terça-feira, 23 de julho de 2019

ARTIGO - Somos todos "paraibas" ( Padre Carlos )


Xenofobia e Ódio


            Nestes últimos tempos, venho me perguntando como a filosofia pode ajudar a entender o que esta acontecendo em nosso país. Vivemos no Brasil ao mesmo tempo, diversas crise: ética, econômica-social e a pior de todas; a política. Para entender a ética, a história e o mundo plural e complexo da política é necessário pedir ajuda daquela que é a mãe de todas as ciências, a filosofia. É entrando neste mundo das ideias, que começamos este nosso artigo. Vamos analisar hoje, o que esta por traz do discurso preconceituoso que o presidente faz contra o povo nordeste brasileiro e os seus representantes.
     
       Quando analisamos a importância política do Nordeste brasileiro para o projeto de esquerda e o carinho que este povo humilde tem com o ex-presidente Lula, passamos a entender, porque tanto ódio aos nordestinos. No vídeo que viralizou nas redes sociais Bolsonaro conversa com o ministro da Casa Civil e principal articulador do governo, Onyx Lorenzoni e se refere aos nordestinos como “paraíbas”. O vídeo gerou revolta, ao chama os governadores desta região do país em "Paraíba" ele não estava se referindo a terra de João Pessoa. A palavra, carregada de ódio e preconceito, designa o que conhecemos como Região Nordeste.  Outro fator importante que não poderíamos deixar de fora é a origem daquele que é o maior líder político de todos os tempos e inimigo das elites deste país.
            Como operador da filosofia, avalio estes sentimentos de ódio, como uma revolta de classe e de preconceito. Desta forma, não podemos esquecer, que este comportamento, se reflete em uma violação de direitos fundamentais a todos os cidadãos, por se tratar de está reforçando os preconceitos contra todos os nordestinos que residem no sul e sudeste do país. Quando uma parte da classe trabalhadora é descriminada, isto facilita sua exploração. Nordestinos, negros, mulheres e LGBTs ganham menos e tem os trabalhos mais precários.         O preconceito é parte de nosso sistema econômico, não é apenas um fenômeno “cultural”. Quando assistimos estas manifestações preconceituosas cheia de ódio, há um povo que é fruto do abandono dos políticos há séculos e das atitudes intempestivas do planeta, ficamos revoltados.
      
      Quem são os paraíbas de Bolsonaro? São aquele povo pobres constrangidos que são obrigadas a partir, deixando para trás a terrinha querida à procura de um lugar onde possam viver com dignidade. Assim o nordestino seja no sul ou na sua região, são vítimas desta ação calculada pela direita brasileira. É contraditório, mas os homens que tem instruções, também têm atitudes racistas e preconceituosas, por isto ele consegue ainda representar estas elites e cometer todo tipo de preconceito contra as minorias deste país.




Pe. Carlos

ARTIGO - A dor de uma mãe ( Padre Carlos )




A dor de uma mãe


            Durante o período que exerci o ministério presbiteral, trouxeram-me uma senhora para falar comigo. Pensei naquele momento que se tratava do Sacramento da Reconciliação, mas quando ela começou a falar, entendi e emocionei-me com tamanha dor que aquela senhora de corpo frágil e um semblante distante trazia na alma.
     
       Quando aquela mulher começou a relatar tudo o que aconteceu, veio-me na hora a imagem de Maria aos pés da Cruz, quando ela abraça seu filhinho, aquele que ela amamentou e viu crescer e tornar-se homem.
            Padre Carlos, disse ela: “A minha dificuldade não é pela minha dor da perda, é pela raiva, pela revolta de ele não poder viver mais”, começou por dizer. O que me deixa mais indignada são as frases feitas de pessoas cheias de boas intenções: “sei o que isso é” (como gostaria de dizer: não sabe não, só eu sei o que estou sentindo!); “tenha força!” (você sabe o que estou sentindo? Não tenho, a dor é intensa e é muito grande para suportar!); “pensa noutra coisa” (não penso e não quero só a lembrança de minha perda me consola!); “tem que andar pra frente” (não consigo, não vejo perspectiva sem conviver com minha perda!); “está no céu” (mas eu estou aqui e vivo, sofrendo!).
            Depois que ouvir de forma atenta e paciente, falei com aquela pobre mulher: a perda de seu filho criou em você uma experiência de grande impacto emocional, que obrigam vocês a repensarem quem são de fatos, qual é o significado das suas vidas e como é que vocês como família, a partir deste momento, vão conviver com a memória dele e como ele pode continuar a fazer parte das vidas de vocês, agora de uma forma diferente. O importante disto tudo, é entender que o sofrimento não poderá jamais lhe obrigar a querer desistir de lutar, estes é um dos erros que cometemos o de querer viver somente do passado e a desistir do futuro. O retorno às atividades profissionais é terapêutico e eleva a nossa alma. Temos que ser forte para assumir a nossa perda, desta forma poderemos assim, evitar futuras doenças físicas, psíquicas, espirituais... Não é garantido que quem cala consente. Até porque ninguém aqui esta se calando, mas aprendendo a conviver com a sua perda de outra forma.
   

