregaram em meu peito o
amor pelos estudos dos textos bíblicos e pelas pesquisas que diz respeito a
estes no decorrer do tempo e da história.
Quando nos propomos a escrever
sobre o Jesus histórico, tínhamos consciência que teríamos que nos apropriar da
hermenêutica para entender o campo de estudo relacionado à forma como
interpretamos a Bíblia. E da exegese para a interpretação real da Bíblia ao
extrair o significado do texto bíblico.
O nosso objeto de estudo é
entender como um simples carpinteiro das baixas colinas da Galileia passou a
ser visto como uma ameaça ao sistema estabelecido, como um problema social e
religioso a ser combatido. Não podemos esquecer sua visita ao templo e a
expulsão dos comerciantes do local, foram estes comportamentos que foram
considerados atos terroristas, crimes gravíssimos e uma afronta aos sacerdotes
líderes do povo Judeu rebelando assim, contra o status quo daquela elite.
A passagem de Jesus pelos
territórios da Judeia, Samaria e na Galileia, curando aleijados, dando de comer
aos pobres, ensinando pessoas a dividir o pão e afrontando cobradores de
impostos, levaram o sistema a considerar Jesus Cristo como um vírus que cada
vez mais infectava pessoas e as rebelavam afrontando assim todo o sistema, um
verdadeiro revolucionário e alvo da mais pesada penas da justiça da sua época.
O que pensavam os judeus do século
1º d.C. a respeito do galileu que falava e agia com autoridade? Acreditava que
se tratava do Messias, o descendente do rei Davi cujo trabalho seria derrotar
os inimigos de Israel e implantar o Reino de Deus na Terra. Acredito que essa
era a visão que Jesus teve inicialmente sobre si mesmo. Só com o tempo ele vai
tomando consciência da sua missão. Quando abordamos este assunto, não podemos
enveredar em um discurso da cultura cristã e sim no tema do judaísmo de veia
revolucionária que existia no século 1º d.C., do qual para a comunidade Jesus
era um representante. Desta forma, não podemos esquecer que estamos abordando
aqui a "busca pelo Jesus histórico". O problema do pesquisador é que,
fora do Novo Testamento, não há quase nenhum vestígio do homem que iria alterar
de modo permanente o curso da história humana. A referência não bíblica mais
antiga e mais confiável de Jesus é do historiador judeu Flávio Josefo, do
século I (morto em 100 d.C.).
Assim, voltando aos
acontecimentos que antecederam sua prisão e condenação, não poderíamos deixar
de lembrar ao leitor, que o templo de Israel, naquela época, era o centro
administrativo, religioso e político do povo Judeu, lá os sacerdotes que
comandavam as leis e que detinham poder político sobre o povo de Israel se
alocavam e realizavam suas atividades, era o centro de cobrança de impostos e
sede do governo. Foi nesse espaço que, num acesso de raiva, Jesus Cristo
derruba as mesas dos cambistas e expulsa os vendedores de comida barata e
souvenirs. Solta as ovelhas e o gado prontos para serem vendidos para
sacrifício e abre as gaiolas de pombos, colocando as aves em fuga.
Este comportamento de Jesus
era acima de tudo, de um profeta apocalíptico, ou seja, alguém que previa
-provavelmente "para ontem", ainda durante seu tempo de vida- a
intervenção decisiva de Deus na história, libertando o "povo
escolhido" de Israel e instaurando uma nova era de justiça e de paz. Seus
ensinamentos vinham acompanhados do seu exemplo, não por simples retórica,
assim suas denuncias tinha peso e autoridade. Foi com este capital político e
espiritual, que ele, desferiu um golpe fatal no espírito consumista, colocando
a avareza como oponente de Deus. Emparedar e desmascarar os lideres judeu levou
a elite a conspirar cada vez mais a sua morte e para não serem envolvidos com
tal ato, venderam a Roma à imagem de alguém que reivindicava o reino dos judeus
e devido à traição, deveria morrer e consequentemente a morte de cruz.
Todo criminoso que era
pendurado em uma cruz recebia uma placa declarando o crime específico pelo qual
estava sendo executado. O crime de Jesus, aos olhos de Roma, foi o de buscar o
poder político de um rei. “Rei dos Judeus”. Assim estava escrito na placa que
os romanos colocaram acima da cabeça de Jesus.
Desta forma, sua pregação se
tornava perigosa e revolucionária, ao não selar nenhum compromisso com a
manutenção do Status Quo, mas com a introdução de uma nova ordem de coisas,
onde o ser humano teria mais importância do que as instituições e tradições.
Onde o sábado fora feito para o bem-estar do homem, e não o homem para o
sábado. Não vejo aqui um discurso reformista ou conciliador, mas, uma ruptura
com o sistema e tudo que aprisionava o pobre no campo político e espiritual.
PadreCarlos.