quarta-feira, 10 de julho de 2019

ARTIGO | Com votos, mas sem lei ( Padre Carlos)




Com votos, mas sem lei


            Quando estudamos filosofia política, nos deparamos com uma constatação impressionante, a respeito dos regimes autoritários. Assim, descobrimos que os ditadores nascem dentro dos regimes democráticos e têm votos. 
            E por sinal, muitos votos. Não podemos negar que eles participam do processo eleitoral: são eleitos de forma soberana e popular. Mas não são democráticos, porque lhes faltam o seguinte requisito fundamental da democracia: o primado da lei.

   
         E, dentro do primado da lei, o respeito pelas instituições democráticas, pelos direitos humanos, pelas garantias e pelas liberdades. O fato do Sr Bolsonaro poder mudar as leis, comprando o Congresso com emendas para compatibilizar com o seu projeto autoritário não os faz menos ditadores, porque as novas reformas estão a serviço do seu poder e não das classes populares, da democracia e da liberdade.

            O que gostaríamos aqui de dizer para as pessoas que nos acompanham, é que não há grande mistério nem complexidade neste processo que vem se dando aqui no Brasil, é evidente a forma como está se dando a dissolução da democracia por dentro, ela vem acompanhada de um Ministério público, Judiciário e uma classe Política.  .

            O que me impressiona mais e ver a inercia das forças democráticas e o oportunismo de algumas lideranças. Com este comportamento, termina legitimando o estado policial do ódio e do medo que acompanha a ação política do novo governo. Todos sabem o que está acontecendo, mesmo assim, podemos ver a hipocrisia de pseudos democratas  arranjando pretextos para justificar todo tipo de abuso deste governo..

            Não estamos vivendo nenhum fato novo. "Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la". Aconteceu com Hitler, com Mussolini, com Generalíssimo Franco com Salazar, todos em vários momentos das suas carreiras tiveram ou teriam a maioria do voto popular.

            Os nazis conseguiram chegar ao poder com o voto popular, tornando-se o maior partido alemão. Mas em todos estes casos as eleições já revelaram o abuso do poder, como vimos aqui nas últimas eleições, mesmo que isso pudesse não alterar a maioria dos votos. A violência política dos regimes autoritários antecedem aos seus resultados eleitorais (no caso do Brasil) e a generalizada manipulação do direito de voto, tornando inelegível qualquer candidato que viesse ameaçar o projeto em curso.   
            Aquele que enverga a toga representa a Justiça.
Este simbolismo de usar a toga é tomar parte da comunidade daqueles que devem dizer o que é justo. Não para fazer política nem tomar partido. O primeiro passo destes ditadores para consolidar seu poder, é essencialmente a apropriação do poder judicial, o ataque à sua independência, não só para garantirem a sua imunidade diante da fraude eleitoral, como para usar contra os seus adversários.


            O que Bolsonaro está fazendo, dando o poder político da Justiça a um juiz envolvido no processo de corrupção dos seus adversários, lança uma luz sinistra sobre esse processo e toda Força Tarefa no que diz respeito a sua falta  de imparcialidade. 


            Destruindo todas as instituições de mediação, o poder torna-se autoritário e quem o ocupa na verdade são as elites mais reacionária deste país. Elas se agruparam em torno do PSDB nestes últimos anos e apesar de não gostarem deste regime pelo medo destas ações fugirem do controle, pouco se importam com os crimes destes, por eles fazerem o trabalho sujo de eliminar todo e qualquer adversário do sistema.  Não podemos nos enganar, este projeto maligno tem que  ser combatidos, sem hesitações nem transigências. A melhor expressão ainda é a “resistência” .   

(Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, 

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