         Conversamos mais de uma hora e depois ela beijou a minha mão e foi embora. Nunca mais encontrei aquela senhora, acredito que tenha superado e retornado as suas atividades acadêmicas.
            Durante muitos anos, dediquei-me ao trabalho e a defesa dos direitos humanos, através da pastoral carcerária, mas uma  das pastorais que eu sinto falta na Igreja, é com certeza a que se preocuparia em proporcionar um lugar para quem está em luto, isto é, um centro de escuta e acompanhamento espiritual. Um lugar  de encontro, de escuta, de fraternidade, de oração, de misericórdia, de perfume e de esperança cristã... no caminho de Emaús!




Padre Carlos.


segunda-feira, 22 de julho de 2019

ARTIGO - A esquerda de coerências e perfeições ( Padre Carlos ) )




A esquerda de coerências e perfeições

            Falar de perfeição e coerência se torna um mantra na esquerda brasileira. Todas as correntes se acham o berço da coerência e da perfeição, em momentos de crises as esquerdas se fecham em suas convicções e não percebem o que esta transcendendo ao seu conjunto de certezas.  Ora, não existem partidos, correntes ou agrupamentos perfeitos, porque são compostos por homens e ninguém é perfeito ou sempre coerente o tempo todo. Mesmo as pessoas que se distinguem por serem modelos de atuação com um elevado grau de coerência são capazes de nos surpreender com uma reação ou um comportamento que não esperaríamos. Nesses momentos sentimo-nos traídos, sentimos que os outros são tão humanos quanto nós e não há nada de que gostemos menos do que perceber a imperfeição do ser humano, logo a nossa própria imperfeição.
   

         A palavra coerência vem do latim cohaerentia, é aquilo que tem relação entre uma coisa e outra. É um conceito que é usado se referindo a algo que é lógico. Desta forma, somos condicionados a acreditar que tudo em nossa vida deve ter coerência. Foi através da filosofia grega que passamos a ver a logica como medida de conduta. Assim podemos entender Aristóteles quando afirma que «Não se pode dizer de algo que é e que não é no mesmo sentido e ao mesmo tempo». Mas, parece-me que a contradição mais óbvia no mundo é achar que possamos banir a contradição das nossas vidas.
            Ora, a contradição é uma característica inerente ao ser humano. Independente de ser de direita ou de esquerda temos nossa individualidade e às vezes somos violentados pelo coletivo por discordar do conjunto. Os maniqueístas acreditavam que o bem o mal eram duas forças absolutas e irreconciliáveis. E isto afetava também as pessoas.  A prática é outra. Mesmo os projetos individuais tendo os seus pecados não podemos esquecer em momento algum que o pecador tem lá suas virtudes e em decorrência disto não deveríamos expulsar do nosso campo ou do paraíso. Não deveríamos ser julgados por atos isolados, mas por um Projeto de Vida e Político, direcionado para o bem ou para o mal.
            Fica claro, que as características de que não gostamos, passamos a rejeitá-la e assim, é difícil aceitar as nossas próprias contradições e, como tal, optamos por criticar o comportamento dos outros. Exorcizar os nossos defeitos, apontando-os nos outros é a nossa forma predileta de fingir que somos perfeitos. Este é o fator sobra que é descrito por Jung.
            Nesses momentos sentimo-nos traídos, sentimos que os outros são tão humanos quanto nós e não há nada de que gostemos menos no campo da esquerda do que perceber a imperfeição do ser humano, logo a nossa própria imperfeição.
            Olhar os companheiros das outras correntes que não é a minha, olhar os companheiros dos outros partidos, olhar todos estes mundos e as suas utopias sem filtros de expectativas sobrevalorizadas é algo que pouco praticamos. Mas é talvez a melhor forma de equilibrarmos o que em nós ecoa a nossa humanidade, porque a imperfeição é o grande milagre que nos torna verdadeiramente humanos. Como diz o verso de um monge medieval: “É preciso ir além da banal perfeição”. É isso mesmo: a perfeição pode ainda ser um caminho que trilhamos pela superfície ou constituir uma ilusão que nos impede de aceder ao verdadeiro e paradoxal estado da vida. Levamos tanto tempo até perder a mania das coisas perfeitas, até nos curarmos do impulso que nos exila no aparente conforto das idealizações, ou finalmente vencermos o vício de sobrepor à realidade um cortejo de falsas imagens!».
        

