Um amigo na rede social me perguntou o que seria ser esquerda nos dias de hoje? Diante do desencanto com a política e a crise de utopia que atravessou minha geração, confesso que fiquei mudo naquele momento e diante daquele questionamento passei a refletir o mundo sem a esquerda, busquei na história e na caminhada do povo de Deus o que seria defender os mais fracos? Foi dentro desta mística que me coloquei em oração. Qual a preocupação dos homens de Deus? A preocupação dos profetas e principalmente de Isaías ao defender os órfãos e as viúvas naquele tempo? E não podemos esquecer-nos da sua luta e da sua pregação contra a corte palaciana devido às injustiças cometidas contra o povo.
Neste sentido, penso que ser esquerda nos dias de hoje é antes de tudo, está comprometido com a luta por Justiça no mundo, jamais me imaginei de mãos dadas com as minorias – mesmo porque, bom que se diga, foram os que detinham e detém o poder político, econômico e religioso que mataram Jesus e hoje, em nossos dias, defendem em seu projeto de sociedade questões conservadoras que aprofundam mais e mais a pobreza e a injustiça.
A Bíblia sempre pregou que deveríamos optar pelos pobres; e isto não é dar esmolas. Aliás, é bom que saibamos: nos templos bíblicos, em Israel, os mendigos não pediam simplesmente esmolas. Eles pediam por tsedaqah ( צדקה ts ̂edaqah ) que significa JUSTIÇA. Esta Justiça é aquilo que, de acordo com a Torá, ele devia gozar: paz e prosperidade.
Logo, fica explícito que a pobreza não é, de forma alguma, algo natural (como pensava Aristóteles!), mas é fruto dos poderosos que exploram, enganam, devoram, oprimem e perseguem os menos favorecidos. A pobreza na bíblia não é, de modo algum, uma situação resultante de uma lei da natureza ou de uma vontade de um criador, mas, sem dúvida, uma produção social.
A esquerda entra no século XXI como todas as perdas acumuladas nas duas ultimam décadas. Os anos noventa representaram uma derrota para a esquerda mundial. Políticas sociais dos estados de bem-estar social retrocederam, a integração das economias socialistas ao mundo capitalista e a regressão dos movimentos de emancipação do terceiro mundo parecem sinalizar que o tempo da emancipação política radical chegou ao fim. No Brasil, o governo de extrema-direita do Sr. Bolsonaro, trouxe junto com ele todas as desesperanças e a incompetência administrativa, além de imprimir políticas neoliberais e cortes em programas sociais, aprofundando assim, mais ainda a crise econômica, em nosso país.
Ser de esquerda hoje é complicado definir. Acredito que requer muita “dureza” mas, também, muito jogo de cintura. O diabo é descobrir como ter princípios sem ser ingênuo , como ser pragmático sem ser oportunista. Não tenho a receita, não tenho os algoritmo para solucionar este problema.
Mais uma coisa eu tenho certeza meu amigo, eu ainda acredito que ser de esquerda, nos dias atuais, significa defender os direitos humanos, os direitos das minorias. Lutar, como sempre lutei, por justiça social.
Padre Carlos.