sábado, 8 de junho de 2019

ARTIGO | Jesus, Reformista ou Revolucionário (Padre Carlos)




Jesus, Reformista ou Revolucionário



            Belo Horizonte nas décadas de oitenta e noventa, era o grande centro teológico da América Latina. Para esta cidade, os bispos e provinciais de muitas congregações religiosas, enviavam seus estudantes para os diversos institutos teológicos que havia naquela cidade.
Esta oportunidade de estudar no olho do furação teológico, me proporcionou a conhecer grandes mestres desta área, foram eles que pregaram em meu peito o amor pelos estudos dos textos bíblicos e pelas pesquisas que diz respeito a estes no decorrer do tempo e da história.
      
      Quando nos propomos a escrever sobre o Jesus histórico, tínhamos consciência que teríamos que nos apropriar da hermenêutica para entender o campo de estudo relacionado à forma como interpretamos a Bíblia. E da exegese para a interpretação real da Bíblia ao extrair o significado do texto bíblico.
            O nosso objeto de estudo é entender como um simples carpinteiro das baixas colinas da Galileia passou a ser visto como uma ameaça ao sistema estabelecido, como um problema social e religioso a ser combatido. Não podemos esquecer sua visita ao templo e a expulsão dos comerciantes do local, foram estes comportamentos que foram considerados atos terroristas, crimes gravíssimos e uma afronta aos sacerdotes líderes do povo Judeu rebelando assim, contra o status quo daquela elite.
            A passagem de Jesus pelos territórios da Judeia, Samaria e na Galileia, curando aleijados, dando de comer aos pobres, ensinando pessoas a dividir o pão e afrontando cobradores de impostos, levaram o sistema a considerar Jesus Cristo como um vírus que cada vez mais infectava pessoas e as rebelavam afrontando assim todo o sistema, um verdadeiro revolucionário e alvo da mais pesada penas da justiça da sua época.
            O que pensavam os judeus do século 1º d.C. a respeito do galileu que falava e agia com autoridade? Acreditava que se tratava do Messias, o descendente do rei Davi cujo trabalho seria derrotar os inimigos de Israel e implantar o Reino de Deus na Terra. Acredito que essa era a visão que Jesus teve inicialmente sobre si mesmo. Só com o tempo ele vai tomando consciência da sua missão. Quando abordamos este assunto, não podemos enveredar em um discurso da cultura cristã e sim no tema do judaísmo de veia revolucionária que existia no século 1º d.C., do qual para a comunidade Jesus era um representante. Desta forma, não podemos esquecer que estamos abordando aqui a "busca pelo Jesus histórico". O problema do pesquisador é que, fora do Novo Testamento, não há quase nenhum vestígio do homem que iria alterar de modo permanente o curso da história humana. A referência não bíblica mais antiga e mais confiável de Jesus é do historiador judeu Flávio Josefo, do século I (morto em 100 d.C.).
       
    
Assim, voltando aos acontecimentos que antecederam sua prisão e condenação, não poderíamos deixar de lembrar ao leitor, que o templo de Israel, naquela época, era o centro administrativo, religioso e político do povo Judeu, lá os sacerdotes que comandavam as leis e que detinham poder político sobre o povo de Israel se alocavam e realizavam suas atividades, era o centro de cobrança de impostos e sede do governo. Foi nesse espaço que, num acesso de raiva, Jesus Cristo derruba as mesas dos cambistas e expulsa os vendedores de comida barata e souvenirs. Solta as ovelhas e o gado prontos para serem vendidos para sacrifício e abre as gaiolas de pombos, colocando as aves em fuga.
            Este comportamento de Jesus era acima de tudo, de um profeta apocalíptico, ou seja, alguém que previa -provavelmente "para ontem", ainda durante seu tempo de vida- a intervenção decisiva de Deus na história, libertando o "povo escolhido" de Israel e instaurando uma nova era de justiça e de paz. Seus ensinamentos vinham acompanhados do seu exemplo, não por simples retórica, assim suas denuncias tinha peso e autoridade. Foi com este capital político e espiritual, que ele, desferiu um golpe fatal no espírito consumista, colocando a avareza como oponente de Deus. Emparedar e desmascarar os lideres judeu levou a elite a conspirar cada vez mais a sua morte e para não serem envolvidos com tal ato, venderam a Roma à imagem de alguém que reivindicava o reino dos judeus e devido à traição, deveria morrer e consequentemente a morte de cruz.
            Todo criminoso que era pendurado em uma cruz recebia uma placa declarando o crime específico pelo qual estava sendo executado. O crime de Jesus, aos olhos de Roma, foi o de buscar o poder político de um rei. “Rei dos Judeus”. Assim estava escrito na placa que os romanos colocaram acima da cabeça de Jesus.
       
    
Desta forma, sua pregação se tornava perigosa e revolucionária, ao não selar nenhum compromisso com a manutenção do Status Quo, mas com a introdução de uma nova ordem de coisas, onde o ser humano teria mais importância do que as instituições e tradições. Onde o sábado fora feito para o bem-estar do homem, e não o homem para o sábado. Não vejo aqui um discurso reformista ou conciliador, mas, uma ruptura com o sistema e tudo que aprisionava o pobre no campo político e espiritual.


PadreCarlos.


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