    Colocarmos o vaso quebrado com a sua imperfeição para trás, tentando esconder a sua falha e aparentando uma falsa perfeição, saibamos, sem medo, mostrar as nossas imperfeições e, com elas, aceitarmo-nos e redescobrirmo-nos. Como diz Leonard Cohen: «Em tudo há uma falha, é por ela que entra a luz».




Padre Carlos


ARTIGO - PELA UNIDADE PARTIDÁRIA ( Padre Carlos )




PELA UNIDADE PARTIDÁRIA



Vitória da Conquista, 22 de julho de 2019.


           

            A militância do Partido dos Trabalhadores, que sempre teve um papel fundamental nesta histórica trajetória de existência do nosso Partido, terá novamente a missão de contribuir para reorganizar nossa ação política e preparar nossas instâncias para os embates que o futuro nos reserva. Para isso, a nossa unidade é o principal motor que conduzirá nosso partido à vitória novamente.
            É com este espírito, que me dirijo a cada um e cada uma militante do PT, não somente para fazer uma convocação geral, mas também se lembrar do compromisso e da responsabilidade de todos nós para com a retomada dos nossos ideais políticos e a consolidação do nosso sonho maior de construir um país mais justo e igualitário.
            A última eleição para prefeito de Vitória da Conquista oferece uma rica experiência que aprimora o processo democrático petista, tanto na nossa cidade quanto no Estado. Em um exame rápido, duas reflexões despontam: que na política nada é definitivo e por isto podemos chegar a um entendimento e que o tempo correto para a tomada de decisões é determinante no êxito eleitoral, por isto não somos nós que definimos.
            Durante alguns anos, o partido, em âmbitos municipal e estadual, esteve à mercê de “representações diferentes” e de disputas internas que fragilizaram nossa posição. Em Vitória da Conquista, o destino parecia invariavelmente selado, até que uma reviravolta colocasse o partido do nosso oponente na frente das pesquisas. A campanha que se seguiu deixou claro que nem sempre é possível curar feridas e unificar todos os projetos em torno de um objetivo comum se não houver verdadeiramente, vontade política.
            José Raimundo não venceu. Mas os 42,42% de votos recebidos, além de consolidarem o partido como principal força de oposição na cidade revelou a percepção positiva que o eleitorado tem do PT, mesmo no período em que a mídia reacionária estrategicamente levantou a lona do “julgamento do século”. Foram três meses de campanha exaustiva e quase vitoriosa. Tivéssemos mais algum tempo para relembrar nossas contribuições históricas na capital do Sudoeste, talvez ganhássemos a prefeitura.
            Novamente, estamos diante a esse impasse de construir uma unidade e consolidá-la no tempo correto. Temos o dever de buscar como eixos deste projeto, manter a unidade de ação, orgânica e política do partido. Esta unidade tem que ter início no PED e através de um esforço de todos para construir este consenso e esta verdade. Unidade não é centralismo democrático, mas estimular a participação de todos os filiados na atividade política, assegurando-lhes a mais ampla democracia interna e o pluralismo de ideias para manter a unidade de ação, orgânica e política do Partido.
            Com a percepção de chances reais do PT conquistar o governo em Conquista, aumenta ainda mais a nossa responsabilidade. Desta forma, temos que trazer para as disputas internas do partido o mesmo espírito de unidade que se consolida em torno do nome do Companheiro Lula. Para que isso ocorra, é necessário que todos que pleiteiam a direção do PT-VC acreditem que é possível um consenso e não basta só acreditar é preciso apresentar propostas para isto e demostrar através de gestos concretos que é possível.
            Esse gesto de amadurecimento democrático deve começar através de suas lideranças, para chegar com força e vigor aos filiados. Não negando e reconhecendo que as pretensões e interesses de todos os filiados e correntes são legítimos. Não podemos repetir os erros. Abdicar de um partido unificado para disputar o governo em Vitória da Conquista, em nome de projetos menores, é um erro que só nos levará à derrota.
           

