Meu velho pai
Sua presença é constante em minha
vida, você tem o costume de aparecer sem me avisar. Muitas vezes através do seu
cheiro, uma musica ou no rosto sofrido de um operário, eu sempre termino
sentindo a sua presença e lhe reconhecendo. Outras vezes, poderia jurar que
sinto sua respiração no meu ombro, uma sombra que não está lá mas que eu vejo,
sei lá, sinto-te por todo o lado, sem descanso, ainda hoje, e já passaram vinte
e dois anos desde que partiu.
Será que teria orgulho do que eu faço? De quem me tornei? A saudade não morre, e não se transforma em outra coisa, fica petrificada como o tempo que deixou de existir para você. O que me dói mais são as coisas que não te disse, das confidencias que deixastes de fazer. Eu não tinha maturidade para entender tudo, achava que você estaria ao meu lado para sempre. Afinal, foi você que pegou em minha mão quando era ainda criança, esteve presente em toda a trajetória da minha vida e agora o que faço com esta angustia na alma, com esta culpa tão profunda do que não disse.
Ah! Se eu pudesse te abraçar de
novo, meu pai! Segurar na tu mão e me sentir protegido. Se fosse hoje, se eu
pudesse voltar atrás por breves minutos, cobriria o teu rosto de afagos e
beijos molhados, e diria o quanto eu te amo!
Talvez por isto tudo, não me canso
de dizer as minhas filhas o quanto as amo. Não creio que elas compreendam esta
necessidade absurda. Mas não me importo. Tenho medo de partir de repente, como tu,
e não tê-lo deixado a certeza que elas são tudo para mim, absolutamente tudo.
“O Cio da Terra” para mim é o eterno ciclo de renascimento e
transformação, do trigo em pão, da cana em mel, e da terra em chão, como nas
nossas vidas, feita de perdas e ganhos. Talvez seja isto que Milton e
Chico queria nos dizer: o milagre da vida, a ressureição!
As pessoas não choram assim depois de tantos anos. Ou talvez eu esteja errado. Que alguém quando ler este texto possa reconhecer a dor na alma, a dor imensa da ausência de quem se ama e saber que não esta só.
Padre Carlos