Padre Carlos


“A vida não é só isso que se vê.”


sábado, 20 de julho de 2019

ARTIGO – Francisco e a sua missão ( Padre Carlos )



Francisco e a sua missão


            Quando estudamos eclesiologia, podemos perceber como a  Igreja caminha de forma lenta e como esta atrasada com relação ao seu tempo. Um exemplo claro do que estou falando, é a forma como o cardeal Martini, outro jesuíta, inspirador de Francisco, se queixava, dizendo que a Igreja anda atrasada 200 anos. E pensava também na relação da Igreja com as mulheres, que nada impede teologicamente de receberem a ordenação sacerdotal. Todas as vezes que escrevo sobre este tema, termino chocando alguns amigos padres e leigos dentro da Igreja. Não podemos nos calar e é preciso dizer para o conjunto dos fieis, que esta causa é uma questão de direitos humanos. O Papa Francisco condenou o "machismo" na Igreja e está abrindo a porta da ordenação a homens casados; não estou vendo fazer o mesmo com as mulheres. Ele não quer criar cismas na Igreja. A Igreja tem muita dificuldade em lidar com a sexualidade, por duas razões fundamentais: está muito marcada pela heresia gnóstica e porque à frente da moral católica tem estado o clero de celibato obrigatório. Mas Francisco abriu portas, quanto aos gays, que não devem ser discriminados, aos métodos de contraceção (os católicos não devem "reproduzir-se como coelhos"), à possibilidade da comunhão para os recasados, ao respeito para com as novas formas de casamento...

           Acreditamos  que  Francisco é o grande  "renovador a Igreja", e que essa é uma "missão decisiva". Pelo que observamos da sua ação desde que foi eleito ainda acreditamos que ele vai cumprir este papel que a histório lhes reservou. Considero que é uma missão decisiva, porque a Igreja é depositária da mensagem mais humanizadora que conheço: o Evangelho. Infelizmente, como bem disse Nietzsche, a Igreja se transforma muitas vezes, num Disangelho, uma triste e má notícia.
             Francisco não conseguirá tudo, mas o essencial está em marcha: abertura da Igreja às "periferias", um estilo novo de papado: simplicidade, proximidade, humanidade. E, institucionalmente, tolerância zero para pedofilia, transparência no Banco do Vaticano, reforma profunda da Cúria a caminho, não há condenação de teólogos, descentralização no governo da Igreja, passos gigantescos no diálogo entre as confissões cristãs, elogiando Lutero, e também no diálogo inter-religioso, exige que seja a pessoa humana a ocupar o centro da economia e não o deus-Dinheiro, a exortação Laudato si" sobre uma ecologia integral fará história.
            O antigo superior geral dos jesuítas, A. Nicolás, revelou que Francisco lhe disse que "pede ao Bom Deus que o leve só quando as reformas forem irreversíveis". Quanto a nós, peçamos ao bom Deus para que possa atender este pedido não só de Francisco, mas de toda a sua Igreja.


Padre Carlos

sexta-feira, 19 de julho de 2019

ARTIGO – Não Baixem o Santo ( Padre Carlos )




Não Baixem o Santo


           


            Em meados a década de 60 era muito comum, no meio da esquerda brasileira, o uso da expressão “baixar o santo”. Foi por meio desse eufemismo que a esquerda definiu o que representou o AI5 e o que seria o processo de tomada de decisão pela via não democrática. “Baixar o santo” era uma forma mais suave, mais agradável e até engraçada, que a esquerda, que por sinal originou o PT, tinha para se referir a imposição autoritária de uma ideia ou de uma política a ser seguida. Os que queriam mudar o sistema econômico, social e politico do Brasil, pela via revolucionária, evitavam coisas como “a direção decidiu que o caminho é este”. Também, não se dizia que a “direção decidiu ponto final, o Comitê Central usava outras artimanhas  e não falava de forma aberta que não tem mais discussão”.

    Essas expressões autoritárias eram substituídas por “baixar o santo”. Quando se dizia que “baixaram o santo na reunião”, estava-se afirmando que uma decisão tinha sido tomada, pela maioria ou não (isso nunca importou) e que nada mais poderia ser feito. Foi por meio de decisões como esta, que foi obrigado a rachar com o PCdoB, no final da década de 70. Na verdade, a expressão correta para isso era “centralismo democrático”. Outro eufemismo fartamente utilizado pelos comunistas para aliar em um mesmo espaço a discussão (supostamente democrática) com a imposição de ideias e práticas. Se não fosse possível encontrar o consenso através da discussão, ele se instalaria através da imposição. O que importava mesmo era a unidade. O que interessava era que todos pensassem e agissem em comum, não importando por quais meios.
     Desta forma, quando surge o PT com uma nova mentalidade, termina seduzindo velhos e novos militantes que não aceitavam mais esta forma de direção partidária. Este novo jeito de fazer política se definia como uma democracia participativa. A nova mentalidade que surge nas esquerdas tem como conceito buscar e está direcionada à participação e comunicação de todos os diferentes grupos e movimentos sociais que militava uma mesma agremiação política, com a intenção de terem as suas questões ouvidas e que, consequentemente, se desenvolveria ações na busca de um consenso.
     A eleição de Vitória da Conquista no ano que vem oferece uma rica oportunidade para entendermos de uma vez que a política de “baixar o santo” ficou no séc. passado. O aprimoramento do processo democrático petista tem que passa por todas as correntes. A participação destes companheiros não pode ficar reduzida nos momentos eleitorais. O partido é mais do que os mandados regionais. Assim, estas forças precisam ser ouvidas e serem convidas a sentar a mesa. Em um exame rápido, duas reflexões despontam: que na política nada é definitivo e que o tempo correto para a tomada de decisões é determinante no êxito eleitoral.

    Durante vinte anos, o partido, em âmbito municipal, esteve à frente de “projetos que foram fundamentais para alavancar todo o sudoeste baiano.” Em Vitória da Conquista, o destino parece invariavelmente selado. A campanha que todos nos esperamos tem como objetivo principal, curar feridas e unificar todos os projetos em torno de um objetivo comum.
     
Padre Carlos



quinta-feira, 18 de julho de 2019

ARTIGO - A Raposa e o Principezinho ( Padre Carlos )



Raposa e o Principezinho



            Outro dia fui convidado para falar para uma turma que estava concluindo o ensino médio. Depois que eu concluir a palestra, um aluno me perguntou o que eu entendia por cativar. Olhei com ternura aquele jovem e respondi: falar em cativar me lembra do diálogo entre a Raposa e o Principezinho, quando este lhe pergunta reiteradamente o que significa “cativar” e ela responde que se trata de algo esquecido no mundo, mas que significa criar laços. E, a partir dali, estabelece todo um diálogo entre o sábio bicho e o pequeno príncipe que termina, assim: “Você não é nada para mim, há não ser um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu tenho certeza que não preciso de você. E você também tem certeza que não necessita de mim. Para você, eu não passo de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se você me cativar, nós teremos necessidade um do outro. Você será para mim único no mundo. Eu serei para você única no mundo (…)”. E o diálogo prossegue com uma profundidade que disserta sobre as relações que se estabelecem nesta enorme casa comum, como se não houvesse amanhã.
     
       Este diálogo me fez pensar duas coisas: e se não houver amanhã? Por que não temos coragem de cativar e de se deixar ser cativado? Porque o medo de se sentir dependente da amizade e do sentimento do outro? Só desarmando o nosso coração poderemos dizer: "se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.”.
            Esta semana é igual a que passou e muito provavelmente a que se seguirá, estaremos nos mesmos lugares, nas mesmas escolas e praças, mas não notaremos a existência das pessoas que estarão a nossa volta. Por que somos condicionados a não demostrar nossos sentimentos, somos educados a não demostrar afetividade e cativar é uma forma de se mostrar para o outro.
            Ao contrário da Raposa e do Principezinho, que compreenderam que é bom criar relação; que assim aumenta as nossas possibilidades enquanto humanidade e que quanto melhor forem às relações mais possibilidades há de diálogo e de superar as nossas diferenças.
      
      Desta forma, quando cativamos terminamos conhecendo e aceitando o outro nas suas etnias e culturas, valorizando e respeitando essa diferença. Só repudiamos a discriminação baseada em diferenças de raça, religião, classe social, nacionalidade e sexo quando aceitamos o outro. Reconhecer as qualidades da própria cultura, exigir respeito para si e para os outros nos torna mais humanos.       Por que temos tantas dificuldades para cativar e se deixar ser cativado? Talvez porque "o essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração." O mundo em que vivemos precisas se reconciliar e repactuar com todas as culturas e classes, precisamos ser mais humanos.  É por não querer cativar e por faltar mais diálogo entre os homens é que as raposas estão caçando as galinhas e os homens, caçando as raposas.

Padre Carlos


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...